Os economistas são um grupo profissional com expressiva atuação em atividades essenciais ao desenvolvimento do país. Estão presentes e são influentes em decisões empresariais. São consultores, membros de conselhos de administração, orientam investidores, estudam e elaboram relatórios sobre conjuntura, oportunidades de negócio e os respectivos riscos. Estão no ambiente acadêmico, nas entidades empresariais e de trabalhadores. São assíduos em órgãos da mídia que informam e influenciam opiniões. Atuam no setor público e no setor privado. Apontam erros e acertos. Em seu ramo de atividade, interpretam o passado para vislumbrar o futuro mais provável. Sua aritmética é rigorosa porque, via de regra, envolve dinheiro.
Não estou afirmando isto para atiçar a vaidade de tantos economistas que tenho o privilégio de contar entre meus amigos. O trabalho deles é valioso ao país. Ponto.
Parte importante de sua atividade implica proteger dinheiro contra perigos e ameaças, e essa tarefa é essencial às decisões significativas para a formação de um ciclo virtuoso na economia. Alcançar esse ciclo é imperioso ao Brasil para alavancar seu desenvolvimento econômico e social. O risco é inerente aos empreendimentos privados, claro, mas apenas tolos não cuidariam de minimizá-lo.
Dito isso, registro, sem surpresa alguma, que as muitas avaliações presenciadas por mim nos últimos meses, expostas por economistas, incluem, como não poderia deixar de ser, o risco político entre as nuvens negras no horizonte da pátria. Só muda a natureza da crise, mas o risco está ali. O Brasil é, historicamente, um ambiente instável. O modelo institucional brasileiro é uma referência de má qualidade e de irracionalidade. Nosso presidencialismo é um sistema onde se espera que o presidente compre todo mundo para não apanhar de todo mundo. Inclusive da grande imprensa. O presidencialismo é um lamentável fetiche nacional, depositário formal e espiritual das esperanças comuns, mas quem manda são os ocupantes dos outros dois lados da praça.
Causa surpresa, então, o fato de não haver por parte dos economistas brasileiros, com raríssimas exceções, qualquer reflexão sobre a indispensabilidade de uma reforma institucional para acabar com o charivari e a instabilidade que caracteriza a relação entre os poderes de Estado no Brasil.
A fusão entre chefia de Estado e chefia de governo, a partidarização da administração pública, a eleição proporcional para o parlamento e, de uns tempos para cá, o descaso com que foram sendo providas as vagas abertas no STF, criaram uma enorme insegurança jurídica e política no Brasil. O impeachment e a eleição de 2018 nos livraram de alguns males do presidencialismo nas décadas anteriores, mas remanesceram outros. Se não mudarmos isso, nossos economistas terão que continuar para sempre, ponderando riscos desnecessários e o custo Brasil continuará sendo acrescido de fundadas suspeitas, incertezas e instabilidades nacionais.
Se os economistas, com a influência que têm entre pessoas que decidem, dedicassem uma parte de seu esforço para colocar a reforma política no cronograma e nos devidos termos, muito nosso país teria a lhes agradecer. Que Bolsonaro encerre, em 2026, o último mandato do presidencialismo brasileiro.
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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Edson da Silva - 18/01/2020 03:03:36
Onde escrevi edifícios, eu quis comparar com uma faculdade de engenharia que formasse cujos alunos fossem responsáveis pelo projeto de vários prédios que desabassem. Na edição, acabei cortando tal parte.Edson da Silva - 17/01/2020 06:06:27
Uma questão importante é que nem todos os economistas são iguais. Existem os heterodoxos, que não só não protegem nosso dinheiro do risco, como, eles mesmos, criam sistemas que o colocam em risco. Que dizer de economistas da Unicamp que foram autores de mirabolantes planos econômicos nos anos 80, condenaram o Plano Real, criaram a Nova Matriz Econômica e condenam as atuais medidas liberalizantes? Quantos edifícios ainda serão demolidos até que caiam no merecido descrédito absoluto? Quantos estocadores de vento passarão pela instituição? Deixe-me enfatizar bem: Dilma é economista formada pela UFRGS e cursou mestrado na Unicamp. Preciso ser mais claro? https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2273Menelau Santos - 16/01/2020 13:55:52
Acredito que a opinião e o estudo dos economistas são muito importantes para o governo de um país, como bem qualificou o Professor. Mas até hoje não entendo porque os contadores não tem a sua representatividade, ou pelo menos, não a vejo na grande mídia . Eles sabem o que acontece no dia a dia dos empresários. Conhecem aqueles pequenos detalhes que, se alterados, até mesmo sem necessidade do parlamento, poderiam aliviar grandemente o fardo burocrático dos nossos heróicos empreendedores.Carlos Edison Fernandes Domingues - 16/01/2020 01:06:31
PUGGINA No meu escritório de advocacia tenho, com muito orgulho e respeito, em uma moldura grande a fotografia de Raul Pilla. Assisti, no Teatro São Pedro e sob a presidência do prefeito Loureiro da Silva a homenagem prestada ao Paladino do Parlamentarismo Na esperança de que o atual sistema de governo se encerre, juntamente, com o termino do mandato do Presidente Bolsonaro temos que trabalhar muito, com a doutrinação transmitida por lideranças com as tuas qualidades, à classe política brasileira e ao povo. Carlos Edison DominguesDalton Catunda Rocha - 15/01/2020 17:41:15
Parlamentarismo poderá dar certo no Brasil. Só que neste caso, terá de ser parlamentarismo monárquico, com uma monarquia constitucional. Quem duvida disto, que veja aquilo que Francisco Franco (1892 - 1975) fez na Espanha, na primeira fase dos anos 1970. Para quem não sabe, Francisco Franco restabeleceu a monarquia espanhola; na forma de monarquia constitucional e parlamentarista. Deu certo e há décadas, a Espanha é uma nação desenvolvida e democrática.Luiz R. Vilela - 15/01/2020 11:54:51
Os economistas tem a lógica, os políticos, o poder. Ai já começa o relacionamento conflituoso entre a economia e a política. Se valessem de verdade os princípios econômicos, talvez chegássemos ao desenvolvimento em curto espaço de tempo, mas os interesses da política prevalecem sobre tudo neste pais, levando sempre a economia a "lona". Políticos, só pensam na próxima eleição e nos cargos para agraciar cupinchas que depois serão seus cabos eleitorais. Dai a economia é atropelada e aviltada no seu mais simples dos preceitos, gastar menos do que se recebe. O Brasil é um pais, onde os políticos, por força da própria ignorância, gastam mais do que podiam e deviam, a economia é poderosa, mas não é milagrosa, então vivemos a aflição de sempre devermos, e o crédito enseja juros, e quem paga juros, trabalha para dois, para si e para dono do dinheiro. Assim vive o contribuinte brasileiro, pagando as despesas públicas e os juros para aqueles que emprestam aos governos dinheiro para tapar os buracos das administrações perdulárias. Reformar o Brasil, só se todos nós voltarmos aos países de origem dos nossos antepassados, embarcarmos novamente em "caravelas", e chegarmos ao litoral brasileiro com outro tipo de comportamento. O sistema de convivência social no Brasil, há muito esta degradado e com a mentalidade que existe no pais, nunca será mudado, ao ponto de o presidente de uma grande entidade de classe, chamar um juiz de direito de chefe de quadrilha, só porque condenou o ídolo dele a prisão. Enquanto não separarmos com exatidão os honestos dos desonestos, neste pais, jamais haverá economia que de jeito na situação e muito menos se alcançará uma igualdade justa. Haverá sempre aqueles que querem manter os "desiguais"na mesma situação de sempre, até porque esmola traz a gratidão, e esta se transforma em votos, assim procedem os "pobristas", aqueles que juram morrer pelos pobres, mas vivem em mansões e só se tratam no Sírio-Libanês. Governar a Bahia, mas ir fazer uma cirurgia mixuruca em São Paulo, é só para quem pode, quem não pode, se vira com o SUS local. Assim é no pais do futebol e carnaval.Dalton Catunda Rocha - 14/01/2020 20:20:02
Parlamentarismo no Brasil, só com o restabelecimento da monarquia.