• Percival Puggina
  • 13/02/2017
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NOVILÍNGUA, EUFEMISMOS E ... TESTOSTERONA

 O famigerado "politicamente correto" parece nascido nas páginas de 1984, o profético livro de George Orwell sobre o totalitarismo em expressão máxima. É a própria "novilíngua", que manipula, suprime ou recompõe vocábulos para dominar a linguagem e o pensamento. O "politicamente correto" já fez muito disso e já foi longe demais. Vocábulos triviais foram carimbados como impróprios e se converteram no que Orwell talvez chamasse de "impalavras", ou "despalavras". Ao sumirem, por supressões e patrulhamento, some a ideia que expressam e é restringido o que podemos pensar.

No "politicamente correto", usa-se e abusa-se dos eufemismos, trocando-se palavras fortes por palavras fracas para tornar palatável o que deveria ser rejeitado. Neste último fim de semana, por exemplo, a edição de ZH estampou matéria cujo título mencionava o possível fim da "paralisação" dos policiais militares no Espírito Santo. Paralisação? Mas aquilo não foi um motim? Na Globo News, uma locutora referia as "eventuais ações" sobre "possíveis crimes" praticados pelos "grevistas". O próprio presidente da República, em nota sobre aqueles episódios, pediu o fim da "paralisação". Não fazem diferente aqueles que falam em "ocupação" sempre que manipulados baderneiros de esquerda metem o pé e entram porta ou vidraça adentro em alguma propriedade pública ou privada. Ora, só se pode ocupar o que está vago, devoluto, ou não tem proprietário, inquilino ou comodatário. Tudo mais é invasão, seja um parlamento, uma estância ou uma escola.

O que acabo de escrever evidencia a crescente fragilidade nas nossas estruturas de comunicação. Se formos desatentos a esses e outros processos em curso na vida social, corremos o risco de ser tragados por eles, imperceptivelmente submissos a um insinuante ideal totalitário, tornando-se a sociedade vulnerável ao domínio de quem controla as palavras que ela usa.

Por isso, chamam a atenção de todos, com aprovação de muitos e rejeição de outros tantos, a conduta e o vocabulário utilizado por agentes políticos como Trump e Bolsonaro. Do primeiro, escreveu outro dia o prof. Neemias Félix que, perto dele, o segundo parece um poeta. O que os faz notórios, principalmente, é a ruptura com a novilíngua, com os eufemismos e com o déficit de testosterona,  que já habituou a sociedade a conviver com falas molengas e discursos pasteurizados, nos quais só os adjetivos lânguidos e as imprecisões cuidadosamente estudadas têm assento às mesas onde a comunicação se estabelece.

Caem juntas, a cultura e a civilização. Caem a golpes de dissimulação, covardia e melindres, vulgarmente conhecidos como mimimis.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 


Genaro Faria -   16/02/2017 14:41:01

O "politicamente correto" é a mais terrível arma criada pela revolução cultural marxista. Consiste numa censura disfarçada de boas intenções para calar a resistência e impor os padrões falsos e imorais da hegemonia política sem chamar nossa atenção para seus vis propósitos, não nos permitindo identificar seus cultores pelo que eles são - comunistas - e ao mesmo tempo impondo que seus opositores sejam identificados pelo que não são - fascistas. Essa locução foi usada, pela primeira vez, pelo tirano pedófilo Mao Dzedong para justificar um massacre perpetrado por seus militantes contra intelectuais e professores que se opunham à ditadura comunista na China.

Carlos Edison Fernandes Domingues -   15/02/2017 00:12:35

PUGGINA. Mais uma vez estamos de parabéns com os teus ensinamentos. Carlos Edison Domingues

Paulo Siveira -   14/02/2017 23:37:25

Guardei! Parabéns!

mario -   14/02/2017 22:48:23

Como sempre, um excelente artigo. Importante é nos mantermos atentos ao politicamente correto e seus deletérios efeitos contestando-os na medida do possível.

Genaro Faria -   14/02/2017 13:31:25

IMAGEM COMENTADA- ABORTO E SUSTENTABILIDADE O Sierra Club, pela simiesca lógica do seu presidente - que confunde rouxinol da Galileia com urinol da Vanderleia - parece que é uma sociedade esportiva do planeta dos macacos.

Paulo Pimentel -   14/02/2017 13:21:19

Mais uma aula.

Alexandre Santos Cardoso -   14/02/2017 12:26:35

Puggina, com esses últimos acontecimentos( Trump, Brexit, Impeachment, ...), o senhor tem esperanças de uma reposição de testosterona nessa sociedade androgenada?

Paulo -   14/02/2017 11:10:28

INFILTRE, E DEPOIS CONTROLE TODA A MIDIA DE COMUNICAÇÃO DE MASSAS - eis aí o 2º mandamento do Décalogo de Lênin, que são os 10 mandamentos dos comunistas. Os regimes dos psicopatas comunistas, as esquerdas, sabem que o regime deles é obsoleto e para compensar, vivem da subversão das mentes fazendo nelas lavagem cerebral, iludindo as pessoas e depois, como não têm escrúpulos, as dominam. Além dos exemplos acima, quando um comunista fala em... DEMOCRACIA = Partido Comunista POVO = os membros do partido e das milicias comunistas(movimentos sociais). BRASIL, UM PAÍS DE TODOS = de todos que pertencerem ao partido e mais ainda dos banqueiros e capitalistas! etc, etc. OS COMUNISTAS PRIORIZAM O CONTROLE DO PENSAMENTO - A ROBOTIZAÇÃO DAS PESSOAS VIA LAVAGEM CEREBRAL Não se lê ou estuda material contrário ao grupo, mas tudo de acordo com o prescrito, omitem-se certos assuntos e palavras desinteressantes à ideologia, É o que acontece nas universidades e escolas desde o primario, pois os mais jovens são faceis de serem cooptados e permanecerem subjugados. A obra de Pascal Bernardin, Maquiavel Pedagogo ou O Ministério da Reforma Psicológica (2005) descreve, com base em documentos oficiais, as técnicas de manipulação psicológica e sociológica levadas a cabo pelos organismos globalistas, particularmente a ONU, UNESCO, OCDE, Conselho da Europa e Comissão de Bruxelas, e aplicadas pelos governos de boa parte do mundo para aprisionar as pessoas sem perceberem que as levam para a escravidão DA DITADURA COMUNISTA!

Vera Britto -   14/02/2017 03:06:27

Clareza num mecanismo tão perverso de dominação .

Genaro Faria -   14/02/2017 00:44:24

Nenhuma civilização foi erguida e se desenvolveu senão com base numa língua culta, em uma religião comum ao conjunto de seus habitantes, em instituições familiares e em um poder temporal que defenda seu povo e por este seja respeitado. Até que medida nós podemos afirmar - sem medo de errar - que ainda há uma civilização neste país após duas décadas de governos socialistas?

Beto Fully -   13/02/2017 21:29:40

Os artigos escritos por PUGGINA são verdadeiras jóias do pensamento liberal onde pontificam a clarividência lógica de um gde pensador!

Paulão -   13/02/2017 19:12:08

Prezado Sr. Puggina. Obrigado pelo seu texto. Essa mania de politicamente correto vai acabar que nem aquela sociedade futurista, que encontramos no filme "O Demolidor". Um governo cheio de mimimis, policiais sem armas, tentando convencer "na lábia" eventuais marginais, geração de bebês sem o ato sexual e sem beijinhos, e outras frescuras. No fim, ao serem invadidos por bandidos descongelados de décadas atrás, tiveram que apelar para um super-policial do passado, violento e desrespeitador de regras, que também fora congelado por alguma irregularidade (Stallone). Não é lá um grande filme, mas serve para mostrar como ficaria um Estado e uma sociedade castrados pelo "politicamente correto". Deus nos livre!!!

Antonio Moacir Pfeffer -   13/02/2017 18:37:24

Comentário mais do que correto. O que estamos vivendo é uma desconstrução de uma ordem vigente, para a implantação de uma nova ordem, com outros valores morais , ou imorais e uma outra ética. Parabéns pelo artigo.