• Percival Puggina
  • 11/10/2023
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Hora da testosterona: antes tarde do que nunca.

 

Percival Puggina

 

         Em 1983 fiz algumas viagens de trabalho ao Equador. Casualmente, estava em curso uma campanha eleitoral presidencial e um dos candidatos – o conservador/liberal León Febres-Cordero, do Partido Social Cristão – atraiu minha atenção.

Era um tipo comunicativo, enérgico, autoconfiante e seu slogan refletia isso: “Con León si se puede!” (Com León sim, é possível). Duas décadas mais tarde, mensagem semelhante reapareceu na campanha de Obama com seu “Yes, we can” (Sim, nós podemos). 

Recordo de uma entrevista em que alguém perguntou a León se, eleito, iria reproduzir as habituais concessões que os governantes fazem aos partidos e suas lideranças, recuando em temas fundamentais para o eleitorado. O candidato traduziu a pergunta para sua linguagem de campanha dizendo: “Lo que me preguntas es si me voy a bajar los pantalones. (O que me perguntas é se vou baixar as calças). La respuesta es No!”

Ah, meu amigo leitor! Muito abuso, muito excesso, muitos danos não seriam causados à sociedade se essa afirmação fosse feita com maior frequência entre nós. Tome por exemplo o voto em urnas com impressoras. Estou convicto de que se o parlamento não tivesse mudado de posição sob pressão do TSE, o ambiente político ao longo no ano e meio seguintes até a eleição e no período pós eleitoral teria sido muito mais tranquilo. O dia 8 de janeiro teria sido apenas um domingo a mais no calendário de verão. Mas, como diria León, “se bajaran los pantalones” ...

Esta é uma visão masculina sobre muitos dos recentes episódios da vida política brasileira. Minha inconformidade é genuína e desinteressada. Sou um indignado com as perdas consentidas e com a violência institucional contra a liberdade dos cidadãos – males impostos a todos porque tantos de nossos representantes vêm desonrando seus mandatos e as calças que usam.

Já não falo no autosserviço com os recursos públicos, nem nas tantas excelências que desprotegem a sociedade enquanto dela se encaramujam, nem nos que com a vara da cobiça saltaram olimpicamente o muro dos compromissos eleitorais do ano passado e trocaram de lado. A cada movimento desses “se bajan los pantalones”! As exceções – raras, contadas, conhecidas, brilhantes – têm sido focos de luz sobre fundilhos expostos.

Em nome e razão de todas as frustrações e padecimentos dos últimos meses é impossível não celebrar o fio de esperança que começa a se tornar visível nos recentes movimentos de resistência. Por diferentes motivos, inclusive alguns bons motivos, eles se manifestam dentro do Congresso Nacional para reafirmar o Legislativo como legítima e constitucional representação da soberania popular.

Segurança, equilíbrio e estabilidade não virão de um governo com sede de vingança, nem de um STF avesso à divergência atravessando a pauta política. Virão, isto sim, de um Congresso com testosterona, sensível ao clamor nacional, assumindo e resguardando suas competências, coibindo abusos e excessos próprios e dos outros poderes.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

 

        

 

        


Cláudio Tubino -   12/10/2023 18:16:50

Excelente Percival. Como sempre, direto ao ponto, e com muita sensibilidade.

juscelino -   12/10/2023 14:45:16

Boa tarde. Tudo bem? Percival, cadastre.se na rede gettr.com/login . Sugestão.

Jorge -   12/10/2023 11:57:02

Na minha modesta opinião prefiro acreditar num acordo sórdido e baixo entre as partes, legislativo e judiciário, do que uma reviravolta do ambos, nada mais é confiável neste pais, nem o povo!!!

marisa van de putte -   12/10/2023 11:54:45

Meu comentario e sobre o slogan usado por Obama. Infelizmente nos Estados Unidos surtiu um efeito nocivo. Foi um incentivo aos jovens, a violencia e ao desrespeito aos valores morais e as autoridades. Bernie Sanders, o" Frankenstein" concluiu o slogan de Obama "nos podemos, lute contra."Hoje o pais degringolou, sabe-se la qual sera o futuro.

Wilson Wildner -   12/10/2023 11:39:22

A pergunta é especialmente pertinente e de resposta infelizmente previsível, já que infelizmente ficou claro que a maioria de nossos representantes, deputados federais e senadores, TEM PREÇO. Se vão "baixar as calças?????" vão sim, infelizmente a maioria, dependendo apenas do que for oferecido .....

Cezar Augusto Damiani -   12/10/2023 11:27:38

Acertando a cadencia da caminhada.

Rosalia -   12/10/2023 10:59:05

Com rara exceções, estão todos com a b#%#× de fora, merecendo umas chicotadas.

Gilmar Oliveira -   12/10/2023 10:46:51

Na "democracia" o legislativo é o fiscal do executivo e o freio do judiciário, pois são eles os representantes do provo! Mas aqui se é permitido "abaixar as calças" porque não existe fiscalização e cobrança do povo para com seus representantes. Quatro anos é muito tempo e o representante fica à vontade para fazer o que lhe é mais vantajoso! Precisamos criar um mecanismo de tomar-lhes o mandato caso estejam a "baixar as calças". Precisamos evoluir o nosso modo de ser democratas!

SAGIA MARIA PERES DE PAULA -   12/10/2023 09:53:17

Excelente. Espero que ainda reste alguma dose de testosterona.

Eloy Severo -   12/10/2023 09:52:56

Concordo plenamente nos mínimos detalhes.

MARCO ANTONIO GEIB -   12/10/2023 09:37:03

Mestre, talvez a reação do Senador Pacheco, tímida contra o STF (Marco Temporal das Terras indígenas), porque soube que não tem chances de ser indicado para aquela Corte, pode ser o início de modificações o status quo político atual...!!! Mas talvez não prospere muito dado a pusilanimidade, da fraqueza moral, da covardia e do medo de seus pares que há tempos já "bajaram los pantalones" (com raras exceções)...!!! Faltam menos de oitenta dias para o fim do primeiro ano, e nada do Brasil ter um governo consistente.

Jorge -   12/10/2023 09:03:04

Redundante meu comentário. EXCELENTE.

Menelau Santos -   11/10/2023 23:46:36

Concordo totalmente, Professor. Cresci ouvindo o famoso "homem não chora". Homem que age evita que inocentes chorem.

Danubio Edon Franco -   11/10/2023 19:53:57

Estou de pleno acordo contigo. Espero que a nossa esperança não se esvaia nos "bajaran los pantalones". De qualquer modo, é algo positivo que espero contamine os saltadores olímpicos e que todos tenham consciência da importância do Poder Legislativo, restaurem sua dignidade e reponham o Poder Judiciário, leia-se STF, nos trilhos ou, como diria meus avô, dentro dos seus chinelos. Espero, também, que os legisladores estejam atentos aos berros de alguns ministros do STF, especificamente Gilmar Mendes, que tuitou, com ar de deboche, essas iniciativas do legislativo. Por lá, ele já ouviu algumas boas.