• Percival Puggina
  • 14/03/2016
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O CRIME E O CASTIGO NA VOZ DAS RUAS

 

 Há muitos meses, o governo petista, os dirigentes dos partidos da base e suas lideranças no Congresso Nacional parecem haver tomado Baygon de canudinho. Andam de um lado para o outro, desarvorados, em busca de uma saída que não existe para os males que sua desonestidade e presunção produziram. Não me refiro à multiplicidade de desastres que fizeram desabar sobre o país. Qual o quê! O que os preocupa são as consequências pessoais e legais do que fizeram. Muitos medem a distância entre a porta da rua e a porta da cadeia. Brasil? Que Brasil?

Acordei nesta segunda-feira em ressaca cívica. Milhões de brasileiros proporcionaram com o 13 de Março, nas mobilizações de ontem, um dia para entrar na História. Nas semanas anteriores, o PT e seus sequazes batiam tambores mentais pedindo chuvas no Rio de Janeiro, enxurradas em São Paulo, vendavais no Rio Grande do Sul. Mas São Pedro mostrou quem manda. Aqui em Porto Alegre, onde escrevo, 140 mil pessoas promoveram a maior manifestação da história da cidade. Homenageavam gente respeitável, patriotas de valor, como Sérgio Moro, os promotores da Lava Jato e policiais da PF naquela força-tarefa. Noutra praça da cidade, pequeno grupo de militantes a soldo reverenciava criminosos condenados e outros cidadãos em vias de. São pessoas que odeiam a dignidade de Sérgio Moro e amam Ricardo Lewandowsky, Roberto Barroso, Dias Toffoli, entre outros daquele puxadinho do PT em que foi transformado o STF.

Cada um de nós, tendo participado dessas manifestações, dirá um dia a seus filhos e netos, lendo as páginas da História: "Eu estive lá! Eu não me omiti! Eu cumpri meu dever de cidadão para com meu país e seu povo! Eu não me acovardei ante o falso rugido dos autênticos gatos!"

Enquanto participava da manifestação aqui em Porto Alegre, tive a clara percepção de que o grito das ruas produzia movimentos nas encruadas instituições. Rangiam velhas tábuas, estalavam dobradiças. Algo está para acontecer. O marasmo chega ao fim.

Vi nascer o grito por impeachment no dia 15 de novembro de 2014, na primeira manifestação nacional. Éramos poucos, mas sabíamos para onde girava inexoravelmente a roda dos maus fados do governo que reassumiria dias depois. Sua podridão já era conhecida, tanto que Dilma foi apresentada como faxineira do próprio governo. Nos meses seguintes novas manifestações se repetiram a partir do dia 15 de março (até então a maior de todas na história do país). Em duas semanas, três dezenas de requerimentos pedindo o impeachment da presidente se acumulavam na mesa de um até então pouco conhecido pilantra de nome Eduardo Cunha que, de março a dezembro, jogou água fria e gelo picado na fervura nacional. Mas na versão petista virou "dono do impeachment".

Até isso nos quis roubar o governo! O grito da nossa garganta. O clamor do nosso peito. As lágrimas de emoção cívica que deixamos nas avenidas de todo o país. Sinto que chega ao fim o domínio daqueles se julgavam-se capazes de conduzir o povo pelo nariz. Já podem contemplar a porta da rua e avaliar a distância entre esta e a porta da cadeia, lugar de todos que tenham esfolado a nação, sejam de que partidos forem.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


josé paulo -   15/03/2016 06:23:19

Execelente escrito. Parabéns

Genaro Faria -   15/03/2016 04:14:38

Prezado professor e estimado amigo Puggina, eu sei sei que você sabe muito melhor do que eu - a renúncia à violência para tomar o poder pela revolução cultural - leia-se: pelo aparelhamento do estado e a subversão das virtudes da sociedade - chegou ao apogeu e declina melancolicamente. Todo mito descreve essa mesma trajetória da glória ao ridículo. Só os professores de História parecem ignorar essa realidade, talvez por temer encarar que seu ídolos não eram deuses, mas seres humanos. Nós dois fomos abençoados pela longevidade. Temos o dever de compartilhar o que a vida que nos ensinou desde quando ela raiava a prata do alvorecer até o crepúsculo dourado que consola nossas tantas ausências. E refletem nossas esperanças naqueles que Deus colocou sob nossa guarda. Seus artigos, todos eles, sem exceção, são manifestações de sua alma. De um ser muito mais religioso que político. De alguém que se eleva a um nível superior da consciência. Lembram-me o que disse um teólogo cujo nome perdeu-se em minha memória: Quando nós nos elevamos, nós nos encontramos. É esse predicado que com faz que seu blog seja minha primeira leitura diária.

Gustavo Pereira dos Santos -   14/03/2016 21:33:03

Muito bem, Dr. Percival. Tenho uma dúvida: os prostitutos do PMDB impedirão a ANTA em 2016 ou deixarão para 2017? É bom lembrar que correm o risco do TSE (Gilmar será presidente a partir de maio) cassar a chapa e a vaca ir pro brejo.

Odilon Rocha -   14/03/2016 19:39:46

É isso mesmo , caro Professor! Não esmoreçamos, pois ainda há muita refrega pela frente. Esses peles vermelhas não se intimidam fácil, muito embora já saibam de antemão que a coisa esta 'moura' para o lado deles. Estão desesperados e perdidos.

Ricardo Moriya Soares -   14/03/2016 19:34:23

Sim, está chegando ao fim o maior desastre da história nacional.... e não creio que os vermes ainda tenham algum coringa na manga, pois literalmente mataram a galinha dos ovos - e os vizinhos bolivarianos também o fizeram, em tempo recorde. O maior dos danos, além do aparelhamento das instituições (que não nunca foram tão sólidas quanto rege a propaganda midiática) e da destruição de nossa capacidade econômica, é o complicado processo de desintoxicação que teremos que submeter nossos jovens - sejam eles pobres, ricos ou de classe média, que continuam a ser doutrinados dia após dia nas escolas e universidades (públicas ou não). O magistério precisa sofrer o maior expurgo que já se teve notícia no hemisfério ocidental... e é, como dizem nas ruas, pra ontem!!!!

Genaro Faria -   14/03/2016 18:45:11

Milagrosamente, o Brasil está se livrando de um caso de polícia que assaltou o país, sequestrou o estado e fez a nação refém da utopia socialista, maior pesadelo do século XX, que remanesce em algumas poucas ditaduras da periferia global. Ontem foi um domingo do tempo que nos preparou para uma longa e triunfante caminhada para a liberdade. Uma espécie de páscoa antecipada no calendário lunar, mas tardia demais para os padrões de um povo educado e bem informado. Mas o momento é festivo. Nada de lamentos. Hora de alegria, de comemoração da pátria que se reencontrou com o brio. Com a honra que tantos fizeram por desqualificar dos escaninhos do Foro de São Paulo, organização criminosa presente por toda a América Latina desde que Fidel e Lula, em 1990, se encontraram no hotel Danúbio (SP) para "recuperar aqui o que foi perdido no leste europeu"... com o colapso do império soviético. Há muito que caminhar até virarmos a página deste negro capítulo de nossa história. Mas como disse o poeta Mário Quintana, "é com os passos que nós fazemos o caminho". Pé na estrada!