• Percival Puggina
  • 28/08/2021
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O DIA EM QUE COMEÇOU A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Percival Puggina

 

         Há exatos 199 anos, no dia 28 de agosto de 1822, chegou ao porto do Rio de Janeiro um navio português. Chamava-se Três Corações, nome sugestivo quando faz pensar no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que se romperia com as determinações que vinham a bordo. Eram ordens alarmantes expedidas pelas Cortes Extraordinárias da Nação Portuguesa.

O príncipe D. Pedro, regente, que desatendera exigência anterior de voltar a Lisboa, teria suas atribuições limitadas ao Rio de Janeiro e perdia a condição de regente. Seus ministros seriam nomeados em Portugal. Seus anteriores “Cumpra-se”, cancelados. As demais províncias se reportariam diretamente a Lisboa. O Brasil perderia seu status e se converteria, na prática, em colônia portuguesa. Entendiam os constituintes lusitanos que nossa economia deveria suprir urgências da nascente monarquia constitucional portuguesa cujas dificuldades fiscais e pobreza eram atribuídas aos “privilégios” a nós concedidos pela família real.

Até então, o Brasil nunca fora uma “colônia”. Os documentos oficiais sempre se referiam ao Brasil como Estado do Brasil (e, desde 1645, como Principado do Brasil). Vigoravam aqui as mesmas Ordenações Filipinas vigentes em Portugal, utilizadas até a promulgação do nosso próprio Código Civil, em plena República, no ano de 1921. O Brasil era tão membro do reino que nossas províncias tinham direito a 70 representantes nas Cortes Extraordinárias. Quarenta e nove foram para Lisboa, mas chegaram tarde e não conseguiam ser ouvidos.

As Cortes, instituídas em 1821como desdobramento da Revolução do Porto (1820), haviam sido saudadas, em todo o reino, como adequação portuguesa ao modelo das monarquias constitucionais em generalizado processo de adoção pelas dinastias europeias. No entanto, seus membros, entre os quais os portugueses eram amplamente majoritários, não olhavam para o Brasil com olhos fraternos. Precisavam de soluções econômicas brasileiras para as dificuldades de Portugal.

As determinações desembarcadas no dia 28 de agosto surtiram efeito contrário. Acionaram o gatilho da nossa independência como nação soberana.

Os cinco dias seguintes foram de nervosos entendimentos no Conselho de Ministros, sob a liderança de D. Leopoldina, que estava no exercício das funções de regência,  e José Bonifácio. No dia 2 de setembro, D. Leopoldina assinou o decreto de Independência. Após estafante cavalgada em que 500 quilômetros foram vencidos em cinco dias, chegaram a D. Pedro as notícias e o apelo de José Bonifácio. O resto todos sabem.

Escrevo estas linhas em homenagem a duas figuras – Bonifácio e Leopoldina – que deixaram de ser exaltadas pelos nossos contadores de História, mais preocupados com buscar o pouco que nos divide do que em apreciar o muito que nos une como nação. Estamos colhendo os frutos desse maligno trabalho.

Os portugueses defendendo o território; D. João VI trazendo a sede do reino para o Brasil; D. Pedro, D. Leopoldina e José Bonifácio fazendo nossa Independência, mantiveram o Brasil territorialmente unido. 

Juntos pelo Brasil no 7 de setembro!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


felipe luiz ribeiro daiello -   30/08/2021 17:52:24

Brilhante análise, de acadêmico.

Paulo -   30/08/2021 12:52:00

Fico inspirado quando o leio caro Puggina.

Heymann Leite -   30/08/2021 12:38:58

Caro Puggina, como costumo dizer aos meus amigos, inclusice ao Alex Pipkin, este comum a nós dois, "quando eu crescer, quero ser igula a vc!" . Seus textos sempre me encantam pelo conteúdo, fluidez e monentaneidade. Parabéns!

Ivani -   30/08/2021 11:44:44

Conheci seu trabalho pelo Brasil Paralelo. Parabéns. Comecei e segui-lo.

EDISON FARAH -   30/08/2021 10:40:42

JUNTOS PELO BRASIL!!! Os sacripantas que pregam o desmonte da nação não vingarão. Os traidores lesa pátria serão rechaçados pelo povo. 7 de setembro de 2021, a reafirmação da nossa soberania pelo povo unido. JUNTOS PELO BRASIL, BRASILEIROS E BRASILEIRAS EM GUARDA!!!

Romualdo Souza -   29/08/2021 16:13:40

Vivenciamos as dificuldades de um povo ignorante de sua história e, por conseguinte, escravizado por uma elite apátrida, parasitária e vulgar.

Roberto Gonçalves Barreiro -   29/08/2021 09:28:49

Muito bem colocado Percival Puggina. O brasileiro não conhece sua História. É preciso que HOMENS como você não nos deixem na ignorância. Parabéns.

Luiz R. Vilela -   29/08/2021 09:25:41

Em um programa humorístico em épocas passadas, num quadro, um menino perguntava: "Papai, o Brasil é independente?" Então o pai respondeu:" De Portugal, sim meu filho". Sempre existiu por cá, quem defendesse atrelar o pais a uma potência estrangeira, como forma de levarmos alguma vantagem. Já houve ate quem dissesse que o que era bom para os EUA, também seria bom para o Brasil. Por muito tempo, tentaram nos atrelar ao imperialismo soviético, mas isto foi impedido pelo movimento de 64, que nos deixou no alinhamento com os americanos. Hoje a coisa é diferente, não radicalizamos mais contra o comunismo, chegamos até a desautorizar quem fale mal da China, afinal é o nosso maior parceiro comercial. Pois bem, parece que em nosso pais, só existe uma única e verdadeira ideologia, que é a do lucro, o resto é só para jornalista ter o que escrever e o povo o que discutir. A galera da esquerda, que se diz socialista, mas quando pode, trata é logo de enriquecer, O nosso socialismo, é também uma jabuticaba.

CARLOS SOARES -   29/08/2021 00:40:52

Quando algumas autoridades tentam, pateticamente, impedir as manifestações de 7 de setembro, eu me recordo daquela passagem bíblica onde, ao entrar em Jerusalém, Jesus adverte os apostos para não conterem a multidão que clamam por Ele. "Se estes se calarem, as pedras gritarão!"

Menelau Santos -   29/08/2021 00:28:33

Lindo e patriótico texto. Uma aula de história. Que Deus esteja ao lado do Presidente Bolsonaro para importantes decisões que virão. Viva 07 de setembro!