Estamos num desses momentos em que se reduz o tempo entre a distração e o atropelamento. Decisões tomadas pelas instituições da República impõem esclarecimento e reação.
No ano passado, a nação votou pelo fim da impunidade. Não suportava mais que o Brasil fosse pátria mãe gentil dos criminosos e corruptos, e madrasta dos demais. A nação foi vigorosamente às urnas, superando sua notória desconfiança na correção das mesmas e da respectiva apuração. Era necessário salvar-nos daquela perdição.
Não foi preciso correr um ano inteiro para a maioria do novo Congresso Nacional mostrar-se gêmea da anterior. A outra se lambuzava; esta, protege os lambuzados. Cria leis impulsionadas por movimentos peristálticos. Delibera em causa própria, para ônus nosso. Derruba vetos presidenciais para colocar os órgãos e agentes de Estado dedicados à Justiça, à defesa da sociedade e ao combate à criminalidade deitados no chão, de barriga para baixo. Haverá prisão para quem se mexer e levar a sério seu trabalho. É o garantismo em seu mais deslavado esplendor. Perante ele, os potenciais bandidos são o delegado, o promotor, o juiz.
Pare, olhe, escute! Quantas matérias jornalísticas você leu, ouviu ou assistiu ao longo destes dias condenando, com a necessária veemência, a decisão do Congresso Nacional? Qual veículo cuidou de levar ao conhecimento público os líderes desse movimento? Qual deu nome aos lobos da matilha? Qual esmiuçou as desastrosas consequências do que foi votado? Que diabo de jornalismo é esse? Se usassem para defender a sociedade 10% do tempo e esforço que gastam para combater o Presidente da República, provavelmente gerassem constrangimento e evitassem alguns desses disparates legislativos. Mas não. Até ao examinar os vetos do Presidente derrubados pelo Congresso no projeto das despesas partidárias, as críticas da Globo não convergiram para a derrubada dos vetos, mas para um preceito que o Presidente não vetou, como se não vetá-lo fosse um mal e derrubar todos os vetos fosse um bem. Noutra ocasião, uma jornalista, mesmo sabendo que Davi Alcolumbre, nacionalmente detestado pelos eleitores de Bolsonaro, foi flagrado pela câmera votando contra todos os vetos do presidente, não se constrangeu em qualificá-lo como seu “principal aliado”.
Na semana passada, o STF legislou sobre processo penal e levou ao escárnio seu conhecido desprezo à opinião pública e aos mais justos anseios da sociedade. Criou nova gambiarra no insólito e prodigioso sistema recursal brasileiro. Agindo com o intuito vingativo de derrotar a Lava Jato, preparou o retorno de 32 condenações à eternidade dos trâmites, para alegria de 143 corruptos e corruptores já condenados.
Pare, olhe, escute! Quantas matérias você leu, ouviu ou assistiu, fora das redes sociais e da mídia alternativa, tratando desse assunto com o rigor que requer? A imprensa, a outrora grande imprensa, quando passa a usar seu poder exclusivamente em favor de causas particulares, gera débitos sociais. A conta vem para todos, como estamos a ver.
Enquanto o chamado quarto poder caça o mito, as bruxas assombram o país. No Pará, magistrados se mobilizam. Só no Pará? Juízes, promotores, policiais permanecerão inertes enquanto o crime dita leis aos poderes da República? É hora parar, olhar, escutar e resistir!
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Donizetti Oliveira - 01/10/2019 14:16:42
Resumo da ópera: só intervenção militar urgente, firme e forte para sanear e devolver o Brasil ao brasileiros de bem. Cadeia para todos os pilantras que afundaram e estão mantendo o país na penúria da desonestidade formal e intelectual. O Estado Democrático de Direito, que já era frágil, não é mais respeitado, sendo estuprado sem dó e nem piedade pelos Supremos e pelo Congresso. Tem que fechar os covis da maldade.Carlos Edison Fernandes Domingues - 01/10/2019 12:54:05
PUGGINA Leio, interpreto e acompanho. Carlos Edison DominguesAfonso Pires Faria - 30/09/2019 23:24:16
É de desanimar. Quando se pensa que estamos nos dirigindo para um cais tranquilo, surge uma e mais outra tempestade para mudar o rumo da nossa nau. Mas, cuidado professor, andas pensando muito alto. Um ex procurador pensou alto demais e teve os seus meios de comunicação aprendidos e por pouco não foi preso. Pare, olhe e escute, mas não ouse pensar muito alto. Parabéns pelo brilhante comentário.Paulo Tietê - 30/09/2019 21:29:54
O mínimo o que a imprensa deveria fazer, era divulgar o nome dos que derrubaram os vetos, e os processos que eles respondem. Mas não esqueçamos que o Presidente do Senado, foi eleito com o apoio do Governo. Será que não tinha nenhum sem responder processos? Também, causa escárnio o provável concluio entre o Presidente do Supremo com o da República, para salvar o filho deste último. Que por sinal, é muito burro. Deveria ficar e desempenhar bem no Senado, em lugar de ser ser embaixador. Aqui, se sobressaísse, poderia concorrer em 2022 ou 26, a um cargo executivo ou manter-se no Senado. Nas eleições, escolhi votar na esperança, e não na certeza da continuidade da corrupção. Mas tendo em vista as "línguas destrambelhadas", estou começando a duvidar da sanidade mental de uma certa família. Saudações,José Nei de Lima - 30/09/2019 15:12:00
A Suprema Corte, está saindo melhor que a encomenda, cada decisão uma novidade nunca visto no Direito brasileiro, vamos ficar mais atentos com suas decisões, só um Povo Unido e com muita sabedoria para enfrentar estes nossos magistrados, um grande abraço meu amigo que Deus vos abençoe amém.Luiz R. Vilela - 30/09/2019 11:23:47
" Ninguém aguenta mais, o autoritarismo do estado brasileiro". Teria dito isto, ou algo parecido, o presidente da Câmara de deputados, o deputado federal pelo Rio de Janeiro, Rodrigo Maia, o festejado "Botafogo", alcunha proveniente das listas enigmáticas, da Odebrecht. Imagina-se quem possa ter exercido a autoridade no pais, que tenha excedido ao cumprimento da lei, se nos últimos anos, a roubalheira foi ampla, geral e irrestrita. A tirania foi exercida sobre a liberdade dos cidadãos , ou foi justamente ao contrário? Criaram mecanismos, e ainda estão criando, onde a vítima, ou seja, o pagador de impostos, não possa reagir. Estão amarrando as mãos e calando a voz da sociedade, através da lei de abuso de autoridade. A repreensão ao crime, é que esta sendo criminalizada. Ninguém aguenta mais a tirania dos políticos e a soberba dos excelsos do pretório. Tudo isso, já passa, e a muito as raias do razoável, e que por falar nisso. descobriram uma desculpa para o tal posicionamento dos depoimentos de delatores e delatados. Passaram a dizer que os delatados tem a prerrogativa de depor por último, não em função da lei, que é omissa nestes casos, portanto inaplicável, mas em função da "razoabilidade" na qual o direito se baseia. A razoabilidade que excede no direito, é a mesma que falta aos ministros do STF. Democracia, é o império da lei, ninguém será obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa, que não seja por força da lei. Como é então que ministros da suprema corte, invocam lei inexistente para anular processos? Não levam em conta o crime cometido? Apenas alguns detalhes do processo? Transformam o réu em vítima e a verdadeira vítima, o contribuinte passa a ser o réu, através de seus representantes. Não estaria ai a falta de razoabilidade? Deixar de punir os criminosos por apenas alguns pequenos detalhes? Querer igualar o roubo de bilhões, a um posicionamento dos depoimentos num processo, aos quais a lei não faz nenhuma referencia, ultrapassa e muito o razoável, parece é ser tendencioso.