• Percival Puggina
  • 02/06/2021
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O COMUNISMO, O INTELECTUAL E O PROFETA

 

Percival Puggina

 

Em seu livro “Post-Capitalist Society”, Peter Drucker sustenta a ideia de que a derrubada do credo marxista significou “o final da fé na salvação pela sociedade”. Justificadamente convergem a esse autor o reconhecimento mundial como perito em Administração e como analista de seu tempo. Na nota introdutória da referida obra, Drucker afirma:

O comunismo faliu como sistema econômico. Em lugar de criar riqueza, criou pobreza; em lugar de criar igualdade econômica, criou uma nomenclatura de funcionários que gozavam de privilégios sem precedentes. Mas foi como credo que faliu porque não criou o homem novo; em seu lugar fez aparecer e reforçou tudo que havia de pior no velho Adão: corrupção, cobiça, ânsia de poder, inveja e desconfiança mútua, mesquinha tirania e “secretismo”; a mentira, o roubo, a denúncia, e, acima de tudo, o cinismo. O comunismo, o sistema, teve seus  heróis, mas o marxismo, o credo, não teve um único santo.

Essa exata descrição da realidade foi escrita três anos após os fatos de 1989, quando a abertura do Muro de Berlim suscitou o vendaval que pôs por terra todo o castelo de cartas a que estava reduzido o imperialismo soviético após quatro décadas de muita propaganda e ainda maiores e mais numerosas frustrações.

O que me chama atenção como leitor de Drucker é a semelhança existente entre essas considerações de seu livro e o que, cem anos antes, escrevera Leão XIII, em 1891, na Encíclica Rerum Novarum. Naquele pequeno documento, destinado à reflexão dos povos e dos governos da Terra, o admirável pontífice profetizara sobre o que aconteceria onde o comunismo viesse a ser implantado. Note-se que esse regime só teria testes de campo a partir de 1917, ou seja, um quarto de século após a publicação da encíclica. Vicenzo Gioachino Pecci, esse era o nome de batismo do sábio profeta, não pode ver em vida a perfeição de suas previsões, pois faleceu em 1903. É impossível lê-lo, porém, sem ser impactado pela lucidez com que abriu o véu do futuro e anteviu, no emaranhado de ciências sociais envolvidas, o desastroso produto final daquele regime. Eis suas palavras sobre o comunismo, escritas, repito, em 1889:

Mais além da injustiça de seu sistema, veem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação de todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados de seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar da igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.

Cem anos inteiros separaram o consagrado analista Peter Drucker do profético Vicenzo Gioacchino Pecci (Leão XIII). Deste último, ninguém sabe o nome e poucos, muito poucos, têm notícia da admirável previsão disponibilizada por ele à humanidade que muito, dela, se poderia ter beneficiado.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

 


PAULO VILLALPANDO -   07/06/2021 13:17:56

Excelente artigo. As mesmas visões de dois grandes estudiosos em tempos distantes entre si. Difícil não concordar com eles para quem viveu e/ou assisitiu o fracasso da URSS e dos atuais governos que ainda insistem com este regime já considerado por muitos países da Europa tão criminoso quanto foi o nazismo. Não seria o caso de criarmos no Brasil uma Organização em defesa da implantação de uma lei que considere crime qualquer forma de pensamento comunista? Pois, não se implanta comunismo sem uma forte força policial (exército cooptado), muita opressão, extinção das liberdades e assassinato dos contrários.

Luiz Carlos da Cunha -   06/06/2021 09:55:54

Bravo Percival: a previsão precoce de Leão XIII, pode-se interpretar como pioneira. A de Druker, mais sintonizada com o século XX, claro. Apesar das expressões lierais dos personagens, a imagem da bandeira soviética no alto dos escombros do Reichtag marcando a derrota da nazismo, inspira um passo virtuoso da humanidade, independente da ilação q se faça.

José Luiz Belderrain -   03/06/2021 21:52:38

Excelente reflexão, direto ao ponto.

PAULO CEZAR ALVES MONTEIRO -   03/06/2021 12:09:33

Parabéns Dr. Percival Puggina. Mais um artigo de uma lucidez absoluta...... reproduzi-lo-ei em meu site, caso não se oponha, para aumentar ainda mais a visibilidade

João Edson Nunes -   03/06/2021 09:41:13

Obrigado por mais está pérola de conhecimento, e por nos apresentar as obras de Mais dois que esclarecem a torpeza do comunismo.

Elvio Rabenschlag -   02/06/2021 19:50:49

Muito bom seu comentário. Certamente Leão XIII era um homem inteligente.

Rogerio Carnio -   02/06/2021 15:43:38

O dito comunismo vem uma cupula que promete dividir o poder para 1 milhar de pessoas para e exercerem uma ditadura eternamente sobre o povo. So isso.