O Partido dos Trabalhadores mantém uma relação muito própria com a realidade. A exemplo dos partidos totalitários, os fatos, para o PT, são meras referências a partir das quais são concebidas e propagadas as versões mais convenientes. Três fatores se têm revelado utilíssimos para que cada versão, malgrado sua desconexão com os acontecimentos, produza o efeito político pretendido.
O primeiro desses fatores é a velocidade com que a máquina publicitária petista produz e distribui a versão mais proveitosa. É imperioso que chegue a todos os cantos do país simultaneamente com a notícia a partir da qual a versão foi construída. O partido dispõe, então, de numerosa e bem organizada rede de reprodução e repetição das versões que constrói. Em instantes, no canto mais remoto do país, onde houver um vereador do PT ou um dirigente partidário local, ele sabe muito bem o que deve propagar e repetir incessantemente sobre cada assunto de interesse da sigla. Bastaria essa coesão para fazer da mentira verdade e da verdade mentira. Nada que não tivesse sido utilizado antes por todos os partidos de viés totalitário, ao longo do século 20. Inclusive o anseio por reescrever a história, transformando bandidos em heróis e vice-versa, sempre com base nas versões construídas. A Comissão da Verdade é o recente exemplo local de algo que foi prática corrente no mundo comunista.
O segundo fator tem a ver com a fragilidade intelectual do grande público. Quem faz política com astúcia conta com ela e dela se aproveita. Valem-se dessa fragilidade, aliás, todos os vigaristas bem sucedidos. Confiam nela os mentirosos, nas muitas esferas da vida social. Não bastasse isso, é fato: quase sempre, a mentira bem contada é mais atrativa do que a verdade.
O terceiro fator é uma peculiar idiossincrasia de parte da imprensa brasileira que exige de si conduta estéril, uma azoospermia que parece não ter cura, uma equidistância em relação a toda divergência. Graças a isso, mentira e verdade se defrontam com igualdade de condições. Ponto e contraponto. Ainda que um ou outro seja descarado embuste, são raras, entre nós, matérias editoriais desmascarando tramoias. Mesmo se produzidas em série, como as que rechearam o discurso de Dilma.
Os textos que ela leu durante a posse, preparados por ghost writer, formam duas coletâneas de exemplos do que examinei acima. Versão, versão, versão, ufanismo, falsidade e mistificação. Graças a esse menosprezo aos fatos, a presidente pode afirmar, sob aplausos, que esta é a "primeira geração de brasileiros que não vivenciou a tragédia da fome". Graças a ele, a presidente mencionou os escândalos que espocam na Petrobras feito milho de pipoca como se fossem causados por seres alienígenas vindos de algum planeta capitalista. Graças ao mesmo menosprezo pela verdade e pelos fatos, ela referiu um compromisso com a "Pátria Educadora" (meu Deus, que diabo será isso?) depois de haver entregue o Ministério da Educação a um ex-governador que absolutamente não é do ramo. Graças a ele, prometeu extirpar a corrupção no mesmo dia em que chamava para integrar seu ministério pelo menos uma dúzia de políticos envolvidos em denúncias de corrupção. E por aí foi Dilma, comprometida com muito mais do mesmo.
* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
José P.Maciel - 11/01/2015 00:32:09
Nosso Brasil,um grande país,mas também um país grande como poucos,heterogêneo,difícil de governar,com várias culturas,climas diversos,pobreza e ignorância ao lado de ilhas de riqueza,sempre foi vítima da demagogia.Contudo,há 12 anos, instalou-se no país um partido cujo chefe bem merece o título de "maior demagogo-populista de todos os tempos".Tudo isso no nefasto regime presidencialista,que completa nossa indigência política.Vivemos numa democracia? Chamar de democracia uma eleição baseada em abomináveis práticas,falar também em liberdade quando grande e decisiva parcela vota por um prato de lentilhas? Mas o que é isso?é realmente válida uma eleição nessas condições? Deixei de crer no presidencialismo como sistema.Minha esperança? É que se instale no nosso grande país uma oposição verdadeira,com a força que conquistou,com o Sr.Aécio Neves à frente de gente nova e decente.Dudu - 09/01/2015 13:59:44
parabéns Puggina! Mais uma vez, em poucas linhas, desmitifica os patéticos discursos de Dilmá "Vana" Duchef. Um amontoados de mentiras lido (e muito mal) para um amontoado de "partizans" alimentados com pão com mortadela e 50 "reau".Sérgio Alcântara, Canguçu RS - 08/01/2015 17:03:06
Caro Professor Puggina. No terceiro parágrafo, o senhor se refere, com muita propriedade, à fragilidade intelectual do grande público. Eu diria que ela é uma fragilidade intelectual, concentrada principalmente no que tange aos aspectos político-ideológicos e, por incrível que possa parecer, não se restringe aos menos escolarizados. Vou além: Trata-se de uma espécie de tapa-olho, engenhosamente confeccionado (distribuído justamente nos ambientes onde deveria-se primar pela razão) que impede que o cidadão comum vislumbre além do que a ideologia dominante determina. A pergunta que faço é: Será que grande parte desta, digamos, limitação político-intelectual, não tem a ver com a, para mim incompreensível, abdicação por parte da maioria dos dirigentes políticos de direita, em fazer política no campo ideológico? Na minha opinião, isto faz com que, movidos por fisiologismo, pragmatismo, ou comodismo mesmo, eximam-se da responsabilidade de promover e liderar o imprescindível enfrentamento à manipulação marxista. Gostaria que, num momento oportuno, o senhor escrevesse algo aqui neste blog para, com toda a clareza de suas ideias, ajudar-nos a elucidar esta intrigante questão. Abraço e, desde já, obrigado pela atenção.Ivo Leo Hammes - 08/01/2015 00:13:37
Parabéns, Percival, por mais este artigo . Passei a frequentar o seu blog porque gosto do seu jeito de abordar os assuntos e também do seu estilo literário.Luiz Felipe Salomão - 07/01/2015 15:04:03
Caro Professor Puggina, A fragilidade intelectual do grande público tem muito a ver, acredito, com a questão dos baixos níveis do ensino brasileiro. Este é um dos graves problemas que vive a Nação e cujo descaso remonta a era Pombalina, auge do desatino iluminista no Brasil. Hoje, os PsiTacídeos da ideologia torpe, sustentados com o dinheiro público oriundo dos (des)governos do Foro de São Paulo, estão aí, a papagaiar chavões, tão velhos quanto enganosos, numa tentativa, desesperada, de iludir e corromper as democracias emergentes da América Latina. É o bem conhecido 'jus sperniandi'. Mas, vale lembrar, que, como diziam os antigos, 'a imaginação é a doida da casa'. E, por também oportuno, temos essa bela pérola de RUSSEL KIRK: 'a ideologia é o filho tardio de um iluminismo moribundo.' Cordiais saudações.Paulo Sergio Carvalho - 07/01/2015 11:22:13
Sim, professor! Estamos estarrecidos com tanta mentira, como vossa senhoria vem demonstrando, haja vista, que todas as áreas estão a merce de todo tipo de corrupção mental.. O saber não é mais o saber como conhecimento e sim o saber mentir é o essencial para estes governantes neocomunistas.Gustavo Pereira dos Santos - 07/01/2015 02:52:28
Análise perfeita. Já começou a destruição da reputação do Aécio. Vão fazer (Fernado Pimentel) uma devassa nos governos do Anastasia e do Aécio, maquiar eventuais irregulares e criar monstrengos. Abraços fraternos. https://www.youtube.com/watch?v=BkZQy8a2xssIsmael de Oliveira Façanha - 07/01/2015 02:26:07
A situação política nacional é essa: ganha quem mente mais e melhor. Na campanha de Aécio Neves era dito e afirmado ter sido sua passagem pelo governo de Minas Gerais algo pouco menos que maravilhoso, o que não impediu que Dilma vencesse lá.Odilon Rocha - 07/01/2015 01:25:35
Sim, professor! Pátria Educadora, sim! Educadora do ilícito, do deboche da moral e dos bons costumes, da deseducação, do alienamento, da mentira descarada, do desrerspeito às Normas e Leis Constituição, do desrespeito à propriedade alheia, da afronta a educadores, da desmoralização das instituições, enfim, uma relação quilométrica de dar "inveja". Bota Pátria Educadora nisso! Sou obrigado a concordar o termo utilizado pela "grande educadora". Abraço