Percival Puggina
Nestes últimos anos, tenho mantido o ânimo com base na certeza de que haverá chuva depois da seca e sol depois da enchente. Um dia, a tragédia brasileira haveria de passar e o principal papel do mero cidadão, como eu, era não fornecer um recibo de silêncio aos malefícios de cada momento. Se quem cala consente, então, resta o brado: “Não com nosso consentimento!”
Inúmeras vezes, recebi mensagens de leitores tão afoitos quanto acomodados reclamando que “Só falar não resolve!”, como se silenciar e reclamar de quem fala resolvesse... Nessas ocasiões, cuidei de advertir que se falar não resolvesse, as tiranias não fariam da censura o mais comum de seus documentos de identidade. Elas mesmas, simetricamente, se valem muito da palavra, da comunicação, para sua própria consolidação. Por isso, todo tirano é um falastrão, um boquirroto.
Desde meados de 2022, repassando em pensamento e sentimentos as impressões deste período, nunca os fatos sinalizaram qualquer otimismo em relação ao futuro nacional de curto prazo. Agora, porém, eles mostram que a mudança começou e me vêm à mente os versos que o grande Evaristo da Veiga escreveu à brava gente.
Os sinais promissores são evidentes. O governo petista, levado pela mão ao Palácio do Planalto, convive com a mais profunda rejeição já experimentada por qualquer outro governo de que me lembre. Segundo a última pesquisa do Datafolha (10 e 11 de fevereiro), apenas 24% dos brasileiros ainda consideram o governo petista como bom e ótimo. Como consequência, hóspedes das cabines de luxo somam-se aos tradicionais habitantes do porão e abandonam o barco.
Em Washington, as reiteradas visitas de parlamentares brasileiros passaram a produzir efeito após a vitória de Donald Trump. Cobras e lagartos aparecem na inspeção em curso na USAID. Inusitada comitiva da Corte Interamericana de Direitos Humanos (OEA), vem ao Brasil e até militantes de esquerda se declaram impressionados com as denúncias ouvidas. No Brasil, esses fatos só não constrangem e revoltam àqueles que usam dos direitos humanos como prerrogativa de companheiros e camaradas.
Embora Marx, Engels e seus seguidores ensinem o contrário, a luta de classes não é o motor da História. Seus discípulos brasileiros “empurram a História”, mas o motor não pega. Então, sua excelência, o imprevisto, entra no Salão Oval com a desenvoltura de Elon Musk. Marco Rubio se torna Secretário de Estado. Como resultado, os Estados Unidos colocam sobre o balcão um arsenal de dispositivos legais já existentes, outros em tramitação e um compromisso de acioná-los em defesa dos direitos humanos contra quem os atropela. A situação se agrava para aqueles que abandonam as vítimas sem lhes dar atendimento.
Fora das especulações, há, sim, um conjunto de fatos reais a comemorar.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.