• Percival Puggina
  • 20/05/2023
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O silêncio dos nada inocentes

 

Percival Puggina

         Por que a Câmara dos Deputados aprovou a prisão do deputado Daniel Silveira, silenciou perante o “fique em casa” e o “lockdown”, aceitou os primeiros ataques à liberdade de expressão e tolerou que até seus membros fossem sancionados com restrições de direitos de uso das redes sociais?

Por que, como poder de Estado com legitimidade para representação do povo, conformou-se quando a cúpula do Judiciário foi assumindo competências do Governo e do Parlamento?

Por que se aquietou quando ato soberano de concessão de graça a um parlamentar foi jogado à lixeira no plenário do STF? E por que o Senado da República nunca reagiu aos abusos de poder, reelegeu com ampla margem o mais omisso de seus presidentes e nada faz para conter a onda totalitária que agora conflui ao novo governo? Por que apenas uns poucos e valorosos discursos ousaram protestar contra a violência que caracteriza a cassação do deputado Deltan Dallagnol?

Nesse já longo e sinistro caminho, enquanto tantos se ocupam com a CPI das apostas, das Americanas, das criptomoedas, e outras questões de variado porte, uns poucos e bravos deputados custam a encontrar assinantes para a CPI do abuso de autoridade. Então, cravo aqui mais um “por quê?”.

Há várias respostas, mas a essencial é a enorme distância que nosso sistema de eleição proporcional estabelece entre os parlamentares e os cidadãos, entre Brasília e a Santana do Livramento onde nasci. Em nosso sistema, deputados e senadores só têm contato com quem está na sua bolha. Não são abordados, nem conhecidos. Menos ainda são reconhecidos e cobrados por quem está fora de seu convívio, de suas equipes e dos recursos que liberam em destinações específicas. Cristalizou-se no Brasil um sistema antipovo.

Por isso, temas da cidadania não suscitam interesse do parlamento, a menos que, em surtos de animação, as redes sociais sejam acionadas. Por isso, cá nas escarpas da realidade, longe da planície dos favores, costumamos dizer perante raros congressistas favorecidos por convite para se manifestar em algum canal de tevê: “Esse me representa!”. É o cidadão brasileiro que habita em nós diante de alguém que desviou os olhos dos interesses pessoais e viu a nação, viu a democracia solapada, o estado de Direito corrompido, a liberdade sendo suprimida, os brutamontes se multiplicando e elevando o tom de voz.

Os temas da cidadania morrem à míngua com esse sistema eleitoral! Creia, leitor amigo, voto distrital faz de cada deputado representante de todos em seu distrito, devedor de explicações a quaisquer de seus cidadãos. Se não os representar bem, perde o mandato por decisão daqueles que o concederam. É vacina indispensável à cura da enfermidade que descrevi, capaz de sanar o primado da estupidez e da aberração instalado no país. Sei que isso não é fácil nem para já. Por enquanto, só posso apontar a razão não-monetária pela qual nosso Congresso não lhe dá a mínima bola, cidadão. Os votos da reeleição já estão sendo comprados com recursos da torneira conectada a seu bolso.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Leonco de Carvalho Bones -   25/05/2023 10:34:21

Congresso omisso e covarde!! A maioria só se preocupa com as propinas, a maioria dada pelo desgoverno corrupto e ladrão com nosso dinheiro para calar os covardes!! Tem que ser mudado a leis do TSE, pois só 20% no máximo sai realmente eleitos por votação direta. O resto é conchavos partidários.

Antonio Mário Machado Ferraz -   24/05/2023 16:13:52

Exato, professor. Hoje a verdade é que a grande maioria dos políticos só mantém contato com o seu eleitor por ocasião das eleições. Assim, se isolam porque, uma vez empossados, nada mais lhes interessa até o proximo pleito.

simone -   24/05/2023 07:12:21

Dura e aterradora realidade.

Geraldo -   23/05/2023 10:56:10

Para que serve o congresso?

Antônio Ferreira -   23/05/2023 08:51:34

Todos os questionamentos do texto são simples de responder, os parlamentares não representam o povo, com algumas exceções, os parlamentares não se sentem seguros e uma imensa maioria pensa apenas no próprio bolso.

Sérgio Delgado -   22/05/2023 15:57:06

Parabéns Percival. Mais uma vez você resume num texto a nossa realidade.👏

Eloy Severo -   22/05/2023 14:43:38

Importantíssima matéria. Numa tirada gaúcha, somos um povo no mato sem cachorro.....ou talvez tenha cachorro demais.

Enézio E. de Almeida Filho -   22/05/2023 14:28:36

Por que esse silêncio dos nada inocentes? É porque a maioria do políticos brasileiros é corrupta!

HELIO JORGE SPINELLA -   22/05/2023 11:43:02

A contagem do voto é um ato administrativo público com plena transparência para sua efetiva validade e o TSE deve permitir o acompanhamento com lisura e divulgação, assim como permitir sua validade auditada por organizações competentes. Jamais criar obstáculos e impedimentos, quaisquer que sejam, que impeçam seu verdadeiro resultado, assim como o Poder Judiciário tem que ser APARTIDÁRIO E ISENTO DE POSICIONAMENTO POLÍTICO NO EXERCICIO DE SUAS FUNÇÕES. DEVE SEMPRE FALAR NOS AUTOS, data venia.

Rogerio Viana -   22/05/2023 11:29:51

Como sempre, didático e certeiro!

MARCO ANTONIO GEIB -   22/05/2023 11:16:20

- Entendemos que os responsáveis pelo "Silêncio dos Inocentes"... são aqueles que insistem em silenciar perante os absurdos impetrados e os que nos estão apresentando. - Não bastasse o rumo nebuloso que este "desgoverno" esta tomando, internamente, somos obrigados a ver nosso Brasil achincalhado perante o mundo inteiro pelas dupla, Lula e da Janja.... !!! Os brasileiros do bem pagarão caro pelo "Silêncio dos Inocentes". A primeira parte do show vai acabar quando prenderem o ex-presidente Bolosonaro.... depois, bem...será depois !!! abs.

Ronaldo Luiz Tenório de Oliveira -   22/05/2023 10:57:39

A maioria, infelizmente, de eleitores do Brasil não estão a par dos acontecimentos e se baseiam em veículos de comunicação que distorce as notícias (Globo).

paulo assis valduga -   22/05/2023 10:24:01

Caro Puggina, creio que na raiz da questão está a falta de caráter de grande parte dos brasileiros, principalmente daqueles que tem a obrigação de dirigir o País (embutidos nela a ignorância, o fanatismo, o enriquecimento espúrio e por aí se vai ...)

Gerson Hallam -   22/05/2023 10:19:53

Estimado Professor Puggina, sem dúvida o voto distrital é uma clara opção para a aproximação e cobrança dos políticos, Brasília é uma ilha distante, e distópica. Assim como nosso sistema federativo. Somos várias culturas e etnias com costumes diferentes e valores diversos. Os USA, representa uma verdadeira Confederação, onde cada estado membro tem sua autonomia para criar e legislar, vinculado a um governo central, mas com sua independência de leis e cultura.

ALUIZIO MALHEIROS -   22/05/2023 10:08:56

Sr. Puggina bom dia: Gostei muito do artigo, principalmente os dois blocos finais, quando toca no VOTO DISTRITAL. Acredito que a principal barreira que impede o VOTO DISTRITAL neste Brasil é o SISTEMA DE PARTIDOS(PARTIDOCRACIA). NÃO EXISTE REPRESENTATIVIDADE NEM REPRESENTAÇÃO NESSE SISTEMA ELEITORAL. NO MÁXIMO USAM O CONCEITO MANIPULADOR CHAMADO PARTICIPAÇÃO TANTO À DIREITA QUANTO À ESQUERDA. PROPONHO QUE SE COMESSE A ORGANIZAR/DEBATER POR TODO O PAÍS A IMPLANTAÇÃO DO VOTO DISTRITAL CONCOMITANTEMENTE COM O VOTO IMPRESSO. OBRIGADO. FIQUEI BASTANTE ESPERANÇOSO QUANDO AO FINAL DESTE ARTIGO O SENHOR ABORDOU O TEMA FUNDAMENTAL. 22/05/23 -A.M.-RJ

ADEMIR BISOTTO -   22/05/2023 08:36:00

O MOMENTO QUE VIVEMOS TEM NOME E SOBRE NOME, "CÂMARA E SENADO, COVARDES".

MARIA DA GLÓRIA FRITSCH NUNES -   22/05/2023 08:34:05

Não podemos contar com nenhum dos poderes e eles tem muito dinheiro(dos nossos impostos e de sua roubalheira)para nós subjugar . Só nos resta,orientarmos os nossos mas como orientá-los num país em que o povo é o de menos

jorge augusto costa meneghelli -   22/05/2023 08:04:38

Ótima opinão, parabéns! Faço minha às suas palavras. João Jesuino Demilio - 21/05/2023 11:45:17 Caro Puggina O remédio é o VOTO DISTRITAL PURO...e com RECALL ou VOTO REVOGATÓRIO! Lógico que com VOTO IMPRESSO e apuração LOCAL!

João Jesuino Demilio -   21/05/2023 11:45:17

Caro Puggina O remédio é o VOTO DISTRITAL PURO...e com RECALL ou VOTO REVOGATÓRIO! Lógico que com VOTO IMPRESSO e apuração LOCAL!

Manoel Luiz Candemil -   21/05/2023 11:35:23

Com um sistema antipovo imperando, como ficam as eleições políticas daqui pra frente?