Percival Puggina
Recentemente participei de uma reunião em que se debatia o tema da “independência” no relacionamento conjugal. Assunto interessante porque em torno dele se tem estabelecido grande confusão, sendo muitos os que consideram coisa desejável, no casamento moderno, uma recíproca e absoluta independência entre os pares.
Não existe isso em qualquer instituição humana. As instituições, assim como todas as sociedades, se compõem precisamente porque as pessoas dependem uma das outras; uma sociedade de membros totalmente independentes seria algo tão atomizado e disperso quanto inútil.
Na vida conjugal, e em especial nas relações onde o amor se impõe como elemento vinculante fundamental (embora não único), essa interdependência dos membros pode levar - e com frequência leva - ao sacrifício. Qualquer pai, mãe, marido ou mulher sabe que o amor cobra capacidade de renúncia, e a exige, especialmente nos momentos de crise pessoal, nas enfermidades, e sempre que há fardos a serem compartilhados.
Um dos maiores problemas que atingem a instituição familiar e sua estabilidade nos dias de hoje está localizado nessa fobia cultural à renúncia e ao sacrifício, entendidas pelo avesso - como elementos destruidores da natureza humana - e não como construtivos e constitutivos de sua maturidade.
O Natal de Jesus, e é sobre isso que desejo escrever, exemplifica com muita clareza que, no plano de Deus, o amor é inseparável da doação e da renúncia. O Natal não é apenas uma bela história - a mais bela das histórias - como afirma recente comercial na TV. Ele é também um drama real, convivido nas duas cidades, a de Deus e a dos homens: Deus se faz homem para estabelecer uma “nova e eterna Aliança” com a humanidade a que ama. E seguindo a lógica do amor, vai ao sacrifício de si mesmo.
Esse “dar-se” resiste, no ensinamento cristão, contra a dimensão comercial que cada vez mais domina as festas de fim de ano onde as relações se tornam crescentemente materiais, numa sequência que começa com o simples “receber”, passa pelo “trocar” e talvez chegue ao “dar alguma coisa”, mas raramente cogita do “dom de si”, que é a essência do Natal. Espero que este Natal de 1996 seja para cada um, em cada família, ocasião de refletir sobre as exigências do amor, segundo o exemplo de Jesus de Nazaré.
Nota do editor: Este artigo replica o publicado no Natal de 1996. Ele mostra que, passados 28 anos, persistem os problemas humanos e a perenidade da mensagem cristã.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Maria Apreciada Novaes Theodoro - 31/12/2022 13:32:18
ADORO SUAS PÁGINAS1 LEIO QUASE TODAS MAS CONTINUO TRISTECARLOS EDISON DOMINGUESS - 30/12/2022 06:15:11
Nesta semana alcançamos 59 anos de existência matrimonial. Ao longo deste tempo, percebo que passou porque tenho filhos com mais de 50 anos. A "independência" exigida foi decorrente do exercício profissional e, especialmente, do atendimento à obrigação social e política. Hoje, meu dever para com a Pátria e, assim, para com a Família é a única obrigação que me coloca na área do Quartel General, em Santa Maria. Não quero me afastar do convívio da FAMÍLIA. Carlos Edison DominguesJUD ROMELLO - 27/12/2022 07:42:37
Esperemos que o Criador e seu Santo Espírito, continuem a insistir na promessa bíblica: "...estou à porta e bato...! e nos o atendamos. Até que isso aconteça, devemos continuar orando para o aperfeiçoamento da fé e do bem dos nossos semelhantes. Graça e Paz.Beatriz R.C.Alves - 26/12/2022 10:08:46
Obrigada pelo belo texto onde os anos passam e está sempre atual. Significativo e profundo.Amei.ALCIDES POLIDORO PERSIGO - 22/12/2022 10:26:20
Concordo e considero muito teus comentários. Nos fazem pensar, nos auto-avaliar(exame de consciência) e como melhorar o nosso AGIR. Me questiono: -Como posso ajudar o povo Ucraniano? Como posso ajudar nossa Pátria, diante da comentada fraude-eleitoreira e do próximo governo Ladrão? Amigo Percival: Desejo que o Menino Deus renasça em nossos corações. Feliz Nata e abençoado 2023.Menelau Santos - 22/12/2022 10:12:04
Sublime, Professor! Há uma passagem em "O Grande Inquisidor" maravilhosa: "Você (Jesus) era o Verbo, mas eles só queriam o pão". Feliz Natal!