• Percival Puggina
  • 19/03/2015
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O CÍRCULO DE FERRO DA CORRUPÇÃO

 

 Quem rouba, mente. Quem mente e rouba, quando surpreendido, acusa outros daquilo que fez. Pessoas com essas características se unem por afinidade. Nascem, assim, as quadrilhas. Quadrilhas precisam de proteção. No crime organizado, essa tarefa é atribuída a outros malfeitores, recrutados e remunerados pelos chefes.

 Na política, a proteção às quadrilhas é disponibilizada por bases parlamentares compradas, mídia chapa-branca e massas de manobras, ou seja, milícias mobilizadas com recursos públicos, como são os exércitos de Stédile, postos em prontidão, a pedido de Lula, no evento da ABI em "defesa" da Petrobras. Pode-se incluir nesse círculo de ferro outras práticas comuns e conhecidas, como o sistemático assassinato de reputações. Nas quadrilhas do crime comum, o adversário vira "presunto" e é desovado numa valeta. Nas quadrilhas da política, com falsos dossiês e calúnias, mata-se a reputação do adversário, embora não faltem exemplos de eliminação total dos arquivos, como aconteceu no caso Celso Daniel.

Nos casos de corrupção sistêmica, como está acontecendo no Brasil, percebe-se que a inclinação ao mal se manifesta de inúmeras formas. Há uma imensa deformidade moral em pleno funcionamento. A apropriação de recursos públicos é apenas uma das formas de corrupção, e não sobrevive sem as demais. É isso que torna desprovida de sentido a tese oficial que pretende resolver a presente crise institucional com "uma boa lei anticorrupção e uma boa reforma política". Falem sério! Milhões de brasileiros foram às ruas no dia 15 de março, indignados com a completa perda de credibilidade do governo, aí incluída a presidente da República, sua equipe de trabalho, seu partido e demais apoiadores, e a própria mídia chapa-branca. Os brasileiros compreenderam a extensão do problema moral que afeta irremediavelmente o governo, sua respeitabilidade interna e externa, e a indispensável probidade dos atos de Estado. O governo brasileiro virou objeto de lágrimas aqui e de risos no exterior.

Por fim, entre as muitas formas de corrupção, inclui-se a do intelecto. Não me refiro a qualquer problema mental, neurológico. Não, a corrupção do intelecto, ou desonestidade intelectual, é uma forma de vilania. O indivíduo intelectualmente desonesto utiliza-se de dois meios para favorecer a causa que sustenta. Ou ele mente, a exemplo daqueles a quem concede ou vende seu apoio, ou, se mais capacitado, usa da erística, que é a "arte" de convencer por meios ilícitos, com saltos acrobáticos sobre a lógica, no deliberado e fraudulento intuito de iludir o interlocutor.

A corrupção também vive de tipos assim. Eles ajudam a sustentar seu círculo de ferro. A atualidade nacional permite reconhecê-los facilmente nas salas de aula, nos veículos onde atuam, a cada coluna que escrevem. Têm nomes conhecidos, claro, porque é indispensável, à eficiência da tarefa, que o operador do método, se atuando na grande mídia, conte com certo prestígio pessoal.

Fica demonstrado, assim, que a crise institucional brasileira não se resolve com leis, existentes ou futuras, mas com a ruptura, em conformidade com o Estado de Direito, desse círculo de ferro da corrupção. Ele é ainda mais sistêmico e devastador porque nosso modelo institucional centraliza Estado, governo e administração nas mãos de uma só pessoa, que nunca sabe coisa alguma do que acontece ao seu redor.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 


Gustavo Pereira dos Santos -   22/03/2015 15:31:51

RSRSRSRSRSRSRS. Bom dia, colega José Carlos, é Percival. Um abraço, Gustavo.

José Carlos Corsi -   22/03/2015 12:24:45

Caro Sr. Dorival Puggina, sou seu novo e assíduo leitor. Não sou mais antigo porque não o descobri antes. Na medida que se vai saboreando seus esclarecedores artigos, uma luz de racionalidade vai-nos supreendendo, bem como, assentando e parafuzando fortemente nossos pensamentos inconclusos nos fatos, os quais, nos se apresentavam difusos. Obrigadíssimo, Dorival.

FRANCISCO DE ASSIS CAVALCANTE PEREIRA -   21/03/2015 15:11:05

Caro Professor Puggina, Agradeço a oportunidade de ler seus artigos. A maneira como são escritos, dão forma aos meus pensamentos e sentimentos. Agradeço a Deus por você existir e partilhar sua existência conosco, através dos seus escritos. Deus proteja você e sua família. Assis e família

Sérgio Alcântara, Canguçu - RS -   21/03/2015 14:04:13

A verdadeira revolução dará sua primeira demonstração de força nas urnas, ano que vem, completando-se em 2018. Para que isto efetive-se, será necessário que os movimentos verdadeiramente comprometidos com a democracia mantenham o nível de "pegada" e organização tática demonstradas no último Domingo. É indispensável, porém, ficar bem claro que o que realmente está viabilizando esta verdadeira façanha ( há pouquíssimo tempo, impossível) são exclusivamente as redes sociais. A mídia tradicional (apontada pelo PT como inimiga sua) nada tem a ver com o despertar desta súbita consciência popular. Os nossos paupérrimos partidos políticos de centro-direita então... Nossa! Precisamos é, de uma vez por todas, voltarmos a acreditar em nossa capacidade de fazer política, agora utilizando esta ferramenta maravilhosa chamada internet, e não ficarmos somente na expectativa de algum acontecimento drástico e, menos ainda, da iniciativa e liderança de algum político dos quadros de nossas combalidas siglas partidárias. Com certeza, o blog do Professor Puggina está contribuindo e tem muito a contribuir com este processo de restauração de nossa ameaçada República.

Gustavo Pereira dos Santos -   21/03/2015 01:38:45

Dr. Percival, Deus permitahttp://www.olavodecarvalho.org/semana/150317dc.html que o senhor continue nos brindando com seus artigos por muitas décadas mais. Complemento sua resposta ao comentário do colega que farei os requerimentos sugeridos pelo professor Olavo de Carvalho em: http://www.olavodecarvalho.org/semana/150317dc.html não pude deixar de rir com a sua definição precisa do "jornalista" chapa-branca Moisés Mendes de Zero hora. Um abraço, Gustavo.

PERCIVAL PUGGINA -   21/03/2015 00:41:56

É impossível fazer o que tanto gostaria: comentar os comentários aqui deixados. No entanto, assim como gosto de escrever e ler - e isso me leva o tempo - gosto de saborear os presentes que aqui me deixam os tão estimados leitores. Duvido que outro escritor tenha leitores de tanta qualidade intelectual. Isso me enche de orgulho e agradeço a Deus cada texto aqui deixado. Hoje, porém, sinto que preciso responder à pergunta do Frederico Schneider. A resposta é não. Será preciso muito mais do mesmo e muito mais de outras medidas, em intensidade crescente para pressionar o Congresso Nacional, ampliar a livre participação dos cidadãos, formar opinião através da imprensa, mostrar que o Estado de Direito não pode servir para proteger uma quadrilha em vez de servir para proteger a nação. É preciso deixar inequívoco, por fim, que o petismo é um mal em si mesmo, irrecuperável, insanável. É um partido que faz mal ao Brasil por ser como é, dirigido por lideranças que são como são.

Ernesto Barros -   20/03/2015 21:29:40

O Datafolha (de novo!) disse que apenas 27% dos manifestantes da Paulista eram a favor do impeachment. Mas quem foi para a rua no 15 de março, como eu, ouviu TODO mundo pedindo a saída de Dilma do Palácio do Planalto. O “insuspeito” instituto de pesquisa do grupo Folha, além de míope, pois viu 210 mil onde havia 1 milhão, deve ter problema de audição. Quando a multidão gritou fora Dilma, fora PT, eles entenderam fora Dilma, fora DO PT! Ou seja, se a presidente mudar de partido, a crise acaba!

Genaro Faria -   20/03/2015 18:51:48

Caríssimo Puggina, permita-me usar este espaço para comentar a entrevista que o "príncipe" FHC concedeu a Mário Sérgio Conti. Sua análise, como de costume, é corretíssima, mas eu gostaria de sublinhar a conduta dúbia de quem acende um círio ao malévolo e uma velinha de bolo de aniversário para fingir que é do bem. FHC quer pescar nas águas turvas do PT para emergir como salvador da pátria... de braços dados com o PMDB. Narciso não admite outra posição que não a de prima dona no centro do proscênio. O rei da cocada preta. Assim como ele se adonou do grande feito do presidente Itamar Franco, o Plano Real, ele pretende surfar a onda de indignação que tomou conta do país, para se apresentar à nação como seu emérito benfeitor. E passar à História como o maior estadista do Brasil de todos os tempos. Vinho ruim não se apura com o tempo; azeda.

Frederico Schneider -   20/03/2015 13:32:58

Puggina, uma pergunta somente, você acha que com essas manifestações pacíficas como a do dia 15/03, conseguiremos o impeachment?Não seria necessário uma revolta maior ou quem sabe uma guerra civil, visto o que PT fez e faz.Todos parecem estar envolvidos nessa esquema, judiciário, legislativo e executivo, veja o mensalão, houve justiça, a pena foi suficiente???Não , pelo menos para mim não foi.Diante desse quadro pergunto novamente, será que manifestações pacíficas são suficientes para o impeachment?

Genaro Faria -   20/03/2015 00:43:09

Caríssimo Puggina, levou dois anos o despertar da consciência nacional. Este foi o grande diferencial entre as manifestações de 2013 e esta agora, do dia 15 de março. Antes difusas, fractais, no varejo como o estoque de um bazar, elas iam dos protestos contra os estádios faraônicos da Copa a reclamações sobre a qualidade dos serviços públicos, que só fizeram piorar sob os governos do PT. Agora, não. Tal como os raios de sol que ao passar por uma lente convergem a um determinado ponto, as múltiplas queixas da população se concentraram na raiz de todos os males: o PT. É isso que está arqueando as sobrancelhas dos meliantes travestidos de políticos es pilantras fantasiados de governantes. Que o povo está esclarecido e a cultura, como observou o filósofo Raymond Aron, "é aquilo que fica depois já esquecemos o que aprendemos". Ela amplia a mente e nos amadurece. Faz de nós pessoas menos vulneráveis aos demagogos, à lábia dos vigaristas. Eu creio que nem foi tanto a organização dos eventos e grande quantidade de participantes que assombrou o governo. O que o deixou desarvorado foi esse salto da consciência nacional. Essa compreensão de que o PT não é só um partido de quadros desqualificados para o exercício do poder, mas sobretudo um partido que se orienta por uma ideologia fracassada, ditatorial e sanguinária que levou aos mais terríveis genocídios de toda a História. E nenhum povo entra conscientemente nessa aventura suicida. FORA LULA! FORA DILMA! FORA PT! IMPEACHMENT JÁ!