Interessado na história do período que vai de 1964 a 1985, ouvi falar e busquei assistir o documentário Hércules 56. Trata-se de um longa, do diretor Sílvio Da-Rin, composto por entrevistas, gravações de época e uma espécie de coletiva desenrolada numa mesa de bar. Os participantes da coletiva são remanescentes dos sequestradores do embaixador norte-americano em 1969 e do grupo despachado para o México, por exigência deles, a bordo da aeronave que dá nome ao filme. Entre outros, depõem, com a perspectiva que lhes permitiu um afastamento que já chega a quatro décadas, Franklin Martins, Vladimir Palmeira, José Dirceu, Flávio Tavares, Daniel Aarão Reis Filho e Paulo de Tarso Venceslau.
Eu assistira, antes, ao “O que é isso companheiro?”. Nele, Fernando Gabeira assume participação importante no sequestro. Em Hércules 56 Gabeira some. Por quê? O diretor, após a estreia, em 2006, explicou que Gabeira fora “soldado raso” na operação e jamais teria participado não houvessem os líderes escolhido para refúgio a casa onde ele morava. Praticamente mandou Gabeira procurar a própria turma e não inventar lorota. Só encontro uma explicação: o então deputado Fernando Gabeira se transferira do PT para o PV e perdera a simpatia dos companheiros.
Do conjunto da obra (Hércules 56 é um bom filme), concluí que, hoje, a maior parte dos protagonistas considera o seqüestro e a luta armada como equívocos que estimularam o endurecimento e a continuidade do regime. Escolheram esse caminho por descrerem do jogo democrático. Eram militantes, dispostos a morrer e a matar pela revolução que julgavam estar fazendo, e sobre cuja existência real, pelo que pude presumir, não têm mais tanta certeza.
Foi exatamente aí que nasceu a observação registrada no título deste artigo: do que escapamos! Imagine, leitor, se, em vez de senhores de meia idade, reflexivos mas orgulhosos dos seus ímpetos juvenis como se apresentam no filme, eles tivessem sido vitoriosos, e chegassem ao poder, como desejavam, na esteira do que realizara Fidel partindo de Sierra Maestra. O que teriam implantado no Brasil? Totalitarismo marxista-leninista, expropriações, tribunais revolucionários e execução de conservadores, liberais, burgueses, latifundiários, empresários, direitistas. E mais, partido único e total absorção da comunicação social pelo Estado. Era o que na época se chamava “democracia popular”, regime adotado pelas referências mundiais do comunismo.
Não estarei indo longe demais? Não. Assista ao filme e ouvirá Vladimir Palmeira elogiar o chefe do sequestro, Virgílio Gomes da Silva, por lhes ter dito: “Se houver algum problema que, por desobediência a uma ordem minha ou vacilação, coloque em risco a operação, não pensem que vou esperar um tribunal revolucionário. Eu executo na hora”. Quem trata assim os companheiros, como procederá com os adversários? Noutra passagem, os entrevistados respondem à seguinte questão: caso as exigências não fossem atendidas pelo governo, o embaixador seria executado? Foi unânime a confirmação. Palmeira ilustra que essa mesma pergunta lhe fora feita no interrogatório posterior à sua prisão. Resposta: “Teria executado, sim; eu cumpro ordens”. E os cavalheiros, ex-revolucionários, em volta da mesa do bar, riram com ele. Franklin Martins riu mais alto do que todos.
Hoje, personagens daqueles anos acantonaram-se no poder e estamos sob severo risco de andar na mesma direção, por outros meios e com outros modos.
* O filme "Hércules 56" está disponível em boas locadoras e, dividido em nove partes, pode ser assistido no YouTube, buscado pelo título.
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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
sanseverina - 18/12/2014 18:19:32
“Para quem é governo, qualquer regime é bom”, me dizia sempre um político e empresário do interior de Minas, já falecido. Simples assim, como se diz hoje. O comunismo então, acima de todas as formas de governo, é o melhor sistema para a camarilha do poder: tomam de assalto as empresas estatais, corrompem as privadas, armam conluios com as elites, cerceiam a liberdade de expressão, quando não a tornam crime de lesa “majestade”, investem na desinformação da sociedade aliada à propaganda de projetos de desenvolvimento que nem sempre saem do esboço e, quando saem, embutem desvio de recursos. Acima de tudo, as ações governamentais são sempre cercadas de sigilo em nome de alguma segurança imaginária, mas cujo objetivo é sempre dificultar o rastreamento do dinheiro público mal empregado e, mais, surrupiado. No Brasil, desgovernado pela quadrilha petista, os exemplos abundam: Porto de Mariel em Cuba x BNDES, em quanto ficou? Os investimentos na África. A transposição sem fim do Rio S. Francisco. A “privatização-companheira” da Petrobras, outras, e sua consequente desvalorização, tudo sob as cínicas notas e falas oficiais que resumem o “não é comigo, não sei de nada” em todos os escalões. O que essa gente quer, e quer muito, é se manter no topo da pirâmide, principalmente os que, pobres, analfabetos, incompetentes e muito preguiçosos chapinhavam na base até ontem, são os que não sabem o valor do dinheiro adquirido pelo trabalho honesto, enfim, é a escória social e moral dando ordens aos cidadãos e lhes roubando os haveres. A continuar nesse ritmo, não vai sobrar classe média tradicional, a verdadeira, para continuar mantendo os vagabundos dos dois extremos, os do “pudê” e os “coitadinhos” eleitores do bolsa-família, cotas, etc. Não, Professor Puggina, não nos livramos.Luiz Felipe Salomão - 18/12/2014 15:14:49
Caro Professor Puggina, Outro dia tive acesso a um livro muito interessante e que nos diz muito à respeito do proceder dessa gente da esquerda. O livro é PONEROLOGIA: PSICOPATAS NO PORDER do autor polonês ANDREW LOBACZEWSKI. Em seu livro, o autor nos mostra que apenas uma classe de psicopatas é suficientemente agressiva para tentar impor um discurso esquerdista totalitário ante a população de um país. Qualquer semelhança com o nosso Brasil, seria mera coincidência? Cordiais saudações.Erwen - 18/12/2014 12:33:03
A frase que retrata bem tudo isso é a de Lenin: "Usaremos o idiota útil na linha de frente. Incitaremos o ódio entre as classes. Destruiremos sua base moral, a família e a espiritualidade. Comerão as migalhas que cairem de nossas mesas. O Estado será Deus." "A minoria organizada sempre vencerá a maioria desorganizada". Estamos imersos numa total desorganização, na qual é complacente com a destruição das bases familiares e das instituições do nosso país. Não temos quem se ponha a enfrentar a implantação explicita de uma ditadura comunista implantada pelo PT. O Foro de São Paulo já está inclusive com uma página no facebook e mesmo com todas as denúncias de participação de guerrilheiros e crime organizado estarem envolvidos, a justiça brasileira não faz nada. O país parece estar entregue àqueles que em 64 queriam implantar o comunismo aqui, aos moldes de Cuba e não conseguiram e agora estão de volta, e conseguiram contaminar toda a estrutura governamental. Os políticos de hoje são em sua maioria a vergonha nacional e não representam mais os interesse nacional, deveriam ser cassados um a um e ter seus currículos divulgados na integra para todo cidadão conhecer.ALCIDES CAMBRAIA MACHADO - 18/12/2014 08:54:04
CARO PERCIVAL PUGGINA,SEMPRE LEIO SEUS COMENTARIOS E TE CONSIDERO UMA PESSOA ILUMINADA E COERENTE EM SUAS COLOCAÇAOES. MAS SO ACHO QUE O CANCER DE 64 ,DEIXOU SUAS METASTASES E HOJE VIVEMOS UM MOMENTO DE REVANCHISMO ,ONDE NOMES DE RUAS SAO TROCADOS,BUSTOS DE EXPRESIDENTES SAO DERRUBADOS DE FORMA COVARDE,SERA QUE QUEREM MUDAR A HISTORIA DO PAIS,RASGANDO AS FOLHAS DOS LIVROS.A HISTORIA NAO SE MUDA E PERMANENTE.UM GDE ABRAÇO ALCIDES.Ismael de Oliveira Façanha - 17/12/2014 18:21:38
"O comunismo fracassou no mundo inteiro"? Não em alguns países da América Latina; apesar dos esforços do REGIME CIVIL E MILITAR entre nós, os tais "CORRUPTOS E SUBVERSIVOS", voltaram, ainda que de cabelo branco e bengala, cultuando o "vovô Fidel" e armando esquemas como o FORO DE SÃO PAULO, DECRETO PRES. 8243, UNASUR, COMISSÃO DA VERDADE etc, etc, etc. Para concretizar seus devaneios totalitários, assaltam e devastam o patrimônio público, tal um câncer agressivo e destruidor.