• Percival Puggina
  • 20/02/2015
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PT E CNBB, 35 ANOS DE UNIÃO ESTÁVEL

Existem partidos políticos que se especializam em xingamentos. Chutam adversários sem dó nem piedade da canela para cima e da canela para baixo. São indulgentes apenas consigo mesmos. Afagam seus malfeitores e não há culpas que os leve a pedir desculpas. Na maioria, são pequenos partidos radicais, com militantes e dirigentes mal educados, rancorosos, socialmente desajustados. Há, no entanto, um grande partido que corresponde perfeitamente a essa descrição. Com tais métodos, chegou ao poder e governa o país há 12 anos (isso se não contarmos os últimos quatro de FHC durante os quais o PT influenciou fortemente decisões do governo).

 Pois bem, observe as pautas petistas, suas reivindicações e as postulações dos grupos sociais que o partido comanda no estalar dos dedos e ao megafone. Examine a essência da ideologia da legenda nos textos que produz, no conteúdo de seus sites e nas resoluções de seus congressos. Procure identificar o rumo perseguido pelas proposições legislativas dos parlamentares do partido. Vejam com que tipo de governos e regimes se relacionam. Siga por essas trilhas e perceberá que o PT mantém com a Igreja Católica (que não se confunde com a CNBB) e com sua doutrina religiosa e moral uma relação de irredutível divergência e animosidade. A distância que separa o petismo da Igreja é intransponível.

No entanto... no entanto..., o Partido dos Trabalhadores e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, há 35 anos, vivem em união estável, garantidora não apenas de direitos, mas de afetos, regalias e privilégios. Todas as pastorais ditas sociais da CNBB trabalham ombro a ombro com o partido, de modo militante e diligente. Ao longo dos anos, quando o PT era oposição, os documentos da Conferência que tratavam de questões políticas e sociais atacavam os governos reproduzindo fielmente o discurso petista. O idioma era e prossegue sendo petista. Estridentes sutilezas que muitas vezes denunciei! Nas reuniões de pastoral a que compareci, regional e nacionalmente nos anos 80, falava-se muito mais de Lula e PT do que de Jesus Cristo e Igreja. Quando o PT chegou ao governo, esse mesmo Lula que os amigos leitores conhecem tão bem quanto eu, era apreciado pelos operadores da CNBB como um anjo do Senhor caído em Garanhuns por descuido dos principados celestes.

Passaram-se 12 anos e as coisas estão como se sabe. A última eleição transcorreu como se viu. A presidente enganou o eleitorado tanto quanto se assistiu. O partido e seus associados afundaram lá onde o olfato acusa. E a CNBB, na obscura alvorada do segundo mandato de Dilma, inicia a Campanha da Fraternidade de 2015 falando em Igreja e Sociedade, com destaque para os temas da corrupção e Reforma Política.

Ótimo, mas, corrupção de quem, senhores bispos? Nem um pio. Corrupção com sujeitos ocultos, em instâncias não sabidas, a sotto voce como diria o maestro Ricardo Muti. Corrupção tão impessoal e neutra quanto a voz passiva. A mesma instituição, primeiro atribuía a corrupção à infidelidade partidária e se empenhou nisso como se fosse a salvação da moralidade pública. Em seguida, mobilizou céus e terras por uma lei da ficha limpa (tremendo sucesso, não?). Agora, sem culpados nem fatos a discernir, e sem credenciais que a qualifiquem para propor temas de Direito Constitucional, Teoria do Estado e Sistemas Eleitorais, joga sobre a falta de uma reforma política a causa essencial das venalidades nacionais. Para extingui-la, põe na mesa uma proposta de reforma política e um oneroso plebiscito que são muito parecidos, mas muito mesmo, com o que o PT tirou da manga em 2013. E, por isso, tem total apoio desse partido.

Resumo da mensagem para o mau entendedor: temos corrupção porque a reforma política, apesar dos esforços petistas, não sai do papel. Assim, os corruptos e suas legendas emergem das barras dos tribunais e das delações premiadas e vão comandar o pretendido plebiscito sobre reforma política, numa espécie de Teoria Geral da Corrupção. Certamente eu também quero uma reforma política. Mas ela nunca será como proponham a CNBB, a OAB e o PT, porque, no fundo, politicamente, é tudo a mesma coisa.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 


marcial -   27/02/2015 23:19:38

A CNBB, enquanto viva, quer chegar onde Cristo mandou. E esta chegando. Lentamente, mas chegando.

Luigi -   24/02/2015 19:40:50

Caros !!! lendo os comentários e o artigo do SR. Puggina, que no mínimo é tendenciosos e equivocado, pois a Campanha da Fraternidade 2015, trata de Fraternidade: Igreja e sociedade,, não esquecendo do Lema: Eu vim para Servir. Bom algumas considerações a respeito: primeiro a CF quer dialogar com a sociedade à luz do Evangelho sim, mas principalmente resgatar o Concilio ecumênico Vaticano II, que comemoramos 50 anos do seu encerramento. considerando que toda a CF trata sim do pobre mas iluminado pela Doutrina social da Igreja ( com diversas encíclicas desde de 1891, a Rerum Novarum) e principalmente pelo documento CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES, SOBRE A IGREJA NO MUNDO ATUAL de 1965. Como afirmar que a CNBB e o PT (que data dos anos 80 a sua fundação???) tem a mesma ideologia e "união", pois o pobre que menciona a CF é sim o pobre do Evangelho, da DSI e da GS, e reflete uma opção preferencial pelo pobre como ação missionária do cristão seja católico ou simples cidadão. Meus caros não dá para engolir estas coisa que se escreve sem ao menos considerar que a Igreja trata da questão do pobre a pelo menos 124 anos, e falar que a agenda do PT é a mesma da Igreja, não isso não dá para aceitar. Agora que os partidos políticos em especial o PT e o socialismo se apropriaram do pobre e a Igreja perdeu sua atuação, isso sim, mas por isso a CF quer trazer esta discussão para sua pauta. Por ultimo considerar que a CF se resume na ação e mobilização pela reforma política, é no mínimo mesquinho, pois muitas outras ações são propostas e isso ninguém menciona, como as políticas públicas, a violência, uma nova evangelização, a juventude, a rede de comunicação, etc etc, tudo isso é pauta da CF e da CNBB e principalmente de todo cidadão de bem.

Ernani -   23/02/2015 15:58:35

Estaria Puggina a mimetizar Obama, que tentou livrar a responsabilidade ou leniência do Islã aos SEUS terroristas, ao tentar dissociar a cnbb da igreja católica? Como assim não se confundem? Se um membro, mesmo mequetrefe, do psdb emite uma opinião, o consenso é que os tucanos apoiam -- ainda mais quando não há desmentido. =/

Gustavo pereira dos Santos -   23/02/2015 04:28:19

Dr. Percival, Cuidado com a militancia petista. Não quero que o senhor vire pastel like CELSO DANIEL. Um abraço, Gustavo.

Paulo Cesar de Oluveira -   22/02/2015 19:58:45

CNBB não é cristianismo? PT não é comunismo? Até onde sei comunista é ateu.

susana -   22/02/2015 02:46:51

Paulo, citaste bem, as pessoas boas recusam-se a crer em um mal tão grande , tão poderoso, que desafie o Deus no qual acreditamos e saia vencedor. Escrevi em outra página que, mal comparando, o Brasil se encontra em uma situação similar à da Alemanha quando da ascenção do nazismo, com a diferença que, naquele país, havia uma forte corrente nacionalista "embebedando" a mente e a alma dos alemães. Era impossível não ser seduzido por aquele discurso da defesa da Pátria. Já aqui, está demonstrado para quem quiser ver que são interesses pessoais, mesquinhos, abjetos, de grupos que não tem outro interesse que não estar, tomar e permanecer no poder, para lambuzar-se nas suas benesses. A presidente ainda ontem ou anteontem deu mais uma demonstração da péssima governança do país ao negar credencial ao representante da Indonésia. E o motivo? um traficante brasileiro que está aguardando o cumprimento de uma sentença de morte. Nunca antes na história deste país viu-se tamanha arrogância da autoridade máxima do Brasil e nós brasileiros ficamos com cara de bobo, envergonhados, com vontade de dizer ao cavalheiro cujo nome não lembro, a velha frase "me deixa fora desta". Em nenhum momento, desde jan/2015, vimos a Sra. Dilma defender com tanta ênfase algum direito legítimo nosso, seja na saúde, na educação, na segurança ou na condução do rumo da política interna. Se fossemos citar tudo o que se encaixa nesse cenário, seriam muitas páginas, então paremos por aqui. PS: também estou acompanhando minha paróquia no que se refere ao teor político das pregações que o período da quaresma proporciona. O Tema deste ano abre um leque muito grande de possibilidades. Haverá o joio e o trigo, cabe-nos fazer a escolha correta. Abraços.

susana -   22/02/2015 02:24:10

Ri muito com "os 35 anos de união estável" Sr. Puggina, porque casualmente completo agora 35 anos de matrimônio (mesmo marido, que fique bem claro) e fiquei fazendo a contabilidade dos afagos, dos direitos, das regalias e dos privilégios e também está tudo nos conformes. Não pude deixar de me identificar afetivamente com a situação. De fato, o amor exige muito mas é lindo, lindo.

susana -   22/02/2015 02:04:27

Zaqueu: Queira Deus que o Papa saiba o que está fazendo. Lendo seu comentário, lembrei-me de uma vez em que, em uma conversa com um advogado, opinei sobre a importância do planejamento familiar, para que as famílias recebam assistência social com responsabilidade, e não perpetuando suas mazelas, no caso, é claro, de famílias numerosas sem condições financeiras, estruturais, educacionais para proporcionarem uma vida melhor do que as suas para os seus descendentes. A resposta que ouvi foi: Os pobres, os miseráveis, tem que procriar muito, porque é preciso que haja muitas pessoas pobres e miseráveis, para incomodarem bastante os mais afortunados. Ironicamente, o advogado em questão tinha uma ótima posição financeira. Tive que ouvir e calar, pois se tratava de um cliente em uma negociação e como todos sabem, o cliente sempre tem razão. Pobreza de espírito cabe em qualquer recipiente, não é mesmo?

jonas antonio de freitas -   21/02/2015 21:51:47

Excelente texto. Precisamos acordar esse povão que estão embriagados na ideologia da CNBB e o PT.

PERCIVAL PUGGINA -   21/02/2015 19:27:35

Prezado Gustavo Adonis por absolutamente falta de tempo raramente intervenho aqui. No entanto, sua pergunta me impõe que o atenda. Procure entre os meus artigos, usando a palavra CNBB como chave de busca e imprima o que encontrar e entregue a seu pároco. Mostre que não estamos falando de algo eventual, mas, efetivamente, de algo que dura 35 anos. Que ao ajudar o PT, o cristão serve ao inimigo da fé, diga que o mero "atendimento aos pobres" não justifique que em nome dele se sacrifiquem tantos princípios e valores fundamentais do Cristianismo. E se tiver tempo, explique que é o PT que precisa dos pobres e não o contrário. Que ninguém fez tanto pelos bilionários do país quanto o PT. Informe-o que uma adequada e cristã atenção aos pobres implicaria enfrentar a pobreza ali onde ela se reproduz de modo irremediável: na sala de aula da escola da vila. Abraço!

Paulo -   21/02/2015 15:17:04

A união é estável, mas, submissa a CNBB vive sendo traída pelo PT e aceita, perdoa e gosta.

Gustavo Adonis -   21/02/2015 01:03:42

Parabéns Puggina Mais um excelente artigo. Por favor, saberia me orientar como enfrentar essa campanha na minha paróquia? Como explicar isso para os outros, para o pároco, etc. Ainda mais que também participo de uma equipe de música! Grato pela atenção de todos.

paulo de carvalho filho -   21/02/2015 00:48:43

"Na maioria das vezes as pessoas boas se recusam a crer no mal, principalmente quando esse mal se afigura grande demais. É preferível pensar o melhor do inimigo, pois pensar no pior nos assusta e sempre há outras vozes igualmente bondosas nos fazendo coro, maquiando com palavras inocentes as más intenções dos perversos. No entanto, a ingenuidade não nos salvará. Quando olhamos para a atitude de líderes religiosos da época (ascensão do nazismo), percebemos o perigo da ingenuidade. Pior do que ser enganado por outros, é anestesiar-se pelo auto engano. Declaração de 1934, feita pelo grupo denominado Cristãos Alemães: Somos muito gratos a Deus por Ele, como Senhor da História, ter-nos dado Adolf Hitler, nosso líder e salvador em nossa difícil situação. Reconhecemos que nós, de corpo e alma, estamos obrigados e dedicados ao estado alemão e ao seu Fuhrer. Essa servidão e obrigação contém para nós, cristão evangélicos, seu significado mais profundo e santo em sua obediência ao comando de Deus. [5]" Leiam mais do artigo 'A ingenuidade não nos salvará', de EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA, em:http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/15200-2014-05-19-17-56-37.html

Ismael de Oliveira Façanha -   20/02/2015 21:27:30

The Devil Wears Prada, mas o Inimigo também veste batina sempre que os clérigos invadem a política, como caturritas nos arrozais.

Zaqueu -   20/02/2015 20:52:46

Pelo que se percebe o sujeito da corrupção que a CNBB brada a meia voz, é indeterminado: roubam, praticam corrupção. Quem? Alguém, sujeito indeterminado. Seria pior que fosse inexistente. O preocupante é que, além de a CNBB ser unha e carne com o PT, o Papa Francisco acaba de nomear cardeais da AL com orientação para trabalharem pelo social. Como no continente grassa a ideologia socialista é de se temer que o CELAM tenha ideais próximas às do regime soclialista. Deixar a CNBB, OAB ou PT pautarem a reforma política será como mandar o lobo tomar conta dos cordeiros. Um arremedo de reforma em benefício próprio.

Genaro Faria -   20/02/2015 17:42:49

Bravo! Bravo! Bravo! Como ensina o maestro citado no texto, reger não é simplesmente marcar o ritmo de uma partitura com a batuta. É tirar dos músicos da orquestra a alma da composição, com variações de escala infinita para cada som. O infinito que leva a Deus. Nosso estimado Puggina é esse regente magistral, que sabe interpretar, como nenhum outro que eu conheça, os arabescos traçados pelo demônio num pentagrama que só aos tolos engana. E por isso ele se recusa a executar esse réquiem perverso do cristianismo e da democracia que os marxistas da teologia da libertação - assim eles a anunciam - tocam para o deleite das plateias inocentes. Não é o lobo, mas o falso pastor que nós devemos temer. Por isso mesmo o lobo Fidel Castro reconheceu que "A teologia da libertação é mais eficiente que o marxismo para a revolução socialista da América Latina". O PT, porém, ao contrário do seu guru cubano, foi desmascarado antes de se tornar o hegemônico condutor da "alma coletiva". Quebrou-se o feitiço que hipnotizava o distinto público pagante. O príncipe das trevas virou sapo. Os americanos têm um ditado: Engane-me uma vez; vergonha sua. Engane-me de novo; minha vergonha. (Fool me once; shame on you. Fool me twice; shame on me.) Que o brasileiro dê o troco do estelionato e vá pra rua com o espírito daquele samba do Vanzolini: Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Padre Diego Baltz -   20/02/2015 16:28:40

A subserviência da CNBB ao ideário social comunista é algo digno de vergonha! O que fazer? Formar as novas gerações segundo a sã doutrina da Igreja, combater as hordas de idiotas úteis (vide a atual estrutura da PJ, por exemplo) que acham que Che Guevara é santo, e firmar pé irredutivelmente na Verdade, pois esta não se negocia. Cristo Jesus nos guarde e defenda a Sua Esposa!