• Percival Puggina
  • 17/09/2021
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O FRACASSO PELA EDUCAÇÃO

Percival Puggina

 

         Observe um formigueiro. Estabelecida a trilha, as formigas vão e vêm num ritmo constante, só interrompido, aqui e ali, por aquelas rápidas paradinhas que de vez em quando dão, como que para comunicar-se com alguma conhecida. Elas faziam assim há vinte anos e, se dentro de vinte anos você observar esse ou outro formigueiro, verá a mesma rotina. Não há progresso na vida das formigas.

Observe a atividade humana. Observe qualquer atividade humana. E volte a fazê-lo passado um par de décadas. Você não a reconhecerá porque tudo terá mudado: o ambiente será diferente, os meios usados serão totalmente outros e o próprio produto da atividade terá aspecto distinto. O homem tem essa capacidade de transformar as coisas.

Entre, depois, numa sala de aula. Qualquer sala de aula. Você reconhecerá tudo o que havia ali ao tempo em que você mesmo frequentava os bancos escolares. Talvez o quadro-negro tenha esverdeado e a sineta apite; todo o resto, porém, está conservado como se algum preservacionista houvesse guardado a escola num vidro de formol. Estou exagerando? Talvez, mas não será difícil identificar, ali, a mesmice do formigueiro, exceto pelas condutas, que involuíram.

Há meio século, seria inaceitável que um professor dedicasse o tempo de suas aulas para formar adeptos às suas convicções políticas pessoais e alinhar alunos com seus próprios afetos e desafetos ideológicos. Para obter esse “espelhamento”, vêm as “narrativas”, as manipulações da história, as leituras do tempo presente, as “problematizações” e a sedução das utopias. Ou seja – nas palavras de José Dirceu, expressando seu temor ao movimento Escola Sem Partido – a conquista de corações e mentes.

Isto tudo seria grave por si mesmo, não fossem as consequências. O resultado se faz nítido no ambiente escolar, na perda de posições relativas de nosso país no ranking internacional, nos muitos milhares de vagas não preenchidas no mercado para recursos humanos qualificados, no desperdício de talentos em proporções alarmantes, na pobreza intelectual que amplia a pobreza material, nas seduções da vida nas drogas e de seu tráfico, na desordem e na desarmonia social. Pasmem leitores: até para a política, objeto de tanta manipulação, faltam – e como faltam! – recursos humanos qualificados.

Presenciamos, então, o rotundo fracasso de um sistema que, por diferentes motivos, frustra alunos, professores, pais, investidores e a nação como um todo. O que se fornece a quem mais necessita é de uma injustiça que brada aos céus nos planos material, intelectual, emocional, ético, estético e espiritual. É o que acontece quando a política e a ideologia são as grandes novidades...

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Beatriz -   20/09/2021 23:02:02

PARABÉNS...Educador brasileiro foi Anisio Teixeira..mas sua obra foi totalmente deztruida..e o resultado está aqui hoje...os estudantes não sabem pensar..ou entram na onda da esquerda..ou não são aceitos...

Odilon Rocha -   20/09/2021 22:26:14

Caro Professor A falta de quadros preparados para a política ( eu disse PREPARADOS!) será estarrecedor. Depois que um político asseverou e arrematou, confirmando, que o Matogrosso do Sul era da Região Sul, bem, por aí se vê o quanto ele pensa no Brasil. O vídeo circula por aí.

José Vicente -   20/09/2021 17:18:05

É interessante notar que, a par do longo projeto de doutrinação nas escolas, a esquerda logrou estender o direito ao voto para 16 anos de idade, ampliando o eleitorado justamente na faixa em que os imbecis juvenis predominam.

MARIA INÊS DE SOUZA MEDEIROS -   20/09/2021 13:54:23

Já vimos que a educação na mão da esquerda é só lavagem cerebral, a má política, muito discurso, muita maquiagem e muito prejuízo intelectual.

Helena -   20/09/2021 07:32:00

Em primeiro lugar, gostaria de lhe parabenizar pelo texto sensacional. É verdade! O que essa ideologia esquerdista fez com a educação, dessa geração de meados de 90 pra cá, foi devastador. Hoje a gente vê alunos que até agridem os professores em plena sala de aula, não existe respeito pelos pais e nem aos mais velhos. Escolas todas pichadas e destruidas e alunos cada vez mais analfabetos. Uma lástima.

Egas Moniz Paschoal Batista -   19/09/2021 16:44:12

Senhor Puggina, uma boa tarde Tenho uma sobrinha que estudou em um cursinho, em minha cidade. Um certo dia disse-me ela que seu professor de história havia dito em sala de aula que o Brasil não tinha heróis, que eram todos de “mentirinha”. Ela o questionou sobre alguns vultos de nossa história e citou, entre outros, Tiradentes, que foi prontamente enxovalhado pelo “professor”. Heróis, para ele, eram Marighella, Lamarca e outros “heróicos” terroristas. Para a próxima aula de história dei a ela um livreto intitulado “Tiradentes”, com um discurso de Darcy Ribeiro, proferido em 22 de abril de 1992, nas solenidades comemorativas aos duzentos anos da morte do mártir da Conjuração Mineira e onde se exalta seus feitos e sonhos de um Brasil grande e próspero. Apenas pedi a ela que, antes de mostrar ao professor e aos alunos, perguntasse a respeito do escritor, historiador e antropólogo Darcy Ribeiro. O tal professor teceu os maiores elogios e recomendou a leitura de seus livros. Quando lhe foi mostrado o singelo livreto com suas poucas páginas os alunos pediram para que fosse lido em voz alta para que todos ouvissem, o que foi feito. Ao final da leitura, um desconcertado militante petista, travestido de professor, aprendeu com os alunos a dolorosa lição do quanto é triste e feio deturpar a história da Pátria. Fatos como esse ilustram de forma categórica sua afirmação: professores usando o sagrado espaço de uma escola e dedicando o tempo de suas aulas para formar adeptos às suas convicções políticas pessoais.

José Rui Sandim Benites -   19/09/2021 07:27:09

Educação exige disciplina, responsabilidade, hierarquia, o aluno se adaptar ao professor e não o contrário. O professor tem que saber o que lhe foi posto para ensinar. A pedagogia do prazer não serve para educar. O ensino tem que ter pontualidade e assiduidade.

José Rui Sandim Benites -   19/09/2021 06:59:28

Bom dia. Venho pedir licença ao nobre e ilustre professor e arquiteto Puggina para fazer brevíssimo comentario, em algo que prezo muito a educação. E com respaldo de 40 anos de magistério. Educação começa pelo exemplo. E o exemplo é o professor. O resto é somente meios para a formação. E o aluno irá desenvolver uma empatia com o professor ou não. E o que for seguir na vida terá como objetivo o que foi seu professor. Por exemplo tento pelo menos ter um texto tão caprichado como sempre leio, nos tempos que o nobre professor escrevia para os jornais. Educação é por exemplo. Porque o ser humano imita outro ser humano. Então os meios como laboratórios, internet, prédios, etc. São importantes, mas não é o principal. Um mestre com uma vara de pau pode ensinar escrevendo na areia. E um Imbecil não irá ensinar nada com todos meios disponíveis. Porque a educação é sempre de dentro para fora e não o contrário.

Nilcea Martini -   18/09/2021 12:51:52

Desde oscanos 90 as universidades formam pedagogos e alunos dos cursos de licenciaturas com contudos doutrinários esquerdistas desviando os fins da verdadeira Educação , para propostas esdrúxulas visando uma aprendizagem pífia sem valores humanista.

Márcia -   18/09/2021 10:12:59

Voltei à minha escola primária 40 anos depois. Salas gradeada, espaço onde de comemorava as datas festivas do mês abandonada. Eram alunos que moravam no Parque União, Nova Holanda, Baixa do Sapateiro e eram todos educados. Não sei como estava o nível da educação, mas nem precisa.

FERNANDO A O PRIETO -   18/09/2021 05:46:17

Obrigado por seu texto, oportuno e irretocável! O "emburrecimento" progressivo das novas gerações, no mundo, só pode conduzir a maus resultados... Nós, os das gerações anteriores (tenho 75 anos), quando não sabíamos, tínhamos consciência de nossa própria ignorância; os atuais jovens são estimulados a pensar que os "especialistas", "comentaristas", "gestores" e coisas semelhantes SABEM tudo, e basta segui-los...Triste engano!

Menelau Santos -   17/09/2021 17:23:19

"...na pobreza intelectual que amplia a pobreza material" Perfeito Professor! Ai vem os salvadores da pátria lhe oferecendo o bem material (pela compra do seu voto) que você não conseguiu adquirir devido à pobreza intelectual cuja causa são eles mesmos os responsáveis.

Armando Andrade -   17/09/2021 11:30:07

Premonitório ou não, haja vista conversas by redes, no que mais se fala é a "ingratidão aos jovens" que ficaram à mercê da "pandemia" e dos "desgovernantes". Nós sabemos o quanto vai custar o renascer nos jovens, já nas creches, o pulo, o caldo de cultura que entornou. O mestre visou as formigas laboriosas e fora os especialistas, vamos sim, "pro formigueiro".