• Percival Puggina
  • 19/02/2019
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MARIGHELLA, WAGNER MOURA E A DISTOPIA

 

 Semana passada, num voto que antes da metade já está sendo classificado como “histórico” por figurinhas do recinto, Celso de Mello, ministro do STF, foi na esteira de Simone Beauvoir para sustentar que não se nasce mulher. Tudo se passaria, creio, como se a linda e cobiçada fêmea da nossa espécie viesse ao mundo com o destino dos pés de couve, pronta para ser cozida, gratinada, frita, ou flambada. Feita ao gosto da freguesia. Agora, inteiro-me sobre o filme que Wagner Moura rodou exaltando Marighella e isso ajudou a fixar, em mim, a ideia de que há uma distopia convivendo conosco. Utopia já é coisa complicada. Utopia pelo avesso, então...

 Entendam-me. Wagner Moura pode filmar a história que quiser. Eu exercitarei minha liberdade de não assistir. Pode fantasiar quanto entender sobre esse terrorista, autor do Minimanual do Guerrilheiro Urbano. Pode apresentá-lo branco, negro ou ruivo, como lhe convier, que eu não me importo. Esquerdistas de meu convívio explicaram-me que isso não é desonestidade intelectual, mas “liberdade de criação artística”. Meu espanto é que denotaria preconceito. Tudo isso me falaram enquanto conversávamos, eu no meu quadrado e eles ali, à porta de sua distopia.

 Quando reconhecemos o que estou descrevendo, que muitos brasileiros vivem num mundo imaginário, etéreo, desconfigurado, os contornos da realidade se alargam. A gente começa a entender por que o auditório de Wagner Moura, distante 10.572 quilômetros da carceragem de Curitiba, ecoou frases de ordem por Lula livre, por que Jean Wyllys foi a Berlim e por que era imperioso mencionar Marielle Franco. Graças à distopia, a OAB é contra Sérgio Moro e os ministros do STF fazem o que fazem. Ela também permite entender o motivo pelo qual crimes praticados por bandidos reais são minimizados pelos mesmos políticos e magistrados que buscam criminalizar a incivilidade de cidadãos comuns, posto que efetivos crimes motivados por preconceito, crimes já são.

A distopia, espreitando à sua porta eu vi, funciona como um grande ventre moedor da história. A tragédia que a esquerda brasileira produziu no Brasil vira um sonho de liberdade que morreu na eleição de outubro passado. É a tristeza imensa das bandeiras vermelhas! Entram fatos e saem símbolos, aqueles são digeridos para que estes sejam produzidos. Mundo afora, milhões de cadáveres são incinerados no anonimato para que uns poucos, os escolhidos, sirvam aos poderes distópicos. Por isso, o filme Trotsky os incomodou tanto, como escrevi em “Trotsky, por que os comunistas detestam o filme”. Bibliotecas inteiras ganham a lixeira do desprezo para que raros fatos, também eles escolhidos, trabalhados na ourivesaria das versões, se convertam em discurso, aula, sermão, vídeo, slogan e filme (sempre à custa de quem vai ser enganado por tais peças).

Na mesa dos acontecimentos, sabe-se que todas as dezenas de organizações que atuaram na clandestinidade contra os governos militares, entre elas a ALN de Marighella, lutavam pela instalação no país de um regime comunista cuja vitória era buscada com instrumentos de guerrilha e terrorismo. As palavras democracia e liberdade, hoje tão apaixonadamente pronunciadas quando há referências ao período, eram solenes ausências, desprezíveis plataformas burguesas que não apareceram sequer quando os sequestradores do embaixador norte-americano obrigaram o governo a autorizar a leitura de um manifesto em cadeia nacional de rádio e TV. Uma oportunidade de ouro para afirmar compromissos com democracia e liberdade! No entanto, nenhuma dessas palavras é mencionada. O longo texto só fala em luta, assaltos, guerra e violência revolucionária.

Por isso, nunca houve o mais tênue apoio popular às organizações guerrilheiras e terroristas que hoje produzem esses memoriais distópicos de realidades e motivações que nunca existiram. Não é por acaso que o regime cubano sempre foi referência e que, mesmo depois de criar o inferno na Venezuela, o “bolivarianismo” permanece no altar das devoções.

 

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


VITORIO PEROZZO -   24/02/2019 14:27:02

Bom dia amigo PUGGINA. É com grande prazer que leio os teus artigos nos domingos e tiro as minhas conclusões,pois comungo do mesmo pensamento e procuro divulgar entre os meus amigos estas teses.São exelentes para REFLEXÃO.Tenho conseguido bons resultados abrindo algumas mentes blindadas.PARABÉNS E UMA BOA SEMANA.

Pedro Paulo Chevrand -   22/02/2019 15:51:35

Parabéns Puggina por mais este excelente texto que revela profunda percepção e avaliação dos fatos, desmascarando mais ainda a súcia esquerdista. Um abraço .

Aline -   20/02/2019 16:42:29

Muito bom texto!

Dalton C. Rocha -   19/02/2019 21:00:48

Não basta derrotar militarmente uma gangue terrorista, com tiros e algemas. Tem de se impedir que as ideias do terror, se tornem dominantes na política, depois. Como exemplo disto, nós teríamos os exemplos da derrota das Brigadas Vermelhas, na Itália, que foram formadas, no mesmo tempo em que o terrorismo marxista atacava no Brasil. As Brigadas Vermelhas italinas não foram só derrotadas militarmente; elas foram derrotadas militarmente e depois, também extintas politicamente. O mesmo pode ser dito sobre o SLA (Symbionese Liberation Army) nos Estados Unidos, a Gangue Baader-Meinhof na então Alemanha Ocidental, etc. Todos eram movimentos marxistas violentos e foram derrotados militarmente e depois, completamente extintos politicamente. Naquela mesma época, não foi o que aconteceu, com os movimentos marxistas do Brasil e Argentina, que foram tão facilmente derrotados militarmente, pela polícia e militares, mas se tornaram hegemônicos politicamente, sem dar um tiro, logo depois. Assim, o terrorismo é mais de 99% guerra psicológica, contra menos de 1% de tiros e bombas. Isto é válido para qualquer tipo de terrorismo, incluído aí o terrorismo islâmico. Na arena militar, aquela dos tiros e das bombas, coisas do gênero terror marxista tais como: Grupo dos Onze, PC do B, VPR, VAR-Palmares, ALN, Molipo, APML, MR-8 e PCBR, foram um completo fiasco. Mataram cerca de 120 pessoas de 1964 a 1985, o que dá uma média de uma morte a cada dois meses, no Brasil do Regime Militar. Em 1969, quando o terror marxista estava no auge, mais brasileiros ganharam na loteria, que foram mortos pelo terror marxista. Numa óbvia comparação, o grupo marxista Montoneros, na vizinha Argentina, apenas em 1975, matou algumas vezes mais gente que todo o terror marxista do Brasil matou, nos 25 anos de 1960 a 1985. Se como guerrilheiros e terroristas, coisas outras do gênero terror marxista foram, um completo fiasco. Por outro lado, os marxistas do Grupo dos Onze, Grupo dos Onze, PC do B, VPR, VAR-Palmares, ALN, Molipo, APML, PCBR, foram um imenso sucesso, no campo da ação psicológica, que é o verdadeiro foco de qualquer terrorismo. Derrotados tão completamente nos tiros, politicamente, eles dominaram totalmente a política brasileira de 1985 a 2018, o que dá 33 anos. Como e por que, as mesmas pessoas tão incompetentes nas lutas reais, bombas e tiros, se tornaram tão poderosos, no domínio político logo depois? É precisamente pelo seu impacto psicológico, em que o terrorismo é mais forte. É nas mentes das pessoas, em que o terrorismo de fato se instala, como um câncer, que daí, domina tudo. É que, como eu disse antes, a luta real, aquela da polícia e dos militares, não representa nem 1% do poder real do terrorismo. A verdadeira fonte de poder do terrorismo é psicológica. Ganhar tal luta psicológica, não é algo que qualquer exército ou polícia sozinhos possa realmente fazer. Tal luta e vitória, na guerra psicológica, contra o terrorismo é algo, que apenas líderes políticos podem lutar e se quiserem, podem também a vencer. Quem duvidar em quanto, que veja em quanto a política do Brasil foi e é dominada pelos guerrilheiros e “terroristas” de outra era, que depois se tornaram "presos políticos". Que depois se tornaram membros de uma (suposta) “resistência democrática”, contra a Ditadura Militar. Que depois viraram anistiados. Que depois viraram heróis nacionais e daí viraram presidentes, governadores, senadores, ministros, etc. Eu não estou dizendo de forma alguma, que terrorismo é algo invencível. O que eu estou dizendo é que terrorismo é, quase exclusivamente, parte de uma enorme guerra psicológica. Após e ao lado da derrota militar do terrorismo, aquela dos tiros e trabalho de policiais e militares, o terrorismo deve ser também eliminado também psicologicamente das mentes das pessoas e eliminado completamente, como força política. Isto depende acima de tudo dos governantes fardados ou não, embora aí adentre a imprensa como força acessória, na eliminação político do terrorismo numa sociedade. Foi isto, aquilo que os americanos fizeram com o SLA, nos anos 1970. Foi isto, aquilo que os italianos fizeram com as Brigadas Vermelhas e foi isto, aquilo que os alemães fizeram com o Baader Meinhof, na mesma década de 1970. Foi isto, aquilo que os militares brasileiros e argentinos não fizeram, nos anos 1980, nem depois. Após e durante a derrota militar do terrorismo, os líderes políticos da nação assolada pelo terrorismo, sejam eles homens fardados ou não, tem a obrigação de eliminar qualquer possibilidade de que o terrorismo, seja uma estrada para o poder da nação assolada pelo terrorismo. Caso isto não aconteça, a política da nação assolada pelo terrorismo, passará num futuro próximo, a ser dominada pelos terroristas do recente passado. Todos eles, pela ação psicológica, devidamente transformados de terroristas, em vítimas. E daí em heróis nacionais. E finalmente, os terroristas do passado serão pessoas poderosas, respeitadas e ricas. Quem conhece um pouco da história do Brasil, nas últimas cinco décadas, sabe daquilo que eu estou falando.

Alfredo -   19/02/2019 17:14:25

Excelente, parabéns pela clareza conceitual. É assim mesmo que essas mentes limitadas aplaudem de pé misérias humanas como Marighela, Mandela, Mujica e tantos outros.

Rita -   19/02/2019 15:05:17

Qualquer pessoa de bom senso deveria boicotar e protestar contra esse filme. Uma vergonha para o Brasil permitir que sua história seja continuamente corrompida, manchando a honra daqueles que lutaram ou morreram defendendo a nossa liberdade.

TELMO A BOTELHO -   19/02/2019 14:31:17

Fico imaginando um filme "documentário"sobre Nelson Mandela interpretado por Miguel Falabella...

FERNANDO A. O. PRIETO -   19/02/2019 13:13:54

Muito bem apresentado o quadro da realidade atual! O mundo (e não apenas o Brasil) está cada vez mais perto de se tornar um modelo de distopia, onde o que menos importa é a verdade, e a idéia de responsabilidade individual é descartada em favor de pseudo-explicações recheadas de "vitimismo" e atribuindo tudo de errado à sociedade, ao governo, à família, à repressão, enfim, a tudo e todos menos ao próprio transgressor... Não podemos saber quando e como isto acabará, mas certamente gerará reações nada pacíficas por parte dos que são, REALMENTE, vítimas disso (a parte trabalhadora e produtiva da população). Peçamos a Deus que suavize e abrevie esse processo, que, tudo indica, será mundial (pois o veneno mental é global) e doloroso...

Heloisa Helena Kruse Grün -   19/02/2019 12:18:08

Ótimo texto. Obrigada.