• Percival Puggina
  • 26/10/2019
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O SÍNODO, ANCHIETA E A VISÃO DE HISTÓRIA

 

Em diferentes lugares do passado, muitas coisas se perderam no nosso país. Uma delas foi a visão de história. Perdeu-se a linha do tempo, a noção de continuidade e, com isso, a própria identidade. A ignorância deu origem ao palpite. A profunda ideologização das últimas décadas abriu vaga, posto de trabalho, carteira assinada e ascensão funcional à avalanche dos enganadores, peritos na grande ciência do ensinar errado. Não é fácil. Ensinar errado e ocultar o que é sabido exige treino.

Observo, em muitas manifestações, percebidas como valiosamente indigenistas, um remorso comunitário ao qual muitas pessoas se entregam como se fossem motivadas por imposições de ordem moral. Seria o inesgotável remorso dos ocidentais. A penitência de uma civilização. A autoflagelação de uma cultura superior. Afinal, por que diabos decidiram promover o não solicitado povoamento de um suposto e intacto paraíso terrestre indígena brasileiro? Pronto, está feito o serviço. É apenas mais uma página da longa lista de culpas históricas imputadas ao léu e sem réu. Mas gerando titulares de remotos créditos sociais resgatáveis no tempo presente.

Em todos esses casos – e são muitos – como já escrevi em artigo anterior, conviria ter certezas que me parecem ausentes, como ausentes estão nos problemas do povoamento e da evangelização do Brasil: a) certeza de não estarmos acusando, julgando e condenando antepassados a quem não concedemos direito de defesa; b) certeza de não estarmos colocando gestos de resgate a serviço de interesses ideológicos e políticos pelos quais, mais tarde, alguém terá que pedir perdão por nós; e c) certeza de não estarmos incorrendo em anacronismo, ou seja, avaliando a conduta dos povoadores de quinhentos anos atrás, com critérios atuais.

Apenas 250 anos nos separam do clássico Dei delliti e dele pene, com o qual Cesare Beccaria apontou a desproporção entre delitos e penas no sistema judicial de seu tempo. Foi por influência desse livro que a Revolução Francesa introduziu a guilhotina, mais misericordiosa para corte de cabeças do que a machadada. Diante desses fatos quase recentes podemos reprovar os portugueses por não haverem trazido a bordo antropólogos, sociólogos, ambientalistas e epidemiologistas?

As releituras e narrativas que a dominante visão de história costuma desenrolar, me levam a indagar: há sentido em desfiar o infindável rosário de mortificações temporãs sobre as quais se poderia cogitar até mesmo na leitura da Bíblia, ou percorrendo os olhos sobre a história de qualquer povo, incluídos os próprios indígenas? Não, não há. Deve ter arrefecido muito o apreço ao batismo e à salvação para que a evangelização de um continente ande suscitando tanto remorso, adaptação e modulação (como talvez propusesse Dias Toffili).

Se for para pedir perdão, por que não o fazerem também, como lembrava Sandra Cavalcanti em artigo publicado há alguns anos, os médicos que substituíram os curandeiros, as famílias novas que não aceitaram mais matar velhos e crianças aleijadas e os cozinheiros europeus que retiraram do cardápio ameríndio os assados de bispos e desafetos?

Não parece adequado subordinar-se o não solicitado Sínodo da Amazônia a uma ótica reducionista que, ao explicar todos os fenômenos históricos como conflitos entre oprimidos e opressores, se põe a serviço de uma ideologia pagã. Entre São José de Anchieta e o cardeal Cláudio Hummes eu fico com o santo das Canárias.


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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


João Guilherme Maia -   28/10/2019 18:14:13

A IMPRENSA SUJA NÃO LARGA DO PÉ DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO E DOS SEUS MINISTROS. Não adianta a imprensa suja perseguir o presidente Jair Bolsonaro e os seus ministros porque ela não irá conseguir denegrir a imagem dele perante a opinião pública. Até porque, o povo está com o presidente Jair Bolsonaro e não abre mão. Enquanto eles ficam criticando o presidente Jair Bolsonaro e os seus ministros, ele está visitando vários países para trazer investimentos para o Brasil, que é para tirar o Brasil da miséria que os governos comunistas do PT deixaram. Mas isso a esquerda suja não fala nada. No FANTASTICOBOLSONARO de domingo, teve várias criticas ao presidente Jair Bolsonaro. A Globolixo não desiste de denegrir a imagem do presidente Jair Bolsonaro e dos seus ministros. Mas não vai adiantar nada cada vez que ela procura denegrir a imagem do presidente Jair Bolsonaro, mais o povo o apoia, enquanto isso com ela só acontecem coisas ruins, como agora a morte de um diretor dela, sem contar que a cada dia que passa ela afunda mais na audiência com relação as suas concorrentes, que a cada dia que passa mais cresce em audiência. Então que a Globolixo continue perseguindo o presidente Jair Bolsonaro que mais ela irá para o fundo do poço e ele mais crescerá perante a opinião pública.

Dagoberto -   28/10/2019 17:43:24

Talvez os senhores bispos queiram purgar a culpa por ter a sua Igreja acompanhado e abençoado Pizarro, quando massacrou a população e destruiu a civilização inca, ou por ter feito o mesmo com Cortez em relação ao Império Azteca.

Donizetti Aparecido de Oliveira -   28/10/2019 13:46:50

Nesse balaio tenho certeza de algo horrível: o papa e muitos infiltrados na IC estão a serviço do Mal. O papa é argentino, onde se elegeu um poste comunista. Mera coincidência? Duvido.

Afonso Pires Faria -   28/10/2019 13:39:35

Assim como ensinar errado deve dar muito trabalho, imagino o trabalho que tivestes para explicar o óbvio. Ter de medir as palavras, desenhar, colocar as coisas uma em cada lugar e iluminar o suficiente para que os, quase cegos enxerguem. Parabéns professor.

Luiz R. Vilela -   26/10/2019 21:20:37

Querer julgar o passado com os sentimentos atuais, é não conhecer a história e imaginar que o que se faz presentemente, seja a correção dos erros do passado e portanto, a lapidação da vida sobre a terra. Sabe-se que não é assim. A cada época, a humanidade teve lá os seus interesses e suas necessidades. Aquela velha história de que o homem é o lobo do homem, talvez seja o mais verdadeiro dos conceitos emitidos sobre a conduta humana. O sentimento quase que generalizado, é o da posse, do poder, da riqueza, a ganância predomina sobre o espírito da fraternidade e a força é o estimulante da cobiça e a necessidade de poder, que predomina na maioria dos humanos. A natureza modelou as pessoas, conforme a região em que viviam. O clima e as características locais esculpiram o corpo e o sentimento dos povos, que nunca viveram em paz, em nenhum lugar do mundo. Sempre houve guerras. Povos que nunca se conheceram ou tiveram noticias da existência uns dos outros, tinham procedimentos idênticos , ou seja, a brutalidade era e é inata, dando a certeza que mesmo nascendo em locais diversos, todos tem na sua "composição", o mesmo material impuro e imperfeito. Enfim, somos a "porcaria" mais destruidora e maléfica que a natureza pôs sobre a terra, porque? As religiões, só serviram para agravar a beligerância que sempre houve no mundo, que ao incentivar o fanatismo, criou a "guerra santa", onde não mais se lutava pelas riquezas terrenas, mas pelas riquezas do céu, mas a luta era e é sempre por riquezas. Não há deus algum que ponha fim a ganância e com isso, impeça que uns matem os outros, seja motivado por grandes conquistas, ou por apenas um reles telefone celular. Os dia de civilidades, se é que algum dia existiram, parece que estão se findando, a barbárie volta com tudo, sendo que no Brasil, com o aval da mais alta corte de justiça. O mundo esta louco.

Dalton Catunda Rocha -   26/10/2019 19:53:53

Em resumo: Luta de classes morta; lutas de bichos, florestas, gays, índios, quilombolas, raças e sexos estão todas postas. “Continuo detestando a racialização do Brasil, uma criação – eu vi – do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Nossa maior conquista – o conceito de povo brasileiro – desapareceu entre os bem-pensantes. Qualquer idiotice racial prospera. A última delas é uma linda e cheirosa atriz global dizer que as pessoas mudam de calçada quando enxergam o filho dela, que também deve ser lindo e cheiroso.” E concluiu: “Quero que as raças se fodam.” > https://istoe.com.br/racializacao-e-uma-histeria-que-tem-que-parar-diz-secretario-do-rio/