• Percival Puggina
  • 26/07/2016
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O MEU, O TEU E O SEU

 

 Por alguma fragilidade pessoal não sou leitor assíduo das páginas policiais, cuja importância reconheço. Causa-me mal-estar o mergulho matutino nas águas turvas e geladas do submundo que, em nosso país, disputa tamanho e poder com a nação e suas instituições. Dedico minhas expectativas cívicas às páginas de política e economia porque, em grande parte, é dali e da Educação que algo bom pode vir. Foi inevitável, porém, prestar atenção às notícias sobre o violento ataque à Escola Estadual Érico Veríssimo. Se praticado por alunos, foi ato de furto e vandalismo. Se por facções criminosas, terrorismo. Nesta hipótese, é inevitável a analogia. Terrorismo pode ser definido, grosso modo, como "emprego sistemático da violência para desestruturar a sociedade e buscar poder". Ações semelhantes na intenção e variadas na forma, acontecem nas grandes cidades brasileiras. Anunciam um estado paralelo, atemorizam a todos, delimitam território e visam a um objetivo político. (Note-se que a lei brasileira sobre terrorismo exclui (!) as motivações políticas. Mais adiante, neste texto, se compreenderá o motivo.)

 Dito isso, colho o resultado pessoal do indesejado mergulho no submundo e suas motivações. Encapelam-se os sentimentos! Impossível silenciar ante o encontro do que vejo com o que sei. Entre os muitos motivos que desencadearam as forças do mal em nosso país existem alguns envoltos em conspiração de silêncio. Há que rompê-la. Refiro-me à quantos, de modo intencional e velado, vêm condicionando a nação para ser estuprada pela criminalidade com cuja conduta, no delírio da utopia, se acumpliciam e colaboram.

 Refiro-me aos que, no contrapelo dos países civilizados, onde a criminalidade envolve grande risco porque fortemente combatida, postam-se ao lado dos bandidos e contra sua repressão, ajudando a transformar o crime em operação segura e rentável. Exibem-se como defensores e garantidores de direitos humanos. Percebem os criminosos como agentes de um processo de transformação na sociedade - ela sim, declarada perversa - onde nós, as vítimas, não temos direito à proteção e desmerecemos consideração. Estão na mídia, no mundo acadêmico e nos poderes de Estado, em sublime contemplação da própria bondade.

O que pode levar alguém, numa sociedade onde as ações criminosas correm livres e soltas, a afirmar que "já temos presos em excesso", que "prender não resolve", que "cadeia não recupera", que "é inútil agravar as penas", que "regime disciplinar diferenciado desrespeita direitos humanos"? Por que iria alguém dedicar-se a tutelar bandidos e hostilizar polícia? Que razão teriam essas pessoas para, enfim, deixarem tudo como está?

Se o leitor destas linhas não for turista de língua portuguesa viajando em nosso país, se for da aldeia e conhecer os caboclos, saberá que quase todas as teses erradas e extravagantes disseminadas no Brasil procedem da mesma usinagem política. A de que trato aqui é uma das tantas e se resume no que descrevo a seguir. 1) A criminalidade seria produto do sistema econômico, da economia de mercado, da empresa privada e, principalmente, do direito de propriedade. Não havendo propriedade privada, desapareceriam a cobiça e o roubo, pois o Estado disporia tudo em partes iguais para todos. 2) A lei penal, que enche as prisões, teria sido concebida para proteger a propriedade privada, sendo, pois, uma lei contra-revolucionária e opressora. Essa usinagem política anseia por um mundo sem pronomes possessivos, especialmente no singular.

Assim, o sujeito que nos ameaça com uma arma, que dispara contra suas vítimas, que rouba a pensão da velhinha e o nosso carro, que invade terras e imóveis (chamam a isso "ocupação") é visto como agente da transformação social e como um carente necessitando proteção contra a maligna ordem penal burguesa, que cobra respeito ao meu, ao teu e ao seu. (...)

(A versão integral do artigo só está disponível em Zero Hora, na edição do dia 23/07)
 


Genaro Faria -   27/07/2016 22:50:45

FIQUE SABENDO A pesquisa que aponta o apego atávico dos brasileiros pela proteção estatal revela que nós ainda não compreendemos a função do Estado. Nem entendemos que esse ente rege-se por seres humanos - os políticos e burocratas que de anjos nada têm. O fantasma do desemprego ronda nossas cabeças. E passar num concurso público é afugentá-lo num país onde crises da economia são recorrentes. Crises que são provocadas pela má gestão do Estado que se mete a empresário e abandona suas funções fundamentais: ensino de qualidade, saúde e segurança pública.

Genaro Faria -   27/07/2016 11:52:08

Bastaria citar que os países de economia livre e sistema penal eficiente são os que apresentam menores índices de criminalidade? E que esses países são os que mais respeitam a propriedade privada, a educação, a saúde e a integridade física das pessoas? Não. Para os "progressistas", esse argumento seria preconceituoso contra os países mais pobres. Apelar à razão, esfregar os fatos em seus narizes é falar para as paredes. A organização criminosa, politicamente motivada, que sequestrou a cultura nacional - e a mantém refém nas escolas, imprensa e no chamado meio artístico - age como os lobos solitários da jihad islâmica, através de células orientadas e comandadas por uma ideologia satânica. Neste caso, o hasteamento de uma bandeira da extinta União Sociética, em lugar da bandeira nacional, em uma escola pública de Caxias do Sul, é um episódio que não pode ser negligenciado pelas autoridades. Quem fez isso não trocou os pavilhões por mera questão de preferência pela cor vermelha.

Ismael de Oliveira Façanha -   27/07/2016 02:25:24

A "escola de turno integral", corriqueira na Europa, mas proposta revolucionária em nosso País, é parte de um leque educacional, infelizmente muito oneroso para os padrões brasileiros, mas que poderia orientar positivamente a juventude das periferias urbanas, hoje abandonada. Para completar o descalabro, o Estado afrouxou a legislação penal e a de execução penal, de maneira que o "regime semi aberto" na prática é "aberto", e o consumo das drogas, ainda as mais pesadas, foi "descriminalizado" e essa circunstância é gasolina no fogo do tráfico. A droga, junto à desorientação da juventude carente, e não o capitalismo, são a sementeira dos crimes contra a vida e o patrimônio em nossa terra.

Marcio Manoel -   26/07/2016 22:39:30

Pois é...... E ainda temos cretinos que acham isso certo. Mas só até acontecerem com eles ou seus familiares. Gostaria de ver a Rosário com um revolver na cabeça dela ou de sua filha, dizendo que entende o quanto o bandido é um oprimido da sociedade. Mas parece que não entendem. tende ver a reportagem que fez a Rádio Gaucha hoje, sobre os presos. vc vai se apavorar com os números. Abraço. Marcio Manoel.