• Percival Puggina
  • 19/01/2015
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O TEMOR E O HUMOR

 


 O ataque à revista Charlie Hebdo foi mais uma entre milhares de ações violentas praticadas por fanáticos muçulmanos contra "infiéis" de outros credos e, principalmente, por muçulmanos contra muçulmanos. No momento em que escrevo, a contagem de tais atos, iniciada depois do ataque às Torres Gêmeas, registra 24,8 mil eventos. À chacina do Charlie, já se somam outros seis atentados no Paquistão, na Nigéria, no Líbano, no Afeganistão, no Egito e, novamente, na França, dia 9.

Obviamente, entre 1,5 bilhão de muçulmanos, é pequena a parcela de fanáticos violentos, jihadistas, dispostos a passar o resto do mundo na espada. No entanto, o mundo está apreensivo. A numerosa concentração de chefes de Estado e de governo nas manifestações de Paris mostra que estamos diante de algo alarmante. Por isso, quero lembrar que, antes de ser um problema mundial, o terrorismo e o fanatismo islâmico violentos são, sobretudo, um tema para o Islamismo, tanto quanto o nazismo foi tema para os alemães, antes de se tornar problema internacional. Religião alguma deve se prestar a uma cultura de intolerância e violência! Não é de causar surpresa, portanto, diante dos fatos que estão em pleno desenvolvimento e motivando insistentes matérias jornalísticas, que já se possa identificar a existência de um temor ao Islã. Não é inteligente nem sensato negar o óbvio. O mundo sabe. O terrorismo é o mal do século. E o medo cria reações irrefletidas ou insanas. Quem pranteia ou desfila pelos milhares de vítimas silenciosas do Boko Haram?

Reflitamos, agora, sobre a criminosa e repugnante execução dos jornalistas, artistas e humoristas da Charlie Hebdo. Seres humanos foram friamente fuzilados para "vingar a honra do Profeta". Diante do ocorrido, uniram-se, com razão, as vozes do mundo num coro multilíngue, ecumênico e pluriétnico em favor da vida e da liberdade de imprensa, destacados valores da civilização ocidental. Não esqueçamos, porém, que o humorismo da revista, com frequência, é grosseiro, desrespeitoso e de mau gosto. Comete injúria religiosa, como quando representou graficamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo em atos de sodomia. Há diferença entre a blasfêmia privada, para ofender a Deus, e a blasfêmia publicada para ofender a sensibilidade religiosa das pessoas. O ataque à revista tornou oportuno exaltarmos a liberdade de criação e de imprensa como apreciadíssimo valor da nossa cultura. Mas é bom lembrarmos - sem relação nem proporção entre causa e efeito - que o respeito aos demais, a seus valores, crenças e etnias é, também, um valor da civilização ocidental.

ZERO HORA, 18 de janeiro de 2015


 


Genaro Faria -   03/02/2015 06:46:16

Estimado professor, Sabe do que eu mais me ressinto? Parafraseando Érico Veríssimo, "há ocasiões na vida em que nem é o amor que nos salva; é o humor". Pois é. A falta de humor responde minha pergunta. Sinto falta do humor, primeira vítima da ditadura "politicamente correta". Assim como a verdade é a primeira a tombar na guerra. Que falte amor à pátria, essa consciência de que temos o dever de transmitir aos descendentes o patrimônio que recebemos dos nossos antepassados, vá lá. Nunca foi muito forte esse traço cultural em nossa gente. A menos que ele resolva nos convocar em traje de gala: camisa amarela, calção azul e chuteiras. Mas o humor não nos pode faltar. Sem ele, as falácias de todo e qualquer vigarista passam sem fazer piscar o alarme que denunciaria suas falcatruas. E Lula pode embarcar no imaginário nacional envergado um fraque e calçando alpercatas, sob os aplausos de uma claque que decorou a ovação devida a um estadista. Onde estão nossos humoristas? Onde teria se escondido essa gente tão imprescindível para tirar dos milionários marqueteiros políticos a varinha de condão que até uma Dilma converteu numa gerente incrivelmente competente? Eles estão no teatro, enfrentando a milícia dos patrulheiros ideológicos. Em jornais de tiragem reduzida, quase clandestinos. E na internet, esse veículo marginal residual do controle governamental, à espera de um "marco regulatório". Ainda existe um humor zombeteiro, é claro, como o dos foliões que deram ao seu bloco carnavalesco o nome de TREMA NA LINGUIÇA, uma crítica deliciosamente sutil à reforma ortográfica sancionada por um iletrado. Mas perdemos o humor eu vai além da banal irreverência. Aquele que se inspira na comédia para puxar o rabo da onça da tragédia. Precisamos desse humor que o PT exilou. De um Juca Chaves que disse: Vocês não imaginam a saudade que sinto do Figueiredo, do Delfim e da gonorréia.

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   22/01/2015 12:19:23

Parece que o ataque à Charlie Hebdo deixou sem argumentos os intelectuais, os colunistas e os artistas "politicamente engajados"... Desta vez ficou difícil justificar a barbárie como resposta inevitável dos "excluídos" ao "imperialismo" norte-americano e à opressão do ocidente capitalista. Muitas daquelas pessoas que morreram lá, defendiam os mesmos ideais da "intelectualidade orgânica" daqui, incluindo o (determinante para o atentado) desapreço à religiosidade e o culto ao materialismo dialético. Com relação à mencionada ofensa à sensibilidade religiosa, fato análogo vem acontecendo por aqui, de longa data, em relação à sensibilidade política e ideológica das pessoas. As elites intelectuais e acadêmicas, aliadas ao trabalho jornalístico da mídia "politicamente correta", mais as deliberações, muitas vezes tendenciosas, de entidades como a OAB, a CNBB, entre outras, vem promovendo sutil, sistemática e articulada campanha de constrangimento a quem ouse defender algum tipo de pensamento (liberal ou conservador) que extrapole o eixo do marxismo. Pela ação desta ardilosa engenharia, a sociedade é induzida a conceber que só existem dois motivos para alguém escolher não ser de esquerda neste país: ou se é rico e, portanto, faz-se política em "causa própria", ou então estamos "chutando contra o próprio gol", ao servirmos aos "propósitos do capitalismo". Eu, por exemplo, que sou pobre, professor, músico e moro em uma cidadezinha do interior, tenho a convicção de que posso ser militante de um partido de direita sim, não cabendo a ninguém o direito de me julgar por isto.

paulo de carvalho filho -   21/01/2015 02:12:03

"É inacreditável pensar que em apenas algumas décadas os objetivos da Irmandade Muçulmana estivessem tão próximos de darem frutos. É claro que tudo foi facilitado pelo fato de que a Civilização Ocidental já estava em processo de enfraquecimento pelo Relativismo Cultural (mais conhecido pelo termo "politicamente correto")." Puggina, interessante esse texto "Como implantar o Califado Global em Sete Etapas Fáceis": Visão apresentadas no livro "Al-Zarqawi, al-Qaida Segunda Geração", escrito pelo jornalista jordaniano Fouad Hussein, após entrevistar alguns dos jihadistas mais procurados do mundo. O que segue foi retirado de um artigo publicado na revista alemã Spiegel, em agosto de 2005, intitulado The Future of Terrorism: What al-Qaida Really Wants, escrito por Yassin Musharbash. Primeira Etapa: A primeira fase conhecida como "o despertar" - isso já foi realizada e durou de 2000 a 2003... Segunda Etapa: A segunda fase conhecida como "Abrindo os Olhos" é o período de 2003 até 2006... Terceira Etapa: A terceira fase conhecida como "Surgindo e se levantando" e de 2007 a 2010... Quarta Etapa: A quarta fase entre 2010 e 2013, a Al-Qaeda terá como objetivo provocar o colapso dos governos árabes... Quinta Etapa: A quinta fase será o ponto em que um Estado islâmico, ou Califado, pode ser declarado... Sexta Etapa: A sexta fase, a partir de 2016 haverá um período de confronto total... Sétima Etapa: A sétima fase, esta fase final é descrita como vitória definitiva... Leiam mais em: (http://infielatento.blogspot.com.br/2015/01/como-implantar-o-califado-global-em-sete-etapas-faceis.html). O mundo já está voltando à barbarie, nós teremos que nos armar contra o islã e contra o comunismo! Também gosto sempre de divulgar esse vídeo 'Meca é a Grande Babilônia e o Anticristo virá do ISLÃ', em: (https://www.youtube.com/watch?v=OMFlaMCqPw0)

Zaqueu -   20/01/2015 21:00:41

Em tempo, meu comentário de 19 de janeiro. Nem tanto o céu, nem tanto a terra, não seria necessário o fervor insano que mata e semeia o terror nem a falta de respeito com as pessoas que têm fé. Bento XVI fez um comentário a respeito ao destacar a diferença entre a veneração dedicada a Maomé e aquela dada a Jesus Cristo.

Odilon Rocha -   20/01/2015 03:03:50

Prezado Professor Puggina Fico com Apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso, o São Paulo que conhecemos e deu nome à terra da garoa: "Tudo me é lícito, nem tudo me convém". O livre arbítrio ainda é a melhor escola, pois aos poucos, vai minando as perversidades da moral humana (aqui incluida as carricaturas de mau gosto do jornal porque ofensivas). Lei e estamentos legais estão para coibir e conter paulatinamente abusos, ofensas e coisas do gênero. As pessoas vão se cansando. Esse é o efeito que gera. Je sui Charlie Hebdo não quer dizer que se concorde com as ofensas do jornal. Seja a quem ou o que for. Abraço

josé P.Maciel -   19/01/2015 21:21:00

A civilização ocidental,nossa civilização,incorpora valores de respeito a outras religiões,de tolerância,de reconhecimento à dignidade alheia,tudo isso conseguido a duras penas,em decorrências de crises históricas,de superação dos tempos de negatividade pelos quais também passou e venceu.Quanto ao Islã,trata-se de uma religião estagnada,e,por isso,deve mesmo andar perplexa,talvez em sua maioria,mas sem saber bem o que fazer.Na verdade,cremos que não passou por evolução libertadora em suas crenças e atitudes.

Zaqueu -   19/01/2015 17:43:25

Há vários aforismos que podem ser encaixados na presente situação do Charlie Hebdo: "Respeito é bom e conserva os dentes", "Cautela e canja de galinha não fazem mal e ninguém... e por aí vai. A representação da Santíssima Trindade em atos de sodomia não chocaram porque o mundo ocidental não está nem aí ao que se refere à religiosidade. Os próprios católicos, esses que vão à igreja apenas em missa de sétimo dia, ajudam avacalhar com os símbolos sagrados da sua "fé". Os evangélicos levam o assunto mais à sério. Antigamente, nossos avós falavam do "temor a Deus" , hoje ninguém está aí com nada, haja vista as alegorias de carnaval com a iconografia católica. Nem tanto o céu, nem tanto a terra, não seria necessário o fervor insano q