• Percival Puggina
  • 05/05/2017
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POPULISMO BEBERRÃO DE MENTIRAS - REFLEXÕES SÓBRIAS

 

 No último fim de semana de abril, dois textos me chamaram a atenção. Um deles é do jornalista que assina a segunda página do jornal Zero Hora. As opiniões de Tulio Milman tendem para a esquerda. É um dos tantos que, convictamente, ajudaram a pavimentar o acesso petista ao poder. Na referida coluna, porém, Tulio Milman confessa seu erro afirmando que "os grevistas não sabem, mas é contra Lula que estão protestando". Extraio do texto o seguinte segmento:

"A realidade só se revelou mais tarde, com o colapso ético e prático de um modelo corrupto e irresponsável, onde a gastança do dinheiro público e o descontrole geravam a ilusão de abundância. Qualquer modelo de desenvolvimento econômico só é eficiente se for sustentável. Não foi o que aconteceu. Difícil é explicar para milhões de brasileiros acostumados ao paternalismo e ao messianismo político.

Os anos de Lula e de PT não foram de prosperidade. Foram de irresponsabilidade e de desmando. Geraram um gigantesco passivo econômico e social. Os 14 milhões de desempregados no Brasil são a herança viva desse delírio, no qual muita gente, inclusive eu, embarcou. Cheguei a acreditar que Lula era uma solução viável de diálogo entre opostos. Na verdade, era apenas um monólogo sedutor e vazio."

Como se percebe, o jornalista está falando sobre a perigosa sedução do populismo, que, entre outras sinistras emanações, se expressa em paternalismo e messianismo, nos quais ele confessa haver embarcado e dos quais desembarca à vista do desastre social, econômico, político e fiscal a que nos conduziram.

O outro artigo é do filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp, e foi publicado no Estadão do dia 29/04. Aborda a impropriedade do uso do vocábulo "bolivarianismo" para designar o sanatório político que está varrendo a Venezuela para o monturo ideológico onde jazem Cuba e Coreia do Norte. Desse mal, Simón Bolívar é inocente. Nas primeiras linhas, porém, Roberto Romano fez estas interessantes observações sobre populismo:

"O elogio da ignorância, no Brasil, resulta de uma síntese efetuada por intelectuais, políticos, clérigos. Tal operação tem nome comum: populismo. Não se trata apenas de ideologia, existem populistas de esquerda, de direita, católicos, protestantes, muçulmanos. A demagogia, doença antiga, já na Grécia democrática recebeu seu nome de batismo. Após a queda do Império Romano, o apelo ao povo como árbitro supremo de todo poder e saber definiu movimentos de massa, fracassados ou bem-sucedidos. O romântico Michelet evoca a chusma popular como figura Christi, presença do Messias.

O populismo recusa a pesquisa para a descoberta do verdadeiro. A sua demagogia reúne em poucos chavões um arsenal tosco de propaganda. Os totalitarismos do século 20 levaram tal política ao absurdo. Goebbels, de um lado, os “jornalistas” do Pravda, de outro, abusaram do populismo em doses diárias, sorvidas pela multidão em padrões pantagruélicos. Afinal, “engolimos avidamente a mentira que nos lisonjeia, bebemos gota a gota a verdade que nos amargura” (Diderot)."

Agora, afirmo eu: no Brasil destes últimos 30 anos, a desgraça populista escolheu um partido para chocar seus ovos, se reproduzir e alcançar o poder. No caminho, arrastou setores expressivos da Igreja Católica, da mídia, do meio acadêmico, contaminando a alma do povo brasileiro. Agora, combate toda tentativa de estabelecer algum realismo na gestão do Estado e, através de seu mais tonitruante porta-voz, ameaça voltar ao poder. Só o Brasil sensato, formado majoritariamente por liberais e conservadores, por pessoas realistas, enfim, pode deter o avanço populista que - mau caráter e beberrão de mentiras como é - pisa no acelerador em tempos difíceis.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


cloe -   13/05/2017 21:36:42

Caro Percival. Muito preocupante.... Fico pensando: Que PAÍS deixaremos para nossos netos.????Pessoas que se dizem "cultas" se posicionando a favor do caos. defendendo idéias e ideais, para não perderem as mordomias....

Jose Nei de Lima -   12/05/2017 07:06:06

As máscaras estão caindo e ainda tem gente que acredita neles e uma verdadeira vergonha mundial que nos entretesce que parece que não é verdade mas é um atraso para o país mas vamos fazer uma faxina política e ética acorda Brasil, um grande abraço amigo que Deus nos proteja e guardem amém.

Odilon Rocha -   07/05/2017 14:21:09

E então, caro Professor? São ou não uns espertinhos, no imoral sentido. Agora que começam os primeiros movimentos de derrocada e de desmascaramento, torcem a mente, alucinada e desavergonhadamente, em busca de uma retórica que os salve. O socialismo, seja em que vertente e intensidade totalitária for, tem sido o maior engodo da História da Humanidade. Quanta empulhação!

Eduardo -   07/05/2017 10:16:34

POVO SEM CULTURA, NASCE PARA SER ESCRAVO, É O QUE SOMOS.

Ismael de Oliveira Façanha -   06/05/2017 22:34:24

Na Política, como no futebol, o certo e o errado se alternam e se confundem. Sob o império das paixões, a Verdade fica perdida, e quando aparece, vem meio bêbada, fantasiada de Ilusão, com máscaras, guizos, e vestes coloridas. Neste terreno tão mundano, bem cabe a pergunta de Pilatos: "O que é a Verdade?" Um cristão realmente consagrado, deveria se abster de comícios e estádios, como se abstiam dos coliseus os primeiros membros da Igreja, não é mesmo?

Genaro Faria -   06/05/2017 11:41:49

O populismo é apenas uma ferramenta usada pelos demagogos para manipular os estratos menos cultos e mais simplórios da população. Manipular e colocar o fermento que faz crescer essa massa de carentes de um salvador da pátria e protetor dos fracos e oprimidos por algum inimigo comum a ser exterminado. Não é, portanto, essa ferramenta nem aqueles que a empunham os responsáveis ser acusdados desse mal que nos inflige desastres descomunais. É o culto ao Estado por uma ideologia que a Primeira Guerra Mundial refratou do prisma socialista em comunismo e nazi-fascismo. Esta segunda vertente foi praticamente apagada pelo fracasso da Alemanha, Itália e Japão na Segunda Guerra. Mas a primeira se fortaleceu e até se expandiu formidavelmente após o calapso do império soviético. Aqui no país ela se instalou no poder com a eleição do senhor Fernando Henrique Cardoso e prosseguiu nos governos do PT, que o tempo todo fingiram-se de adversários ideológicos para ocuparem os espaços da situação e da oposição. O que me chama a atenção, professor Puggina, é que pessoas letradas não se dêem conta de que o populismo e o messianismo são intrínsecos ao socialismo que as encanta. Ou será que Lênin, Stalin, Mao, Fidel, Ho Chi Minh, assim como Mussolini e Hitler foram meros desvios irresponsáveis e gananciosos de um modelo justo, honrado, venerável?

Jonny Hawke -   05/05/2017 20:08:31

Professor, infelizmente ninguém se lembra disso. O que todos se lembram é que na era Lula e FHC não tinha inflação e compravam sua cerveja e sua carne pro fim de semana. A pesquisa do datafolha por mais mentirosa que seja tem um fundo de verdade pois muitos amigos meus (até alguns instruídos) estão levantando a bandeira de como era bom no Governo do Lula. Ninguém nem está aí ao fato que se ele voltar ao poder em menos de dois anos seremos a Venezuela 2 ou teremos uma guerra civil. Alguém acha mesmo que ia cometer os mesmos erros para implantar uma ditadura no país com fez na gestão anterior?