Ao longo das últimas semanas tive oportunidade de observar a conduta da tropa de choque petista na Câmara e no Senado durante as longas etapas de deliberação sobre o impeachment da presidente Dilma. Havia duas linhas paralelas de atuação e ambas convergiam para aquela câmera que dava publicidade às infindáveis sessões. A primeira das linhas de defesa do governo repetia, à nossa fadiga, que assistíamos a um "golpe". A segunda pretendia, com gritos, tumultos, questões de ordem e contestações, evitar que fossem mencionados outros crimes não constantes do processo. Desses não poderíamos ouvir falar. O PT insistentemente varria seu lixo para debaixo do tapete.
Quem são os agentes do "golpe" que o PT insistentemente denuncia? Vamos a eles:
1. a população brasileira, que aos milhões saiu às ruas para sacudir as instituições de sua inércia;
2. os autores de dezenas de requerimentos de impeachment que, ao longo de 2015, foram transformados por Eduardo Cunha em moeda de negociação para salvar a própria pele;
3. os signatários do requerimento finalmente escolhido para prosseguir, subscrito, entre outros, por um fundador do PT e, não por acaso, o que reduzia a apenas dois os muitos crimes de responsabilidade praticados pelo governo (opção que muito contrariou a Dra. Janaína Paschoal, como ela fez questão de deixar bem claro);
4. o Tribunal de Contas da União, que por seus técnicos e pela unanimidade de seus ministros rejeitou as contas e apontou os crimes de responsabilidade ao Congresso Nacional;
5. o Supremo Tribunal Federal, que definiu minuciosamente o moroso rito a ser seguido pelas duas casas do Congresso em sua deliberação;
6. a Câmara dos Deputados, que em duas etapas e por quase três quartos de seus membros votou pela admissibilidade do processo;
7. o Senado Federal, que na próxima quarta-feira, por grande maioria de seus membros, salvo contratempo, acolherá a denúncia e dará início ao processo público de julgamento da presidente.
É a todos esses que a presidente e sua tropa de choque se referem quando insistem no discurso do golpe, cuja única utilidade é legitimar as ações efetivamente golpistas que se sucederão e para as quais estão sendo motivadas as milícias a serviço do partido e do governo. Não é mesmo, Gilberto Carvalho? Não basta terem, através de uma organização criminosa, assim designada pelo Procurador Geral da República, conduzido o país à mais caótica situação dos últimos 80 anos. É preciso, por todos os meios, impedir que ele se recupere.
Assim, de um lado, temos um processo transparente, fundamentado, dispondo de amplo apoio popular e congressual, contando com reiterado reconhecimento judicial. De outro, as motivações e condutas golpistas do governo, como essa traquinagem inventada pela AGU com a cumplicidade do presidente interino da Câmara dos Deputados, que ronrona fidelidade nos ouvidos do governo pedindo cafuné.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
valmir batista figueiredo - 11/05/2016 17:16:29
Esta vitória que hoje estamos à abraçar, é muito mais do que tirar do poder uma presidenta e um partido que a 13 anos vem, passo a passo, tentando transformar a nossa nação, na mais socialista das repúblicas da América Latina. Agradeço primeiramente a Deus e depois ao povo que saíram às ruas, e por último, às instituições, que mesmo em momento de profundo pesadelo, soube funcionar e nós livrar do pior e mais cruel regime que se pode instalar em um país, O COMUNISMO!Genaro Faria - 10/05/2016 16:07:05
Há um aspecto muito positivo neste episódio do impeachment. As esquerdas, presunçosamente progressistas, se viram obrigadas a tirar da caverna seus dinossauros. E a expor toda sua ignorância e estupidez à luz do dia.Genaro Faria - 10/05/2016 06:15:29
Prezado senhor Odilon Rocha, permita-me recomendar um livro que li e ofereci como presente de Natal a alguns amigos: A Tomada do Brasil ( pelos maus brasileiros) , cujo autor é o editor desse site - Percival Puggina. Ao percorrer suas páginas, que condensam a opinião do autor recolhidas e selecionadas em vários artigos que publicou, seu itinerário faz uma viagem no tempo. Não aquela que Fellini pegou em nossa mão para visitar sua cidade natal, Rimini, quando ele era um moleque travesso numa Itália fascista. A proposta do livro do Puggina nada tem do romantismo de Amarcord, o filme de Fellini que fez da nostalgia a visão de um adolescente que ridiculariza, poeticamente, a tirania. Não é por menos. No dialeto do genial cineasta italiano, amarcord significa "ainda me lembro". E o livro do Puggina não nos remete a um passado que tenhamos superado. Dourado sob a nuvens alaranjadas do crepúsculo, como o escritor tcheco Milan Kundera descreveu o sentimento da nostalgia. Puggina não compõe nenhuma poesia do passado ou do presente. Sua poesia, implícita, repousa na esperança que é o nosso verdadeiro domicílio. Porque eterno. o que fica transparente, límpido, quando ele nos conduz pelas tantas pegadas no deserto árido da moral e da lucidez que nos levou a esse cadafalso de todas as virtudes. Não é um primor de literatura, nem o autor a tanto se propôs. É um livro de História que observa o necessário distanciamento do passado que foi a gênese do presente. Nenhuma nação morre de repente. "A Tomada..." é um diagnóstico de nossa "causa mortis". DE um declinio lento e gradual qGenaro Faria - 10/05/2016 03:40:53
Sei que corro o risco de ser a Cassandra da mitologia grega, um Velho do Restelho que profetizava um cadafalso para as conquistas ultramarinas de Portugal . E pago um dedal de areia contra um baldo de ouro em pó para estar errado. Redondamente enganado. Mas já disse aqui, e repito: a superestrutura do Estado e a contracultura, a religiosidade e a moral que nos distinguem como uma extensão latino-americana da civilização ocidental foram lapidadas até que só nos sobrassem os ossos. A tentativa de golpe maquinada pelo advogado geral do PT, José Eduardo Cardozo, fracassou? Não se iludam. Quando muito foi um pênalti roubado que o atacante reserva do time chutou pra fora. Renan Calheiros, a esta altura do campeonato, deve estar mais apavorado e sem rumo do que cego no meio de um tiroteio. O Senado, a qualquer hora, poderá perder suas prerrogativas, assim como a Câmara Federal perdeu. Então se perguntem, meu caro professor Puggina e colegas comentaristas, um governo supostamente na UTI, com o velório reservado e missa encomendada poderia assombrar os viventes com esses fantasmas de carne e osso? Tomemos cuidado com as aparências. Frequentemente, são elas que mais nos surpreendem.Odilon Rocha - 09/05/2016 23:30:12
Caro Professor Que cambada que nos governa! Quanta lástima, quanta irresponsabilidade, quanta desídia, desmantelo, porquice e imundície no trato da coisa pública. É deprimente. Se o Temer não der o mínimo sinal de que vai fazer mudanças substanciais, urgentes e necessárias, vai ter povo na rua, de novo. A Lava Jato realmente vem sendo a grande dissecadora da podridão a que o país vinha sendo submetido nestes últimos anos.Rodrigo - 09/05/2016 20:30:21
Ótimo texto professor ! Sempre muito direto, didático e esclarecedor ! AbraçoGenaro Faria - 09/05/2016 19:15:52
Foi um golpe anunciado que teria sido deflagrado há mais tempo, não fora o "ensaio de permissividade" (expressão de Antònio Gramsci) da decretação de um Estado de Defesa ter sido abortado pela denúncia do senador Ronaldo Caiado, após saber da recusa do comandante do Exército Brasileiro à consulta que lhe fez o comunista Aldo Rebelo, ministro da Defesa. Como também fracassaram as iterativas convocações feitas por Lula e seu oficialato, com destaque para o "general" do MST, João Pedro Stédile, no sentido de provocar um clima de comoção no país justificativo da salvaguarda constitucional acima referida, restou ao STF remover a pedra do caminho, Eduardo Cunha, com um trator judicial passando por cima da Constituição. E, pronto, o caminho estava livre para o "contragolpe" a ser desferido pelos "democratas", discípulos de Fidel Castro e Kim Jong-un. Pateticamente, no entanto, o país ainda mira o STF como o bastião da lei e da democracia, na esperança de que essa instituição suspenderá o projeto de poder hegemônico - um eufemismo para o totalitarismo - da "república popular" ansiada pelo PT e seus satélites. É impressionante como a nossa mente resiste em acreditar no absurdo, mesmo o da política, seara onde ele nunca foi sinônimo de impossibilidade real. Os comunistas, muitas das vezes, nos parecem patéticos. Mas não são. Eles são fanáticos.