• Percival Puggina
  • 22/01/2015
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MENTIRA, DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO

Em setembro de 1980, a jornalista Janet Cooke trabalhava na seção de temas "Semanais" do Washington Post, onde, para ingressar, inflara significativamente seu nível de formação profissional. Nessas condições, ela escreveu um artigo - "Jimmy's World" - no qual relatou a surpreendente história de um menino de oito anos que se tornara adicto à heroína, levado a isso pelo namorado da mãe. A história teve enorme repercussão. Enquanto ela "preservava sua fonte" (o caso inteiro era uma invenção), as autoridades se empenhavam, inutilmente, em procurar pistas que levassem à criança. Dentro do próprio jornal surgiram dúvidas sobre a veracidade do relato. A direção, porém, bancou a funcionária e sua matéria. Candidatou-a ao cobiçado "Pulitzer Price for feature writting" (textos de especial interesse humano). Eram negros, o menino, o namorado da mãe, a mãe e a jornalista. O principal postulante do prêmio para a autora de Jimmy's World dentro da comissão de seleção era um militante negro, interessado em revelar aos brancos a realidade das drogas na comunidade negra.

Janet Cooke ganhou o mais cobiçado troféu do jornalismo norte-americano. Só foi desmascarada, dias após, porque a divulgação de seu perfil profissional fez com que a universidade onde obtivera o bacharelado suspeitasse de que tudo mais que ela dissera de si mesma era falso. E a teia das mentiras foi se rompendo. O Post divulgou o que ficara sabendo, extraiu a confissão da moça, e pediu a retirada do prêmio.

Pois bem, existem mentiras de todo tipo, mentiras piedosas, mentiras avulsas. Existem, também, como no relato acima, mentiras que envolvem compromissos. Estas últimas são construídas dentro de uma rede de solidariedade. Precisam de apoios. Precisam de quem as repita e de quem as referende.

Agora, passo ao Brasil. São mentiras assim que estão em curso no nosso país, já há bom tempo. Graças a elas, a Nação é empacotada como besouro colhido em teia de aranha. Usadas como instrumento da política, essas mentiras são multiplicadas graças à teia de solidariedade entre interesseiros mentirosos, que acabam envolvendo nela a nossa liberdade e a nossa vitalidade como indivíduos e cidadãos. Os compromissos firmados em torno das mentiras paralisam a Nação. Não esqueçamos: a aranha tem objetivo final bem conhecido em relação à sua presa.

Poderíamos usar a fórmula e a cadência de certos preceitos mágicos incluídos na Constituição Federal e afirmar que, aqui no Brasil, a mentira é direito de todos. E dever do Estado. De fato, nossa legislação protege o mentiroso. E ninguém mente mais à Nação do que o Estado. Durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma mentia para trás, vangloriando-se de inexistentes realizações e conquistas dos governos petistas. Mentia para a frente, anunciando um futuro brilhante para o próximo quadriênio. Atribuía, falsamente, intenções perversas a seus opositores. Essas mentiras eram repetidas, país afora, por uma rede de multiplicadores formada por milhões de ativistas.

Findo o pleito, mantida a cadeira e a caneta, a presidente passou a fazer nada do que havia prometido. E foi adiante. Jogou inteiro sobre a sociedade o saco de maldades que, durante a campanha, ela mesma se encarregara de pendurar nas costas de seu adversário. Mesmo assim, são poucos, muito poucos, os que erguem a voz para denunciar que caímos numa rede de mentiras ante as quais nada podemos fazer porque, como disse, no Brasil, a mentira é direito de todos. E dever do Estado.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 


GIANFRANCO -   26/01/2015 23:43:22

Na campanha eleitoral não precisava gastar tanto dinheiro com o ilustre marqueiteiro. Bastava se lembrar do que ensinava o mestre Lenin (= formula-chave da propaganda marxista-leninista): "acusa os adversarios daquilo que tu mesmo faz (ou ira fazendo)"

José Rudi Schnorr -   25/01/2015 18:01:39

Infelizmente, a mentira é um direito de todos e dever do Estado. Nunca um candidato mentiu tanto numa campanha eleitoral, quanto a candidata do PT Dilma Vana Rouseff. Era flagrante as mentiras que ela produzia que o mais humilde trabalhador deste país relutava em acreditar. Eu pessoalmente, acho que houve fraude eleitoral, tanto no campo político, no campo social e também na apuração dos votos.

Gustavo Pereira dos Santos -   24/01/2015 22:18:34

Em tempo, noves fora o Joaquim, o Ministerio da ANTA é composto por ladrões, like Eliseu Quadrilha, papagaios da mentira institucionalizada, like Eduardo Braga, e militantes obedientes, like Cardozo e Mercadante. By the way, recordemos o Latim: O vocábulo"maestro" vem do latim "magister" e este, por sua vez, do advérbio "magis" que significa "mais" ou "mais que". Na antiga Roma, o "magister" era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações. Por exemplo um "Magister equitum" era um Chefe de cavalaria, e um "Magister Militum" era um Chefe Militar. Já o vocábulo "ministro" vem do latim "minister" e este, por sua vez, do advérbio "minus" que significa "menos" ou "menos que". Na antiga Roma, o "minister" era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso. COMO SE VÊ, O LATIM EXPLICA PORQUE QUALQUER IMBECIL PODE SER MINISTRO DA ANTA... MAS NÃO MAESTRO.

Ismael de Oliveira Façanha -   24/01/2015 19:40:30

É VERDADE, digo, são mentiras; vamos ver se o ibope de Dilma não vai murchar nas próximas pesquisas de opinião, - afinal a economia brasileira está resvalando para o despenhadeiro da fome; e daqui para a frente, em razão disso, tudo vai piorar, - só a criminalidade vai crescer, e geometricamente, em nosso País.

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   24/01/2015 12:51:59

Pura e triste realidade, professor. No entanto, convém lembrar um componente da engrenagem, que tem sido fundamental para o "bom" funcionamento desta perversa máquina estatal: a própria ação ou omissão das forças oposicionistas, sobretudo daqueles partidos conhecidos tradicionalmente como de direita, ou que pelo menos representam aquilo que gostaríamos de assim poder chamar. Como sabemos, existem entre eles os que aderiram totalmente ao governo petista, aqueles que se dividem por regiões e os que, mesmo se intitulando como de oposição, não defendem uma proposta, de fato, contundente à plataforma marxista, ardilosamente construída. Da totalidade dos parlamentares que integram estes partidos, é sabido por nós, há um pequeno grupo que age desta maneira por verdadeira falta de escrúpulos. O que realmente lhes interessa é levar vantagem nessa história toda. Porém, a maioria deles (acredito eu) é composta de gente honesta, sim. E, portanto, dentro desta minha interpretação, nossos edis não sofrem de falta de princípios éticos e morais. O que está lhes faltando é formação política, mesmo. É notório que as lideranças de direita, há muito vem abdicando da prerrogativa de fazer política no campo ideológico. Se ainda existem traços relevantes de conservadorismo na sociedade é por que ela os mantém espontaneamente, ou derivam de ações políticas em tempos remotos. Sendo assim, o que podemos esperar de quem se elege representando estas siglas? Desconfio que a única orientação recebida por nossos deputados, eleitos pela primeira vez, é quanto ao regimento parlamentar além, é claro, das "aulas" de seus colegas esquerdistas. Diante de tudo isto, cabe perguntar: é tão errado assim, um de nossos representantes "aliviar" para a situação, diante da possibilidade da negação de uma "valiosa" emenda parlamentar que, aliás, é a única ferramenta de ação política que provavelmente ele saiba utilizar? Finalizo, perguntando: É cabido a nós, de direita, cobrar de alguém uma postura em relação a compromissos que ele jamais assumiu ou sequer sabia da existência? Podemos esperar que seja vista como justa por nosso representante, por conta de nossa visão política e ideológica (que lhe é estranha) qualquer tentativa de tirá-lo do caminho do "politicamente correto"?

Dalton Catunda Rocha -   23/01/2015 18:55:16

"Santana faz pouco da ideia, comum entre marqueteiros, de que em campanha, "quem bate, perde". Para ele, "perde quem não sabe atacar". A frase era dirigida ao candidato tucano Aécio Neves e seu marqueteiro, Paulo Vasconcelos, que a seu ver fez "uma das campanhas mais medíocres que o Brasil já viu"." "Um dos destaques do livro é a estratégica reunião da campanha petista no Hotel Unique, em São Paulo, em setembro passado, em que se aprovou o devastador ataque que triturou a candidatura de Marina Silva. Ela assustava "porque corria solta, intocável", disse Santana a Dilma, ao ex-presidente Lula, a Aloizio Mercadante e a Rui Falcão. A saída era ir para o confronto e "antecipar o 2.º turno". Todos eles concordaram. Uma das armas da Santana, dias depois, foi a polêmica peça em que a comida sumia da mesa dos pobres se Marina vencesse - e se, com ela, a ortodoxia voltasse à economia. Santana refuta todas as críticas de que ali ele passou do ponto. "Se houve exagero, permita-me a presunção, foi de qualidade fílmica e criativa". Ele provoca: "Por que não responderam à altura, não provaram que era mentira?" Sua avaliação é que os rivais sofriam de "pobreza teórica, lerdeza técnica". " > http://atarde.uol.com.br/politica/noticias/1654707-em-livro-marqueteiro-defende-ataques-da-campanha

Gustavo Pereira dos Santos -   23/01/2015 16:15:57

Dr. Percival, Acho que me tornei um besouro. Minha vida está se tornando difícil, um verdadeiro inferno. Nasci branco, o que faz de mim um racista. Não sou comunista nem voto com a esquerda, o que faz de mim um fascista e um reacionário. Não sou sindicalizado, o que faz de mim um traidor da classe operária e um aliado dos patrões. Sou hétero, o que faz de mim um homófobo. Tenho mais de 65 anos, o que faz de mim um idoso especial, um deficiente mesmo. Prezo minha identidade e minha cultura, o que faz de mim um xenófobo. Gosto de viver com segurança e de ver os ladrões (principalmente os do dinheiro público) na cadeia, o que faz de mim um adepto da Gestapo. Considero que a defesa do País concerne a todos os cidadãos, o que faz de mim um militarista. Gosto do ideal cristão e do esforço de superação de si mesmo, o que faz de mim um retardado social e um chato. Não sou Flamengo, o que me transforma em qualquer coisa, menos um carioca, digno de ironia e escárnio. Agradeço, pois, a todos os amigos que ainda ousam se dar comigo, apesar dos meus numerosos defeitos !!!!! Um abraço, Gustavo.

Célia -   23/01/2015 15:41:58

Obrigada, Professor, por nos permitir continuar acreditando no Brasil. Seus textos nos dão conta de que não estamos sozinhos, que nem todos os brasileiros tiveram roubados seu caráter e sua alma (parabéns a Genaro Faria, 23.01, por seu lúcido comentário ), apesar de tudo.

Genaro Faria -   23/01/2015 11:03:41

Quando vemos a Rede Globo mentir descaradamente, em editorial televisivo divulgado em horário nobre para todo o país, sobre a sua participação em apoio ao regime militar, qualquer comparação com o órgão de imprensa americano é covardia. Aqui, toda mentira será premiada. E quem não participa da orgia bolivariana é acoimado como foi Lot em Sodoma. O PT de Lula e trabalhadores do tráfico de influência - ditos consultores - roubou a alma e o caráter dos brasileiros. E levou a Petrobras, a Eletrobrás, os Correios e o mais que der para se apurar de lambujem. Até os índios deram mais trabalho aos conquistares lusitanos.

Odilon Rocha -   23/01/2015 01:41:47

Prezado Professor Puggina E a nossa presidente por aí, escondidinha, que nem criança que aprontou e está com medo de encarar os pais. Um lixo moral de atitude! É de uma imoralidade que deixaria o melhor dos filósofos gregos atordoado. A pacatez do nosso povo, gado, é assustadora, e digna de estudos sérios em Psicologia. Não posso afirmar se encontrarão respostas satisfatórias, ou, então, na 'melhor' das hipóteses, vão mentir. Viu, só! Abraço

paulo de carvalho filho -   23/01/2015 01:00:09

Infelizmente a grande mídia é que sustenta a mentira, é a formadora da opinião da grande massa, e também de muita gente diplomada por aí, mas eu acredito que com a internet e os modernos meios de transmissão de informação essa hegemonia está sendo quebrada, apesar de ainda estranhamente prevalecer e ser aceita como "verdade" a noticiada pelos grandes meios de comunicação, como se ficasse impresso na mente das pessoas, pois elas ainda acreditam, por exemplo, que jamais o William Bonner iria lhes falsear uma notícia ou deixar de mostrar algo importante! Isso está sendo mudado aos poucos, e é preciso que a grande mídia seja continuamente desmascarada, mostrando que está sendo financiada com verbas públicas, no mínimo, para esconder a verdade dos brasileiros! Continuo acreditando que a Dilma perdeu os debate para o Aécio, e também perdeu as eleições, pelo poder das redes sociais, mas também pela gritante diferença ao vermos os dois lado a lado expondo suas idéias, a mentira vs a verdade!