• Percival Puggina
  • 06/08/2023
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O liberalismo da esquerda

 

Percival Puggina

       Do presidente ao sindicalista, do ministro ao barnabé, são antiliberais na política e na economia. São contra a propriedade privada (dos outros) e contra a expressão pública das crenças religiosas e das ideias não autorizadas pelo partido. Em outras palavras, são antiliberais onde a liberdade faz bem, mas usam argumentos liberais onde ela faz mal: aborto, questões de gênero e temática sexual nas escolas e, para ficar numa lista curta, maconha e outras drogas.

É destas últimas que quero tratar aqui. A dependência química, todos sabem, não afeta apenas o usuário. O dependente adoece sua família inteira e atinge todo seu círculo de relações. Ao seu redor, muitos padecem males físicos e psicológicos. A droga é socialmente destrutiva e a sociedade não pode assumir atitude passiva em relação a algo com tais características.

O que de melhor se pode fazer em relação a esse mal é adotar estratégias educativas e culturais que recomponham, na sociedade, valores, tradições, espiritualidade, disciplina.  Desenvolver hábitos de estudo, trabalho, prática esportiva e a vida de família. Como se sabe, porém, essa receita que robustece a virtude contra o vício é considerada intolerável e "politicamente incorreta" pelo poder hegemônico. Resta, então, ampliar o que já se faz, ou seja, mais rigor legal e penal contra o tráfico, mais campanhas de dissuasão ao consumo, mais atenção aos dependentes e às suas famílias, mais atenção à ciência e menos a palpiteiros, fumadores e cheiradores.

A relação direta de causa e efeito entre o consumo de drogas e a criminalidade impulsiona a ideia da legalização. Seus proponentes sustentam que se o consumo e o comércio forem liberados, os produtos serão formalmente disponibilizados, inviabilizando a atividade dos traficantes. Extinto o comércio clandestino, dizem, cessariam os lucros que alimentam o crime organizado e se reduziria o nível de insegurança em que vive a população. Muitos alegam ainda, como se fossem sinceramente liberais, do tipo laissez faire, que a atual repressão agride a liberdade e o livre arbítrio. Entendem que os indivíduos deveriam consumir o que bem entendessem, pagando por isso, e que os valores correspondentes a tal consumo deveriam ser tributados. A aparente lógica dos argumentos tem muito forte poder de sedução.

No entanto, quando se pensa em levar a teoria à prática surgem questões que não podem deixar de ser consideradas. Quem vai vender a droga? As farmácias? As mesmas que exigem receita para uma pomadinha antibiótica passarão a vender heroína sem receita? Haverá receita? Haverá postos de saúde para esse fim? Os usuários terão atendimento médico público e serão cadastrados para autorizações de compra? O Brasil produzirá drogas? Haverá uma cadeia produtiva da cocaína? Uma Câmara Setorial do Pó, da Pedra e da Erva? Ou haverá importação? De quem? De algum cartel colombiano? Os consumidores que ocultarem a dependência vão buscar suprimento onde? Tais clientes não restabelecerão, fora do mercado oficial, uma demanda que vai gerar tráfico? A liberação não aumentará o número de usuários e dependentes? Os de poucos recursos arrumarão dinheiro para o vício no crime organizado ou no desorganizado? Haverá bolsa para erva, fumo e pó?

"Qual a solução, então?", perguntou-me um amigo com quem falava sobre o tema. Respondi: “Quem pensa, meu caro, que todos os problemas sociais têm solução não conhece a humanidade”.

Alguém aí acredita que, legalizado o tráfico e vendidas as drogas em farmácia ou coffeeshops, todos os aparelhos criminosos estruturados no circuito das drogas se transmudarão para o mundo dos negócios honestos? Que seus chefões se tornarão CEOs de empresas com código de ética corporativa e políticas de compliance? Que os traficantes contribuirão para a previdência social e terão carteira assinada? Os líderes das facções cantarão nos corais das igrejas?

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 


Paulo Antônio Tïetê da Silva -   11/08/2023 17:31:00

Há alguns anos passados, o Uruguai era uma "ilha de tranquilidade", na América do Sul. Depois que legalizou a maconha virou um inferno com a disputa entre as facções criminosas. O Prf. Puggina tem razão, os traficantes jamais se legalizarão e ter que pagar impostos e mordidas de políticos brasileiros.

Decio Antonio Damin -   07/08/2023 13:24:22

Essa discussão sobre a legalização das drogas está, a meu ver, superada...! Não se trata de descriminalizar o tráfico e sim de não tratar o viciado como um criminoso...! Ele não é...! embora o crime, o tráfico, dependa dele, e exista em função dele, que é um doente e que precisa de tratamento... Educação, esclarecimento e possibilidade de um futuro melhor através dela é que mostrará um caminho a ser seguido. Mas, a educação é tratada como prioridade, demagogicamente, na teoria... e deixada em segundo plano na prática...!

Danubio Edon Franco -   07/08/2023 12:48:49

A liberação das drogas faz parte do projeto da esquerda de destruição do núcleo familiar, tal como a defesa que fazem da liberação do aborto, da ideologia de gênero (que melhor seria definida como "ideologia do macaco") e por aí vai. No ponto em debate, a par dos corretos questionamentos que fazes, basta lembrar que o cigarro é um produto liberado, mas a falsificação e o contrabando alimentam o lado criminoso do comércio. É uma infantilidade pensar que a liberação das drogas possa acabar com o tráfico ilegal. Como dito, o objetivo é outro: a destruição do núcleo familiar e desestabilização da sociedade. Basta ver o que está acontecendo nos países que assim fizeram.

marisa van de putte -   07/08/2023 11:30:29

Gostaria de descrever a voces brasileiros o absurdo dos absurdos que hoje enfrentemos aqui nos Estados Unidos. Como devem saber aqui cada estado tem suas proprias leis. Vale a pena ler. Marijuana legality by state - update Aug 1, 2023 disa.com

Vitorio Perozzo -   07/08/2023 11:16:43

MEU DEUS DO CÉU, COM TUDO QUE JÁ ACONTECEU POR CAUSA DAS DROGAS, FILHOS MATANDO PAIS POR DINHEIRO PARA AS DITAS, EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS DE AVÓS,PRIVANDO-OS DE COMPRAR SEUS REMÉDIOS,CRIMES,ROUBOS E MUITAS CONSEQUÊNCIAS IRREPARÁVEIS COM A PRÓPRIA SAÚDE, AINDA TEM ESSES MAGISTRADOS IRRESPONSÁVEIS QUE APROVAM TAIS MEDIDAS. É SIMPLESMENTE LAMENTÁVEL. PARABÉNS AMIGO PUGGINA POR ABORDAR ASSUNTO DE TAMANHA RELEVÂNCIA.

MARCO ANTONIO GEIB -   07/08/2023 10:32:57

Enquanto Países se esfalfam-se na apreensão cotidiana da bandidagem e de milhares de toneladas de drogas, que é o alimento financeiro, de bilhões de dólares, do crime organizado bandidagem. Esforço este que levam as Autoridades Policiais a um "enfrentamento diário, ferrenho e feroz" com os traficantes e bandidos...que tem custado muitas vezes a vida de Policiais. A sociedade conhece os efeitos do "simples uso da maconha, primeiro degrau do uso de drogas pesadas"... continua inerte e acomodada perante as decisões do STF. Poderíamos elencar inúmeros problemas que a "liberação de drogas" causará aos seres humanos...mas é perda de tempo falar a "ouvidos moucos e poucos". Será que um filho ou uma filha ou parentes próximos destes "magistrados" se envolvessem com drogas eles agiriam assim" ??? O que dizer as famílias dos que morreram nesta luta, o que desejar a um pai ou mãe Policial que sai vivo de casa, de manhã, estando sujeitos a voltarem a tarde, mortos, em um caixão ???

Oldpisces -   07/08/2023 10:28:37

Como seria um Congresso com um percentual expressivo de usuários?

Gerson Carvalho Novaes -   07/08/2023 09:16:50

Ouvi, uma vez: ‘o ópio destruiu a China’… Drogas destroem indivíduos; drogas destroem famílias; drogas destroem nações. Não há o que discutir.

Valdemar Munaro -   07/08/2023 08:53:04

É isso mesmo. Os defensores da porteira aberta não se responsabilizam pelas consequências. Muito lúcida a ponderação do Puggina

José Vicente -   07/08/2023 07:56:36

Há uma razão adicional para ser contra. Imaginem-se situações futuras em que um caminhão ou automóvel invada um grupo de pesdoas, matando várias: mulheres, crianças etc. e a perícia descubra que o motorista estava sob o efeito da maconha, então legalmente liberada. Será que seus atuais defensores se sentirão moralmente responsáveis pelo ocorrido? Eu desaprovo essa ideia estúpida justamente porque não quero ter na consciência a culpa moral por suas consequências.