• Percival Puggina
  • 08/08/2021
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MEU PAI ERA UM CONSERVADOR E EU O BENDIGO TAMBÉM POR ISSO

 

Percival Puggina

 

Viajava fazendo companhia a meu pai. Campanha eleitoral, em tempos de estradas de chão. A faixa de rodagem era estreita e um pesado caminhão seguia à nossa frente levantando uma nuvem de poeira. Eu exclamei, enquanto comia o pó que entrava pelas frestas da velha Rural Willys: “Pai, buzina para que esse chato chegue para o lado e nos deixe passar!”.  Resposta daquele político que seria eleito quatro vezes deputado estadual, veio com sabedoria nutrida em boas fontes: “Meu filho, ele não chega para o lado porque não tem ‘lado’ suficiente para isso. Quanto a ser um chato, lembra-te de que é ele e tantos outros como ele que fazem circular a produção e os alimentos de que todos precisamos”.

Dessas viagens ficou-me na memória este outro ensinamento: “Observa as mãos desses homens e mulheres com quem vamos estar”. Com um sentimento de curiosidade e, depois, de admiração, apertei pela primeira vez, mãos realmente calejadas, dedos engrossados pelo forcejar nos primitivos instrumentos de trabalho.

Com isso, estou dizendo que aquele homem que dedicou parte da sua vida à política em sucessivos mandatos de deputado, tinha enraizado em si um profundo respeito pela pessoa humana e sua dignidade. Era um modelo de conservador, um modo humanista de ser que aprendeu no volumoso livro dos acontecimentos de seu tempo. Sem dúvida, enriqueceu essa experiência com as responsabilidades de educar sete filhos, quatro homens e três mulheres.

Valores morais lhe saiam da boca e dos exemplos cotidianos. A liberdade devia ser sócia vitalícia da responsabilidade e isso trazia consequências naquele minúsculo e sagrado recorte da vida social.

Ordem, disciplina, carinho, amor. História e estórias contadas perto da lareira, jogos de cartas em que se disputavam palitos como fortunas. Amor aos livros e aos autores, à música e aos compositores, a Deus e suas obras. Lembranças de uma vida exemplar que moldou nosso modo de ser.

Foi por vê-lo escrevendo sobre economia para os jornais de Porto Alegre e minha mãe declamando suas poesias repletas de amor que, também, eu, cuidei de me tornar, tanto quanto possível, um cronista das minhas próprias horas. Ao proclamar aqui minha admiração por Adolpho Puggina eu o abraço no peito e presto homenagem, também, aos pais que me leem nestas linhas.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Armando Andrade -   14/08/2021 08:56:35

Pai, que nome que nos enche de orgulho e sabedoria. Meus quae 84 ainda vêem aquele jornalista sol a sol na direção da secretaria do jornal A Noite lidando, dia a dia, lidando com fatos e a valorosa equipe que está nos céus. Enaltecer o pai é difícil para muitos que sequer viram os pais se ergueram na lide dos escritos. Resta a imagem do pai herói, amigo e companheiro. Parabéns a todos!

carlos edison domingues -   13/08/2021 10:14:08

PUGGINA ! Lembro-me de seu pai; com a seriedade e responsabilidade, pelo que dizia e fazia. Minha bandeira, do Partido Libertador- distintivo que voltei a usar na lapela do meu casaco- tinha a orientação de Raul Pila, acompanhado por Mem de Sá, Edgar Schineider, Coelho de Souza, Brito Velho e Paulo Brossard no Congresso Nacional Nacional; Solano Borges, Braga Gastal e Gudbem Castanheira na Assembleia Legislativa; entrelaçados, ideologicamente, com Adolpho Puggina. Este passado nos orgulha e realimente nosso entusiasmo. Carlos Edison Domingues

GUSTAVO BARCELLOS PUGGINA -   12/08/2021 21:09:05

Muito legal!!!

Eduardo -   10/08/2021 15:04:39

Parabéns, Professor, por honrares a dignidade e os ensinamentos de teu pai. É um grande desejo que todo o pai tem para os seus filhos.

Manoel Luiz Zatar Bailet Candemil -   10/08/2021 14:45:21

Excelente mensagem! Pai sabido e feliz é aquele que consegue obter sucesso profissional mantendo como função primordial o contato com a família e a educação dos filhos!

NILO RODRIGUES DE MATOS JUNIOR -   09/08/2021 15:55:48

Que texto majestoso, pois pleno de reconhecimento de dignidade,, de respeito e de amor, Dr. Puggina. Forte Abraço, Muita Saúde e ... Muito Obrigado, por nos trazer tantas coisas de memórias boas, de valores bons ...

Menelau Santos -   09/08/2021 14:04:50

Lindas palavras Professor. Eis o que falta em nossos tempos, além das palavras vazias da nossa classe falante: o exemplo; que é o que seu maravilhoso pai lhe deixou. E o Sr. o honra com sua dedicação aos bons textos que nos brinda. Parabéns pelo dia dos pais.

Rogerio luciano neves -   08/08/2021 22:45:34

Gostaria muito de conhece-lo pessoalmente... Grande admiração por suas palavras....forte abraço sr. Puggina

Avanir Ramos Barros -   08/08/2021 20:15:30

Ótimo texto Puggina, um tempo em que a família era tida como a Célula Matter da sociedade. Ótimos tempos.

Adolfo Puggina -   08/08/2021 19:53:04

Que lindo Vai. Lá em cima o pai deve ter se emocionado

José Braz Catalano -   08/08/2021 11:04:10

Obrigado Sr Percival, também sou um pai que recebeu os mesmos exemplos de honestidade e valores morais, hoje por muitos tão relegados. Sou feliz por meus filhos partilharem os mesmos sentimentos e tenho que certeza que Deus recebeu nossos pais em sua glória eterna.

Rogério Viana -   08/08/2021 10:43:31

Tocado pela mensagem, a devolvo por seres merecedor. Gratissimo pelo seu compartilhamento. FELIZ DIA DOS PAIS !