Imigrantes do mundo islâmico desembarcam na Europa em proporções demográficas dando causa a interpretações antagônicas. De um lado, a defesa dos deveres humanitários pondera, com razões, a terrível situação capaz de jogar ao mar multidões em fuga, para travessias que já causaram a morte de dezenas de milhares de pessoas. De outro, as contrariedades têm dois motivos principais: a) uma dúzia ou mais de grupos terroristas, jihadistas, sediados nos países islâmicos, infiltram-se no Ocidente movidos por obstinada determinação de o destruir e submeter seus "infiéis"; b) nenhum país tem condições de acolher grandes fluxos migratórios sem traumas à ordem interna.
Alegadamente, todos fogem de algum conflito. Ou de guerras internas do Islã, onde grupos combatem entre si, ou de ataques a comunidades cristãs por motivos políticos e religiosos. No entanto, a condição de refugiados sob perseguição ou tragédia nos países de origem não é verdadeira em todos os casos. Se assim fosse, seria maior o número de famílias completas e menor o número de jovens do sexo masculino adultos e solteiros. Em 16 de abril deste ano, o Estadão noticiou que imigrantes provenientes de Costa do Marfim, Senegal, Mali e Guiné Bissau haviam jogado ao mar 12 passageiros que seriam cristãos oriundos de Nigéria e Gana. Ao desembarcarem, remanescentes do grupo sacrificado denunciaram o crime e as autoridades de Palermo prenderam seus autores.
Fato isolado? Impossível. Impossível admitir que tenham sido presos em Palermo, nessa explosão migratória, os únicos representantes de um fundamentalismo que despreza o direito a vida dos "infiéis" e é tão ativo na região. Prospera em tais grupos um ódio ao Ocidente que os leva a atacá-lo por inúmeros modos. Dão continuidade a uma sequência de ações que atravessam os séculos de modo intermitente desde 711, quando Tarik derrotou o visigodo Roderico e invadiu a península Ibérica.
A imigração é um fenômeno corrente na história. O continente americano é inteiramente povoado por imigrantes. Em toda parte, os imigrantes das mais variadas origens buscam integrar-se às comunidades que os acolhem, submetem-se às suas leis e não intervêm nos seus costumes. Com a imigração muçulmana, por vezes, não é bem assim. De alguns anos para cá, de modo esparso, mas recorrente, valem-se da tolerância ocidental para impor sua intolerância. Exigem do Ocidente o que, nas respectivas regiões de origem, não é concedido aos ocidentais. Declaram-se insubmissos à autoridade política do país que os acolheu. Desfilam afirmando a prevalência da sharia. Por indiscerníveis razões, países igualmente islâmicos, abastados e pacíficos, aos quais poderiam chegar por terra firme, lhes recusam a acolhida incondicionalmente cobrada dos europeus.
Ademais, esse fluxo, irrestrito e em proporções demográficas, ocorre num momento em que o fundamentalismo islâmico se afirma pelo terror e formula assustadoras ameaças ao Ocidente e seu futuro. Derrubam aeronaves, explodem edifícios e estações, promovem execuções públicas e agem, no mundo, através de um número crescente de organizações terroristas. Generosidade é virtude; imprudência, não.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Lilian - 09/11/2015 21:11:58
Perfeito! Sobre isso q vc disse no artigo: "Por indiscerníveis razões, países igualmente islâmicos, abastados e pacíficos, aos quais poderiam chegar por terra firme, lhes recusam a acolhida incondicionalmente cobrada dos europeus."Vivo falando isso e ninguém me entende. Parabéns por tamanha lucidez.Juan Koffler - 08/11/2015 17:00:03
Excelente artigo, meu caro Puggina. Superou-se uma vez mais, merece meus aplausos e o devido compartilhamento em meus sites. Agora, cá entre nós, neste espaço elitizado (no bom sentido) em que orbitam excelentes escribas - a começar por você, Percival, mentor e gestor deste distinto universo -, não cabem melindres (como o do leitor Youssef) que, propositalmente ou não, indignou-se por nada, visto que não consegui detectar no texto onde estaria o trecho preconceituoso. Mentes lúcidas e academicamente festejadas já chegaram a afirmar que essa "invasão" de muçulmanos, em nome do humanismo, nada mais é que o "Cavalho de Troia" pós-moderno, no que lhes cabe razão, pois possui todas as características para receber essa alegoria. Sim, senhor Youssef, em toda sociedade há os bons e os maus indivíduos, nada tendo a ver com religião, política, raça ou o que seja. Parabéns, Puggina! Siga em frente nessa batalha, pois o amigo definitivamente não está só, mas muito bem acompanhado!PERCIVAL PUGGINA - 08/11/2015 00:27:57
Senhor Youssef, onde fui, "no mínimo", preconceituoso? Esse adjetivo tem sido muito mal empregado e parece ter o dom de impor silêncio às opiniões. Em mim, não produz efeito. No que escrevi, fiz as exceções, referi que os abusos ocorrem "de modo esparso", Afirmei que "por vezes" a comunidade muçulmana não se integra. Reconheço a contribuição muçulmana à península ibérica . No entanto, o que aconteceu em 711 foi Jihad. Tão jihad quanto o que está em curso hoje através dos grupos fundamentalistas. Foi isso que eu escrevi e nada mais. Penso que em vez de se preocupar comigo, o senhor deveria se preocupar com o que muitos de seus irmãos de fé andam fazendo. Eles assustam-se uns aos outros e ao mundo e eu não posso escrever sobre isso?Lobo Solitário - 07/11/2015 14:17:16
Quando o profeta Muhammad instituiu o DIN na religião, fê-lo com intenção de unir e dar uma identidade única aos árabes. DIN é o modo de vida, cultural, comportamental, religioso, que abarca todos os pormenores da vida cotidiana, seja coletiva ou individual, e que nela todo muçulmano é obrigado a se integrar, mesmo aqueles que não nasceram em países árabes ou não-árabes, porém de maioria muçulmana. É o DIN que separa cristãos e muçulmanos em países islâmicos e é por ele que são cobrados impostos aos cristãos. Então, por este meio, Muhammad tentou definitivamente dar uma identidade reconhecível àquela imensa diversidade de tribos da península arábica. Parece-me que o projeto de unidade nacional árabe faliu junto com a religião. Pode ser irônico, mas ao mesmo tempo que se estabeleceu o DIN para formar uma identidade nacional religiosa única, porém é ele mesmo o impeditivo maior que limita sua expansão até o ocidente.Youssef - 07/11/2015 13:46:34
Sr. Afonso Pires de Faria, ao chamar de horda os imigrantes, você ofende uma enorme comunidade que ajudou a construir esse país é corre o risco de responder por crime de racismo. Meça suas palavras!Youssef - 07/11/2015 13:42:13
Falou bem o Ismael. Os muçulmanos tiraram a Europa da ignorância da Idade Média. Aqui no Brasil, nós, imigrantes e descendentes, vivemos em harmonia. É, no mínimo, preconceituoso e tendencioso seu post Sr. Puggina.Ricardo Moriya Soares - 07/11/2015 13:13:25
Há uma grande diferença entre imigração e colonização. O problema do típico imigrante muçulmano é a sua incapacidade (muitas vezes proposital) de se integrar no país que o acolheu; veja os casos da França e Alemanha, que abrigaram nos últimos vinte anos um número considerável de imigrantes e refugiados advindos de países islâmicos, hoje eles vivem numa espécie de sociedade paralela - com leis e costumes completamente distintos das sociedades ocidentais... é como se houvessem micro nações dentro das nações que os abrigaram. O imigrante não muçulmano (seja ele latino, japonês, chinês, de qualquer ilhota do pacífico, etc.) irá passar por um processo gradual de adaptação com os costumes e a língua, todavia seus filhos irão se tornar plenos cidadãos, e acrescentarão novos hábitos ao país de destino - coisa que os irlandeses, italianos e chineses fizeram ao desembarcar nos Estados Unidos na primeira metade do Século XX. O filho do imigrante islâmico, embora cidadão de direito, continuará pensando como um estrangeiro, incapaz de aceitar a cultura ocidental e o Estado de Direito; para este indivíduo, sua missão de vida será a transformação da terra que o acolheu numa espécie de califado... os europeus sabem muito bem disso, pois estão sofrendo na pele há algum tempo. Claro, existem exceções, entretanto pesquisas feitas em países de maioria islâmica mostram que em média 65% de todos os muçulmanos no mundo apoiam incondicionalmente a implementação da Lei da Sharia onde quer que eles vivam... 65%! Isso quer dizer: mulheres subjugadas e inferiorizadas; cristãos, judeus, hindus e budistas sofrendo perseguições e taxações abusivas, apedrejamentos e decapitações numa rotina diária, pedofilia legalizada, etc. Está tudo lá no Alcorão, não estou exagerando!Odilon Rocha - 06/11/2015 23:02:34
Eis o resultado, fruto de políticas burras, inocentes, politiqueiras, frouxas e tolerantes em demasia para com imigrantes. Seja de que religião ou etnia for. O 'bom mocismo de Rousseau' não está funcionando. Nem poderia. É embuste puro! Caro Professor, tem gente que custa a aprender que imprudência cobra caro. É capitalista!Afonso Pires Faria - 06/11/2015 22:33:06
Creio que é chegada a hora. A hora em que eles esperavam da tomada do poder pelos maus do mundo. Já li relatos de como esta horda se comporta nos países que os acolhem. O ocidente esta mesmo é com medo. Soma-se a imposição pela força os organismos politicamente corretos para defendê-los. É o fim Afonso Pires Fariamaria-maria - 06/11/2015 21:20:45
Não entendo como Merkel apoia, tão generosamente, a chegada indiscriminada de muçulmanos terroristas em seu país, misturados aos demais imigrantes. O UK permite mudar até o estudo da História, pressionado pelos "coitadinhos" que lá há tempos se instalaram. Assusta-me que o ministério da justiça desta republiqueta, em que sobrevivemos, estimule a vinda dos islamitas, alegando que contribuirão para a cultura. Só esquecem de esclarecer que se trata da cultura da morte.Genaro Faria - 06/11/2015 18:45:26
Seja qual for a etnia ou credo religioso, o imigrante há de se comportar segundo os costumes e leis do país que passaram a habitar. O governo australiano inclusive exige que eles falem o idioma oficio do país. Eu não considero que sejam imigrantes os que ignoram as leis e costumes do país no qual foram morar. Considero tal atitude, isto sim, um desrespeito intolerável e uma ameaça à população, ainda que seu contingente seja reduzido. Minorias devem ser respeitadas na mesma medida em que respeitam as maiorias, sem discriminação de parte a parte. O que ocorre na Europa é uma invasão silenciosa contra a cultura do continente, ocidental e cristã.Marcos TC - 06/11/2015 16:55:27
A próxima grande guerra terá como estopim RELIGIÃO. As perseguições serão implacáveis com quem permanecer com sua fé. Espero de verdade estar errado e que a tolerância cresça e floresça.fabrice - 06/11/2015 16:34:00
Há outro aspecto a considerar. Morei na França no início dos 2000, o presidente era Jacques Chirac. Paris era uma amostra multicultural ostensiva: africanos das ex-colônias como Argélia, Mali e Marrocos, americanos da Guiana e Haiti, gente exibindo suas crenças religiosas, seus usos e costumes ostentados no comportamento e na maneira de vestir: mulheres opulentas enroladas em pareôs de estampas gritantes, ou escondidas sob véus muçulmanos, homens com uma espécie de batina cinza, turbantes ou aquele chapeuzinho turco, sempre se impondo aos demais em grupos, principalmente a europeus ou brancos. Já naquela época não era seguro tomar um trem ou metrô se o vagão estivesse vazio: o risco variava do assalto ao estupro. Viviam nos banlieues, como em um gueto, em prédios como os cingapuras paulistanos (obra do Maluf), favelas verticais, e os que trabalhavam impunham seu modus operandi no comércio de rua. Os suíços se queixam de que os asilados do Oriente Médio constroem mesquitas e madrassas nos seus bairros fechados aos nacionais. Pergunto: o que tanto atrai na Europa os povos do terceiro e quarto mundos senão a vontade de dividir a civilização e a riqueza consolidadas dos europeus? Se uma guerra se instalasse nas grandes cidades brasileiras, ficando difícil morar nelas, invadiríamos os USA ou seria mais sensato procurar um lugar no interior do nosso país e tentar sobreviver ali? Há muito de oportunismo, além da estratégia ideológica de infiltração terrorista, nessa onda migratória. Os países europeus que se cuidem ou todas as suas vacas se atolarão no brejo. Multiculturalismo, solidariedade, humanismo, sei...Ismael Façanha - 06/11/2015 15:33:43
Perfeitas as suas colocações sociológicas e históricas, Percival. Salvo a equiparação dos árabes que invadiram a Espanha desde o século VIII com os dementes fundamentalistas atuais. Aqueles trouxeram para a Europa medieval a MEDICINA, a ÁLGEBRA, a TRIGONOMETRIA indiana, a QUÍMICA; CULTURA, enfim; os fanáticos atuais são resultantes de uma anarquia generalizada, que devemos ao desmoronamento dos impérios coloniais franco-britânicos decorrente da I Grande Guerra, deixando o oriente médio fora de controle.