• Percival Puggina
  • 28/11/2016
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MORREU O GRÃO-SENHOR DA SENZALA

 

A "revolução" cubana me despertou tanta curiosidade que um dia, em 2001, resolvi conhecer a ilha dos Castro. Supunha que o comunismo, essa ideologia funesta, estivesse com os dias contados e visitar Cuba era o modo mais econômico de ainda ver de perto uma sociedade sob tal regime. Ao retornar ao Brasil, as pessoas com quem conversava sobre a viagem me pediam que colocasse as observações num livro. Assim, voltei a Havana no ano seguinte para colher subsídios e escrever "Cuba, a tragédia da utopia", publicado em 2004. Nessa viagem, após cometer a imprudência de telefonar, contatar e encontrar-me em público com vários dissidentes, pude experimentar e compartilhar, com eles, o temor, a insegurança e a sensação de viver sob vigilância de um Estado totalitário. Fui seguido, filmado e, por via das dúvidas, busquei (inutilmente, aliás) proteção da embaixada brasileira, já então sob orientação petista. Continuei acompanhando a vida cubana através de correspondentes. Voltei de novo em 2011 atualizando observações e dados para uma edição ampliada do livro de 2004, em fase final de redação.

Há, em minha biblioteca, dezenas de livros sobre Cuba. Desde os primeiros, escritos ainda em 1960 por jornalistas e membros do mundo acadêmico de esquerda norte-americano, até os mais recentes, de autores que serviram pessoalmente a Fidel Castro como membros do serviço secreto ou segurança pessoal. Mas não se engane, leitor. A maior parte da bibliografia é laudatória. Visa ao proselitismo. Pretende convencer que o regime é muito bom; o resto do mundo é que não presta.

Quem conhece a realidade local sabe que o povo da ilha, faz tempo, jogou a toalha da esperança no tablado da luta cotidiana. Ninguém mais acredita no governo, no regime, ou em dias melhores. Ninguém, fora da nomenklatura, crê que possa haver refeições satisfatórias além da cada vez mais subnutrida libreta de racionamento. Depois de quase seis décadas de semeadura de ódios aos ianques, o maior anseio e único horizonte da população é o retorno deles com suas verdinhas e seus empreendimentos, soprando ares de liberdade.

Estes momentos que seguem à morte do tirano proporcionaram um novo alento à propaganda comunista no Brasil. A mesma mídia que chorou a eleição de Trump aproveitou o embalo e ofereceu compungidos e afetuosos necrológios a Fidel. Dir-se-ia que certos jornalistas tinham perdido o vovô, velhinho bom, que dedicara a vida ao ideal da sociedade igualitária. Uma hipocrisia descomunal! Nestes tempos de internet, todos sabem que Fidel, desde que chegou ao poder, viveu como um nababo; que se apropriou de uma ilha, Cayo Piedra, onde construiu um paraíso particular (e não diz que é de um amigo dele); que tinha várias residências com diferentes mulheres; que sua despensa sempre foi abastecida das melhores iguarias que o dinheiro pode comprar. Quem descreve com mais detalhes e credibilidade os requintes da cozinha de Fidel Castro (num país com mais de meio século de racionamento) é o irrequieto frei Betto, em "O Paraíso Perdido". Nessa obra, cada capítulo conta algo de sua atividade como intelectual revolucionário itinerante e dos lautos banquetes com que se nutria para essa faina. Muitos deles, sentado à mesa farta do carniceiro do Caribe.

Então, leitor, morreu um ditador, serial killer, hipócrita. Por lógica intrínseca, irrecusável pela razão e pela visão em todas as suas experiências, igualitarismo é o formato que tomou a escravidão no século XX. Os membros da elite política do partido único são os novos senhores dessas poucas senzalas nacionais ainda remanescentes em desditosas nações contemporâneas.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Marisa Van de Putte -   03/12/2016 19:27:51

Bom ...eu creio que a morte desse "homenzinho" aconteceu num momento em que Obama foi "Knockout" pela vitoria do Trump e de uma maioria republicana.O legado do Obama entrou pelo cano.Evidentemente os liberais esquerdistas americanos tudo farao para cobrirem as miserias causadas por Fidelito aos cubanos e ao mesmo tempo estradularem uma realidade inexistente em Cuba.Nunca em 44 anos que vivo na America presenciei tal cobertura dada pela midia Americana com agora estao dando a Cuba.A hipocrisia da esquerda e um fato que precisa de ser combatido com vigor para evitar que nossos jovens sejam usados e abusados.

susana -   02/12/2016 00:25:09

"Segundo Aécio Neves, Fidel Castro foi um homem incrível, cheio das melhores intenções, que apenas errou no método. E pensar que eu torci pela vitória dessa besta na eleição contra a anta." Fábio Blanco

Marco Justino -   30/11/2016 06:10:51

Aos camaradas: BIFE, ao povo e operariado: BUCHO!!!!!

Paulo Onofre -   29/11/2016 18:12:39

Senhor Puggina. Parabéns e obrigado pelo seu texto. Parece que o Todo Poderoso resolveu amenizar a vida sofrida dos habitantes da maior ilha-presídio do mundo. A morte do tirano sanguinário, aliada à eleição do Presidente Trump nos EUA, vai acabar com o acordo esquerdopata que vinha sendo tramado por obama e pelos irmãos castro, e que visava a manter amordaçado e escravizado por mais sessenta anos o povo cubano, e enriquecer a quadrilha que comanda a tal ilha-prisão. A solução para Cuba, agora, é derrubar o regime tirânico que perdura desde 1959, e promover a real democratização daquele país. O povo cubano merece!

G G Oliveira -   29/11/2016 11:57:49

Os homens ofendem os lobos quando dizem que são : Lobos de sí mesmo. Na verdade , nos vampirizamos, e enquanto houver sangue queremos sugá-lo ; somos assim os piores pesadelos de nós mesmos. Fidel é a comprovação de que, o comunismo , socialismo e outros ismos, não sobrevivem sem um ditador e que por mais gentil que pareça, não aceita ser contrariado. Hitller, Stalin , Mussoline , Pol pot e muitos outros fizeram parte desse lado escuro da humanidade. Sem esquecer : Drácula , o empalador.

maria do carmo beal martins -   28/11/2016 22:22:22

Adoraria ler o livro que o senhor que, foi meu professor na PUC, escreveu sobre a realidade de Cuba. Tenho lido alguma coisa mas, quero aprofundar. Vou comprar os livros sugeridos. Vamos ver o que vai acontecer? Obrigada pelas dicas. Acredito que todos interessados no assunto devem ler. Eu quero mais que ler, quero estudar. Boa Noite Maria do Carmo

susana -   28/11/2016 17:02:06

Da mesma forma, surpreenderam-me os dirscursos de governantes e outras pessoas públicas com referência à morte de Fide. A palavra é esta: hipocrisia. O único que falou a verdade, sem meias palavras, foi Donald Trump.

Genaro Faria -   28/11/2016 16:09:39

As condolências ao povo cubano e manifestações de estima e grande admiração por ocasião da morte desse psicopata que executou, amordaçou e continua escravizando os cubanos me provocaram vômitos. O aforismo "igual a porco, que só nos dá lucro depois de morto", aplica-se perfeitamente ao mais rico e maior latifundiário do planeta. É que sua morte revelou, com a mais cristalina clareza, aqueles que têm dignidade para com os nossos semelhantes e respeito à memória das milhares de vítimas da decrépita ditadura castrista. Não me refiro, é claro, àqueles que manifestaram pêsames ao governo ditatorial de Cuba por mera formalidade restrita ao protocolo diplomático. Falo de gente como FHC, José Serra, Aécio Neves e outros que sequer precisariam publicar seus vergonhosos pesares. Mas é como se diz: um gambá cheira o outro.

sanseverina -   28/11/2016 15:32:14

Sobre a morte de Fidel Castro muitas pessoas da elite política e intelectual do mundo se sentiram obrigadas a dar declarações. Os que, por aqui, se dizem da direita criticam o pronunciamento de Obama, talvez mais por obrigação e por oposição à do Trump, certeira. Sejamos imparciais: Obama apenas constatou os fatos, foi inteligente, neutro e diplomático, em cima do muro com classe: disse que o povo cubano está sob “emoções poderosas” e que o ditador “alterou o curso das vidas individuais, da família e da nação cubana”, mas não afirmou se os sentimentos ou os atos foram positivos ou negativos. Um pronunciamento comme il faut, de um chefe de Estado que não quer e não pode se comprometer. Coisas da política. O Temer também se saiu bem. Já Lula, a Impichada, Marina da Selva e Renan (ô cara, abriu a boca pra quê?) e FHC são puro baba ovos... do ex-Coma Andante. BLEARGH!

Karla -   28/11/2016 14:47:04

Brilhante!

Anicio de Oliveira -   28/11/2016 14:41:44

Prezado Puggina, desde que soube da morte dele por um aluno meu fiquei longe de todos os noticiários (inclusive os sites) da grande imprensa porque sabia que iria ser assim. A verdade é que o povo não está nem aí pra isso estão mais preocupados com usa vida.