• Olavo de Carvalho
  • 04/03/2009
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LULA FAZ POL?ICA DE ESQUERDA COM A MÏ DIREITA

3/3/2009 - 22h05 Quando o sr. Luiz In?o da Silva aceitou ser o chefe de um governo de transi? para o socialismo, teria ele plena consci?ia do que isso significa? Governos de transi? revolucion?a s?como preservativos: come? encobrindo a arma do crime e terminam jogados na privada. Lula representou a face sorridente e am?l sob a qual a esquerda ocultava a pesada m?ina de guerra das milit?ias enfurecidas, das tropas de guerrilheiros, das quadrilhas de narcotraficantes e seq?radores, dos bandos de delinquentes comuns adestrados e equipados por t?icos em terrorismo para espalhar o caos nos momentos estrategicamente convenientes. Durante anos, ele administrou com habilidade e prud?ia uma complexa pol?ca de m?dupla, agradando aos capitalistas pelo gerenciamento “ortodoxo” da economia, e aos comunistas pela subvers?sistem?ca dos valores morais e educacionais, pela distribui? perdul?a de verbas at?esmo a entidades criminosas, pela prote? dada a terroristas estrangeiros em atividade no territ? nacional e pelo apoio paternal concedido aos tiranetes de esquerda que, nas na?s em torno, iam brotando como fungos, fortalecidos pela unidade da estrat?a continental do Foro de S?Paulo que ele pr?o fundara e organizara. Que, jogando com dois grupos de aliados incompat?is entre si, prometesse simultaneamente a vit? aos antigos e a prosperidade aos novos, logrando persuadir a ambos de sua integral sinceridade, ?rova de uma duplicidade de car?r elevada ao estatuto de obra de arte, pela qual, abstra? a imoralidade intr?eca da coisa, ningu?deve lhe sonegar admira?. Ora acirrando as contradi?s, ora amortecendo-as com um senso agud?imo do timing e das conveni?ias, sua destreza no manejo da ambig?de chegou ao requinte quase inveross?l de atrair sobre sua pessoa galard?contradit?s, fazendo com que, na mesma semana, fosse homenageado no F? Econ?o de Davos por sua convers?ao capitalismo e no F? Social Mundial por sua fidelidade ao comunismo. Mas ?a natureza do jogo duplo acabar por duplicar-se a si mesmo, articulando ?posi? entre os p? em jogo a duplicidade de ritmos necess?a a administr?os. O governante de transi? quer, afinal, chegar ?eta, apressando sua pr?a remo? ao dep?o de lixo do passado, ou adi?a indefinidamente, eternizando a promessa de mudan?radical e arriscando-se a ser odiado por seus antigos admiradores como aborteiro da revolu?? Nesse ponto, o controle do tempo, que no come?era a arma do sucesso, torna-se ele pr?o um problema insol?. As for? opostas que o pr?o governo p?m movimento j??obedecem ao seu comando: a organiza? militante, acostumada a roubar sob a prote? estatal, reivindica o direito ?r?ca do homic?o pol?co; o Poder Judici?o longamente aplacado pelas homenagens verbais ?ua independ?ia come?a agir como se de fato fosse independente. O presidente da Rep?ca nem pode amarrar as m? assassinas de seus companheiros de ontem, nem tapar a boca do magistrado inconveniente, cansado de ver a lei usada como anest?co do crime. Os otimistas de sempre podem achar que ?ma crise passageira, que o g?o da concilia?, tradi? nacional da qual o presidente tem sabido se aproveitar t?bem, acabar?or encontrar um subterf? inteligente e adiar, uma vez mais, o desenlace do insol?. Talvez tenham raz? O tamanho do territ?, a consist?ia t?e e esparramada da sociedade civil, a incultura geral que predisp? resigna? apalermada foram at?gora os fatores que permitiram ao sr. Lula prolongar no tempo, sem crises nem danos not?is, a sua querida engenharia da procrastina?. Mas a recusa de decidir ?la pr?a uma decis?e, tomada repetidas vezes, acaba por se consolidar num “estado de coisas” aparentemente imut?l, atraindo contra si as mesmas for? de mudan?que, no in?o do processo, aceitaram a concilia? porque esperavam que fosse provis?. Dizem que o ?lo e modelo do sr. Lula ?et? Vargas. Este era, de fato, um artista da indecis? t?ca que consagrou no lema “Deixa como est?ara ver como ?ue fica”. Tamb??erto que por meio desse artif?o logrou articular os incompat?is e, como disse dele o fil?o Jos?rtega y Gasset, “fazer pol?ca de direita com a m?esquerda”. Mas quando sua m?direita se moveu, foi para empunhar o rev?r com que desferiu um bala?contra o pr?o peito. Lula, ao inverso dele, faz pol?ca de esquerda com a m?direita. Corre o risco de enforcar-se com a m?esquerda. Olavo de Carvalho ?nsa?a, jornalista e professor de Filosofia