• Percival Puggina
  • 20/05/2016
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MUITOS FORAM PARA A CULTURA SEM TEREM PASSADO PELA EDUCAÇÃO

 

 Nunca se falou e se escreveu tanto sobre cultura em nosso país. Até parece que saímos de um recital de canto para um concerto e daí para o teatro. Afinal, o governo Temer decidiu fundir num único MEC os ministérios até agora existentes para cuidar dessas duas áreas de ação governamental. O motivo da gritaria não é propriamente a fusão, mas o receio de que a Cultura, perdendo status de ministério, perca, também, parte da grana que paga o caviar dos companheiros do meio artístico, sempre prontos para assinar manifestos e notas de apoio ao PT. Contra a fusão das duas pastas, ergueu-se multidão de artistas, gerando protestos políticos de repercussão. Entende-se: muitos foram para a Cultura sem terem passado pela Educação.

 Não deveria ser necessária uma crise fiscal mastodôntica como esta a que fomos conduzidos pela irresponsabilidade do governo afastado para que os gestores públicos fossem parcimoniosos, zelosos e criteriosos na concessão de incentivos fiscais. Incentivos fiscais são recursos provenientes de impostos que todos pagamos e que, sob certos parâmetros legais, são fatiados do bolo para atender demandas específicas. Entre elas, as originárias no mundo da cultura. É aí que as manipulações políticas começam a produzir seus inevitáveis absurdos. Há poucos dias, o Coral das Meninas de Petrópolis encerrou suas atividades após 40 anos, por falta de patrocínio. Mas na outra ponta da elite "cultural" brasileira, Luan Santana levou R$ 4 milhões para "democratizar a cultura" numa turnê em diversas cidades do país, Claudia Leite pegou um troco de R$ 1,2 milhão para o mesmo fim, Maria Bethânia coletou R$ 1,3 milhão para um blog de poesia, uma turnê da peça Shrek foi autorizada a captar quase 18 milhões. E por aí vai a lista. E por aí vão nossos milhões que poderiam estar destinados a atividades de maior interesse público, nas funções essenciais do Estado.

 Sim, é verdade que a arte precisa de mecenas. Mas essa afirmação envolve a combinação de dois elementos: o mecenas com seu dinheiro e o artista com sua arte. Falo de mecenas que o sejam com recursos próprios e de arte que mereça o nome. No entanto, o que temos no Brasil é um mecenato com recursos do erário, subsidiando projetos de qualidade e utilidade mais do que duvidosa, repassando vultosas quantias a quem não precisa. Não estou propondo a extinção das leis de incentivo à cultura. Estou dizendo que a urgência é outra. Precisamos criar no Brasil um ambiente que valorize o bem e o belo, o saber e a verdade, mas tudo isso parece muito improvável com a atual distribuição dos recursos para a produção cultural e artística e com as hegemonias que, há muito, se instalaram no mundo da Educação e da Política.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

 


Áureo Ramos de Souza -   23/05/2016 13:41:57

QUEM QUER DINHEIRO? é este o programa cultural e pergunto o que tem Michel Teló de bom para oferecer de cultura, o cara é feio, jovem, cabelo penteado de maneira horrível e música de pior qualidade e não é só ele que hoje estão ganhando com essas músicas FULA, era bom que Flávio Cavalcante estivesse vivo para quebrar na TV esses discos. E imagine Chico Buarque um cara que dizem ser advogado que faz boas letras e só não sabe cantar, não tem voz. A fusão seria benéfica pois causaria menos gasto. O bom seria Lula e Dilma QUEM QUER DINHEIRO?

leia pereira -   22/05/2016 22:16:55

Decepção com o recuo do governo interino. Estará o PT atuando na retaguarda? Lamentavel.

BALDUINO Rabelo -   22/05/2016 16:51:38

Excelente! O PT, à frente do poder, evidenciou,com absoluta limpidez, o verdadeiro DNA do se caráter! Acabou-se a farsa!

Mila -   22/05/2016 15:44:52

Na minha humilde opinião, cultura deve ser tratada como qualquer tipo de empresa numa sociedade Capitalista--que, em verdade, não existe nenhuma. Infelizmente!

Odilon Rocha -   22/05/2016 13:42:42

Caro Professor Comentário perfeito. Esperar que se faça uma avaliação criteriosa e séria neste país, principalmente em relação à cultura, alocando conveniente e seletivamente os recursos, vamos ficar senis e muito pouco mudará. É o espírito de Macunaíma se sobrepondo.

João Miguel Miguens da Veiga -   22/05/2016 12:11:17

Parabéns Puggina, o teu comentário foi perfeito. Enquanto tivermos políticos olhando para seu futuro ($$$$$) e não para o país, boas políticas irão para ralo. Veja, o abaixo assinado dos governadores do Nordeste.

mario sergio da costa ramos -   21/05/2016 20:33:12

Seu artigo é de uma clareza ululante. Pena que o Presidente Temer, se quedou ante a esses sanguessugas. Artistas de meia tigelas. Triste, muito triste esse recuo do governo.

Haroldo Gré da Silva -   21/05/2016 18:48:51

O cara já amarelou, vai recriar o MinC . Foi-se o crédito que tinha. Imagine quando as propostas do Meirelles forem implementadas. Um Tsunami se aproxima do Brasil. Cada um quer a sua parte só não dizem de onde tirar o dinheiro.

Beatriz - dona Chica Crochet -   21/05/2016 18:19:23

Muito bom texto. Mostra que a Revolução é mesmo Cultural. atavé sda infiltração da ideologia marxista na cultura acabou-se com a educação. Valores foram corroídos por essa avalanche de escolas e program pra criarmos um ambiente que valorize o BEM e o Belo. Parabéns, professoras sociais cujo unico porpósito foi e ainda é a propagação do ideário marxista. Levaremos anos

Frederico Hagel -   21/05/2016 17:05:07

Puggina, sou um leitor assíduo dos seus artigos. Frequentemente gostaria de enviá-los para meu grupo, mas não consigo porque seu site só permite compartilhar com face e twitter. Não uso estas ferramentas. Não tem como você adicionar no site compartilhamento com e-mails? Att, Frederico Hagel.

Liberato Póvoa -   21/05/2016 14:33:25

Caro Prof. Puggina: Muito oportuno seu artigo. Dentre os felizardos incentivados pela "Lei Rouanet" há nomes consagrados, que “torraram”, de 2003 a 2015, milhões de reais numa verdadeira farra com o dinheiro público, que deveria ser destinado à educação, à saúde e à segurança pública. E isto foi feito através da figura chamada renúncia fiscal, que ocorre quando o governo federal, estadual ou municipal abre mão de recolher algum tipo de imposto. E com base nisso, Dilma liberou R$ 1milhão e meio para Tangerina Filmes produzir o filme documentário “O Vilão da República”, para refazer, na visão do partido, a trajetória de Dirceu. A verba foi aprovada em 2013 e até hoje não se sabe onde foi parar. Os artistas que se acostumaram a mamar nas tetas do MinC estão assanhados,para não dizer inconformados, porque estão sendo desmamados. E vamos a alguns exemplos: as cantoras Marisa Monte, Sula Miranda e Maria Rita receberam, cada uma, um milhão de reais, e Erasmo Carlos, R$ 1.219.858,00 para comemorar seus setenta anos; Marieta Severo, ex-mulher de Chico Buarque, e companheira do ator e diretor Aderbal Freire Filho, recebeu, junto com Aderbal, R$ 7.613.273,00; Aderbal sozinho recebeu R$ 908.670,00; e a farra do casal não parou aí: Marieta recebeu da Petrobras, nos anos de 2012 a 2015, 400 mil em cada ano, totalizando R$ 1.600.000,00. O contribuinte pagou só para Marieta, sem qualquer retorno, entre 2006 a 2011, nada menos que R$ 4.392.183,00. Nos anos de 2003, 2006. 2007 e 2011, o ator Paulo Betti abocanhou, via “Lei Rouanet”, R$ 3.748.799,90 para seus projetos. E segue, com os mais variados personagens: Rita Lee recebeu R$ 1.852.100 para cinco shows, um DVD e três palestras; a simpática Cláudia Leitte recebeu 2013, em 2013 a bagatela de R$ 5.883.100,00 por doze shows no Norte, Nordeste e Centro-Oeste; Camila Pitanga recebeu R$ 1.257.102,00 para financiar o filme “Pitanga”, sobre seu pai, Antônio Pitanga, coincidentemente casado com Benedita da Silva, ex-senadora, ex-governadora, ex-ministra e atual deputada federal pelo PT. Só no ano de 2013 com base na “Lei Rouanet”, Dilma autorizou o financiamento, com renúncia fiscal, de nada menos que R$ 117.970.281,19 para pessoas do meio artístico, como José de Abreu, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethania e dezenas de outros, que saíram às ruas protestando contra.a incorporação do Ministério da Cultura ao MEC na condição de secretaria (neste particular, Temer foi sábio e objetivo em chamar para a rédea curta a galinha dos ovos de ouro). O vocalista Humberto Gessinger, da banda “Engenheiros do Hawaii”, recebeu R$ 1.004.849,00 para fazer um DVD comemorativo de seus 50 anos de idade. Até a filha da milionária Luíza Trajano, dona do “Magazine Luíza”, foi contemplada com 512 mil reais para publicar um livro de receitas. Com mais de vinte obras publicadas, eu nunca quis me valer dessas mamatas. O jornalista Zarif Zarife, estudioso do assunto, lembra que a lei existe há 24 anos, mas nestes últimos treze anos de petismo virou fonte de dinheiro fácil para gente famosa. Como o saco da ganância não tem fundo, raramente os eventos como as apresentações de cantores populares e atividades culturais têm entrada gratuita, apesar da dinheirama recebida. É o contribuinte pagando para assistir ao que ele já pagou. É dinheiro a rodo, fluindo fácil, sem retorno nem fiscalização, enquanto não há recursos para a saúde, a educação e pesquisas essenciais para o país. Em 2015 o governo cortou 30% da verba para as universidades federais, mas deu 9% de aumento para o Bolsa Família e “torrou” perto de 50 milhões com festividades e homenagens em 2015. Enquanto os famintos lotam as ruas descontentes com as migalhas que sobram da mesa dos poderosos, os intelectuais e artistas não vão às ruas em busca de reivindicações, mas buscando deixar aberta torneira que sustenta seus projetos pessoais. Essa vergonha tem que acabar.

Genaro Faria -   21/05/2016 07:37:59

Sem a menor preocupação de primar por preservar as normas do jornalismo, que já foram para o espaço junto com tantas e quantas outras regras muito mais importantes, eu diria que a produção cultural do Brasil é um lixo. Em todas as áreas pelas quais ela se expresse. Até na música e no futebol, que não faz muito tempo nos orgulharam. Com os nosso tributos, sucessivos governos têm financiado a cultura que só divulga para o mundo um país devastado pela miséria, pela corrupção endêmica e pelo atraso cultural. Nem se diga que se trata de arte. Trata-se, isto sim, de propaganda de péssima qualidade a serviço de uma ideologia nefasta que nosso povo repele. Qual escritor, poeta, pintor ou escultor esbravejou nas ruas contra a reforma que reuniu os ministérios da educação e da cultura? Eu não vi nenhum. O que vi foi uma pletora de atores de um cinema que nem brasileiro assiste, e seus cineastas que só recebem o patrocínio oficial, estatal, porque ninguém é tão louco de apostar num fracasso anunciado de bilheteria. Mas o que vale na politica é ocupar o maior espaço possível na mídia e provocar agendas que, embora passem ao largo das questões nacionais mais relevantes, repercutam como prioritárias. E nesse mister não há quem seja melhor do que eles na arte de iludir. É a sua especialidade. Nós podemos passar muito bem sem eles. Que nos fizeram tanto mal. Intelectual e artista que defende um governo é como sindicalista que defende uma empresa. São pelegos. Sua função é a de contestar. Como é a de todo partido que não participe de um governo. Só assim é que funciona uma democracia. Tudo dentro dos limites da decência, é claro. Que o PT jamais observou. Nunca respeitou. O título deste seu artigo que comento, Professor Puggina, pronuncia uma realidade que deveríamos ter denunciado antes que o PT nos remetesse a esta calamidade da qual não sairemos tão cedo. Mesmo fazendo os maiores e piores sacrifícios. O Brasil está quebrado e sem credibilidade. É inevitável, eu repito, inevitável que voltemos ao abrigo do FMI. De chapéu na mão. Esta não é uma visão pessimista. o contrário, ela é realista e otimista. Eu continuo acreditando que os culpados desta catástrofe deliberada serão punidos pelos crimes que eles cometeram contra a nação. O povo brasileiro.

Lieden Laite -   21/05/2016 01:48:38

Excelente artigo. Mas deixo uma ressalva: numa postagem, segundo a origem mencionada como oficial, Maria Bethânia usou somente recursos próprios e recusou o dinheiro liberado pleo Governo. Não há explicação da recusa, ficaram subentendidas no texto compartilhado por várias pessoas na internet.