• Percival Puggina
  • 30/08/2021
  • Compartilhe:

O TOTALITARISMO FAZ O QUE QUER E PEDE SILÊNCIO

Percival Puggina

        

           Se há algo realmente ruidoso e organizado, nestes dias, é o trabalho dos gestores da crise institucional no sentido de desestimular a manifestação prevista para o dia 7 de setembro. Da população, só o silêncio lhes interessa. O totalitarismo absorve os sentimentos, as reflexões e opiniões divergentes como uma espécie de buraco negro, desses existentes no universo atraindo o seu entorno.

Outro dia, um canal de TV se manifestava preocupado com o custo e a origem dos recursos financeiros envolvidos em eventos com a magnitude do previsto para o dia 7. O “Inquérito do fim do mundo”, aliás, cumpre ordens emanadas da mesma curiosidade. Fiquei pensando no custo das horas de rádio e TV, nas toneladas de papel de jornal, nos salários da multidão de profissionais de comunicação social que atuam em defesa do indefensável e na contramão da opinião pública. Comparar o poder econômico dos dois grupos é dar férias bem remuneradas ao bom senso e ao realismo. Isso, porém, não importa porque, para eles, o sujeito do sofá é um idiota incapaz de entender uma polegada além do que lhe dizem os grandes grupos de comunicação.

Afirmam categoricamente que as instituições estão cumprindo seu papel e o presidente vive criando caso. Invertem a cronologia para inverter a relação de causa e efeito. Apenas muito recentemente o presidente passou a reclamar dos notórios problemas que, de modo não raro grosseiro, o STF lhe criou.  As instituições se desestabilizam por si mesmas, virando as costas para a sociedade e lendo a Constituição de cabeça para baixo.

Você já percebeu quanto o STF muda de convicção? De um dia para outro, o que era a verdade soberana da Constituição passa a ser engano ou má interpretação. Pois esse mesmo poder se volta contra um indivíduo cuja simples opinião, ou subjetiva interpretação da realidade, se confronta com a convicção dos senhores ministros. Ora, convicção!  E veja a enorme distância entre a “convicção” de uma Suprema Corte e suas consequências e a “opinião” de um cidadão numa sociedade supostamente livre.

A distopia entrou pela porta da frente, joga e apita o jogo. Assistimos à estatização da verdade, saudada pela claque midiática. Ela precisa do povo no sofá, indolente e silente.

De minha parte, lamento o que está em curso no Brasil. O mesmo Congresso Nacional e o mesmo STF, tão atentos e zelosos ante reclamos das minorias, por estranhos motivos pedem submissão e voltam às costas a dezenas de milhões de brasileiros.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Mariza Salatino Mello -   06/09/2021 16:33:01

O texto é perfeito, amei! É tudo como eu penso. Não dá mais para aguentar esse STF, um grupo de marginais.

Fernando de Albuquerque -   03/09/2021 08:54:40

Como sempre, seu texto e perfeito. Nao e preciso entender nada de Direito, ou conhecer qualquer dispositivo legal ou Constitucional para saber o que o STF decidira sobre os mais variados assuntos, tamanha a inclinacao absolutamente politica dos Ministros que la estao, ao contrario, atualmente a consulta de leis e da Constituicao Federal somente indicam os caminhos que eles nao seguirao.

Maria de Lourdes F Cauduro -   31/08/2021 19:48:15

Concordo integralmente, Puggina! Muito bom e verdadeiro teu artigo .Assististe à entrevista do Dr Ives Gandra no “Direto ao Ponto “ ? Fiquei impressionada como alguém pode não se posicionar diante do autoritarismo dos togados do STF! Uma crítica muito velada! Classificou a posição deles de “ consequentismo” ou coisa que o valha! De onde saiu isso? Ridículo, ridículo! Decepcionante! Esperava outra atitude dele.

jose inacio camino boaz -   31/08/2021 17:51:14

Maravilhoso texto. Não há mais como esconder ou disfarçar, que a corrupção no Brasil virou moeda de troca...Processos esperando "julgamento", ou o momento de sua valorização, como uma bolsa de valores.

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   31/08/2021 17:16:40

O maior problema do Brasil, é esse stf (com minúsculas mesmo) que aplica o famoso "Para os amigos, favores; para os inimigos NEM justiça".

JR Vilhena -   31/08/2021 12:49:05

Leis, Tribunais e Tirania Os judeus acreditam na Lei que Deus lhes outorgou, os muçulmanos creem na Lei que o profeta Maomé escreveu, os romanos acreditavam na Lei elaborada pelo Senado. Impossível que Deus ou o maior dos profetas ou a elite política da urbe, possa desejar outra coisa, ao seu povo, que não seja o bem. Mas, e nós, homens contemporâneos, será que alguém nos ama, em que lei acreditamos? Na Lei conduzida pela Igreja Católica? Não, esta crença já se foi há muito tempo, levada pela pouca fé e pela ciência. Nós acreditamos, agora, na democracia e república, não a República que Platão ensinou e, tampouco, a Democracia praticada em Atenas. Democracia e Republica, mantras da moderna sociedade ocidental cujo modelo foi formatado na revolução Francesa a partir da carta dos direitos humanos. Liberdade, Fraternidade, Igualdade, sob esta bandeira, criou-se a catapulta para lançar aos píncaros da soberba o modelo da sociedade hodierna do ocidente. Num monumental equivoco – ou não- esta sociedade abriu as portas à representação popular através do sufrágio universal. O voto, entregue a uma população educacional e moralmente despreparada, abriu caminho para que oportunistas incultos e mal-intencionados chegassem ao poder. A partir daí, uma legião de psicopatas alçou-se ao comando da sociedade. Com tal tipo de gente no comando, vieram as leis e tribunais incensados como incontestáveis. Vieram leis e mais leis. Leis temporais, indutoras de intensões pessoais ou de grupos políticos, econômicos, sociais. Todo o jogo passa despercebido à multidão distraída que, cada vez mais, torna-se alheia e impotente diante de tribunais que julgam à tudo e a todos. Tribunais criados por leis que chegam a presunção de chamá-los Supremos. Supremos, que decidem como se deuses fossem. E a multidão, cabisbaixa, se submete. Homens se põem de joelhos frente a outros homens, gerando uma tirania cruel, numa prática que cabalmente exemplifica o milenar ensinamento da civilização Helênica na antiga Grécia: “ Infeliz do homem que vive sob leis feitas por outro homem “. –Brasil, mostra tua cara! JR Vilhena

Luiz R. Vilela -   31/08/2021 09:18:46

A anos passados, o então governador da região autônoma da Madeira, que pertence a Portugal, em um discurso lá na assembleia local, pediu que a exemplo do nazismo e fascismo, todo partido de cunho totalitário, também fosse proscrito. Os comunistas, que a quase quarenta anos lutam mas não conseguem vencer uma eleição naquelas ilhas, protestaram. Alberto João Jardim, o tal governador, então perguntou ao líder comunista. A carapuça serviu? A verdade é que o comunismo até hoje foi mais mortal que qualquer outra ideologia, usam de todos os métodos para chegar ao poder, e o que esta se vendo no Brasil, são as velhas táticas, já empregadas em outros lugares. O que espanta, é ver que indivíduos que não aparentam simpatias por esta ideologia, estão sendo usados inconscientemente por espertalhões e ainda se mostram servis. O dia 7 de setembro, talvez seja a data em que os brasileiros reafirmem a sua condição de povo livre, porque o que já andam dizendo por ai, os que querem voltar ao poder, agora será diferente, liberdade, só para eles fazer o que bem entender. Há um ditado que diz: "Quem não reage, rasteja", e nós jamais poderemos ser seres rastejantes. Chegamos na encruzilhada, o futura será o que fizermos no presente.

Menelau Santos -   30/08/2021 20:56:38

Maravilhoso Professor. A única liberdade que elite da censura nos concede é a de ficarmos calado. Isso, ainda, sob certas condições (vídeo CPI do fim-do-mundo).

PAULO E EVANGELISTA -   30/08/2021 18:25:43

Sete de Setembro Há setenta anos, o Sete de Setembro era uma festa. Na parada do dia da Independência do Brasil, floreciam desfiles de escolas da cidade, concursos de bandas, feriados. Alunos eram selecionados para puxar o pelotão de grupo escolar ou ginásio. Algumas vezes puxei o pelotão, envergando o uniforme, tapa-pó ou fulgurante camisa branca. Como todos. A diferença era a faixa verde-amarela sobre o peito inflado de orgulho pela nobre responsabilidade. A bem da verdade, acrescente-se, tinha um pouco de exibicionismo para as gurias e para o pai e a mãe que estavam na assistência. Em vinte anos, os tempos voaram e as coisas mudaram. A Parada de Sete de Setembro começou a encolher, foi sendo trocada por uma partida de futebol. Cancelada por ameaças de chuvas, por chuvas, etc. O próprio desfile militar foi atrofiado, algumas vezes com o argumento de ameaça de invasão das pistas por pessoas que atrapalhariam a organização e realização ordeira da Parada. Um desfile foi cancelado pela ameaça do Movimento Sem Terra de bagunçar a festa cívica. Hoje observa-se violenta e intensa escalada na destruição de tudo o que era representado na Parada de Sete de Setembro. Não é para festejar a Independência do Brasil. Não é para aplaudir militares. A família sofre tentativas de desmonte descaradamente. O casamento é coisa ultrapassada. Os pais não podem influenciar os filhos. O Ensino primário, ou primeiro grau, passou ser o principal educador e orientador das crianças. Mas os filhos não podem dizer em casa o que lhes incutem nas escolas. As crianças sofrem catequese não religiosa, mas ideológica, porque o ensino foi dominado. O Ensino universitário está desvirtuado. Cabide de empregos. Concursos fajutos, professores são cabos eleitorais. Alunos usados como massa de manobra. Aprendizado deficitário. Universitários confusos. Hoje o Senado ou o Presidente do Senado, coloca no lixo documento do Presidente do Brasil, eleito, onde é pedido abertura de processo de cassação de figura do Supremo Tribunal Federal. Nem arquivou. Ignorou o pedido. No processo o réu poderia ser condenado ou não. Temos uma CPI do Covid que supera qualquer espetáculo de circo mambebe do interior do Brasil. Sem falar nos seus impolutos, sérios e piramidais exemplos de vida escorreita de seus leões de chácara. Neste circo parlamentar, apadrinhado pelo Senado, a serviço de partidos criminosos, os palhaços estão na platéia. Nós. O STF, ou melhor, os figurantes do STF, com raríssimas exceções, devem revolver diariamente as cinzas de Rui Barbosa. Se é que o leram. Se leram, não entenderam. Se entenderam e não seguem a Constituição Federal é porque outros valores misteriosos e voláteis pesam mais. Gratidão seria uma delas? Afinal, devem ter sido colocados lá para acordarem quando chegasse a hora. A hora chegou e eles estão muito serelepes e fagueiros. Em dois anos e oito meses do atual governo federal, eleito com sobra de votos que nem deu para fazer trampolinagem, o excelso corpo jurídico togado, vestido de preto esfarrapado, e com palavras rebuscadíssimas, aprovou 122 decisões que eram contra o governo federal. Deixe que eu faço as contas: uma decisão por semana. Sem falar nas prisões súbitas, sem motivos claros, de pessoas que ousam pensar e declarar suas idéias. Foram presos e continuam presos. Só porque um homem de preto quer. E pronto. Motivado talvez por um arroto trancado ou uma cólica chata. Desculpe, Rui Barbosa, mas a situação é essa. Se alguma declaração não agrada, é apelidada de fake news e cai o mundo: manda a polícia, fecha o site, investiga as verbas que recebe, prende, chá de banco, tira do ar o programa, tudo para defender o Brasil de perniciosos que não rezam pela cartilha dos homens de preto. No próximo Sete de Setembro, não teremos a Parada, não teremos concursos de bandas marciais, nem as escolas desfilarão. Não estarei de tapa-pó com a faixa verde-amarela, não puxarei pelotão, meus pais não estarão mais abanando e nem me exibirei para as gurias. Mas estarei na minha cidade, no meu estado, com todos os brasileiros que estarão nas ruas, ordeiramente, dizendo: queremos a Lei. Queremos eleições confiáveis. Queremos Liberdade. Queremos o Brasil para os brasileiros.

Nelson Prado Veiga, Jr. -   30/08/2021 17:33:48

Não mudo uma vírgula de seu texto, prezado Mestre Puggina. Só ouso fazer um pequeno reparo no título. Ficaria mais real "O Totalitarismo Faz o Que Quer e EXIGE Silêncio."

Elaine Borges -   30/08/2021 17:22:38

Perfeito seus artigos! É um alento para mim, pois parece que só eu estou enxergando os desmandos dos poderes Legislativo e Judiciário. Me sinto amparada quando o meio.

Décio Antônio Damin -   30/08/2021 17:18:21

Que barbaridade...!!! União, objetivos comuns, mais substantivos e menos adjetivos, eis aí a receita para sairmos dessa crise em que nos encontramos...!

Elvio Rabenschlag -   30/08/2021 16:54:32

Muito boa análise.

Wilson Colocero -   30/08/2021 16:44:26

Estes indecorosos tempos me fazem lembrar do texto de Eduardo Alves da Costa - No Caminho com Mayakovski: "Na primeira noite eles timidamente se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem. Pisam nas flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho na nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta, e já não podemos dizer mais nada... (reprodução parcial). É essencial não nos deixarmos calar, NUNCA!

Gilberto José Bianchi Lopes -   30/08/2021 16:26:48

Excelente Puggina!!! Aliás, como sempre!!! ????????????????????????????????????