“O Destino de uma Nação” chegou aos cinemas suscitando muitas abordagens na imprensa brasileira. Dois amigos enviaram-me, sobre Churchill e sobre o filme, textos interessantes (1) e (2). Tão logo os postei em meu blog, apareceu alguém para atacar Churchill, lançando sobre ele terríveis anátemas. Só faltou, àquele leitor, afirmar que seria melhor se o inglês não tivesse nascido. Posteriormente fui assistir ao filme (quase digo “participar”, tal a atração que a obra de Joe Wright exerceu sobre mim). Baita filme!
Volto, então, ao tema. A crítica daquele leitor é parte importante do problema brasileiro. Se você elogiar algum personagem da nossa história, sempre aparecerá alguém para lhe emporcalhar a memória. A biografia de Churchill é conhecida e, convenhamos, não é difícil transformá-lo num anjo de bondade quando a comparamos, por exemplo, com a longa história do imperialismo britânico.
No entanto, diferentemente do que acontece nas análises depreciativas, anacrônicas e improdutivas da nossa própria história, os britânicos não andam pelo mundo de joelhos, em inesgotáveis atos penitenciais, a prover acertos de contas. Eles têm consciência de algo que tantos brasileiros se empenham em ignorar porque convém a seus objetivos políticos: o passado não pode ser corrigido; o que pode ser corrigido é o futuro.
De nada vale soprar cinzas e reviver brasas das misérias morais do pretérito. São os grandes feitos, os grandes homens, os grandes gestos, os grandes momentos, as grandes lições que enriquecem o presente e nos guiam para o futuro. Foi o que eu quis dizer, outro dia, quando escrevi sobre o principal motivo de não termos um partido conservador significativo no Brasil: falta-nos o conhecimento e o respeito devido aos nossos bens espirituais inscritos nas raízes lançadas pelos que aqui nos precederam. Mais uma vez, foi o alto significado dessa visão de história, desse sentido de nação, dessa necessária revascularização da seiva nacional que me veio à mente assistindo a “O destino de uma nação”.
Malgrado os vícios, pecados, erros e defeitos de Churchill e do “povo da ilha”, o mundo livre deve sua liberdade à determinação e ao sentido de história que todos demonstraram em sua hora mais escura. Eles não estão cobrando conta alguma, e não parece servir a coisa útil promover, as aferições que alguns pretendem. No momento mais emocionante do filme, consultada sobre se a nação deveria assinar um acordo com Hitler para evitar a invasão da ilha, a garotinha do metrô gritou: “Never! Never!”. O mesmo digo aos ávidos em fazer carniça da nossa própria história para promover conflitos, arrependimentos, ajustes de contas e, na contramão, transformar seus bandidos em heróis. Nunca! Nunca!
1) http://www.puggina.org/artigo/outrosAutores/londres-de-churchill/11981
(2) http://www.puggina.org/artigo/outrosAutores/colocando-churchill-no-seu-devido-lugar/11976
Nota do autor: Estou ultimando uma segunda edição ampliada e atualizada de “Cuba, a tragédia da utopia”. Ela estará disponível nos próximos meses.
_______________________________
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
ANTONIO CARLOS DA FONSECA FALLAVENA - 19/02/2018 12:23:38
Não nos basta falar a verdade e indicar o caminho da cura e da solução dos problemas. Também teremos de carregar muita gente nas costas! Faz tempo que desejo repassar, para mais pessoas, uma ideia, meia maluca por certo, mas com muita lógica. Num país onde se aumentam impostos a todo momento, quem sabe podemos "educar e ensinar melhor" criando o imposto da idiotice. Tenho certeza de que aconteceriam tres coisas boas: 1º - alguns pensariam mais ou se calariam; 2ª - a arrecadação inicial ajudaria muito; 3ª - as soluções viriam mais rápidas. Democracia pode ser o melhor sistema, mas só funciona em nações onde o povos tem uma boa cultura, escolaridade, fiscalização e responsabilidade. Nos demais casos, se aproxima da anarquia. Amigo Puggina, "paciência até pode ser uma virtude, mas também tem fim! " Um fraterno abraço. Antonio Fallavenaedson fidelsino soares gomes - 18/02/2018 12:12:21
BRILHANTE. DE NADA VALE SOPRAR CINZAS............Genaro Faria - 18/02/2018 10:06:37
Houvesse na Casa Branca um Churcill, conservador, é não um Roosevelt, simpático a doutrinas de inspiração socialista, o mundo teria ficado livre da União Soviética.Roosevelt entregou aos comunistas o leste europeu.José Nei de Lima - 17/02/2018 21:47:03
Ótimo filme que retrata o deveria ser o perfeito político nos dias atuais, vale a pena assistir um grande abraço meu amigo que Deus vos abençoe e proteja amém.Frederico Hagel - 17/02/2018 21:28:47
Muito interessante, bem redigido e real seu artigo meu caro Puggina. O brasileiro é um povo sem raízes, como vc disse, confunde fatos, acredita na mídia desconstrutiva que ainda ressalta e divulga as "grandes maravilhas feitas pelo lula". Povo sem cabeça na minha opinião. Os ingleses sabem que o Churchill errou muito, assim como sabem que a Margaret Tatcher também, mas não andam por lá nem por aqui reclamando do passado. Parabéns.Joma Bastos - 17/02/2018 19:29:40
Ótimo texto! O passado não pode ser corrigido; o que pode e deve ser corrigido é o presente, para que no futuro não venhamos a cometer e a viver os mesmos erros do passado. E o paupérrimo presente que vivemos, é urgente que o corrijamos, o mais detalhadamente que o conseguirmos, para que possamos viver em um digno conservadorismo liberal, correção essa a fazer sem quaisquer interferências dos atuais atores políticos e judiciais. Sabemos que é uma tarefa difícil, mas possível. No Brasil que até agora vivemos, sempre se levantaram muralhas e se fecharam portas à cultura, ao conhecimento e ao desenvolvimento. Mas todos nós brasileiros, para ajudarmos a corrigirmos o presente e elevarmo-nos como grande Nação que somos, tornarmo-nos prósperos e um dos líderes do mundo desenvolvido, devemos querer e poder abrir portas e construir pontes, por meio de diálogo, cooperação e relações bilaterais com a cultura, com o conhecimento, com o desenvolvimento, com o mundo.Carlos Edison Domingues - 17/02/2018 17:24:58
PUGGINA ! Iluminador este artigo que escreveste. Não podemos perder a esperança. Carlos Edison DominguesIsmael de Oliveiira Façanha - 17/02/2018 16:08:29
Quem puder, adquira "Churchill, Hitler and "the Unnecessary War". How Britain Lost its Empire and the West Lost the World. "Como a Inglaterra perdeu seu Império e o Ocidente perdeu o Mundo". Existe uma edição compacta em português: "CHURCHILL, HITLER e a "Guerra Desnecessária". Obra escrita pelo jornalista Patrick Buchanan, candidato à presidência dos EEUU em 2000, ex-conselheiro de Nixon, Reagan e Gerald Ford. Contraria o "POLITICAMENTE CORRETO" (sobre Churchill e Hitler), tão caro à PSIQUE DAS MASSAS CLASSE MÉDIA.Felipe Andrei dos Santos - 17/02/2018 13:59:52
No Brasil, é óbvio porque sempre que alguém almeja alguma posição, esculhamba a reputação e o passado do outro: faz a alegria das grandes massas ávidas por escândalos, e é uma cortina de fumaça para a total falta de planejamento do futuro.DAGOBERTO LIMA GODOY - 17/02/2018 13:48:50
BRAVO!Dalton C. Rocha - 16/02/2018 19:03:18
Ao contrário do que sugere o filme, Winston Leonard Spencer-Churchill(Woodstock, 30 de novembro de 1874 — Londres, 24 de janeiro de 1965) ou simplesmente, Winston Churchill, durante toda a Segunda Guerra Mundial, nunca esteve num metrô. Mais uma coisa. No acordo de Munique, em 1938, Winston Churchill aprovou a entrega de parte da então Tchecoslováqia a Hitler. Convém lembrar, que a política da França e da Inglaterra de entregar parte da então Tchecoslováqia a Hitler, ao troco de apenas promessas era popular tanto na França, como na Inglaterra. Quando Neville Chamberlain ( 1869 – 1940) retornou à Inglaterra, após entregar parte da então Tchecoslováqia a Hitler, ao troco de apenas promessas ele foi aplaudido por uma multidão entusiástica de ingleses. Ver site: https://www.youtube.com/watch?v=SetNFqcayeA