• Percival Puggina
  • 29/09/2023
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Não foi por falta de aviso.

 

Percival Puggina

        Nossa história pessoal, começa antes de nós existirmos. Ela é a história de nossos pais e dos pais dos nossos pais, e assim regressivamente. Ela é a história do lugar onde nascemos e por isso, os nomes de nossos pais e desse lugar estão em nossos documentos para sempre.

“Existe um modo de fazer a história e um modo de contar a História” (Betinho). A meu ver, a melhor maneira de fugir das simples narrativas, tantas vezes desenvolvidas por filósofos e historiadores comunistas, é ir atrás das raízes mais remotas dos fatos, percorrendo suas linhas de continuidade e suas rupturas. Evita-se, assim, a interveniência dos seguidores de Karl Marx, filósofo que, nas próprias palavras, não veio “para interpretar o mundo, mas para transformá-lo”. O modo de contar a história se presta admiravelmente para isso.

“Somos tão poucos, e Portugal é tão pequenino!”. Esta frase tantas e tantas vezes proferida é um diagnóstico realista sobre o condado que D. Afonso Henriques, no ano de 1139, transformou em seu pequeno reino. O pai do Fundador, Henrique de Borgonha o recebera como presente de casamento do sogro, D. Afonso VI de Leão.

Impossível, para mim, imaginar que a história do Brasil comece a ser contada a partir do dia 22 de abril de 1500, ou do dia 9 de março daquele ano, quando a Praia do Restelo acumulava multidão formada pela numerosa tripulação das 13 naus, 1,5 mil homens, seus familiares, o Príncipe Perfeito (D. João II), sua Corte e parte expressiva da população de Lisboa, estimada, à época, em 50 mil habitantes.

O Brasil não foi um achado. Foi buscado. E quem o buscou, sabendo em que direção navegar, foi levado pelas mãos do Senhor da História.

Os experientes navegadores portugueses sob comando de Cabral eram peritos no uso dos GPS da época. A bússola, a balestilha e o astrolábio de Abrahão Zacuto. Tanto sabiam onde estavam e como chegar ao seu destino que, nos primeiros dias de maio, deixaram Porto Seguro, cruzaram o Oceano Atlântico e contornaram o Cabo da Boa Esperança.

O que nos veio de Portugal é muito mais do que a posse da terra, a civilização e o povoamento deste continente chamado Brasil. É algo que nos liga acima de qualquer outro fator de unidade. São os longos fios com que se foi tecendo e bordando a história da nossa fé e do nosso idioma. Eles nos conectam com lusófonos e cristãos mundo afora!

Com a chegada das legiões à Península Ibérica, veio o latim; com a conversão de Constantino, o cristianismo se tornou religião do Império. Um século e meio depois, os bárbaros cruzaram o Reno. Quando suevos e visigodos entraram na Península Ibérica, o idioma deles misturou-se com o latim vulgar, dando origem ao nosso idioma e ao espanhol. Com eles, também chegou o arianismo, superado pela obra evangelizadora de extraordinários bispos e santos medievais.

O Descobrimento do Brasil é ponto culminante de um projeto político viabilizado pela criação da Ordem de Cristo, a qual, entendendo a posição geográfica do país na Europa, sua reduzida população e seu pequeno e montanhoso território encontrou no mar o seu destino e abriu suas velas aos ventos e a História Universal em novos caminhos. As Grandes Navegações persistem até estes dias como a maior aventura da humanidade. Delas, o Brasil é imensa realização. 

Os seguidores daquele filósofo que veio transformar o mundo, o “messias” alemão, filho de dona Henriette, não pensam assim. Para eles, os portugueses fizeram tudo errado pois deveriam ter ficado em Portugal guerreando com os espanhóis, como faziam antes, em vez de andarem pelo mundo descobrindo mares e terras, levando a cruz da Ordem de Cristo nas velas e no peito. Para eles, todos, exceto eles mesmos, são invasores de um paraíso dissipado pelo maldito direito de propriedade.

Ideologicamente, é uma tese perfeita. Anti-histórica, mas quem se importa com isso se dá para armar uma bela confusão? Se viabiliza animosidades e conflitos sem os quais sua militância perde o gás? Se perturba os “fascistas” do agronegócio? Se reforça a atividade dos companheiros das ONGs que atuam na Amazônia brasileira? Se desestabiliza o famigerado direito à propriedade privada (dos outros)? Se vai criar gigantescas e incalculáveis contas fiscais por prazo infinito? Se vai restituir terras produtivas à inatividade dos nativos? Se reforça todos os itens da pauta identitária que precisa, como do ar que respiram seus militantes, da ideia de uma conta a receber? Se é isso que o companheiro Lula quer?

Saibam todos: não foi por falta de aviso.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Danubio Edon Franco -   30/09/2023 19:47:28

Tem mais coisa pela frente. O Ministério Público Federa, segundo notícias, l ajuizou ação contra o Banco do Brasil por sua participação no período da escravidão, vez que um dos seus maiores acionista foi (é o que dizem) um grande traficante de escravos. Igualmente consta que o governo federal alinha com os sindicatos um meio de tornar obrigatório a contribuição sindical. E o discurso da dona Rosa no STF, dizendo-se orgulhosa do seu colega Moraes que foi aplaudido pelas vítimas do 8 de janeiro na Colmeia, quando lá estiveram. Permito-me citar o artigo e o vídeo da Juíza Ludmila: "Curiosa coincidência entre os aplausos a Moraes na Colmeia e as palmas para Stálin em 1938. A curiosa coincidência entre os aplausos a Moraes na Colmeia e as palmas para Stálin em 1938 Enquanto eu ouvia Rosa Weber narrando como Alexandre de Moraes teria sido aplaudidíssimo pelas presas políticas na Colmeia (ele é tão bichão que é admirado até por quem ele sacaneia!), eu só lembrava do episódio bizarro dos aplausos a Stálin na conferência do partido em 1938. Pois é, meus amigos. Essas coisas já aconteceram antes, não é fantástico? Pra gente que é velho de guerra nesses assuntos da comunada, nada é novidade. Tudo é apenas uma repetição de fatos históricos pitorescos. Quando a gente vê acontecer ao vivo, a gente só levanta o braço e grita “opa, saquei!”, tipo aquele meme do Leonardo de Caprio apontando pra televisão. Enquanto a repórter narrava o ocorrido, as pessoas no chat se esvaiam em gritinhos de horror (“que mentirosa essa Weber!”), enquanto eu tranquilamente continuava passando meu requeijão Philadelphia na torrada dormida, na certeza de que Rosa falava rigorosamente a verdade quanto à ocorrência dos aplausos. Era óbvio que as presas realmente aplaudiram o imperador. Quanto a isso não pairava a menor dúvida. Os aplausos são um dado objetivo, perceptível pelos sentidos da visão e/ou audição. Ou aconteceu, ou não aconteceu. Já a motivação para tais aplausos é que pode vir a ser objeto de altas elucubrações, como parece ter sido o caso da senhora Rosa. Ela deve mesmo ter conjecturado que era uma manifestação espontânea de carinho! Talvez Rosa tenha pensado que tanto tempo no cárcere deva ter servido para que aquelas pobres diabas refletissem sobre seus atos indecentes...essas detentas agora amam o Gengis Khan bananeiro que lhes trancafiou por meses a fio! Dona Weber não deve ter lido o clássico Arquipélago Gulag, de A. Soljenítsin. Caso contrário, jamais teria impressões tão dissociadas da realidade, porque se lembraria do excêntrico relato acerca dos aplausos a Stálin. A deficiência na formação literária do imaginário leva o indivíduo invariavelmente a conclusões estúpidas. Os episódios envolvendo as babações de ovo a Stálin eram ao mesmo tempo tristes e hilários. No caso da lambeção de botas a Alexandre, foi apenas triste mesmo. Algumas presas foram entrevistadas pela Revista Oeste, e narraram como os aplausos se iniciaram a partir do medo. Esse medo era gerado pelo cano das armas que tinham apontadas contra elas pelos agentes da Gestapo moderna – além do horror causado pela figura do algoz em pessoa, que teria levado algumas a urinar nas vestes. Diante da convocatória, quem se recusaria a aplaudir? Em 1938, em uma convenção do Partido Comunista na região de Moscou, Stálin recebeu uma homenagem dos camaradas que desejavam bajulá-lo. Iniciou-se uma salva de palmas. Só que ninguém podia parar de aplaudir, sob pena de ser considerado pouco afeito ao líder (e, portanto, suspeito). Essa conduta seria digna de levar o aplaudidor desistente à prisão. As palmas continuavam por cinco, dez minutos, e ninguém ousava parar. As palmas das mãos já ardiam, pessoas passavam mal, mas era muito imprudente ser o primeiro a capitular: “Na pequena sala ressoam ‘tempestuosos aplausos que se transformam em ovação’.(...) Mas afinal começam a doer as mãos. Fatigam-se os braços levantados, já vão sufocando as pessoas idosas. (...) Entretanto, quem é o primeiro que se atreve a parar? (...) O diretor da fábrica local de papel, uma personalidade forte, independente, faz parte do Presidium e compreende toda a falsidade, todo o beco sem saída da situação, mas aplaude! – Decorre o nono minuto! O décimo! Ele olha aborrecido para o secretário do partido da zona, mas este não se atreve a parar. É uma loucura! Uma loucura geral!”[i] No caso, o diretor da fábrica foi o primeiro a parar de aplaudir no décimo-primeiro minuto. Foi preso na mesma noite. “Com facilidade, aplicam-lhe por outro motivo dez anos”.[ii] Agora, fica a dúvida: teria Rosa apenas chegado a uma conclusão estúpida quanto à espontaneidade dos aplausos? Ou será que ela, assim como os camaradas de Stálin, também se sentiu coagida a participar da encenação?" Vou ficar por aqui.

Menelau Santos -   30/09/2023 00:25:45

Maravilhosa aula. Parece até que nossa história é parecida com a história dos hebreus rumo a Terra Prometida.

Manoel Luiz Candemil -   29/09/2023 19:28:08

Uma coisa é certa e todo cidadão brasileiro sabe: desde 1° de janeiro deste ano, o ato de Lula pensar ocorre muito mais no exterior! Isso não quer dizer nada?