Percival Puggina
É natural que criminosos sejam representados por advogados para seu direito de defesa ser plenamente exercido. A lei e a razão o determinam. Por isso, o Estado fornece advocacia gratuita a quem não pode pagar e por isso, também, profissionais e escritórios, querendo, atendem necessitados de modo gratuito (pro bono) em contribuição à Justiça como valor social.
O que eu não consigo entender é a conduta dos padrinhos da bandidagem em tese e pro bono, através de literatura jurídica e dos meios de comunicação social. Aí é brabo! Não abraçam um bandido específico, mas protegem o coletivo, seja justificando a conduta criminosa, seja atacando os aparelhos policial e judiciário, vale dizer, aqueles que reprimem, investigam, acusam e julgam. Ensopam lenços retóricos ante um bandido morto e têm os distantes do policial cuja vida se esvaiu no cumprimento do dever.
Nunca vi o sujeito indefinido de quem falam com tanto afeto. A cada crime cometido por celerados que jamais poderiam andar soltos, eles mencionam esse raríssimo personagem padrão. Discorrem sobre ele com a intimidade de quem certamente sabe o nome da sofrida mulher e dos infelizes, mas diletos filhos. Descrevem sua situação social, os empregos que perdeu por motivos fúteis, os maus tratos que a vida lhe impôs por culpa de todos que estejam uma polegada acima de seus padrões de existência. Apesar do abismo que separa esse sujeito dos bandidos que enchem as páginas policiais, os tais rábulas pro bono o oferecem ao imaginário nacional como sendo o criminoso de referência. Lula pensa assim.
“Filho doente, sem emprego e sem dinheiro para os remédios, como buscar aquilo de que necessita?”, indagam como quem fala à dureza de corações empedernidos. Pois é, pode até ser que alguém tenha tido notícias, mas eu jamais soube de assalto cujo produto seja contado em vidros de antibiótico ou gramas de mortadela. O crime que enche os noticiários, que nos atormenta, é bem outro. Seus autores não vão em busca de uma necessidade premente. Querem dinheiro, sexo, automóveis, a conta bancária dos sequestrados, meios para comprar drogas. E, à menor contrariedade, atiram para matar.
Os dois sujeitos armados que me assaltaram tempos atrás não tinham jeito de quem iria correndo ao supermercado adquirir gêneros para seus ninhos de amor familiar. Pergunto: as feras que volta e meia declaram guerra à polícia, disparam contra as delegacias, queimam ônibus, atiram em mulheres grávidas, cometem chacinas seriam imagem viva desses chefes de família torturados ao limite de sua resistência moral pelas carências dos entes queridos? Qual dos bandidos cujas ações enchem as páginas policiais tem o perfil que os tais doutores, sem o refinamento de Mark Twain, descrevem como se fossem inspirados na vida de Huckleberry Finn?
Sei que o mais empedernido promotor e o mais insensível magistrado não encarcerariam um miserável cuja situação e delito correspondam a essa quase romanesca descrição. Os bandidos que a sociedade quer ver jogando o jogo da velha nos quadrinhos do xadrez são receptadores, quadrilheiros, sequestradores, traficantes, pedófilos, estupradores, estelionatários, assassinos, corruptores e seus fregueses instalados nos escritórios do poder.
Processar com rapidez, prender e manter presos os poucos que caem nas malhas da polícia e da justiça – digo eu antes que os tais rábulas retornem com seu mantra: não resolve o problema da criminalidade. Leram-me bem, senhores? Não resolve! Mas resolve o problema da criminalidade praticada por esses específicos bandidos. Já será um bom começo pagarem atrás dos muros o mal que fizeram. Enquanto isso, cuide-se, também, das outras muitas causas. Entre elas, aliás, a ideologização que, dando origem a essa ladainha sentimental, se constitui em bom estímulo à tolerância perante o crime e ao avanço da violência.
Ah, se os verdadeiros criminosos fossem vistos como no Brasil os olhos da justiça viram quem cantou hinos e rezou diante de quartel!
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Vitoria Silveira Leonardi - 12/09/2023 06:34:42
Irretocável!Ademar Pazzini - 11/09/2023 19:58:11
Texto irretocável, que corrobora um artigo recente do Promotor Eugênio P. Amorim no NH, com base no anuário da segurança pública brasileiro. Conforme aquela autoridade do MP/RS, de cada 100 homicídios, apenas 10 são julgados e destes apenas 1 (um) acaba efetivamente cumprindo condenação. Talvez isso explique o vergonhoso número de homicídios no Brasil.Afonso Pires Faria - 11/09/2023 17:15:02
Parabéns professor. Difícil não se indignar com o tratamento que recebem os bandidos no nosso país.Decio Antonio Damin - 11/09/2023 13:56:49
Tanto criminosos quanto vitimas, tem o direito de se defender e querer justiça...! Emular a figura do delinquente, atribuindo-lhes virtudes raramente encentradas, é o discurso de seus defensores "pro bono" que é igual a do bandido "injustamente morto" pelos "bárbaros policiais". Sempre o bandido morto é uma vítima da sociedade injusta. Muitas vezes é assim num país de analfabetos e desassistidos como o nosso. A anarquia é geral pois até nos mais altos escalões da política delinquentes e réus confessos são artificiosamente inocentados e homenageados...! Aconselho "parar tudo e começar da estaca zero"!!Gerson Carvalho Novaes - 11/09/2023 09:09:48
Palmeirense que sou, torço por uma final entre Palmeiras e Internacional. E que vença quem jogar mais futebol! Não tenho qualquer interesse nessa seleção dos sócios Globo e CBF, os dois do Rio de Janeiro…Gilmar Jorge de Oliveira - 11/09/2023 09:08:31
Precisamos refazer as coisas neste país! A constituição cidadã de Ulisses Guimarães infelizmente se prostituiu! Hoje valoriza-se mais os criminosos que a sociedade que mantém a justiça funcionando! Querer mudar tudo sei que é utopia, pois no meu entender o ideal era adotarmos "o voto distrital puro" para endireitarmos este desvio de conduta de nossos representantes! Mas podemos começar a tirar o direito ao voto de quem tem condenações na justiça, principalmente os reclusos! Além da liberdade, perde-se o direito a representatividade!Eloy Severo - 11/09/2023 08:52:03
O Brasil virou o paraíso de tudo que é negativo. Não vejo saída, a não ser o aeroporto p/os graudos (como dizia uma velha senhora), os miudos nem pela rodoviária. Lembram do então presidente Lula, quando segurou o bandido Cezare Batiste.Cristina Hilgert - 11/09/2023 08:38:21
A benevolência com os criminosos e outras minorias, além de render votos, mantém a sociedade em conflito, sem tempo para perceber e cobrar as obrigações devidas pelo estado (com e minúsculo mesmo).Regina Guimarães - 11/09/2023 08:13:27
Sempre que o assunto é criminalidade eu me lembro que, anos atrás, a orientação dos especialistas da falida mídia era: "não reaja". Essa ladainha foi uma espécie de ensaio para a nossa submissão à bandidagem em todos os níveis.Manoel Luiz Candemil - 10/09/2023 12:54:47
Uma coisa é certa: com a liberação de condenados, além de outros efeitos, ficam reduzidas as despesas dos governos responsáveis com as prisões e penitenciárias, sobrando receita para destino diverso!