Percival Puggina
Sou cidadão de um país onde as decisões mais estapafúrdias são tratadas como parâmetros de normalidade. Alguém dirá que é mera questão de ponto de vista. No entanto, sempre que, em extraordinário esforço de angulação, me desloco para esse tal “ponto de vista”, vejo tudo ainda pior. Muito pior!
Digo e provo. Como podem afirmar que a democracia e o estado de direito que todos queremos estejam sendo servidos ante as situações que descrevo a seguir?
Um criminoso condenado em três instâncias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro disputa a presidência com alegadas possibilidades de vitória.
Bandidos podem descer do morro para a cidade, mas a polícia não pode subir da cidade ao morro.
Algo que 999.999 pessoas a cada milhão veem como blindado e opaco é oficialmente proclamado modelo de transparência.
Os constituintes de 1988 são depostos por pequeno grupo de guardiões daquele trabalho e esses guardiões utilizam a Constituição mais ou menos como maîtres e chefs usam sebosos livros de receitas: ao seu gosto.
O crime de“lesa-majestade”volta à cena, com a consequente morte cívica dos réus e se instala a prática de estender as restrições de direitos às suas famílias.
Inquéritos são abertos para permanecer ameaçadoramente abertos.
Snipers e equipes antibombas são empregados para proteger o Estado que se sente acossado, ameaçado, por cidadãos que rezam, cantam o hino nacional e falam verdades com a plena convicção de que sequer serão ouvidos.
A sociedade é alvo de ameaças, vê a censura se impor, tem sua liberdade de opinião e expressão tolhida de múltiplas formas,assiste à brutalidade e à injustiça acontecerem enquanto a vida privada se torna objeto de pescaria probatória.
Os itens acima são apenas alguns dentre muitos, num país onde as palavras vão para um lado e as ações na direção oposta.
É o “Estado de Direito” transformando a lei em seu escudo protetor e não mais servindo ao cidadão e à sua liberdade.
É a “democracia” da surdez seletiva do judiciário e do parlamento de aluguel.
Mudemos, agora, para o ponto de vista dos novos donos do poder. Estão ali os “novos príncipes” das lições de Machiavel. Não lhes passa pela cabeça que nas sociedades modernas, a injustiça praticada pelo Estado contra um cidadão é sentida na sociedade inteira. Por sentir isso há quatro anos é que afirmo ser terrível ver o país desde o ponto de vista daqueles que assim agem ou a tudo permitem.
Explicando melhor: os novos príncipes sabem que onde existe o bem existe a condolência, o sentir com os demais. Não é a mesma coisa, não é sequer parecido com o “mexeu com um mexeu com todos”– na expressão da pequena confraria dos sem voto. É aquilo que nos vem à alma quando a injustiça se instala, a lei é descumprida e a Constituição manejada, repito, como maîtres e chefs usam seus livros de receitas: dão uma olhada, mas fazem como querem.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Roberto Lima - 21/09/2022 23:04:39
Não voto em Lula nem em Bolsonaro mas o lado do Percival é claro: do último. Tão bandido quanto o primeiro.Joel Freire - 21/09/2022 22:02:33
Sou um septuagenário e pensei que já tivesse visto tudo. Ledo engano meu. O açodamento das leis e dos costumes estão a me assombrar cada vez mais. Deus tem dúvida se está no mesmo nível desta "corja" que se apoderou do estado de direito e dita regras como melhor lhes convém.Antonio - 21/09/2022 18:05:34
A democracia e o povo são maiores que um medíocre tribunal. Eles pensam que são deuses, mas a vida os ensinará que nunca foram. É só esperar.WAGNER WALTER LEHMANN - 21/09/2022 16:38:25
Palhaços são ótimos profissionais como palhaços. Fora disto só serão palhaços, nunca serão parlamentares, juízes, advogados, médicos e outros tantos. Nasceram para fazer palhaçada... para alegria do do povo. Mas o circo que estamos vendo não é bem esse...Marcia - 21/09/2022 08:24:30
Li A tragédia da Utopia.....muito bom! Precisaria ser mais divulgado.....para as pessoas conhecerem melhor os amigos e ídolos do Luís Inácio.......Muito obrigada!!!! Grande abraço!!!!Rosa Maria - 21/09/2022 03:41:57
E o pior, estes “ príncipes “ são impostores,desde que não nasceram príncipes,e ali foram colocados ,escolhidos a dedo,exatamente para fazer o que estão fazendo,rasgar a Constituição ,proteger bandidos e acossar a liberdade da população.Serão os responsáveis pela desgraça de uma nação que está prestes a mergulhar no abismo de um regime socialista autoritário e catastrófico.Vamos deixar?Richard M. Garcia Martin - 20/09/2022 22:51:10
Há tempos a palavra "democracia", perdeu completamente o seu significado em terras tupiniquins. Tornou-se um mero jargão, com o objetivo de dar algum crédito às ações mais avessas ao conceito de democracia. Em suma, tornou-se o escudo de uma ampla casta de canalhas, começando nas instituições governamentais e estendendo-se por todos os meios sociais. Estamos, infelizmente, caminhando a passos largos para o abismo.jorge olavo tarrago pereira - 20/09/2022 19:05:37
Enquanto o povo é induzido a eleições explicitas e " polarizadas " o PODER PARALELO, " JUDICÁRIO E LEGISLATIVO " partidos políticos de oposição, etc...." camuflados de sistema moderador, atacam o EXECUTIVO, com abusos de autoridades aos poderes constitucional, pela via eleitoral.Arine Córdova de Souza - 20/09/2022 15:01:35
É a triste realidade; mas, continuo com esperança por dias melhores.Mara Montezuma Assaf - 20/09/2022 14:21:11
Eu percebo que o respeito que tínhamos pelo STF e por seus ministros acabou. Tentaram de todo jeito nos incutir medo para não comparecermos ao 7 de setembro, e não conseguiram. Sem o respeito do povo este STF PERDEU RAZÃO DE EXISTIR.Lari Beltrame - 20/09/2022 13:30:04
Perderam a vergonha, se enlamearam na vaidade, arrogância e soberba. Mas não há mal que dure a vida toda.Pro Alcioni - 20/09/2022 13:17:20
Parabéns pelo belo comentário, concordo com vc sobre estes "príncipes" das trevas que querem um Brasil vermelho, mas nós não vamos deixar.Anselmo - 20/09/2022 12:46:32
Antes tínhamos 11 deuses agora temos 9 e dois entocados e acuados pela maioria. Fazem o que querem ao arrepio da lei. Usam suas próprias leis já que não há mais ninguém a contesta-los. É o mecanismo.Maria Romay - 20/09/2022 12:22:51
E , baseado no que vimos nos últimos eventos , muitos que participaram da execução da Constituição de 88 estavam presentes dando apoio e aplaudindo efusivamente a figura principal do momento!Antonio - 20/09/2022 12:09:35
Tem um livro, disponível gratuitamente pelo Instituto Rothbard Brasil escrito por Hermann Hoppe traduzido para o português DEMOCRACIA-O deus que falhou. Para baixar gratuitamente. Tem uma vasta biblioteca digital de artigos e livrosManoel Luiz Zatar Bailet Candemil - 20/09/2022 11:51:12
Há um detalhe interessante: parece óbvio que os seres humanos que editam uma Constituição Federal ou são guardiões da Lei Maior passam a ser também especialistas na desordem e na desconstrução, como vêm provando presentemente os ministros do STF.Nelson Rodriguez Mouriz - 20/09/2022 11:48:52
É isso caríssimo Puggina. Por vezes a sensação é de que perderam o juízo e nos querem todos num manicômio.Menelau Santos - 20/09/2022 11:31:19
Professor, esse seu texto é uma crônica a ser lida também daqui a muitos anos e poucos crerão que esses fatos realmente aconteceram. Como Sr. mencionou, são apenas alguns fatos citados. Ainda tem aquela do Outdoor falando da familia, da Pátria e da Liberdade que a juiza viu fascismo ali. Tem também...e tem também...e tem também...Honório Dubal Moscato - 20/09/2022 11:23:33
O Professor Puggina é uma das poucas e maiores referências contra esse "estado de coisas antidemocráticas" que as esquerdas querem implantar no Brasil. Em frente, Professor.Carlos Alberto de Paula Cardoso - 20/09/2022 11:22:54
Texto maravilhoso, retratando fielmente nossa triste realidade. Vivemos a ditadura da toga. Falta aos "togados" o notável saber jurídicoLuiz R. Vilela - 20/09/2022 11:15:17
Quando um juiz é criminalizado pela sentença que prolata, quando um promotor é condenado a ressarcir aos cofres públicos pelos recursos gastos em investigações que desvendaram fraudes gigantescas e milionárias contra os governos, fica-se a imaginar que no pais a lei não é igual para todos. Em que outro lugar do mundo aconteceu o acontecido no Brasil com a Operação lava Jato? Na própria Itália, onde a operação mãos limpas foi "abortada" pelos mafiosos, não se tem noticia de algum dos condenados, tenha em seguida se candidatado e assumido qualquer cargo público. A inovação no resultado da lava jato, é como jabuticaba, só dá no Brasil. Aguardemos pois, que os brasileiros estejam mesmos com vontade de mudar o Brasil e não caiam na esparrela que certa ideologia anda querendo implantar por cá.Maria Luisa Dommarco Simões - 20/09/2022 11:14:26
Parabéns Percival! Verdades verdadeiras no texto impecável.Maria thompson Alvarez de Carvalho - 20/09/2022 11:11:36
Um STF "aparelhado" como o nosso perdeu todo o respeito do povo. Pena ( ou, até por isso)que os critérios de escolha sejam " tão politiqueiros"! Um STF de respeito deveria ser composto por juízes concursados, de elevado saber jurídico, e de carreira irreparável! Mas parece que isso é " querer demais"!Waldir Vieira - 20/09/2022 11:05:42
Estamos juntos com o seu ponto de vista, jamais imaginei que o nosso país chegaria a esse ponto. Dia 02 de outubro daremos uma resposta nas urnas esperando que realmente sejam inviável.Yara Artigas - 20/09/2022 10:51:28
Exatamente.... ParabénsAntonio Dias Ramos - 20/09/2022 10:31:58
Ja passou da hora Tem que fazer uma limpeza no STF.separar o joio do trigo.urgente.Guiomar - 20/09/2022 10:20:18
Cirúrgico, irretocável como sempre, caríssimo Professor!!!Valdomiro Valdez Dourado - 20/09/2022 10:05:54
Prof. Puggina, já passou da hora em que um jurista de verdade, realize a fundamentação jurídica necessária, para encaminhar a petição ao Superior tribunal de justiça Militar, único com autoridade moral e constitucional, para julgar e prender os criminosos de toga, que se julgam acima da Lei...