• Percival Puggina
  • 14/12/2008
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PAULO FREIRE, AYRES BRITTO E O CONSTRUTIVISMO DA IGNORŽCIA

Em 1996, j?om quase 30 anos de formado em arquitetura e sem nunca mais haver retornado a uma sala de aula, decidi fazer vestibular para Jornalismo, s?ra ver o que aconteceria. O ?o livro did?co que abri foi um que estava sendo consultado por minha filha, ent?se preparando para o ingresso no curso de Psicologia. Era, na verdade um livrinho, pouco mais que um caderno, sobre Literatura Brasileira. Fiquei curioso por saber como se podia enfrentar uma prova sobre o tema a partir de um folheto de t?poucas p?nas. Seu conte?consistia num sum?o de livros que mais nenhum estudante brasileiro l?diga-se de passagem, e respostas a quest?que poderiam ser formuladas a respeito. ?admiss?l uma coisa dessas? Sim. Em qualquer outro lugar do mundo, n? Mas no Brasil ?erfeitamente poss?l obter nota de aprova? num exame sobre literatura nacional sem precisar ler coisa alguma do que escreveram nossos grandes. Joguei fora o tal livro, entre escandalizado e repugnado, e levei meus j?scassos cabelos, ent?grisalhos, para enfrentar o vestibular na Famecos da PUC. Tirei o primeiro lugar. Essa curiosa experi?ia, se n?me valeu para prosseguir no curso, que abandonei logo na primeira semana de aula por absoluta falta de tempo, serviu-me para identificar a perda de qualidade sofrida pela educa? brasileira no espa?entre duas gera?s consecutivas. Saltou-me aos olhos que a minha gera?, a minha, politizada e ideologizada at? raiz dos pelos pubianos (em que pese tudo que se diga sobre a aliena? introduzida pelos governos autorit?os), quando chegou ?c?dras, fritou o c?bro dos seus alunos em banha marxista. Multid?de professores abandonaram os conte? e partiram para a milit?ia. Constru?m a ignor?ia dos alunos, mas conseguiram seus objetivos doutrin?os. Mentiram sobre hist?, optaram pelas piores vertentes do pensamento, abandonaram os cl?icos e produziram uma gera? onde s?olu?m aqueles que, voluntariamente, chutaram o balde e trataram de avan? por conta pr?a. Eles e seus pupilos alcan?am os postos de mando do pa?e continuam ideologizando tudo por onde passam: a universidade e o material did?co nacional; o direito positivo em todos os seus n?is; as den?as, as investiga?s e as senten?; as not?as e as manchetes; o cinema, o teatro, as artes, a m?a popular e o escambau. Lembram-se do que escrevi, h?oucos meses, sobre aquele professor de matem?ca que, defendendo tese de mestrado, discorreu sobre o papel da sua disciplina na forma? dos intelectuais org?cos? Pois ? Foi assim que, assistindo a leitura dos votos no julgamento do caso Raposa Serra do Sol pelo STF, pude me deparar com as delirantes abstra?s da realidade com que nossos ministros se puseram a decidir. Para transformarem a reserva ind?na num para? ?v?eras da perdi? faltou nada. O momento culminante do julgamento ocorreu quando o versejador sergipano Ayres Britto, em apoio a Eros Grau que falava sobre a sabedoria dos ind?nas, lascou, citando Paulo Freire: “N?existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes”. De fato, aquelas tribos praticam o infantic?o, o ministro defende o aborto, e viva Paulo Freire. Eis a?tout court, num verdadeiro safan??ntelig?ia, o resumo da causa e a alma da decis?j?em engatilhada contra a soberania brasileira na Amaz?. A culmin?ia do relativismo. N??ue j??mais existam verdade e mentira, nem certo e errado, fora da conveni?ia ideol?a. ?negada exist?ia ?r?a ignor?ia, transformada em cada vez mais comum forma de saber. Tomas de Aquino e Frei Betto, Beethoven e Mano Brown, Arist?es e Marilena Chau??tudo a mesma coisa, ta entendendo mano?