• Percival Puggina
  • 18/04/2016
  • Compartilhe:

O PT ROTO XINGA O DESCOSIDO CUNHA

 

Assisti de ponta a ponta a sessão da Câmara dos Deputados que deliberou sobre a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Foi uma experiência emocionante e muito instrutiva. Nos telões armados no Parque Moinhos de Vento (Parcão) em Porto Alegre, em uníssono com a multidão, vibrei a cada Sim e vaiei a cada Não. Devo ter calculado quase uma centena de regras de três tentando antecipar um sempre cambiante resultado final.

Muito instrutiva a observação dos votantes, em especial a turma do Não. Marcharam para o cadafalso político uniformemente ensaiados. Repetiam os mesmos mantras que se revelaram inúteis ao longo dos últimos 15 meses! Levaram suas frases feitas até o alçapão da derrota. Traziam nos olhos um postiço furor cívico. Entre elas, o paradoxal estribilho sem verso "Impeachment é golpe" - uma contradição em termos porque o ato não pode ser as duas coisas: ou é impeachment ou é golpe. Ao final, temos que o povo, o TCU, boa parte da mídia, o STF, o Hélio Bicudo (quem diria?) e mais de 2/3 da Câmara são, todos, "golpistas". E se somam ao "golpista" magistrado Sérgio Moro, aos também "golpistas" promotores que atuam na Operação Lava Jato (outra conspiração) "golpista" e à notoriamente "golpista" Polícia Federal. Por quê? Porque diante do terremoto moral, econômico, fiscal e social que acometeu o governo e o pais, isso é tudo que o PT tem a dizer à nação. No meu modo de ver, em vista das proporções que tomou, o governo da República é o maior e mais danoso golpe impetrado num país democrático desde que Hitler chegou ao poder na Alemanha.

Um segundo mantra se repetiu ao longo da sessão. Refiro-me aos desaforos, em tom crescente, dirigidos a Eduardo Cunha. Entre os adjetivos de uma escala que começava com "patife" e chegava até "gangster", restaram poucos não utilizados pelos que pretenderam ser originais.

Não me surpreenderam os ataques ao presidente, que muito provavelmente os merecesse. O que me espantou foi constatar que partiam de bancadas empenhadas, ao último fio de voz, à última lufada de ar dos pulmões, na defesa de uma organização criminosa inteira. Organização que se apossou do poder central da República e ali praticou (no pouco que já se sabe com prova provada) o maior saque de que se tem notícia na história universal. Diante dela, Cunha entra na lista como mero trombadinha. Mas para o PT, enquanto Cunha é um bandido cuja presença na sessão deslegitima a deliberação do último domingo, o partido, com quanto pesa contra si, é um insubstituível modelo de virtudes, apto a dar lições de dignidade ao mundo.


________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Áureo Ramos de Souza -   23/04/2016 23:42:25

Em poucas palavras, quer dizer se não é impeachment ou golpe e o que é. O escrivinhador desta matéria esta de qual lado. Nas ruas existiam os dois lados sendo que um lado era do lado SIM sem propina de partido e ou políticos e do outro lado o lado NÃO foram todos pagos. Então quem desejou o impeachment foi o povo brasileiros e com medo das próximas eleições muitos votaram sim sendo que eram não.

Genaro Faria -   21/04/2016 09:58:05

Não será mais um comentário ao seu artigo, prezado Puggina, mas ao artigo do Polibio Braga que você reproduziu aqui. Que já divulguei a todos de minha correspondência pelas ondas da internet como a única observação lúcida do cipoal de críticas epidérmicas aos votos dos parlamentares proferidos na sessão que trouxe o Brasil de volta à realidade. Eles espelharam nosso país e ali repercutiram a repulsa que nosso povo expressou nas ruas. Não foram os crimes cometidos contra a lei fiscal e contra o orçamento e as prerrogativas do Parlamento - que raros são aqueles que compreendem e podem avaliar suas nefastas e trágicas consequências para o país - que colocaram esse governo na berlinda. Foi sua agressão aos valores que nós prezamos que aflorou na maioria dos votos contra um governo que nos repudia. E os deputados, pressionados por suas famílias, mais do que por seus eleitores, fizeram questão de votar como pais, filhos, maridos, avós, enfim, membros de uma família que os comunistas intentam eliminar para que ela não possa concorrer com o Estado, senhor absoluto, totalitária que nem mesmo a consciência de Deus pode ofuscar. Esse processo de impeachment, assim como o de Collor, fundamenta-se em ilícitos administrativos. Que, por sinal, fizeram de Collor um pivete em face ao crime organizado que Lula implantou em nosso país. Mas o impeachment de Dilma ressalta, embora assim não possa fundamentar, bem mais do que isso. Ele verbalizou nossa rejeição a uma ideologia sedimentada no ódio, desumana. Foi isso que nossos deputados, canhestra e vulgarmente, no entanto, proclamaram em suas manifestações de voto. Que o brasileiro não é diferente de nenhum outro povo. Como nem os revolucionários daqui são diferentes dos russos, dos alemães, da Itália ou de Cuba, que mataram dezenas de milhões de pessoas para se imporem pelo terror. E porque não acreditam na dignidade humana que apenas nossa criação à imagem e semelhança de Deus pode nos distinguir dos demais seres que receberam o hálito da vida.

Michael Forkert -   21/04/2016 07:10:06

O Sr. leu o artigo do Olavo sobre o Reinaldo Azevedo? Eu acho que o Sr. é SOCIALISTA DEMOCRÁTICO, tal qual o Tio Rei, Caio Blinder, Marco Antônio Villa, FHC, et caterva. E como todos eles, o Sr. também acoberta a sua verdadeira ideologia. Deve adorar o ObaMarx, fazendo de tudo para que os seus leitores acreditem, que ele seja a expressão máxima da democracia do universo, ocultando deles, que ele é, na verdade, um comunista de carteirinha , e, está tão ilegitimamente no poder como a ex-terrorista ex-seqüestradora Dona Dilma Rousseff.

Genaro Faria -   21/04/2016 04:48:14

Ainda bem que nós não somos humoristas. O ridículo é tanto que nos atropelaria. Aposto que nem o diabo ousaria, nem por um minuto, entrar no Instituto Lula ou fazer um lanche no Palácio da Alvorada. Ele sairia de lá desmoralizado. Com o rabo entre as pernas e pedindo socorro aos bispos da CNBB: Que país é esse!!!

sanseverina -   20/04/2016 20:10:00

A votação do impeachment na Câmara foi, em grande parte, um espetáculo de circo mambembe. Tanto os do SIM, quanto os poucos do NÃO fizeram uma declaração de voto decorada, com apelos nada a ver. Por exemplo, a esquálida e histérica Maria do Rosário lembrou o desaparecido Rubens Paiva que, certamente, ela nem sabe quem era; tem o que citou o “herói” Marighella e o Bolsonaro, cuja cara, relembrando Lombroso, expõe o próprio cérebro quadrado, homenageou o Cel. Brilhante Ustra, sabendo quem foi; e ainda tem aquele BBB que cuspiu nele: é louco ou fanático por holofote? Tem mais, aquela idiotice de “pela minha família, filhos e eleitores” só comparável aos xingamentos fora de lugar contra o Eduardo Cunha, naquela sessão cumprindo, e muito bem, a sua função de presidente da Câmara. Resumindo: que safra de representantes do povo temos que aturar e quanta mediocridade, hein? Se é para avacalhar de vez, melhor ir morar no Paraguai! Agora vemos no Senado o seu presidente enroladíssimo na Lava Jato, secundado por cupinchas também de rabo preso, fazendo o diabo para empurrar a decisão para as calendas. Enquanto isso, as empresas requerem falência, a indústria para, o comércio fecha as portas e o desemprego sobe à estratosfera: O PAÍS ESTACIONA PERIGOSAMENTE À BEIRA DO ABISMO econômico, social e político. Cadê o espírito público e a responsabilidade desses políticos? Estamos sós.

Genaro Faria -   20/04/2016 02:36:21

Os petistas e sua patrulha vermelha vão acabar fazendo de Eduardo Cunha um "herói do povo brasileiro". Eles e o seu sócio oculto (nem tanto) tucano, que já se entende com a dupla Ronan Calheiros/Lewandovsky, ao mesmo tempo em pede a cassação do presidente da Câmara. O homem que fechou o cassino de roleta viciada que o PT e o PSDB sempre sustentaram para enganar o eleitor ingênuo. Imperdoável!

Odilon Rocha -   20/04/2016 00:24:08

Caro Professor Eu não tenho mais dúvida. O pobre País está quebrado, emporcalhado, destruído, por causa única e exclusiva do Deputado Cunha. O cara conseguiu ultrapassar o Lula, Dilma e toda a gangue petista. Vai ver, foi o Cunha que arquitetou tudo: a compra de Pasadena; empréstimos duvidosos e superfaturados do BNDES sem consulta; determinou o saque aos Fundos de Pensão; planejou as criminosas pedaladas; desmantelou a Saúde, a Educação, a Segurança e a Infraestrutura Nacional, etc.. O cara é demais! O PT é fichinha perto desse monstro. E, ainda por cima, com todos os adjetivos pejorativos que lhe foram carinhosamente endereçados, nem por isso cuspiu em alguém. É demais!...é demais... . Abraço

Carlos Edison Domingues -   19/04/2016 18:16:06

O despudor do presidente da Câmara de Deputados proporcionou aos brasileiros a alegria do melhor domingo festejado nos últimos anos. A capacidade dele, para enfrentar todos os ataques e dirigir o processo, já está reconhecida como uma pública "delação premiada" a que o povo saberá julgar com generosidade. Carlos Edison Domingues

Carlos Edgar Bonfiglio Osorio -   19/04/2016 16:37:58

Concordo com todo o conteúdo de seu comentário.

Dalton Catunda Rocha -   19/04/2016 14:51:47

Meu comentário é um artigo do jornal Folha de São Paulo de ontem: "A história do Brasil do PT 18/04/2016 02h00 A "batalha do impeachment" é a ponta do iceberg de um problema maior, problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem tragicômica Dilma. Mesmo após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser educados por professores que ensinarão esta história. Esta história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir. A "inteligência" brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai mudar em breve. Quem ousar nesse mundo da "inteligência" romper com a esquerda, perde "networking". Ao afirmar que a "história não perdoa as violências contra a democracia", José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso. O sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes contra a democracia é que quem escreve os livros de história no Brasil, e quem ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo. Se você não acredita no que digo é porque você é mal informado. O PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o Brasil. Só a esquerda tem uma "teoria do Brasil" e uma historiografia. Esta construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (as vezes, mesmo financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários, professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro, os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos. Erra quem pensa que o PT desaparecerá. O do Lula, provavelmente, sim, mas o PT como "agenda socialista do Brasil" só cresce. O materialismo dialético marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com pitadas de Adorno, Foucault e Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem educação, arte e cultura no país. Basta ver a adesão da camada "letrada" do país ao combate ao impeachment ao longo dos últimos meses. Ao lado dessa articulada rede de agentes produtores de pensamento e ação política organizada, que caracteriza a esquerda brasileira, inexiste praticamente opção "liberal" (não vou entrar muito no mérito do conceito aqui, nem usar termos malditos como "direita" que deixam a esquerda com água na boca). Nos últimos meses apareceram movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL que parecem mais próximos de uma opção liberal, a favor de um Brasil menos estatal e vitimista. Ser liberal significa crer mais no mercado (sem ter que achá-lo um "deus") e menos em agentes públicos. Significa investir mais na autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com paternalismos estatais. Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muitos importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente incipientes. E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de financiar o trabalho das ideias. Pensa como "merceeiro", como diria Marx. Quer que a esquerda acabe por um passe de mágica. O pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou acadêmica. E sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo a tarde. A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós. Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito. Sem essa ação, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série. A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha." > http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2016/04/1761876-a-historia-do-brasil-do-pt.shtml

Genaro Faria -   19/04/2016 01:12:30

Confiante na tradição de que o Congresso e as Forças Armadas nunca afrontam a vontade manifesta do povo, eu me preparei, também, para assistir à sessão histórica do bota fora de Dilma Rousseff. Mas fiz isso como quem vai ao cinema com a namorada, com pipocas e refrigerantes, agora substituídos por muita cerveja gelada e uma porção de moelas, asinhas de galinha e outras guloseimas de boêmio inveterado. Tolo de quem acredita que um processo de impeachment se instale sem que o seu resultado final não seja milho contado no papo. "Não assusta não, querida, eu só vou colocar a cabecinha." Papo de malandro. Collor, quando se deu conta de que a vaca já tinha ido pro brejo, mandou um emissário levar sua carta de renúncia ao foro parlamentar. Tarde demais. A cabeça já tinha entrado. Era só empurrar... A corte vermelha palaciana já está careca de saber que no Senado a goleada será mais humilhante ainda. Vai ser um 7 a 1 de Brasil contra a Alemanha. O impeachment vai entrar com bola e tudo. Mas não terá a mesma graça do espetáculo com que Eduardo Campos nos brindou ao revidar com um sorriso de ironia o estribilho de insultos que os bravos governistas vociferavam revirando os olhos, espumando de raiva e dando murros no ar. Isso não tem preço...