• Percival Puggina
  • 09/04/2017
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GILMAR MENDES IN CONCERT

 

 Não sei de onde me veio a ideia de que o STF fosse local de infatigável labor. Talvez do exíguo número de ministros, apenas onze para aquelas montanhas de processos. O mais recente dado que encontrei mencionava 77 mil deles. "Uma pela outra" como se dizia antigamente, dá algo como sete mil processos por gabinete. Não há como cumprir essa tarefa sem imensa dedicação ao trabalho, mormente se todos tiverem consciência de que qualquer atraso nas decisões é um freio de mão puxado na justiça ou um acelerador pisado na injustiça. Sempre há algo essencial para todos, para muitos ou para alguém, pendente de decisão. Essa imagem que eu fazia do STF como local de trabalheiras e canseiras se reforçava com a convicção de que as estantes repletas de processos aguardando vez através dos anos, não raro das décadas, haveria de causar angústias no ânimo funcional da Corte e de seu quadro de servidores. Carmem Lúcia, atual presidente, confirmando esse sentimento em recente programa de TV, desabafou: "São onze ministros sem poder parar".

 Talvez ainda se agregasse, para formar a imagem de um local de febril agitação, o numeroso cortejo de servidores. São 1135 efetivos em atividade e aproximadamente 1200 terceirizados, totalizando 2335 pessoas; novamente "uma pela outra", 212 por ministro. Tudo a um custo previsto de R$ 687 milhões, conforme Orçamento Geral da União para 2017.

 Pois bem, outro dia, olhos grudados na TV assistindo o julgamento pelo TSE do recurso contra a chapa Dilma/Temer (matéria que há mais de dois anos tramita naquele órgão da Justiça Eleitoral), fiquei sabendo que, junto com o prazo adicional pedido para apresentação de novas provas, o retardo seria ainda maior em virtude de viagem do ministro Gilmar Mendes. Não se iluda, leitor. Não se trata de um bate-volta de Sua Excelência, com assento nas duas cortes (ele preside o TSE e é ministro do STF). Não, Gilmar faz uma conferência em Portugal e acompanhará as eleição francesa, ficando vários dias fora do Brasil graças a esses dois importantíssimos e inadiáveis compromissos internacionais. O ministro está em férias? Não, leitor. Os dois meses de férias a que têm direito os magistrados seguem outra agenda e ela não coincide com os feriados prolongados nem compromete o recesso de duas semanas no final do ano.

Não meço titulares de poder como se fossem servidores públicos. Não são. Por isso não recebem vencimentos, mas subsídios. Mas o excesso de regalias escancara a porta para abusos e saracoteios como esse do ministro Gilmar Mendes. Enquanto promove encontros em Lisboa para discutir Direito, levando junto Dias Toffoli e três ministros do STJ, a Justiça se arrasta no Brasil pelo caminho tão ajardinado quanto lento da leniência dos prazos nos tribunais superiores. O evento é uma iniciativa periódica do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), do qual Mendes é fundador, e do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Tem patrocínio da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe), Itaipu Binacional e Federação do Comércio do Rio de Janeiro e apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), FGV, Fundação Peter Härbele, Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).

Em primeiro lugar, Gilmar Mendes In Concert. O Brasil fica para a volta.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

 


Mauri -   19/04/2017 19:37:00

Rescesso é igual a Férias????Se não for o pessoal faltou ao trabalho nos dias de rescesso!!!!!!

Áureo Ramos de Souza -   15/04/2017 21:40:35

Ele devia para satisfazer a classe pobre pelo ao menos ums dez (10) desempregados, só assim esses dez não iriam sofrer nesses dias. E não é Gilmar Mendes é Gilmar Menrti

José P.Maciel -   15/04/2017 19:23:18

Os depoimentos dos Odebrecht,pai e filho,foram realmente estarrecedores.Esse conúbio políticos-empresa vem de longe,anos,afundando nosso país,fazendo sofrer um bom e descuidado povo,,tal qual uma aliança capetaxcapetinha. Ficamos no fundo decepcionados e ,na verdade,perplexos, porque surge uma nova instituição da república também contaminada pelo virus a cada dia,e,nesse compasso,daqui a pouco não sobrarás mais nada.O judiciário?Mas está abarrotado,incrivelmente abarrotado,com juizes nomeados pelos presidentes e outras circunstâncias negativas. Se isso não bastasse,em outros setores,notadamente da economia,iniciou-se uma pipocagem inccrível de delitos graves,como leite falsificado,a"carne fraca",etc.etc.Para onde vamos,leitor,seria melhor voltar ao tempo do Império,com parlamentarismo?.Este seria ótimo,mas no momento só por manobra de um gènio político,mas cadê os gênios numa época em que os Roosevelt são substituidos pelos Trump? Até os maores empresários do livre mercado como os Odebrecht(por quê?) comprometem o regime de livre empresa. Estamos na Semana Santa.Então,oremos pelo Brasil.

Gustavo Pereira dos Santos -   11/04/2017 14:59:54

Tô rindo pra não chorar. Já conversamos sobre a praga STF, Dr. Percival. Fico imaginando o que faria um liberal empoderado (tá na moda) com autonomia para administrar STF, TSE, STJ e TST. Darei um troféu para a melhor resposta aqui no blog. Dr. Percival é o juiz, eu sou o patrocinador.

Odilon Rocha -   11/04/2017 00:39:54

Caro Professor E eu que achei que indo a todos as manifestações já me autodeclarava neurótico e preocupadíssimo com o país, diante das mudanças de que tanto necessitamos! Com essa do Gilmar (claro que foi uma jogada...) vou me internar em uma clínica de doidos por excesso de patriotismo. É impressionante. O Brasil é sempre para antes de ontem.

Ismael de Oliveira Façanha -   10/04/2017 17:04:37

Advogado e Promotores são escravos dos prazos processuais; JUIZ , NÃO! Juiz leva processo para casa, para estudar, o filho pequeno deixa os autos caírem atrás do guarda-roupa, e só anos depois, por acaso numa mudança, os autos empoeirados são achados! JUIZ NÃO SE AFOBA! Se o processo é criminal, demorando o réu vai solto, mais um pouco, extingue-se a punibilidade, por força da prescrição. No STF, no foro privilegiado, a prescrição é comum. Por isso, o FORO PRIVILEGIADO DEVERA SER EXTINTO.

Mário Sérgio -   10/04/2017 12:40:03

É! Como servidor público, tenho que concordar: uns são mais iguais do que outros.

Genaro Faria -   10/04/2017 10:48:53

Felizmente, nosso egrégio sodalício sitiado pela maior e mais feroz organização criminosa de todos os tempos não precisa enfrentar a angustiante tarefa de estabelecer o sexo dos anjos. Que hoje são incontáveis - os sexos, não os anjos - mortificados como os teólogos bizantinos nas torres de marfim da infeliz Constantinopla cercada pelos janízaros otomanos. Que sorte! Sem prazo para decidir as intrincadas questões submetidas ao seu notório saber, nossos juristas em vestes talares não podem sequer ser acoimados de desídia. Segundo a verdade dos autos, o que foi escrito e não lido está prescrito. E assim toda a celeuma fica resolvida. Por aqui se vê que o gênio constituinte de 88 era um humorista que saiu não de uma lâmpada, mas de uma garrafa que acabara de "enxugar" num sarau às margens do lago do Paranoá.