Percival Puggina
Ao saber da chacina ocorrida em Blumenau pensei naquela constatação proporcionada pela História: as sociedades dominadas por algum processo revolucionário foram, antes, submetidas pelo medo. Coagidas por ele, pelo terror, abrigaram-se sob seus algozes. Vale para cidadãos em relação ao Estado e vale para os moradores de áreas dominadas pelo tráfico em relação às respectivas facções criminosas.
A sociedade brasileira vive assim. A criminalidade atormenta nosso cotidiano. Bandidos, quando por azar são presos e levados à audiência de custódia, retornam dali para sua tenebrosa faina. Em muitos casos, nem a lei permite prendê-los porque protege melhor os fora-da-lei do que zela pelos cidadãos de bem. Estes, além de tungados pelo crime e achacados pelo Estado (vem aí mais um aumento de impostos), são vítimas de um tratamento discriminatório por parte dos intelectuais de foice, martelo e estrela, que o veem como causa de todos os males.
Os meios de comunicação fazem coro ao coitadismo do bandido-padrão da retórica hoje oficial no país: o “menino” que rouba um celular e “apanha da polícia”. A polícia é maltratada nas manchetes. A situação, de tão recorrente, se tornou típica. Criminosos recebem polícia à bala. Após violenta troca de tiros, morrem dois policiais e dez bandidos. Pronto! As manchetes destacarão a injustiça do placar! Ora, bandido que atira contra a polícia só é visto como vítima por quem é tão bandido quanto ele.
O Brasil é o único país do mundo onde os réus só cumprem pena de prisão após “trânsito em julgado da sentença condenatória”. E os processos podem ser postergados até a prescrição. Por que? Porque o Congresso Nacional, em sucessivas legislaturas, incorpora em seu plenário congressistas com problemas na Justiça em número suficiente para barrar iniciativas que revertam qualquer dessas aberrações.
Então, desarma-se a vítima. Propõe-se o desarmamento das polícias, sua desmilitarização e normas para inibir sua atuação. Propõem-se, insistentemente, políticas de desencarceramento e de liberação das drogas. O ambiente cultural romantiza a vida criminosa, rompem-se os laços familiares e, nas famílias (como nas escolas), os códigos de boa conduta. Ensina-se nas faculdades de Direito que o bandido é potencialmente bom, a sociedade objetivamente má e sua justiça, vingativa. Apaga-se na vida social a simples menção a Deus.
O medo prospera. Quando o terror se instala, os fracos clamam pelo Estado, vocacionado para a omissão e a leniência. E fecha-se o cerco. Pense comigo: quais os crimes que hoje, no Brasil, suscitam a mais obstinada e célere persecução penal judicial, sem contraditório, ampla defesa e devido processo? Pois é... São os voláteis e subjetivos crimes de opinião, típicos dos regimes revolucionários. Ou não?
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
CELSO JÂNIO MOSKORZ - 10/04/2023 16:14:31
Esse medo é assustador.Alexandre F. Ponzoni - 10/04/2023 06:58:08
Bom dia, mais uma vez a sua descrição dos fatos é certeira, aliás o senhor faz parte do seleto grupo dos 0,5% de reais jornalista, no sentido pleno do termo. Visão, experiência e sinceridade em cada ponto e virgula. Parabéns pelos belos trabalhos prestados à sociedade. Que DEUS em sua infinita bondade e compaixão nos proteja da maldade. Abraços fraternais.Lucila - 08/04/2023 13:25:41
Excelente artigo. Medo. É isso que eles nos impõem!Décio Antônio Damin - 08/04/2023 12:29:54
Estamos com medo...! E isso é óbvio... Como poderia ser diferente? Os ignorantes, por culpa da educação precária e da proliferação sem limites acabam disputando "na marra" o espaço a que teriam direito se a sociedade fosse justa e tivessem oportunidades. Associe-se a isto as psicopatias, não diagnosticadas , e não tratadas e estaremos visualizando o quadro atual...! Educação....educação e educação! Só assim surgirão as oportunidades garantidoras da equidade e da paz que tanto buscamos,,,!Mariza Salatino Mello - 08/04/2023 10:36:07
AMEI SEU TEXTO.DISSE TUDO O QUE PENSO.eSTOU REVOLTADA COM O OCORRIDO E SENTINDO , COMO MÃE, A DOR DESSAS MÃES. ESSA PESSOA MERECE FICAR ENCARCERADA ATÉ A MORTE OU SER MORTA PELA JUSTIÇA.DESCULPE, MAS ESTOU REVOLTADA.Maria Tereza Vaz - 07/04/2023 19:17:08
Boa noite, professor! Hoje, muito especial esse tema: o medo. Com o evento da pandemia, percebi um aumento de insegurança e desrespeito às leis e à vida humana. Fico triste em meio a negação dos valores essenciais à sobrevivência do ser humano. Adorei seu texto. Muito grata por essa reflexão!👍🦋José Eduardo Foganholo - 07/04/2023 18:24:11
Exatamente isso. E os advogados como nós a cada dia mais desapontados com a pseudo-justiça que se processa neste país! Desisti! Chega! Na minha opinião para justiça do tem um jeito... Reflitamos nisso!Jose Vicente Lessa - 07/04/2023 15:12:34
Há um poblema fundamental de hermeneutica com nosso Judiciário. O objetivo não é "ressocializar" o criminoso - o que é impossível - mas, sim, reabilitá-lo. Neste caso, basta pôr o infeliz de volta às ruas e ele estará imediatamente reabilitado, pronto para entrar em ação outra vez.Eloy do Prado Severo - 07/04/2023 14:58:41
Muito bem lembrada e oportuna matéria. Hoje se não fosse pela minha idade, iria embora da América Latina.Dalia Schneider - 07/04/2023 14:44:36
Infelizmente é verdade o que o senhor escreve. O ódio e o medo rondando todos nós.Danubio - 07/04/2023 11:57:30
Como sempre, teu artigo é preciso, claro e contundente. Sem firulas, indica os pontos fracos da nossa democracia (acho que ainda é), em que o Congresso se transformou em um refúgio de infratores da lei (para não dizer bandidos) e os presídios em centro administrativo do crime organizado. Com uma legislação penal leniente e magistrados que acreditam na função recuperadora da pena, difícil colocar nosso país nos eixos.Menelau Santos - 07/04/2023 11:29:38
Verdade, Professor. Buscamos solução no Estado que é justamente o causador dos males. como dizia Reagan.ODILON ROCHA - 07/04/2023 11:14:07
Na mosca, caro Professor. Triste país.Sérgio Delgado - 07/04/2023 11:04:38
Totalmente de acordo, caro Puggina 👏Afonso Pires Faria - 07/04/2023 09:24:16
Perfeito, como sempre professor. Os nossos políticos, com a desculpa de proteger o pobre, dá ao rico o direito de cometer os crimes mais horrendos sem serem punidos.Dione - 07/04/2023 08:35:51
O título me fez abrir seu texto . Medo é manipulador. Populistas o usam, Religiões se baseiam nele. É complexo nosso Código Penal, e piora com o Código de Processo Penal. . Liberal e humanista, sou da paz e nunca da arma. Criada nesse Espirito” love and peace”, sou uma avó ainda acredita q menos armas no mundo o tornaria mais pacífico. Há os machados, facões, espetos, eu sei… eu sei…. Há muitos loucos e psicopatas Mas o medo não me dominaElaine - 07/04/2023 08:11:26
Bom dia Sr. Percival, Está tão triste nosso Brasil. Por vezes, parece não ter solução. Depois que levei ovos na cabeça, jogados por criaturas recém saídos da mamadeira, parei de pensar em protestar. Afinal, eu não existo mais, o que eu acredito não tem valor,minhas idéias e sonhos foram enterrados! Vai pra casa Tia! 😢😢😢LUIZ C GIUBLIN JR - 07/04/2023 08:04:17
Excelente definição do que ocorre hoje no país. A proteção aos criminosos é absurda. O cidadão de bem está à mercê do crime. E para a esquerda o problema é a polícia. É o fim do mundo......IGNÁCIO JOSÉ DE ARAUJO MAHFUZ - 07/04/2023 07:54:28
Puggina, Caro Mestre Percival. SAÚDE E PAZ! Como sempre, teu artigo reflete a realidade - nesse caso, a TRISTE REALIDADE - as leis brasileiras, formuladas pela "maioria delinquente" do congresso brasileiro, protegem a bandidagem... Fraternal abraço, MahfuzEgon - 06/04/2023 21:31:34
É a nossa nua e crua realidade, uma sociedade que está sendo doutrinada a cultuar o crime, infelizmente colhese o que se plantaValterlucio Bessa Campelo - 06/04/2023 16:35:03
Mestre, é perante o medo que emerge a coragem. Vc como outros tantos nos inspiram a não nos submetermos. Como disse Ethiene de la Boetie, basta não entregar e o opressor cai.