• Percival Puggina
  • 09/04/2011
  • Compartilhe:

LIÇÕES DA RUA LIMA E SILVA

Zero Hora da última segunda-feira trouxe matéria sobre o que se passa aos domingos, na capital gaúcha, em certo trecho da rua Lima e Silva. Os episódios descritos são rotineiros e antigos. Se o desrespeito à lei não tropeça no rigor daqueles que a devem fazer cumprir, quem se estatela é a ordem pública. Quando os pais chutam o balde de suas responsabilidades, quando tantos religiosos evidenciam maior interesse pela questão fundiária e pela camada de ozônio do que pela salvação das almas, quando escolas e universidades confessionais acolhem professores que atacam a religião da instituição e seus valores, quando a impunidade começa em nome da proteção da infância e da adolescência e termina em prescrição para os marmanjos de gravata, quando a dignidade da pessoa humana é aviltada aos padrões da matilha, a sexualidade é desumanizada e os avoados do BBB são reverenciados como heróis nacionais, facilmente emerge aquilo que se retratou na reportagem de ZH. Deve haver quem, após muito promover o relativismo moral e a libertinagem, tendo debochado de tudo que tem valor e contribuído para a deformação das consciências, considere cumprido ali seu papel e se regozije ante o triunfo da matéria sobre o espírito, essa ficção dos crentes. Imagem e semelhança de Deus? Família? Virtude? Valores? Respeito? Honra? Que papo mais furado! Somos apenas repolhos evoluídos ou macacos que regrediram. Essa epifania da libertinagem fornece lições a outras realidades. A vida civilizada reprova moralmente a promiscuidade e a conduta de quem se concede o direito de exercitar, em nome da liberdade e da não discriminação, a espetacularização de suas fantasias, a propaganda de sua conduta sexual ou a exibição de suas inclinações. Quem assim procede, quer seja heterossexual ou homossexual, transgride os padrões exigíveis na vida social. Sexo pede, no mínimo, responsabilidade e intimidade. Dar vazão à libido em público, é desrespeito aos demais. Ninguém deve ser obrigado a trancafiar portas e janelas para não presenciar o desregramento alheio. Perseguição oficial aos homossexuais é conduta típica dos totalitarismos e está imposta, ainda hoje, nos países comunistas e fundamentalistas. Já nas sociedades livres, a discriminação é coisa própria de quem perdeu o sentido de respeito e convívio civilizado. Reprove-se, então, o preconceito. E se reconheça como valioso o esforço de muitos em superar as discriminações de que, obviamente, são alvo. Mas isso deve ser feito com seriedade. Não é aceitável que, em nome da não discriminação, se autorizem e financiem com recursos públicos paradas gays nas quais se encenam comportamentos que, com justo motivo, levariam ao xilindró qualquer casal que os exercitasse num banco de praça. É a mesma falsa lógica dos esbulhos à propriedade - se um invade, a polícia algema; se muitos invadem vira manifestação popular... Educação sexual não pode ser apenas instrução sobre fisiologia, segurança e saúde, mas, principalmente, formação para a responsabilidade e para o amor. Eis por que o PLC-122 (o projeto de lei que trata da homofobia) contém demasias. Uma coisa é promover campanhas de esclarecimento sobre os males da discriminação e impor sanções a determinadas condutas comuns hoje em dia. Outra bem diferente é retirar dos pais o direito de orientar moralmente seus filhos e de buscar escolas e Igrejas em consonância com os valores que desejam lhes transmitir. Não se pode dar ao Estado tamanho poder de intervenção na vida social. ZERO HORA, 10/04/2011