Percival Puggina
Para o lulismo, divergir da retórica petista é promover discurso de ódio. Algo inaceitável pelos devotos daquela alma cândida e serena, que anda pelo mundo com espírito de peregrino.
Quando Lula seguiu para a prisão com os veículos da Polícia Federal, imaginei que estivéssemos atingindo o ápice de um evento cósmico. No entanto, o sol não se fez escuro, a terra não tremeu e o véu do templo permaneceu incólume.
Presenciávamos o fracasso dos falsos profetas e a perda de forças dos tutores da História. Não haveria como reescrever – não para esta geração – o que todos contempláramos. Não haveria como desgravar, desfilmar, desdizer, e não seria possível desmaterializar os fatos.
Só que não. A estratégia posta em curso se revelou de uma eficiência que -devo confessar – gostaria de conhecer o autor ou autores. Uma competência dessas, se difundida e aplicada a serviço do bem, seria preciosa para a humanidade.
Em três anos, a esquerda havia retomado o comando da narrativa. De modo disciplinado, os veículos do consórcio de mídia desdisseram o que haviam dito, deram um cavalo de pau e se reencontram agora, na estrada, com a poeira que haviam levantado.
O vírus corona funcionou, na operação, como detonador de um processo de transformação psicossocial. Ao medo causado por ele, ampliado pelo intensíssimo trabalho da mídia, inclusive das plataformas das redes sociais, somaram-se a supressão de garantias e as restrições à liberdade impostas pelo STF.
Na ocasião, surgiram advertências, mal-ouvidas e mal-recebidas, segundo as quais aquilo era um treinamento para o que viria depois. Após dois anos com a Covid servida aos telespectadores brasileiros em proporções cavalares, parcela inimaginável da população estava pronta para suportar doses crescentes de submissão. Prontos, inclusive, para dizer que os fatos não são como os veem, mas como é dito que os fatos são. Acidentalmente, vídeos são inutilizados e gravações perfuradas. As mais altas cortes da República recontam a história da Lava Jato e a campanha eleitoral de 2022 transcorreu num contexto histórico simulado, fictício, em que um dos candidatos simplesmente não tinha passado. Assistimos à desmaterialização dos acontecimentos.
Com frequência me lembro de um ministro do STF/TSE – aquele de prazos curtos e multas pesadas – usando a expressão “Na hora que prender dois ou três eles param rapidinho” (alguém lhe falara de suposta pressão de patrões sobre empregados para votarem em Bolsonaro). O mesmo ministro não conseguiu ocultar o ar de felicidade quando foi alertado por alguém que nos Estados Unidos a invasão do Capitólio já dera causa a mais de duas mil prisões. Afirmou ele, então, três semanas antes do dia 8 de janeiro: “Tem muita gente para prender e muita multa para aplicar”.
Em resumo: nem fechando os olhos deixo de ver que há um caminho sendo percorrido, em detrimento da nossa liberdade de expressão, que já é mencionada como “coisa de um tempo que acabou no Brasil”.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Sérgio Delgado - 30/05/2023 09:46:45
Triste caro Percival, muito triste e desanimador.AFONSO PIRES FARIA - 29/05/2023 12:17:36
Parabéns mais uma vez professor, não só pelo brilhante conteúdo mas também pelo juízo de não dizer o que gostaria e deveria ser dito. Só aí vemos que não fomos nós os responsáveis pelos acontecimentos. Foram eles que nos calaram, não nós que nos calamos. Eles colherão os frutos. Espero.Eloy Severo - 29/05/2023 09:46:46
Estamos no mato sem cachorro e sem munição. Minha única esperança, que apareça uma Anita Garibaldi, pq os homens da Minha Terra, que podem fazer alguma coisa, se ACOVARDARAM...Gerson Hallam - 29/05/2023 09:45:29
Perfeita leitura dos fatos e acontecimentos Professor Puggina. Estamos vivenciando uma experiência social, estrategicamente planejada, como dizia o Ministro Barroso (Perdeu Mané), eleições não se ganham se tomam. Vejamos a desfaçatez e falta de caráter de um Ministro da Justiça. A pergunta é, a sociedade vai reagir, pelo menos uma parte dela, ou seremos engolidos por uma ditadura de esquerda. Fraterno abraço.Décio Antônio Damin - 29/05/2023 09:29:09
O"Fique em Casa" não foi inventado no Brasil para combater a Covid que matou mais de 700.000 brasileiros...!A negação da utilidade das vacinas foi algo lamentável e que retardou o seu emprego. ajudando a aumentar a mortalidade. O retorno desta esquerda muito deve a ação estapafúrdia e totalmente ilógica da direita incompetente e, não fora isso, apesar de sair da prisão por manobras arranjadas, ela teria perdido a eleição...! Para mim, a esquerda não ganhou.... foi a direita que perdeu...! Temos que conviver com o messianismo turístico de quem, a rigor, deveria estar cumprindo a pena que lhe foi imposta, e depois deixada de lado...Paulo - 29/05/2023 09:03:23
Que triste realidade caro Puggina... Quando termina esse pesadelo?Teresa Camisão - 29/05/2023 08:49:28
Mestre, mais didático que isso, impossível!!! Como sempre brilhante em suas colocações!!!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽Lori Weiss - 29/05/2023 08:00:53
A pior guerra é a silenciosa, onde um só lado está lutando e o outro não percebe! Assim fomos vencidos, por achar que política é só para os desonestos e deixar a coisa correr! Ao acordarmos, o estrago já estava grande demais! Difícil de reverter em razão do aparelhamento! Agora também estamos lutando e embora temos mais "soldados", o lado inimigo tem mais "artilharia pesada"! Eu queria ser otimista, mas não consigo!Lori Weiss - 29/05/2023 07:48:25
Parabéns Puggina! Boa análise! Para completar o cala-boca, virá outro vírus! O estranho é que podem "previr"!Viviane Rocha - 28/05/2023 22:20:51
Prezado professor. O conheci recentemente assistindo "A última Cruzada, da BP". Fiquei encantada com sua análise e o encontrei no site que, me surpreendeu muito positivamente pelos artigos, frases dos grandes pensadores da liberdade, e reflexões. Texto impecável. Muito obrigada por partilhar seu conhecimento e trazer luz a esse momento sombrio da nossa história. Espero que passe! Mas a esperança, confesso, está desidratada.Menelau Santos - 28/05/2023 10:34:14
Prezado Professor, seu texto é maravilhosamente correto. Poucos eu li a citarem a eficiência da esquerda. Eu não sei se estamos assim por causa dessa eficiência ou por causa da ineficiência da parte contrária. Comecei a assistir o vídeo do Dr Ives Gandra sobre a decisão do caso Dallagnol. Já no início o nobre Dr. Disse que divergia da Suprema Corte, apesar de admira-los. Nem continuei.MARCO ANTONIO GEIB - 27/05/2023 18:26:35
- "ELE, E ELES"... planejaram durante anos e cumpriram metodicamente passo a passo o planejado até reassumirem de forma ilícita o "poder imenso da República" !!! Estabeleceram uma guerra política, jurídica e administrativa sem prisioneiros". Para isto não respeitaram nada que lhes vinha ou vem pela frente.... nem passeatas, carreatas, nem o apoios de multidões, nem protocolos , nem Leis, nem as condenações dos corruptos e sequer respeitaram "uma vírgula" da Constituição Federal de 1988 , foi e está sendo uma luta de "terra arrasada", vide as prisões de 8 de Janeiro, várias vezes sinalizaram que seria assim !!! Enquanto nós os "patriotas" embalados pela vitória do Presidente Jair Bolsonaro ... sonhávamos com um Brasil melhor fomos instados a jogar dentro das "quatro linhas" !!! Jogando nestas linhas, entre outras, tivemos que amargar a prisão de mais de 1.500 pessoas, desarmadas e ordeiras, cuja única culpa foi pedir, sem violências, as Forças Armadas a defesa do País !!! A força desta caterva é tão grande que corrompeu GENERAIS DE EXÉRCITO, BRIGADEIROS DO AR E ALMIRANTES DE ESQUADRA....!!! Patriotas e brasileiros do bem...aprendam de uma vez por todas que ao "INIMIGO NÃO SE OFERECEM FLORES".....Leila - 27/05/2023 17:08:18
Análise clara e perfeita! Uma triste realidade…Tito Livio Bereta - 27/05/2023 14:59:28
Exatamente como está no livrinho, que foi "remasterizado", vez que a tecnologia avançou milênios em menos de um século. Lá está escrito imprensa. Hoje, celulares e redes.