• Percival Puggina
  • 07/01/2020
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ONDE O BOM CLIENTE PAGA PELO MAU

 

 O sistema bancário brasileiro é sólido e líquido. Sólido porque tem muito dinheiro e aufere bons resultados. Líquido porque tem liquidez, ou seja, está folgado nos indicadores que aferem as relações entre a capacidade de pagamento do sistema e os compromissos por ele assumidos. Tal situação é boa para a economia. Mas, quando apenas cinco bancos controlam mais de 80% do mercado de crédito do país, parece evidente ser muito restrito o número dessas instituições para uma economia do tamanho da brasileira. Maior concorrência atenderia mais satisfatoriamente os clientes, tenderia a reduzir as taxas de juros cobradas nos empréstimos, faria baixar o preço dos serviços bancários e reduziria a inadimplência.

 Então, se o sistema vai bem, obrigado; se os acionistas estão ganhando bem por suas ações e se só reclama a turma do balcão – os bancários de um lado e os clientes de outro, por que o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central deram sinal verde para os bancos cobrarem taxa de até 0,25% sobre o valor do crédito disponibilizado aos correntistas no cheque especial?

 “Ah, mas a mesma autorização estabelece um teto de 8% ao mês nos juros mensais cobrados sobre o uso do cheque especial! Ele vai ficar mais barato”, dirá alguém. Sim, vai, se você achar razoável um juro que corresponde a 151% ao ano... Com a Selic a 4,5% ao ano, parece evidente que não há como banco algum queixar-se de “perdas”, mesmo perante a elevada inadimplência.

Aliás, não fossem a passividade e a tolerância dos brasileiros, não fosse sua inesgotável disponibilidade para pagar contas que lhes chegam, não aceitaríamos pagar juros astronômicos para reembolsar o prejuízo dos bancos com clientes que não pagam suas contas. Afinal, não cabe a tais instituições cuidar do próprio dinheiro? Saber a quem o emprestam? O que cada um de nós outros tem a ver com isso?

Pois bem, Ainda assim, está autorizada a cobrança. Santander já informou que vai aderir a essa nova criatura da engenhosidade financeira. Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banrisul decidiram não o fazer.
Jornal O Estado de Minas informa na edição de hoje, 7 de janeiro, que o Sistema disponibiliza cheques especiais no montante de R$ 350 bilhões. Destes, apenas R$ 26 bilhões correspondem a financiamento de fato concedido.
É óbvio que os bancos não deixam parado na conta do cliente o limite concedido. O banco libera parcelas do valor total à medida da demanda que receba. Tenho observado que os bancos, inclusive, elevam por conta própria o limite de crédito dos clientes ou de alguns clientes a título de “cortesia da casa”.

Agora, isso será cortesia com chapéu alheio. E essa mordida sobre um valor que a maior parte dos clientes não usa será empregada para cobrir prejuízos do sistema em operações com cheque especial. É comercialmente muito cordial emprestar a quem não paga, cobrando o prejuízo dos que pagam e até dos que não o utilizam. Arre, Brasil!

 

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Pedro Fattori -   13/01/2020 14:03:48

Excelente como sempre seu artigo ONDE O BOM CLIENTE PAGA PELO MAU. Uma medida que gostaria de ver implantada seria o Governo liberar a taxa da Poupança, para ativar a concorrência entre eles. Mas como são poucos (5), é bem provável que formariam um cartel, cada um pagando mais ou menos uns centavos a mais do que o outro. Lamentável. Saudações Pedro

Pedro Fattori -   13/01/2020 13:58:18

Excelente como sempre esse seu artigo ONDE O CLIENTE BOM PAGA PELO MAU. Não seria ótimo se o Governo liberasse a taxa da poupança, deixando livre a concorrência entre os bancos? O abuso de cobrar por qualaté pelo ar que se respira tudo quanto é taxa para o cliente

Menelau Santos -   09/01/2020 02:47:27

Como dizia o saudoso Tony (que fazia propaganda de bancos): "esses bancos..."

Menelau Santos -   08/01/2020 14:44:28

Muito bem observado, Professor. Se a moda pega... Vamos fazer o seguinte então: vou cobrar do banco o aluguel do meu carro. Tava lá na garagem, o banco não usou porque não quis.

Luiz R. Vilela -   08/01/2020 11:22:27

"Do couro, sai a correia", já se dizia antigamente. Banco não é inserido no sistema capitalista, pelo menos no Brasil. Aqui só é privado o lucro deles, pois o prejuízo é totalmente socializado. Usando um termo religioso, fazem o justo pagar pelo pecador. A exemplo do sistema bancário, nesta terra descoberta por Cabral, o navegador e não o ladrão carioca, parece ser opção nacional, cobrar a conta da inadimplência, dos que não devem. Assim fazem os condomínios, as prefeituras com o IPTU atrasado, e por ai vai. No interior, é muito comum candidato a prefeito prometer resolver a questão do imposto predial atrasado. Depois de eleito, ávido por meter a mão neste dinheiro ainda não recebido, faz inúmeras concessões ao inadimplente, tornado mais atrativo ficar devendo do que pagar em dia. a injustiça com o bom pagador é total. Nos condomínios, é a mesma história, o rateio de despesas é feito somente entre os que pagam, que inclusive devem pagar gás e água dos inadimplentes, porque também é determinação da justiça que os fornecimentos não sejam suspensos. Tudo isso que acontece na política brasileira, é só o reflexo do cotidiano da vida do povo, onde a grande jogada, é ser desonesto. Outra coisa que me causa espanto, é a tal exigência de avalista para empréstimo bancário. Se o negócio é entre o banco e um cliente, porque envolver um terceiro no caso? O banco não pode perder? Mas o cidadão avalista pode? Se o cliente pagar em dia, o banco divide o lucro com o avalista? Banco no Brasil, não quebra, o governo garante a saúde financeira, o FHC, aquele das privatizações /doações, chegou a criar um tal de PROER, ou algo parecido, para dar dinheiro público ao sistema bancário, com a desculpa de que se os bancos quebrassem, quebraria a economia. Quem verdadeiramente quebrou foi o contribuinte, que quebrou a cara com as "bondades"! do sociólogo, com o dinheiro alheio.