• Percival Puggina
  • 18/02/2018
  • Compartilhe:

INSEGURANÇA COM PATROCÍNIO POLÍTICO, JURÍDICO E IDEOLÓGICO

 

 Durante duas décadas falei quase sozinho na imprensa gaúcha contra o amplo leque de males que iam entregando a sociedade como prato feito nas mãos da criminalidade. Perdi a conta das vezes em que fui acusado de ignorar a causa que seria determinante da insegurança em que vivemos – a desigualdade social, “mãe de todas das injustiças”. Como se fosse! Como se nessa afirmação não gritasse tão alto o preconceito! Como se os arautos da afetada justiça social não vissem a miséria e a desesperança nos olhos de cubanos e venezuelanos! Mesmo assim cultivam, como manifestações da almejada luta de classes, a violência e a insegurança, que não têm ideologia e não poupam classe social. Aliás, ninguém se protege tão bem da insegurança quanto os mais abastados e poderosos; ninguém é tão vulnerável a ela quanto os mais pobres.

O leitor atento destas linhas já deve ter percebido o quanto é velha e ideológica tal conversa. O que talvez não lhe tenha chamado a atenção é seu pacote de consequências. As pessoas que escrutinam a situação da segurança pública com lentes dessa ideologia jamais saíram em defesa da atividade policial; jamais se importaram com o fato de as demasias do ECA haverem convertido em plantel de recrutamento da criminalidade aqueles a quem se propunha proteger; jamais se empenharam na construção de um único presídio; jamais se interessaram pelo sistema penitenciário que não fosse para reclamar das más condições proporcionadas aos infelizes apenados; jamais proferiram palavra que fosse contra o generoso sistema recursal do Direito brasileiro; jamais se interessaram em agravar as penas dos crimes que aterrorizam a população; jamais olharam, sequer de soslaio, para o sofrimento das vítimas; e jamais levaram a mão ao próprio bolso para promover a justiça social que almejam produzir com os haveres alheios. Hipócritas! O único Direito Penal de seu interesse seria um que incidisse sobre os corruptos do partido adversário. Ou que levasse ao paredão quantos contrariassem seus conceitos de “politicamente correto” – uma almejada forma de “Direito” em que se fundaria, na escassez de outra, sua suposta supremacia moral.

O país foi sendo tragado pela ideologia que passou a reinar no mundo acadêmico. Através dos cursos de Direito, ela foi estropiando as carreiras de Estado, chegou aos tribunais e ganhou cadeiras no STF, onde a impunidade edificou seu baluarte e é servida com luvas brancas. Nos andares de baixo, age o esquerdismo da política partidária e do jornalismo engajado, mais tosco, unhas encardidas pelas manipulações, mistificações, ocultações, e versões, preparando a violência engelsiana, almejada “parteira da história”.

Mesmo assim, não estaríamos tão mal se ainda resistissem na cultura nacional alguns valores morais e algumas instituições a merecer acatamento e respeito. Falo das atualmente superadas e irrelevantes igrejas; falo da instituição familiar e da autoridade paterna; falo da autoridade do professor, da direção da escola, do policial; falo da experiência e sabedoria dos idosos. Mas tudo isso caiu por obra e desgraça da mesma agenda revolucionária, da zoeira, da vadiagem, da perversão em capítulos diários servida nas novelas da Globo, da ignorância transformada em nova cultura e forma de saber. E, claro, da revolucionária resistência a toda ordem e disciplina.

Amargo, eu? Amarga é a colheita desse plantio! Amargo é ver o Rio de Janeiro agonizante, sob intervenção, e saber que todos estamos contidos, a distâncias diferentes, no mesmo horizonte. Que é tudo questão de tempo. Amargo é saber que absolutamente nada do que escrevi aqui e denuncio bem antes de que pudesse produzir os atuais efeitos, será enfrentado e alterado. É saber que toda eventual mobilização social trombará nos paredões ideológicos que nos sitiaram no mundo acadêmico, nos meios de comunicação, no Poder Judiciário e no Congresso Nacional.

Nota do autor:  Aos 60 anos da revolução cubana, estou ultimando uma nova edição ampliada e atualizada de “Cuba, a tragédia da utopia”. Ela estará disponível nos próximos meses.


______________________________
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 


Décio Broilo -   25/02/2018 10:37:00

Vou ser simples e rápido, a esquerda tem um marketing incrível, é o que mais sabe fazer, aliás a única coisa que sabem fazer, tanto é que após anos de maus governos, ainda convencem os incautos com sua propaganda que se encontra dentro de todas as instituições deste Parte de igreja católica até os sindicatos só não conseguiram influenciar para nosso bem o exército, a indústria e o agro-negócio aliás onde se tem que trabalhar. Então nós teríamos que melhorar nosso marketing e ponto. Isto é retomar nossas instituições de volta e isso não será nem fácil nem rápido. Bom dia a todos.

carlos r.dos santos -   22/02/2018 15:44:06

o SR.ISAC,só escreve comentando mal do PT,PMDB,sobre o PSDB nada,porque não escreve sobre o maior defensor do sr.LULA DA SILVA,o ex.presidente FHC.

Dalton C. Rocha. -   19/02/2018 21:19:43

Há quase cem anos atrás, o marxista Trotsky (1879 – 1940) escreveu isto: Para dominar uma sociedade, basta que a esquerda faça duas coisas: 1- Colocar os pobres, contra os ricos. 2- Colocar os bandidos, contra os pobres. Também há quase 100 anos atrás, o escritor português Fernando Pessoa (1888 – 1935) escreveu: "O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós." > http://conservadores.com.br/o-anticomunismo-de-fernando-pessoa/

Odonias Mendes -   19/02/2018 20:17:03

Perfeito!!! Tudo em poucas palavras, com bastante brilhantismo.

Isac -   19/02/2018 11:43:36

Salvo engano, os Estados que muito mais vêm prestigiando os revolucionarios esquerdistas são o RJ e o RS, provavelmente os dois mais afetados e complicados em desequilibrios financeiros e em termos de violencia e suas consequencias. As esquerdas são eximias mestras em passarem receitas disso e daquilo, embora uns sociopsicopatas, seres humanos que possuem as mentes recheadas de esterco marxista, além de promotoras da bandidagem de forma generalizada, falsos discursos em favor dos pobres, como se os comunistas apenas não se aliassem a banqueiros, milionarios e às piores escorias da humanidade, pois ninguém como eles tem tanta afeição pela burguesia e a bandidagem! No entanto, as esquerdas arranjaram aliados muito poderosos que foram vitais para chegarem aonde ousaram aportar: as grandes seitas protestantes e a CNBB e seus tentáculos como as CEBs, CPT, CIMI e mais órgãos, além da vermelha TL e centenas de comunistas sacerdotes e até bispos dela, obra-prima da KGB para repassar marxismo sob forma de doutrinario católico reformulado de forma sutil e que enganou dezenas de milhões de brasileiros, ajudando a elegerem as aves de rapina do PT e mais algozes, que os exploram há décadas! Para se tentar reverter o caos, necessario se faz agora em 2018 desbancar a todos os políticos do golpista PT e do não pior que ele PMDB do Temer - outro que nada via nem sabia de nada - e mais PCs aliados, que se associaram a ele, como foi feito com o maldito PT em 2016. As redes sociais exporão os nomes desses carreiristas da Câmara e Senado, bandidos travestidos de políticos responsaveis pelo descalabro da nação para serem reconduzidos ao aterro sanitario da historia, estranhamente hoje até apoiados pelo papa Francisco que possuiria grande afeição às caóticas esquerdas, imersas no relativismo!

Valtair -   19/02/2018 04:10:46

Parabéns Puggina. Brilhantismo e lucidez sempre presentes! Uma das poucas personalidades que tenho do meu estado natal.

Luciano -   18/02/2018 23:02:49

É Ingenuidade alguem pensar que a intervenção vai ajudar os cariocas. Isso foi o primeiro passo para a centralização do poder federal. Fomentar o caos, faz parte do método revolucionário. Logo, a criminalidade vai diminuir no RJ, e outros Estados junto com a sociedade civil , pedirão a receita, e tudo vai ficar no controle do governo federal. O que o PT iniciou com o avanço da criminalidade, e o PMDB vai terminar com mais controle estatal. Fica o aviso.

Paulo Maranhão -   18/02/2018 20:58:25

Lúcido e preciso.

Carmem Andrade Paulino -   18/02/2018 17:18:45

Que texto fantástico ! Deveria ser copiado e publicado em todos os canais de mídia . Parabéns!

Mário -   18/02/2018 17:01:43

Perfeito!!!