• Percival Puggina
  • 02/07/2022
  • Compartilhe:

O dia em que a corrupção foi redimida

Percival Puggina

         Rápida leitura do passado recente permitiria antever o final da operação Lava Jato. Eu fiz essa leitura, mas não aceitei, nem como hipótese, entregar minha esperança de um país lavado e enxaguado à imundice dos fatos. Não adiantou coisa alguma. Fizeram tudo outra vez.

A corrupção foi redimida na quinta-feira 27 de fevereiro de 2014. Naquele dia, valendo-se da nova composição com o ingresso do ministro Roberto Barroso, o STF, por seis votos contra cinco, acolheu recurso em embargos infringentes e decidiu – ora vejam só! – que no mensalão não houve crime de formação de quadrilha.

No mesmo dia, na capital federal, contam alguns estudiosos das ciências da natureza, a grama deixou de ser verde e choveu para cima.

Toda a Ação Penal 470 foi organizada sobre três núcleos: o político, o bancário e o publicitário. Um precisava do outro, mas os dois últimos não existiram sem o interesse dos políticos. O núcleo formado por estes recebia os recursos e os fracionava entre parlamentares recompensando generosamente sua fidelidade ao governo petista; o núcleo publicitário provia os meios e o bancário os fazia chegar ao destino. Mas, segundo o Supremo, não havia nenhuma organização e mente criminosa alguma coordenara aquela intrincada operação.

O relógio dava a hora certa e o dinheiro caía pontualmente nas contas ou nos bolsos, mas as peças do relógio não conversavam entre si.

Ao acolher os embargos infringentes apresentados com essa estapafúrdia leitura dos fatos, o então decano Celso de Mello disse que “a corte não pode se deixar influenciar pelo clamor popular, nem pela pressão das multidões, sob pena de abalar direitos e garantias individuais”. Tem ouvido falar isso por aí?

Joaquim Barbosa pensava diferente e encerrou a sessão lamentando “a tarde triste” e aquela “maioria de circunstância”. Os políticos corruptos tiveram suas penas reduzidas e puderam cumpri-las em liberdade. O publicitário Marcos Valério, porém, envelheceu na cadeia!

Por essas e outras eu digo que Império da Lei, no Brasil, parece nome de escola de samba.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


José Rui Sandim Benites -   08/07/2022 09:35:28

Bem lembrado, Mestre Puggina. Contudo, o Ministro encarregado do processo 470, chamado de Mensalão, por mais que tenha se empenhado. Deixou o chefe da quadrilha, apontado por muitos, fora das punições. E mais tarde no Petrolao foi condenado em três instâncias. E anulada suas condenações por questões processuais no STF. Como competência da vara e o juiz de primeiro grau julgado suspeito, pelo que sabe, gravações de conversas do juiz com o promotor hackeadas pelo site infercep, jornalista americano apontado como amigo do ex-presidente. E os Ministros que foram indicados para o cargo pelo réu, não se deram por suspeitos. Então quem tem a mínima lógica cognitiva. Não pode achar que tudo isto é normal. E a grande mídia blinda os mal feitos do ex-presidente. Como se a eleição de outubro está na maior normalidade. Qual o poder de persuasão tem o ex-presidente? Que colocou como vice um adversário declarado. Que em discursos passados dizia que o ex-presidente queria voltar para a cena do crime. E as pesquisas dão o expresidente como vencedor. Mas nao pode sair à rua. E fotos de eventos que ex-presidente vai, são duplicadas para mostrar mais gente do que na verdade tem. Agora tem um evento nos Estados Unidos para depois das eleições, em novembro, com Ministros do STF e economistas de governos passados, financiado pelo grupo Doria dizendo: por mais incrível que pareça, como irá se comportar o novo governo. O que eles sabem? Que nós meros mortais, não sabemos. O será que acham que todo povo brasileiro é formado de ignorantes?

JOAO SIDNEI CANDIDO -   07/07/2022 07:50:32

Professor Puggina é lamentável e repugnante, Faltam adjetivos e substantivos na literatura brasileira que possam nominar a falta de escrúpulos dessa classe de gente que chegou aos Três Poderes harmônicos da nossa República. Infelizmente levaremos um certo tempo para depurar e minimizar os estragos, e todos nós sabemos , as nem toda população está ciente disso, até mesmo porque foram décadas e décadas de militância e a turma escorregou no mel. Se as "abelhinhas" operárias soubessem quem as roubam, sacrificariam suas vidas dando lhes boas ferroadas, mas até as abelhas eles corrompem... se é que me compreendes ?!

Romeu Inácio Rademann -   06/07/2022 14:36:03

Muito bem lembrado. A tempos nosso judiciário está com comportamento estranho a suas atribuições. Na mão, ou a mando de alguém.

Adriano -   06/07/2022 08:22:56

Show, Puggina!

Luiz Alonso Adriãodess -   04/07/2022 20:25:56

A constituição de 1988 foi um desastre,ampliou o poder de gente desconhecida,de vida pregressa desconhecida,filiados à partidos de práticas escusas,alçados a juízes da corte,que sem nenhum voto estão colocando em grande risco o futuro do povo brasileiro, só com canetas.

julio cesar da silva -   04/07/2022 14:55:44

"excelente" essa escola de samba, que nação é essa?

maria elisa araujo zanella -   04/07/2022 08:27:05

Que mais um triste dia terei que enfrentar hoje, Puggina! Bem feito pra mim que ainda acreditava na Justiça! E graças a ti (kkk!) e tuas certeiras posições... Que tenhas um bom dia, se for possível!

Menelau Santos -   03/07/2022 14:24:06

Faltava algum grande gênio musical compor o "Samba da corrupção"

Gisleno -   02/07/2022 18:50:14

Professor não sabemos ao certo até quando vamos aguentar este estado de coisas!!

Nelci M. Borraiz -   02/07/2022 17:46:54

Tristes conclusões de um Tribunal que deveria honrar e não distorcer nossa Constituição ao seu Bel prazer! Sinto -me entristecida por tais decisões...

João Jesuino Demilio -   02/07/2022 17:12:56

Comparar a justiça brasileira com escola de samba é ESCULHAMBAR com as escolas de samba.