O sistema eleitoral, o poste e o bêbado
O sistema eleitoral, o poste e o bêbado
Percival Puggina
Trata-se de algo realmente irritante. Tem-se a impressão de que a maior parte do jornalismo brasileiro, ao sentar-se diante do teclado para produzir um texto ou repassar uma informação veste a camiseta partidária ou se ajoelha ante o altar da ideologia, passando a agir como militante.
Ontem, quis verificar os resultados de pesquisas que tenham avaliado a confiabilidade do nosso sistema eleitoral (votação e apuração). Do que encontrei conclui que apenas Datafolha faz essa investigação com certa regularidade. Afora essas, só encontrei uma Genial/Quaest, feita também em maio, com números semelhantes aos do Datafolha desse mesmo mês.
Nem o noticiário do site do TSE escapa à manipulação da informação. A exemplo dos maiores veículos de comunicação do país, divulgou pesquisa de março afirmando, no título, que 82% dos eleitores confia nas urnas eletrônicas”. Mas... e o termo médio, senhores? Eu sabia que as pesquisas indagam ao entrevistado se confia muito, confia um pouco ou não confia. No noticiário, porém, o termo médio some da informação e é, sem autorização dos entrevistados, somado ao “confia muito”!
Na pesquisa de maio, a mais recente, ele aparece apenas em matérias de O Globo e na DW. Os três números são os seguintes: 42% confiam muito, 31% confiam um pouco e 24% não confiam. As notícias, porém, destacam que 73% confiam no sistema brasileiro de votação e apuração.
No mundo onde vivo, com os pés no chão dos fatos, quem confia um pouco no médico, procura outro; quem confia um pouco no cônjuge, contrata detetive; ministro que confia um pouco em seu guarda-costas o substitui. E eleitor que confia um pouco no sistema preferiria algum mais confiável.
A pergunta sobre a posição intermediária – confia um pouco – está bem formulada. O que estou questionando aqui é a incorreta leitura da resposta. Só como exercício de manipulação faz sentido misturar esse tipo de desconfiança com confiança absoluta! Menos ainda em matéria dessa gravidade.
Então, caro leitor, se somarmos os eleitores que dizem “confiar um pouco” (31%) aos que não confiam em absoluto (24%), temos que a maioria do eleitorado não confia, ou seja, 55% dos pesquisados não confiam e 42% confiam. Mesmo assim, a matéria de O Globo sublinha que “a grande maioria dos brasileiros confia plenamente no equipamento usado pela Justiça Eleitoral”.
Por quê? Porque tudo serve se for útil contra o governo. Até usar o poste de luz da informação como bêbado, para escorar-se. Ou coisa pior.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Comentários:
Roberto Neves - 28/07/2022 16:52:09
Estimado Percival. Como seu leitor prezo muito seus comentários. Em relação ao conturbado preâmbulo sobre as eleições abriram-se antecipadas criticas a um sistema que opera muito bem. Como todos os sistemas existentes como IRPF, IRPJ , os da área financeira e etc. Faz-se tudo hoje por computador. Há Banco sem Agencia. Entrar e adulterar votos do Sistema eleitoral seria como faze-lo nas contas correntes de clientes de Bancos. Seria como adulterar declarações de irpf para prejudicar pessoas. Um sem fim de fraudes que visassem invadir as contas correntes para transferir dinheiro. Não ocorrem pois os sistemas de segurança são suficientes para nos proteger a todos. Esta estrategia como adotada pelo Trump esta ultrapassada para justificar derrota. Pena transformar a eleição limpa no que tange ao meio de votação e apuração numa desculpa para eventual derrota.Dagoberto L. godoy - 27/07/2022 11:04:56
Argumento irretocável: "No mundo onde vivo, com os pés no chão dos fatos, quem confia um pouco no médico, procura outro; quem confia um pouco no cônjuge, contrata detetive; ministro que confia um pouco em seu guarda-costas o substitui. E eleitor que confia um pouco no sistema preferiria algum mais confiável."Maria Apreciada Novaes Theodoro - 26/07/2022 12:25:41
: Não confio nas Urnas , Supremo nem Políticos!José Rui Sandim Benites - 26/07/2022 08:32:25
Como sempre coerente, preciso o texto do Mestre Puggina. Até confiava no sistema eleitoral. Contudo após o STF, tendo como relator o Ministro Fachin, liberar o Lula para ser candidato a Presidente. Após ter sido condenado em três instâncias do Judiciário. Em defesa processual, não no mérito. E o mesmo Ministro ser presidente do TSE. Passei a não confiar no sistema eleitoral. Na mesma lógica a CPI da Covid. Os senadores Renan e Rodolfo, os protagonistas. E agora cabos eleitorais do Lula. Também não há mínima confiança em suas narrativas e sofismas. Nada disto ê levado em conta pela mídia tradicional (consórcio). Nesta mesma sina, não confio mais nesta mídia tradicional (consórcio). O primeiro governo do Lula começou bem, mantendo a política fiscal. Fazendo obras para o Brasil. Mas picado pela mosca azul, quiz manter-se no poder, e botou os pés pelas mãos. Ou seja, mistura dinheiro público com o privado. E correu as revelações da lava jato. E agora quer voltar a cena do crime. Como bem disse o seu vice. Continuo com está frase: "busque a verdade é ela se revelará." Não vai levar toda a vida o expresidente de forma dissimulada, as pessoas vão se dar conta quem o verdadeiro, não o seu marketing. Espero na eleição de outubro.ROBERTO TADEU TESCK - 25/07/2022 18:29:35
quantas vezes é necessário mudar as regras, antes de desistir, e competir, assim mesmo, para não entregar o jogo ao adversário vil?Menelau Santos - 25/07/2022 11:30:31
Sabemos bem qual é o sonho de consumo do pessoal do STF/TSE: é impugnar a candidatura do atual presidente à reeleição.Frederici - 25/07/2022 11:22:14
Não costumo comentar. Não resolve, e só provoca bla bla. Particularmente confio nas urnas. Definitivamente NÃO CONFIO no sistema de apuração ! A urna OPERA o programa que lhe IMPOEM. Simples. Mas, se o juiz já tem um VAR, registro IMPRESSO para tirar duvidas, DURANTE o jogo, qual a razão do VOTO, SOBERANAMENTE MAIS IMPORTANTE, NÃO PODE TER o tira duvidas ? Alguem contesta a explicação do professor, e tira minha dúvida?VITORIO PEROZZO - 25/07/2022 10:37:07
Meu amigo PUGGINA,a minha preocupação é mais profunda,é sobre as pesquisas falsas preparando a cama para a fraude com as desculpas que as pesquisas estavam certas e nos tomarem a ELEIÇÃO sem termos como recorrer.Flavio Mansur - 24/07/2022 20:14:47
De que jogo fala Antônio Carlos? Jogo é entrar ou não num Cassino. Eleição é escolher quem vai mandar em si, vai impor lockdowns e coisas assim. Sempre as regras devem ser aperfeiçoadas, e não há a opção de "não jogar".Luiz R. Vilela - 24/07/2022 10:11:38
"A mulher de César, não basta ser honesta, tem também parecer honesta". Isso é que se dizia na antiguidade, pois não bastava apenas a retórica, os fatos deveriam comprovar a realidade. E as urnas eletrônicas brasileiras, também não deveriam além ser serem confiáveis, também parecerem confiáveis? E porque resistem a possibilidade da revisão no resultado das eleições? Algum interesse inconfessável no processo? É o que deixam transparecer. A própria justiça, tem varias instância ou graus de recursos, não confiam nas instâncias inferiores até que a última de a palavra final. Então porque em eleição, a "instância" é única e irrecorrível? O Brasil é mesmo um pais esquisito. Em qualquer lugar do mundo, são as oposições que gritam contra a possibilidade dos governos manipularem os votos e fraudarem as eleições, aqui é ao contrario, é o governo que esta numa cruzada contra as oposições, porque teme que estas fraudem as eleições e eleja o candidato oposicionista, não é um descalabro? Apenas alguns técnicos do tribunal se reúnem em uma sala fechada e saem com o resultado pronto. Não permitem o acompanhamento com a desculpa de que devido aos fusos horários diferente, não é possível dar publicidade pois em alguns estados ainda há votação. Porque não unificam todos os horários, para que o encerramento, seja em todas as regiões? É também uma forma de dar transparência as eleições. Aguardemos pois, os acontecimentos, imaginamos que não haverá fraude.PERCIVAL PUGGINA - 24/07/2022 09:49:34
Resposta ao leitor Antônio Carlos da Silva: Meu artigo prova, com números das pesquisas Datafolha, insuspeitíssimas no caso, que o sistema de votação não merece confiança da maioria da população. O Congresso quis mudar, em três oportunidades e o STF declarou inconstitucional a impressão do voto pela urna. Preferiu seguir usando um sistema que a Alemanha pretendeu aplicar e o Tribunal Federal de Justiça alemão declarou inconstitucional. À exceção da Bélgica, é bom lembrar, nenhuma democracia da Europa Ocidental usa esse maravilhoso sistema. Agora, reclamo da estupidez, da teimosia e da cegueira das nossas cortes superiores que desconsideram o quanto é importante que a sociedade confie no sistema de votação e apuração das eleições. A socialmente inútil autossuficiência do STF e do TSE resiste a isso. Você erra deliberadamente quando informa que a inconfiabilidade descrita no artigo é regra do jogo. Não é. Dick vigarista é quem tenta fazer crer que é. As regras do jogo eleitoral estão aprovadas pelo Congresso e não estão em discussão (embora devam ser, sim, no futuro). O que se quer, agora, é aumentar o nível de confiança na mecânica do sistema com apuração paralela, totalizações nos TREs (por quê centralizar tudo no TSE?) e impressão de voto nos próximos pleitos. São, apenas, formas de combater os Dick Vigaristas e seus defensores.José Paulo Moletta - 24/07/2022 00:25:27
Mestre, resido na capital dos gauchos há mais de 50 anos, e NUNCA fui entrevistado para nadaAntônio Carlos Da Silva - 23/07/2022 22:22:13
Se discordar das regras do jogo já pré estabelecidas antes de entrar na disputa eleitoral, não entra nela, agora tentar muda-làs com á partida em andamento, é atitude de Dick Vigarista.