• Percival Puggina
  • 08/10/2017
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O BRASIL É O MEU PAÍS

 

 Numa época em que tantos procuram deixar o Brasil, certos conterrâneos descobriram no separatismo um modo de ir para o exterior permanecendo onde estão. De lambuja, economizam a passagem, evitam problemas de imigração e, numa solução tipicamente brasileira, reabilitam o crédito mudando a razão social.

 A tese se manifesta em pontos de vista bem conhecidos: “Sinto-me mais gaúcho do que brasileiro”; “Moro no Brasil que deu certo”; “Estou cansado de sustentar o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste”; “Chega de ser governado pelas elites nordestinas”.

Pois é. Durante 90 dos 127 anos de república o governo brasileiro esteve confiado a paulistas, mineiros, cariocas e gaúchos. Só o Rio Grande do Sul, com 38 anos na presidência, comandou o país por mais tempo que as outras duas dezenas de estados que “não deram certo” (Cruzes!).

Por outro lado, alega-se que a representação dos Estados no Congresso Nacional é distorcida pelas "desproporcionais bancadas" dessas regiões. Mais uma vez as coisas não são bem assim. O Nordeste brasileiro é duas vezes mais populoso que o Sul e sua representação parlamentar está rigorosamente proporcional. Aliás, apenas os quatro antigos territórios, mais Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins se beneficiam da representação mínima de oito cadeiras. E essa pequena conta é totalmente paga por São Paulo que tem 70 deputados quando, em virtude da população, deveria ter quase o dobro.

Reconheço que os promotores do informal plebiscito separatista têm lá seus motivos. Contudo, o mesmo raciocínio que os inspira permitiria conceber, também, um Rio Grande do Sul formado apenas pelas áreas industrializadas da Região Metropolitana e Serra Gaúcha, tendo por capital um município constituído somente pelos bairros classe A da cidade. E aí - quem sabe? - repousaríamos ainda mais tranquilos nos travesseiros da "superioridade". A propósito dela, pergunto: qual dos problemas que facilmente apontamos olhando para o norte não temos aqui?

Nessa linha, a curiosidade aumenta. Nossas ideias são mais progressistas? Ah, sim? E onde está o progresso? Por que a Ford está na Bahia? Por que a Gerdau muda-se para São Paulo? Esquecemos, parece, do ardoroso e militante público que têm entre nós as ideias socialistas, estatizantes, corporativas e avessas ao empreendedorismo, ao livre mercado e à meritocracia. A estratégia separatista contempla, também, essas sementeiras do atraso e os destruidores do futuro que tanta influência exercem por aqui?

A tabela que vem sendo usada para definir perdas e ganhos na contabilidade dos Estados com a União, por quanto pude verificar, parece incompleta. Ao que vi, trata apenas de tributos, ou seja, do que vai para Brasília e dos retornos constitucionais aos estados e seus municípios. Mas isso, aparentemente, não inclui gastos federais com serviços, servidores, saúde pública e previdência social, obras, convênios, etc., prestados pela União nos Estados e em seus municípios. O que estou afirmando não passa a régua na conta, nem dá recibo de quitação. Nossa Federação é um arremedo, seus serviços são precários, há abusos de toda sorte, e nossas instituições trombam de frente com a racionalidade que delas se deve exigir. Mas quem diz que faríamos melhor? Escrevo e falo sobre isso há décadas e não sei se convenci alguém aqui na volta.

Por constrangimento, deixo de lado, no exame das nossas dificuldades atuais, as suas causas internas, caseiras: irresponsabilidade fiscal, demagogia barata, dificuldade de lidar com números e o vale-tudo no jogo pelo poder. Como escrevi ontem, numa pequena nota: "Era só o que faltava a esta geração - acabar com o Brasil e com a unidade nacional. Sou gaúcho e o Brasil é o meu país".

Se, no longo curso da História, fosse dado a uma geração qualquer o direito à secessão, como se poderia negar à geração subsequente o direito de rever essa decisão ou de gerar nova secessão? Nações não são gaitas de fole, ao sabor das paixões de cada momento. Ao menos não são assim as que alcançam respeito internacional, como o Brasil já teve e, agora, tanto se empenha em decompor.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 


Antonio -   14/10/2017 16:09:49

Confesso que nutria certa simpatia pelo movimento informal separatista, embora algo me dissesse que isso não resolveria mazelas mais profundas de nenhum dos três estados. Teu artigo me mostrou algumas razões para entender o que eu apenas intuía. Como diz o jornalista Fernão Mesquita em seu blog Vespeiro: "Ha mais de 100 anos as democracias entenderam que na vida real manda quem tem o poder de demitir. O direito de eleger (ou de contratar) desassociado do poder de deseleger (ou demitir) a qualquer momento só conduz à corrupção galopante dos representantes (e dos servidores públicos), como já ficara provado mil anos antes na experiência romana. Por isso elas incorporaram a solução suiça de, num ambiente de estrito respeito ao principio federalista, dividir o eleitorado em distritos, amarrar todas as ações de governo da vida comunitária aos municipios e dar aos eleitores, em cada um deles, plenos poderes para fazer e desfazer suas próprias leis, chancelar as do Legislativo mediante referendos e retomar a qualquer momento os mandatos de seus representantes. Essa combinação – plenos poderes para o eleitor mas com um alcance “geográfico” restrito – mudou tudo." Então, prezados co-leitores, nós brasileiros temos um caminho efetivamente melhor do que a separação. E acredito nisso mesmo sendo paulista, um estado que supostamente se beneficiaria imensamente numa eventual separação. Se os pensamentos de esquerda (muito bem lembrados pelo Autor) ainda grassam e tanto conseguiram MUDAR nossa cultura (do país inteiro!), por que não podemos MUDAR DE NOVO, para algo melhor?! Não esmoreçamos! Muito Obrigado. Forte Abraço.

Jonny Hawke -   11/10/2017 15:20:26

Pegue o perfil dos líder separatistas, todos parecidos com os líderes separatistas da Catalunha que primeiro vieram com um discurso Liberal, depois apareceu bandeira com "foice e martelo" e depois Maduro, Putin e Raul dizendo que reconhecem o novo país. Agora fazer uma separação de impostos e leis onde cada estado é independente como nos EUA eles não querem!

Itamar Piffer -   11/10/2017 12:42:44

Além do exposto vale lembrar uma coisa. Considerando a população do Brasil e havendo mais de uma secessão no território nacional, o número de funcionários públicos certamente dobraria por habitante. Queremos menos senadores, deputados e afilhados e mais trabalhadores que são os que constroem nossa civilização. Tem um milharal de problemas para resolver no Brasil e essa gente simplesmente cria mais um

carlos r.dos santos -   10/10/2017 14:54:59

o professor esqueceu de escrever a fiat para minas gerais,a grendene para o ceara,que estou lembrando.

Humberto -   09/10/2017 14:25:36

Concordo plenamente com o texto. Mas deve-se reconhecer que o separatismo é um sintoma de que a União, como formatada atualmente, não deu certo. Embora envolva promulgar uma nova Constituição, acredito que deveríamos amadurecer a ideia de implantar de fato e fortalecer um sistema federativo, com maior autonomia aos Estados - consequentemente, a União teria um poder menor. Com isso, e uma reforma política (voto distrital, por exemplo, é essencial), trazemos o governo mais próximo do povo e assim, mais suscetível às necessidades da população.

Rossini -   09/10/2017 12:13:28

Disseste tudo: " irresponsabilidade fiscal, demagogia barata, dificuldade de lidar com números e o vale-tudo no jogo pelo poder". Uma coisa que a maturidade vem formando em mim é a certeza de que o mundo é muito mais complicado do que se espera ser. Soluções definitivas para problemas definitivos só existem na cabeça de quem quer resolver equações de uma variável só.

Genaro Faria -   09/10/2017 09:12:39

Precisamos evitar a tendência a "sentar no rabo para falar do rabo do vizinho". Cristo não nos ensinou a "tirar a trave do nosso olho antes do cisco no olho do vizinho"? Olhar as dimensões continentais do Brasil e aí ver uma causa para o nosso atraso cultural, político, social e econômico e não um motivo para acreditar em nossso futuro não recomenda bem o analista.

Rodrigo -   09/10/2017 03:35:43

Se a Operação Lava Jato foi iniciada a partir de fatos criminosos cometidos em Curitiba (onde tramitam os processos), com uma "eventual" separação dos estados do Sul do resto do Brasil, todos os processos serão anulados! Esses separatistas são defensores do Lula? Sem falar que em matéria de escolhas políticas, nosso digno RS não pode ser considerando assim tão "politizado" como ufanizam alguns. Basta ver alguns dos nomes eleitos governadores nos últimos 30 anos para se perceber isso de forma muito clara. O mesmo vale para alguns senadores, deputados federais e mesmo estaduais, além de prefeitos e vereadores. Ou seja, somos rigorosamente iguais aos demais brasileiros, com algumas variantes de sotaques e gostos regionais, inclusive culinários. Mas, na essência, somos todos brasileiros. Ainda bem!

Immo Martin -   09/10/2017 00:19:57

Não são aceitáveis os pontos alegados pelo separatismo. Além disto, não consta que o sul seja formados por povos distintos do restante do Brasil. Nem a língua é diferente.

Gerhard Erich Boehme -   08/10/2017 23:01:10

O brasileiro, principalmente agora, ante aos piores resultados produzidos pelo "Triângulo de Ferro" que se instalou no centro de nosso poder político e econômico com a quartelada que muitos chamam de "Proclamação da República" começa a entender que é fundamental o entendimento, divulgação, aplicação e defesa do princípio da subsidiariedade. Infelizmente, se por um lado, nesta direção temos movimentos que privilegiam o certo, como a monarquia que traz consigo a defesa deste princípio, mas também de outro lado temos outros que buscam a autonomia de forma errada, como nos movimentos separatistas, como o "Sul É Meu País". Fundamental entendermos o que nos une, que fortalece nossa nação, como a monarquia com sua Casa Imperial, e para isso é fundamental que o princípio da subsidiariedade seja colocado em destaque, pois é ele parte importante da sulução para o Brasil.

João Luiz Pereira Tavares -   08/10/2017 21:10:52

O PT não é uma esquerda esclarecida. Nunca será. A carência do Brasil é de arte de qualidade! O PT ama e venera a indústria cultural. Cultura de massas. Sobretudo a música atual ruim. Che Guevara é ícone da esquerda. Um ícone da industria cultural da esquerdista. Cultura de massas. Com certeza Kitsch. O “algo mais” do PT na arte e na cultura: O PT detesta a cultura popular e a erudita ao mesmo tempo. Por exemplo, Yamandu Costa é música de qualidade. Não tem nada a ver com o PT, ok? Inclusive música para poucos brasileiros (por ser complexa), ou seja: de “elite”. Assim como Machado de Assis, Villa-Lobos são arte de elite, sim. O mesmo Dostoyevsky. Elite honrosa. Não se trata do lixo bem tragável de que o PT gosta, venera, ama e adora, não. E, por outro lado, o bem centrado MBL [Mov. Brasil Livre] em seu papel empírico, em 2016 faz jus ao nome dessa sigla, certo? A diminuição do poder vigarista do PT com a saída de Dilma em 2016, — mesmo com Lula solto hoje –, foi fortemente permitido devido ao MBL. Empírico, corajoso e pragmatista, o Arthur do “Mamãe Falei” ajudou bastante a desconstruir o discurso ideológico do PT através do método socrático. MBL e o Arthur lutam contra o lixaço da doutrina petista (conhecida como Petismo).

Edson Azevedo -   08/10/2017 16:59:47

Nações não podem ser prisões. O direito a secessão é a implementação do direito a autodeterminação de povos, que por consenso, detêm a prerrogativa de decidir quem os governa. Embora ainda ilegal, esse direito é legítimo as gerações atuais e será legítimo a gerações futuras, pois esta é a mais legítima e eficiente forma de pressionar governos a atingirem eficiência.

Odilon Rocha -   08/10/2017 16:47:34

Assim também penso, caro Professor. Mas sonho com dia em que partirmos para um sistema confederado, como nos EUA. Chega de pagar o dízimo à Corte de Brasília. Que cada Estado tenha a sua independência, sem se desligar da Constituição Brasileira: norte para todos.

Ene -   08/10/2017 16:03:32

Concordo totalmente com a sua respeitável opinião. Parabéns!

Dalton Catunda Rocha -   08/10/2017 14:53:17

O artigo em si, merece meus aplausos. Não obstante, apesar de eu concordar no dito, vale lembrar outras coisas: 1- Quatro décadas seguidas de crise econômica são algo sem paralelo, na história do Brasil republicano. O problema é que o orgulho de ser brasileiro que existia nos anos 1970, acabou e faz tempo. Sem terem orgulho de serem brasileiros, as pessoas buscam outros orgulhos, como ser paulista, sulista, etc. 2- Apesar de ser verdade, que Lula nasceu em Pernambuco, toda a carreira política de Lula foi feita em São Paulo. E a pressão de subida de Lula ao poder começou já nos anos 1980, quando Delfim Neto produziu a crise, que ainda nos assola. Além da crise econômica, fazendo subir o PT esteve toda a mídia. E isto, por décadas. Por exemplo, em outubro de 2002, exatamente há quinze anos trás, veja o que capa da revista Veja falava sobre o Lula: http://1.bp.blogspot.com/-F1Uts6QtrVE/VFTozphh_8I/AAAAAAAAUNQ/Eh20xg0oCZs/s1600/revista-veja-edico-historica-lula-5710-MLB4989929171_092013-F.jpg Agora, eu peço que veja uma capa recente da revista Veja, sobre Jair Bolsonaro: https://pbs.twimg.com/media/DLiM4XiUIAAvY-k.jpg 3- Todos os brasileiros precisam ver que a causa da crise não vem do Nordeste, nem do Sul. A causa da crise, que já dura quatro décadas seguidas, vem de todos e, sua solução também virá de todos.

Augusto -   08/10/2017 13:55:43

À parte os 90 anos de governo nas mãos de gaúchos, paulistas, mineiros e cariocas, o triste é que, quando colocaram um nordestino para comandar o galpão, a coisa desandou de vez. Fruto desse socialismo inconsequente. Para mim a saída não é o separatismo e sim fazer com que a federação funcione, ou seja, estados tendo obrigações (principalmente estas) e usufruindo de direitos, comuns a todos. A propósito, sou de Curitiba. Parabéns pelo artigo, como de costume, ótimo.

edegar luiz rossi -   08/10/2017 13:39:27

Gosto de pessoas que respeitam as diferentes opiniões, que não é seu caso. Só para te situar é apenas uma consulta ,se tens duvidas consulte o portal da transparência sobre envio de valores a meca Brasilia e o retorno da mesma. UM SALUTO.

Márcio Moura -   08/10/2017 13:14:57

A Uniãofica com quase todo dinheiro dos gaúchos e esse é o ponto.