• Percival Puggina
  • 26/08/2016
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O CONJUNTO DA OBRA E O JUÍZO FINAL DE DILMA ROUSSEFF


 O PT nasceu com aspirações à santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.


 Não há impositiva relação de causa e efeito entre crime de responsabilidade e impeachment. Não poderia haver este sem aquele, mas poderia haver aquele sem este. No caso atual, é o desastroso conjunto de pecados que determina, ante o crime de responsabilidade cometido, a condenação num juízo político. A propósito, aprendi no catecismo que o pecado pode acontecer por pensamentos, palavras, atos e omissões. Informo a quem considere piegas esta informação, que a vida, com enxurrada de exemplos, me ensinou o quanto ela é correta. É através desses meios que cometemos todas as nossas faltas. E para o ser humano, não as reconhecer, em qualquer das quatro formas, é o mais danoso de todos os erros.


 Enquanto assisto a primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff, percebo, em sua defesa, a continuidade dos mesmos pecados. A mensagem que recentemente (16/08) leu à Nação e ao Senado registra pela primeira vez a palavra "erro", ainda que numa frase com sujeito oculto. Erro de autoria não identificada. Tornou-se evidente, ali, a contradição entre a Dilma do dia 15 de agosto, mergulhada "num pote até aqui de mágoas", tomada pela ira e arrogância, e a Dilma que acordou no dia seguinte humilde, propondo diálogo e união em torno da pauta que lhe convinha. Qual a Dilma real? Se algum dia existiu, evaporou-se entre Lula e João Santana. Personagens tão divergentes quanto os que ela encarna só podem ocorrer numa encenação. Um deles é falso. Ou todos o são. Na política isso é pecado mortal.


 A situação se agrava quando assistimos o comportamento da defesa da presidente afastada no Senado Federal. Primeiro, rasga e joga no lixo a carta do dia 16 de agosto (no que vai bem porque o inaproveitável programa ali proposto prorroga por dois anos o sanatório institucional em que temos vivido). Em seguida, reitera o velho e conhecido sintoma da psicopatologia petista. Entenda-se: o PT é um partido que nasceu em sacristias e conventos, com aspirações de santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.


 Quis ser, e por bom tempo muitos o viram assim, um guia de peregrinos, objeto de veneração. Ainda sem pieguices, torna-se oportuno outro ensino de catequese: ou nossa vida se modela segundo aquilo em que cremos ou nossa crença se conforma ao modo como vivemos. Então, o petismo não reconhece os males que causou ao país. Só tem dedos para o peito alheio. Não tem unzinho sequer para as próprias culpas. Com três tesoureiros presos, o partido se considera um santo incompreendido e, para evitar martírio, extingue a função. Na história universal é o primeiro partido político com muita grana e sem tesoureiro.


Voltemos, porém, à primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff. Lá estão seus senadores usando todas as manhas possíveis para retardar o andamento dos trabalhos. Depois de seu governo haver feito tudo que fez, depois de ter caído na mais profunda desgraça, seus senadores estão servindo à nação mais e mais do mesmo. Não ruborizam pelos malefícios causados ou pela quadrilha instalada no coração do governo. Declaram-se ofendidos, isto sim, porque alguém os acusa de retardar o andamento das sessões e de todo o julgamento. E a nação a tudo vê. Temos aqui um dos muitos motivos da desgraça moral em que afundou o partido que governou o Brasil durante 13 anos consecutivos. É o pecado mortal de se achar sem pecados, de negar o que fez e faz, mesmo quando todos assistem aquilo que é feito. Eis a definitiva essência do conjunto da obra.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Genaro Faria -   28/08/2016 17:02:35

DILMA E COLLOR, NASCIDOS UM PARA O OUTRO. Seu texto, caríssimo Puggina, lembra-se uma anedota que corria à boca pequena na União Soviética durante a glasnost: Depois de limpar as gavetas, Nikita Khrushchov recebe o sesucessor com dois envelopes numerados: 1 e 2. - Isto é o que eu posso fazer por você - diz ele. - Guarde esses dois envelopes num cofre e abra o de número 1 quando você se encontrar numa situação que lhe pareça sem saída. Nele você encontrará a solução. O segundo é para quando voltar a precisar encontrar, mais tarde, a saída para outra situação que será ainda pior que a primeira. Assim fez o sucessor de Khruschov. Quando seu governo fracassava e ele não achava a saída, então lembrou-se dos envelopes e abriu o primeiro: - PONHA A CULPA DE TUDO EM MIM, SEU ANTECESSOR. E deu certo. Tudo era culpa da herança maldita. E o povo engoliu a fórmula vigarista. Mais tarde, como previra NK, a situação ficou pior ainda e o infeliz sucessor foi buscar o envelope de número 2: SENTA E ESCREVA DOIS ENVELOPES. Dilma deve ter recebido Collor para reclamar que Lula não lhe entregou nenhum envelope, para não assumir a culpa pela herança maldita.

silas velozo -   27/08/2016 21:23:45

Puggina, nosso chapa: outro texto ótimo seu. E a confrontação com a msg do Genaro Faria dá o q pensar. O PT afundou o país por ignorância ou inconscientemente fez o q pedia seu mais íntimo obscuro? Boa pergunta. Importa agora afastar essa quadrilha definitivamente do poder federal e, nas eleiões q vierem, das esferas estaduais e municipais o mais possível, além, claro, dos seus comparsas PC do B, PSOL, etcéteras. Vamos em frente. Abraços.

Joma Bastos -   27/08/2016 17:49:46

A Dilma já está quase passando à história desta Nação. Pelo que me concerne já passou. Debrucemo-nos um pouco sobre a política e corrupção deste Brasil. Todo aquele que é corrupto e todo aquele que é extremista, seja ele de esquerda(comunista, petista, bolivariano) ou de direita, é nefasto para o Brasil ou para qualquer país que queira desenvolver-se. A verdade é que a América latina está transformada em um antro de corrupção política e empresarial, onde predominam os países e as cidades mais violentas do mundo, onde o tráfico de droga e o contrabando de armas fazem que quase estejamos a viver uma guerra civil. Dos regimes políticos presidencialistas existentes no mundo, só um, os Estados Unidos da América, é que teve um grande desenvolvimento econômico, social e político. Os regimes políticos parlamentaristas da Europa, fizeram com que esta tivesse um desenvolvimento algo parecido com os EUA, mas temos que levar em conta que para viver, a Europa leva vantagem, porque lá existem os países mais pacíficos e mais equilibrados do mundo a nível social. A Educação é fundamental para o desenvolvimento do Brasil, coisa que o PT conseguiu atrasar-nos por décadas em relação aos países desenvolvidos, por ter negligenciado propositadamente e profundamente o sistema educacional brasileiro. O PT queria um povo analfabeto(e conseguiu), para poder dispor a seu belo prazer(infelizmente) da aplicação de políticas comunistas nesta nação. Mas vou deixar uma pergunta no ar. Na atualidade, que líderes políticos capazes é que temos para liderar e governar este país? Não conheço algum que, em minha opinião, seja capaz de levar este Brasil a bom porto.

maria-maria -   27/08/2016 15:56:22

Impossível não responsabilizar os militares, tão ciosos da importância da pátria, por terem "cochilado" enquanto os comunistas tomavam conta da Universidade e da Igreja. Os ovos da serpente do mal eclodiram sem serem percebidos. Os bolivarianos não tiveram pressa, pois sabiam estar atingindo a Família e a Escola, alicerces da sociedade. Como retomar um processo civilizatório que, aos trancos e barrancos, estávamos executando?

Genaro Faria -   27/08/2016 05:25:52

Prezado, admirado e caríssimo Puggina, tendo lido seus livros, com os quais presenteei amigos, acompanhado seus artigos, que venho comentando há algum tempo, e tendo alguns artigos meus publicados em seu site, o que muito me honra, não seria um exagero dizer que nós dois temos um certa afinidade. Pensamos e sentimos numa comunhão de raciocínios e princípios que norteiam e elevam nossas vidas. Você, porém, que de piegas não tem nada, às vezes me parece querer medir aqueles que nós criticamos por uma ótica absolutamente ingênua. Por isso estranha que eles não se penitenciem dos erros que teriam cometido de boa fé. Trata-os como pessoas de espírito púbico, vocacionadas ao serviço do bem comum, mas equivocadas. Seriam mesmo? Não. "N", "a", til, "o" - JAMAIS! Destruir a economia do país, lançar no desemprego milhões de trabalhadores, falir milhares de empresários da classe média rural e urbana, e infernizar a vida de profissionais liberais e autônomos no turbilhão dessa ruína econômica e social não um erro do qual eles se compadecem. Ao contrário, criar esse contexto foi o seu objetivo. Para eles, meu querido amigo, essa herança bendita foi perdida quando Lula não se elegeu sucessor de José Sarney. Herança maldita foi ter encontrado a moeda estável, a credibilidade do país recuperada internacionalmente e o orçamento federal - antes, uma peça de ficção fiscal - enquandrado por uma lei que impôs aos governantes a responsabilidade de não gastarem além dos recursos que a receita lhes autorizaria. Foi essa "herança maldita" que atrasou o projeto político deles. Tiveram - que humilhação! - até que nomear para o Banco Central um presidente de confiança dos credores internacionais - que não por mera coincidência agora assume, de volta à ribalta, o Ministério da Fazenda e... da Previdência Social, para sinalizar aos investidores que, para cobrir o rombo, custe o que custar, o "angu tem tudo a ver com a salsa", duela a quien duela. Está ruim assim? Conforme-se. Pense na Venezuela. O que está desesperando estes dos quais até muitos que os avaliam por suas próprias medidas, que nunca foram e nunca serão as medidas deles, se compadecem como se eles tivessem cometido um simples desvio de percurso, do qual deveriam se penitenciar. São Miguel Arcanjo, valei-nos! O anjo rebelde que sua espada feriu e seus pés precipitaram no inferno voltou fantasiado com asas de pomba e lã de cordeiro.

Ismael de Oliveira Façanha -   26/08/2016 14:55:56

O PT foi concebido e parido por detrás dos altares da Teologia da Libertação.