• Percival Puggina
  • 15/07/2015
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O Nº 10 DE DOWNING ST. E O PALÁCIO DO PLANALTO

 

 Diariamente, centenas de milhares de turistas em visita a Londres percorrem a pé a pequena distância que separa Westminster do mais famoso beco do mundo, a Downing Street, em cujo nº 10 trabalha e mora o First Lord of Treasury, cargo tradicionalmente comissionado ao Primeiro Ministro britânico. Através das grades de uma cerca metálica pintada de preto, elegante mas sem floreios, pode-se espichar os olhos na direção do famoso endereço. A impressão que se recolhe, como brasileiro, é a total desproporção entre a importância do cargo e a sobriedade do edifício. Alvenaria de tijolos à vista, uma porta estreita abrindo para a rua sobre uma soleirinha de dez centímetros não é exatamente o que se imagina para quem ocupa posto de tal relevo.

 Embora doada a Sir Robert Walpole em 1732 pelo rei George II, este a recusou como presente e propôs que fosse destinada ao uso dos ocupantes do cargo que ele então exercia. Muitos dos sucessores de Walpole, contudo, preferiram outros endereços por considerar aquele destituído da necessária dignidade. O nº 10, já então, estava longe de ser incluído entre os domicílios ou escritórios elegantes de Londres.

Ao retornar dali para o hotel onde estava hospedado, dias atrás, busquei informações sobre o número de pessoas naquele local. Chamara-me a atenção a tranquilidade reinante na Downing Street. Havia muito mais gente espiando através das grades do que em circulação nas áreas externas da sede do governo. E lá dentro? Pesquisando, descobri que o primeiro-ministro britânico tem a sua disposição 85 postos da burocracia estatal e que no nº 10 trabalham, ao todo, cerca de 170 pessoas. Em Brasília, no Palácio do Planalto, sede do governo brasileiro, segundo informou o jornalista Claudio Humberto, em sua coluna do dia 27 de novembro de 2013, estão lotados 4,6 mil funcionários. À época, o jornalista observou que esse número era 10 vezes maior do que o staff total da Casa Branca. E, pelo que constatei em minha pesquisa, 27 vezes maior do que o staff operando na sede do governo do Reino Unido.

Quanto poderíamos aproveitar dos bons exemplos! Em vez disso, parece que aprendemos dos gregos. É evidente que com tais esbanjamentos, vivendo à forra, não pode sobrar dinheiro, por exemplo, para construir os presídios de cuja existência tanto dependem a credibilidade e efetividade da legislação penal e nossa segurança pessoal. Esse modelo pródigo de gestão só será rompido, com imensa economia de recursos se e quando adotarmos um sistema racional, que separe o Estado do governo e ambos da administração pública. Vejam que ao referir o Palácio do Planalto, mencionei apenas um local, um edifício. Há muito mais luxo, requinte e esbanjamento ao redor da mesma praça onde se situa o endereço profissional da senhora presidente.

* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 


Eduardo -   21/07/2015 07:08:19

Do jeito que as coisas andam a tendência é aumentar o número de servidores públicos a partir do fechamento de empresas e desaparecimento de empregos, pela inflação alta e desestímulo à aplicação na produção. Passando o Estado a ser o pai provedor. Inflação alta, aumento da máquina pública, tudo faz parte do método para implantar o socialismo com resultado final no comunismo latino americano.

Zaqueu -   17/07/2015 20:57:27

O problema que o imenso trem da alegria se estende por todo o país do Oiapoque ao Chui em todas as instâncias e poderes, do Alvorada com a Planície dos Ministérios até a mais humilde Câmara de Vereadores. Por enquanto todo esse desperdício, em detrimento das necessidades urgentes da população, passa meio que batido pois o povão, apesar das dificuldades e carências, se distrai com futebol, praia, caipirinha, novelas, carnaval e por aí vai. Diz um ditado antigo, o cântaro tanto vai à fonte que um dia ele quebra. Vamos esperar pois parece que a quebradeira já começou. Quem sabe se o exemplo da população de Santo Antonio da Platina se espalha e contamina o Brasil inteiro.

Leonardo Vieira -   17/07/2015 20:11:10

O Brasil se tornou uma Roma: aqui trabalhamos para sustentar uma minoria que suga e esbanja a riqueza fruto do suor dos brasileiros. Nosso dinheiro serve para financiar os bacanais dos caciques da política nacional.

Gustavo Pereira dos Santos -   16/07/2015 22:42:46

Caro Genaro, imaginei a ANTA em cima de um elefante no desfile militar de 7 de Setembro. Um abraço, Gustavo.

Sellba -   16/07/2015 11:42:51

Concordo com o comentário de Em.berg. Nós brasileiros não sonhamos em acabar com esse antigo vício. Sonhamos na verdade fazer parte deste aparelhamento. Assim ele vai se perpetuando.

Genaro Faria -   16/07/2015 00:41:02

Não é preciso ter conhecimentos de geografia para saber, ao ver um álbum de selos, quais países são pobres e quais são ricos, bem sabem os filatelistas. Os selos dos países mais ricos são também os mais sóbrios, mais despojados. De um modo geral, a figura de um rei ou rainha, de um presidente ou vulto da história nacional, com um fundo azul , o nome do país e o valor. Nada mais. Já os de países pobres... Que beleza, que prodígio. Outra característica distintiva é a dos séquitos presidenciais. O que acompanha Dilma, por exemplo, parece a chegada de um circo na cidade. Do cortejo só não participam elefantes por falta de licença do departamento de trânsito.

RICARDO MORIYA SOARES -   15/07/2015 21:12:16

Caro Mestre Puggina, ao meu ver o brasileiro médio tem uma seríssima falha de caráter, pois banca o sonso enquanto brada por seus inúmeros direitos - milhares de direitos! Vou além, diria que 95% dos jovens que cursam a faculdade planejam fazer concurso público nos próximos meses-anos; e se isso não é um tremendo trambique, eu realmente acordei num universo paralelo. A desculpa é sempre a mesma, responsabilizam a falta de oportunidades boas no setor privado, os baixos salários, etc. Como se os excessos de gastos e regulamentações do setor público (regulamentações impostas na marra ao setor privado, ao cidadão comum) não fossem diretamente responsáveis pela falta de vagas e de bons ordenados no primeiro; ainda se acrescentarmos a maldita CLT na equação, que praticamente inviabiliza a contratação e demissão de novos trabalhadores - detalhe, nem cheguei a tocar nos sindicatos e leis que regulam tudo e todos, que no fundo só servem de cabide de emprego para novos burocratas. E os mais variados impostos? Existem muitos burocratas bons e trabalhadores, mas o problema é esse mesmo: tem muita gente, um excesso de pessoal dependendo do setor público - e outros milhões almejando uma vagazinha nesse filão! Apenas fica um alerta, pois esses esquerdistas vagabundos mataram a galinha dos ovos, quebraram milhões de empresas com sua visão gramsciana-apocalíptica-corrupta, e ainda contarão com a cara-de-pau da mais alta corte da nação para sua salvação definitiva - me parece que o roteiro já foi escrito! Enquanto isso, a arrecadação despencará a níveis nunca antes testemunhados, e milhares de empreendedores deixarão o país (já estão saindo!), emulando o romance A Revolta de Atlas, de Ayn Rand - que curiosamente não foi proibido ainda no Brasil! E, finalmente, como ficará nossa estranha classe média formada exclusivamente de burocratas? Sem dinheiro não haverá fórmula mágica para honrar todos esses contracheques, o que esses fantásticos socialistas farão? Irão imprimir mais papel moeda? O sonho virará pesadelo brevemente, e não há nada a se fazer. O caso de 10 Downing Street se torna ainda mais chocante, se levarmos em conta a realidade brasileira. Me recordo de visitar o Estado do Piauí em meados dos anos 90, e na região mais castigada e pobre do Estado, notei que as prefeituras ao longo da BR eram verdadeiros palácios renascentistas, e as cidades, verdadeiras tragédias urbanas - nada contra o belo Estado do Piauí, apenas uso minhas lembranças para ilustrar a mentalidade corrupta e estatizante da intelligentsia tupiniquim.

En.berg -   15/07/2015 16:04:07

Todo p mundo sabe disso e se revolta com isto sendo redundante mas no mesmo tempo também quer uma boquinha como está basta fazer uma pesquisa nas universidades junto aos seus estudantes em sua maioria estão almejando uma ocupação no setor público.