• Percival Puggina
  • 02/04/2015
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OS INDIGNADOS E OS QUE AINDA NÃO ENTENDERAM

O Brasil vai como quem resvala rampa abaixo sobre um skate. É a crise. Em relação a ela, existem duas atitudes principais. A primeira, amplamente majoritária, é a atitude dos que entenderam o que aconteceu e estão indignados. A segunda é a dos que ainda não entenderam.

 Estou entre os primeiros. E realmente indignado porque não precisávamos estar passando por isso. Nosso país viveu um momento promissor nos primeiros anos da década passada. Após enorme esforço fiscal, o Brasil derrubara a inflação, havia recuperado a credibilidade internacional, passara a atrair investimentos, construíra alguns fundamentos para a Economia, a arrecadação crescera e o governo ampliara a destinação de recursos para uma série de programas sociais. As condições para tanto foram obtidas a duras penas desde o governo Itamar Franco, com medidas de austeridade e privatizações que o PT combateu furiosamente. Seriam necessárias muitas outras providências, é verdade, mas nunca houve (e não sei se um dia haverá) apoio político, no Brasil, para fazer todo o dever de casa.

 Mas íamos bem. Tanto assim que Lula e seus companheiros se convenceram de que governar o Brasil era uma barbada. A China vendia tudo barato e comprava montanhas de qualquer coisa. Jorrava dinheiro nas contas públicas. Obama dizia que Lula era "o cara" e o cara era o pai dos pobres, aqui e mundo afora. O Brasil virou um programa de auditório onde se atirava dinheiro ao público. Havia bastante. Dava para comprar todos que quisessem se vender. Uma parte da grana ia para os programas sociais e outra, muito maior, para os programas socialites, via contratantes de obras e serviços, e financiamentos do BNDES.

De formiga da revolução social, o petismo passou a cigarra das prodigalidades. Em vez de investir na qualidade da educação das classes de menor renda, preferiu remunerar a ociosidade. Em vez de estimular o mérito, favoreceu a mediocridade com leis de cotas. Em vez de gastar recursos públicos em infraestrutura, "conquistou" em dois lances, a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Em vez de diminuir o tamanho o Estado, agigantou-o com novos ministérios para usufruto da base de apoio. Para que o PT se exibisse como partido líder da esquerda continental, financiou de um modo escandalosamente secreto obras de infraestrutura que fariam muito bem, se feitas no Brasil. Bilhões de reais foram direcionados para os países do Eixo do Mal Latino-Americano (na expressão perfeita do Dr. Heitor de Paola).

A crise da economia mundial  ganhou o apelido de "marolinha". E como tal, foi solenemente ignorada pela imprudência ufanista do presidente. Ele dava conselhos ao mundo sobre como acabar com a pobreza... A partir da metade do segundo mandato do estadista de Garanhuns, nos monitores dos analistas da realidade brasileira, as luzes amarelas se alternavam com as vermelhas. Mas nada importava. Era preciso eleger a senhora mãe do PAC, notória economista que pensou haver descoberto o segredo do bem estar geral: endividar a sociedade toda através do governo para manter as aparências e, adicionalmente, ampliar o endividamento das famílias. Se você examinar de perto, verá que não há muito espaço para geração de riqueza, poupança interna e investimento nessa inadequada concepção. Embora não conviesse ao Brasil reeleger Dilma, Dilma precisava ser reeleita. Paguemos todos, então, os custos das ilusões necessárias para produzir o absurdo e suspeitíssimo resultado eleitoral de 2014.

A notória falsificação, que já leva oito anos, enganou muitos, durante muito tempo. Não só no Brasil, diga-se de passagem. Agora veio a conta e levaremos alguns anos pagando. Quem sofrerá mais? Os pobres, justamente os mais vulneráveis e, por isso, os mais iludidos pela publicidade do governo. Mas não precisávamos passar por isso.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 


Tomaz Fontoura -   04/04/2015 21:46:35

Prezado Senhor. Talvez o que fale aqui não agrade a muitos, mas é o pensamento de muitos brasileiros. O Sr. disse quase tudo em seu artigo, concordo com "tudo" o que escreveu. A classe política esta desacreditada, os ditos representantes do povo, estão no poder somente para enriquecerem, tirarem proveito para si próprios. Existe uma saída para essa situação, embora a muitos não agrade. Tem homens em nosso país que são extremamentes preparados para governar, que falam pouco e escutam muito e por escutarem muito sabem dar voz de comando. Eles estão nesse momento escutando a voz que vem das ruas e na hora certa, certamente darão o comando de basta a roubalheira e ai chegará o final desse desgoverno que afunda o nosso Brasil. Falo dos oficiais das gloriosas FFAA, gente preparada e guardiães da pátria e da democracia verdadeira.

Zaqueu -   04/04/2015 19:07:21

Muito própria a imagem da formiga da revolução social e da cigarra petista que esbanja e desperdiça. Agora que começa o inverno rigoroso da derrocada dos mandatos lulistas, com a destruição do Brasil, se perguntados o que faziam no verão, responderão, nós cantávamos. Então o país e o povo que dancem agora.

PERCIVAL PUGGINA -   04/04/2015 00:55:02

Muito obrigado, André Carvalho. Já fiz a correção.

Iedo L. Junior -   03/04/2015 22:36:26

Parabéns. Direto. Objetivo. Esclarecedor. Será que é muito difícil se dar conta de que o modelo socialista simplesmente faliu mundo afora??? Saúde e vida longa, Puggina.

André Carvalho -   03/04/2015 20:22:11

Bom artigo como de costume, sr. Puggina, embora nem sempre concorde com o conteúdo. Escrevo apenas para fazer uma observação: a crise econômica mundial não foi assunto na campanha de 2006, simplesmente porque ainda não existia. Ela começou a fazer sentir seus efeitos lentamente, em 2007, nos EUA, e ganhou corpo e o mundo em 2008, quando, então, Lula fez referência à "marolinha".

Sérgio Alcântara, Canguçu - RS -   03/04/2015 15:15:24

Caro Professor Puggina e amigos. Eu diria que esta súbita tomada de consciência por parte da maioria esmagadora da população brasileira acerca da realidade do país atualmente, se fundamenta em dois aspectos primordiais: Um é, naturalmente, a eclosão da crise econômica, política e financeira, resultante dos fatores tão bem explicitados no artigo, reforçada, é claro, pelo flagrante estelionato eleitoral praticado na última eleição da presidente. O outro aspecto eu classificaria como de natureza política mesmo. Recentemente, são crescentes os movimentos identificados com ideias caracterizadas como de centro-direita que, aliás, eram consideradas pelos "gênios" do marxismo como condenadas ao ostracismo. Com o advento da internet e das redes sociais, muitas pessoas inteligentes e verdadeiramente interessadas em fazer política como instrumento do bem comum, foram tomando ciência de tais ideias, cuja existência vinha sendo sistematicamente negligenciada pela mídia tradicional (que o PT finge entender como adversária), tratando de difundi-las de maneira inteligível nas respectivas comunidades. O resultado deste auspicioso fenômeno foi a rápida recuperação da consciência de que é possível e necessário o estabelecimento de novos parâmetros de governo e de Estado, capazes de suplantar os dogmas ideológicos e os vícios sacralizados pelo petismo. Feliz Páscoa a todos!

Gustavo Pereira dos Santos -   03/04/2015 10:09:51

Prezado Ricardo, coincidentemente, o professor de Geologia e a servidora do INSS são funcionários públicos. Um abraço, Gustavo.

paulo de carvalho filho -   03/04/2015 02:35:09

Alguém disse certa vez que o papel da Dilma seria fazer a ruptura do Estado democrático para o totalitarismo bolivariano, e se a gente observar veremos que a petralha não dá um passo para traz, nem para disfarçar, talvez para o lado, continua firme no seu propósito, basta ver o seu discurso, as suas mentiras, a sua cara de pau. Ela reconheceu o seu papel, frente ao bolivarianismo da América Latina, me parece que quando ela faz um discurso, o faz mais para los hermanos do que para os próprios brasileiros, tamanha a desfaçatez diante da população que já arrancou a sua máscara! O FHC roçou o campo, o Lula plantou e agora a Dilma quer colher!

Maria Janel de Jesus -   02/04/2015 22:37:42

Infelizmente observamos como que uma "cumplicidade mundial" em favorecer a figura do ser - Lula - que entendeu de vender sua alma ao diabo nos atrelando como penhora. Nada grande começa num repente. Tanto para o bem quanto para o mal. Quero crer que as forças do bem e do mal estão a se degladiar. Confio em Deus, que o Bem Triunfará com essa sofrida mas arejada força do patriotismo, em que fica patente, apesar de todas as mazelas e intenções contrárias, o espiríto de cidadania erguer-se em meio a Perdas Tenebrosas. Abençoada Páscoa!

Ricardo Moriya Soares -   02/04/2015 21:48:35

Eu tenho uma teoria um tanto que controversa, bom, na verdade bem politicamente incorreta (eu sou naturalmente politicamente incorreto, sou humano!) para os dias atuais... tenho um vizinho, que desde que me entendo por gente, é defensor incansável do comunismo - e por isso mesmo já não lhe dirijo a palavra fazem anos! Ele é professor de Geologia da Universidade Federal (e já volto a falar dele!). Tem também a mãe de uma amiga de minha filha, que também é comunista declarada, e trabalha como servidora do INSS - outro ser humano que me recuso a trocar meras sílabas! Há seguidos exemplos, inclusive de indivíduos que tem certo destaque na grande mídia, que como os que citei acima, tem a cara-de-pau de defender o que é impuro, imundo e inaceitável... e chego então a minha conclusão polêmica; o que teriam esses elementos em comum? Além do que pode ser obviamente constatado (megalomaníacos em miniatura), todos eles são psicopatas em algum grau ainda não determinado. Eu sou um mero economista, mas sei diferenciar uma gripe comum de uma diarreia braba, logo posso sim chegar a conclusão que a característica básica entre todos os seguidores dessa religião herética é a falta de humanidade em suas almas. Peguemos os exemplos de todos os que se dizem esquerdistas, e neles eu poderia enumerar algum problema familiar sério, desde práticas seguidas de aborto a humilhações constantes para com seus próprios filhos (e milhões de outros incidentes)... não estou sendo exagerado, pois qualquer pessoa com mais de 30 anos que ainda ousa defender tais ideias, tem sim um grau avançado de psicopatia!