Em outro artigo, que será publicado na edição de Zero Hora deste próximo final de semana, escrevi sobre a anomia que acometeu o Brasil neste inicio de século, relegando a nação a uma condição selvagem em pleno ambiente urbano. Tal condição se caracteriza pela insegurança, pelo medo, pela decadência do respeito à lei e aos poderes constituídos, e pela quase inutilidade do setor público, incapaz de dar solução adequada às mais rudimentares de suas atribuições.
Na política, repete-se como axioma que ela não convive com vácuos. Em tese, todo vazio é rapidamente preenchido. Pois a anomia se instalou no Brasil muito gradualmente já no segundo mandato de Lula, quando o presidente, para efeitos públicos, assumiu-se como mito. E mitos não governam. Mitos são taumaturgos, anunciam quimeras. Governar é para os mortais. Depois, quando Dilma foi eleita e reeleita, o vazio do poder instalou-se de vez. A presidente da República é aquilo que a ciência define como perfeito e impossível - o vácuo absoluto, a total ausência de conteúdo. Quando se instala algo assim no espaço intergaláctico, forma-se o fenômeno conhecido como buraco negro, capaz de devorar galáxias inteiras. No Brasil, não. Fica vazio e pronto.
Não bastasse uma governança politicamente oca, verdadeiro infortúnio, produziu-se entre nós, simetricamente, um outro vazio tão ou mais surpreendente na oposição política. O tucanato, apresentado pelo petismo como seu arqui-inimigo, não corresponde à ideia comum que se tenha de um partido de oposição. Não é possível olhar para o PSDB e achar que ali está o Batman do Coringa petista. O PSDB é apenas o maior partido fora do governo. Não é sensato tomar como conduta de partido de oposição aquilo que, na ordem dos fatos, são apenas manifestações desconexas de divergência em relação ao governo.
Temos, portanto, dois fenômenos que, em tese, não poderiam existir. E que talvez só possam ocorrer exatamente por serem simétricos e equivalentes. Dois vácuos políticos aguardando provimento, no governo e na oposição. Não será difícil encontrar na situação descrita uma das causas determinantes da crise multiforme que, como nação, estamos enfrentando.
No dia 13 ocorrerá no Brasil a maior manifestação popular de nossa história. É diante desse cenário que ela vai acontecer. O povo irá às ruas não para substituir-se às instituições, mas para sacudi-las de sua letargia. Vai às ruas por uma questão de saneamento moral básico, de honra nacional, para recuperar valores que foram pisoteados pelos cavaleiros do Átila de Guarujá. Ainda assim continuaremos precisando de algo tão parecido quanto possível com um governo e uma oposição.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
sanseverina - 11/03/2016 20:00:19
A presidAnta é mesmo um buraco negro inoperante a não ser para absorver verbas! A impressão que se tem é de que a realidade para os políticos brasileiros flutua sobre o lago lamacento da corrupção, ignorando-o. A representação política é, raras exceções, de homens frouxos e de responsabilidade limitada ao hedonismo de cada um. O PSDB é sustentáculo do PT, desde a sua criação (FHC, Serra, Aloysio Nunes, outros, foram vitoriosos em 2002 com o proletariado no poder). Lula é um psicopata, nem é preciso apelar à Psicologia para diagnosticá-lo como portador de insanidade mental em grau de metástase, sendo exemplo a “entrevista” da última sexta, 04, em que, de forma histriônica, exaltou aos gritos as suas excepcionais qualidades de líder, pai dos pobres, palestrante, etc. sem comparação possível, enquanto açulava os militantes sedentos de embeiçamento e condução. A sociedade brasileira também está restrita ao aqui e agora das satisfações pessoais, comportamento que é incentivado pela mídia, num projeto de nivelamento por baixo e anestesia das opiniões. Tempos ruins, de mediocridade generalizada com seus ídolos de pés de barroCarlos Edison Domingues - 11/03/2016 17:48:34
PUGGINA. Triste realidade Carlos Edison DominguesIsmael de Oliveira Façanha - 11/03/2016 02:29:11
O vazio político deverá ser preenchido pela atuação dos empresários, dos líderes das igrejas, das lideranças sindicais, dos grupos naturais da Nação, enfim. Os políticos são "homens de lata", vazios, inúteis em representar algo ou alguém; são os tais buracos negros devoradores não de galáxias, como aponta o autor do texto, mas devoradores de verbas públicas infinitas. Mas a era do político profissional, felizmente poderá ser extinta.Genaro Faria - 10/03/2016 23:46:20
A terem fundamento as notícias de que Lula passaria a comandar a Casa Civil e Jaques Wagner se deslocaria a chefiar a Polícia Federal como ministro da Justiça, não há mais o que esperar do PT em matéria de insensatez. A nação brasileira não pode aceitar essa afronta calada. A permissividade com um governo que lança mão dessa manobra imoral para salvar Lula do provável processo, blindando-o com a privilégio do foro especial do STF há de ser o canto do cisne dessa quadrilha no poder.