• Percival Puggina
  • 01/09/2017
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GILMAR MENDES, O LIBERTADOR

 

 Gilmar Mendes está condenado nas várias instâncias da opinião pública. Foram-lhe concedidos todos os prazos. Boquirroto, quanto mais fala, mais ajuda aqueles que o acusam. Disse e continuará dizendo o que bem entende porque o Senado Federal, a quem caberia processá-lo por crime de responsabilidade, raramente faz o que deve. Hão de recear, os senadores, aquela ira teatral que afina a voz e engrossa o vocabulário.

Sua toga tem servido como manto protetor para autênticos inimigos públicos. Não vou, aqui, examinar todo o prontuário do ministro, de quem já se disse que faz bico no Supremo, tantas e tais são suas atividades fora do operoso quadrilátero do STF. Foi ele quem soltou o médico estuprador Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão.
De uns tempos para cá, tomou gosto e não parou mais. Assumiu-se como “garantista” (dos réus, não da sociedade), por uma questão de princípio e como proclamada expressão de sua “coragem moral”. Arre! Realmente é preciso ter coragem! Dos dois pólos da corrupção ativa e passiva vem devolvendo ao aconchego do lar pais amorosos, maridos fidelíssimos, empresários profícuos. A Lava Jato esguicha e ele seca.

Sua mais recente obra-prima foi a libertação do “rei do ônibus”. Alega o ministro que os três níveis de relação que o aproximam do réu não constam entre os casos de impedimento discriminados no Código de Processo Penal. Sim. E daí?

Isso não significa que a proximidade não exista, nem que os fatos deixem de estarrecer quando é concedida liberdade a um réu que já fora apanhado com a mala na esteira do aeroporto e passagem apenas de ida para Portugal. Isso não significa que não haja uma contradição entre a sensibilidade “garantista” do ministro e a percepção nacional sobre suas decisões. Ele bem poderia dispensar-se do impedimento para recusar o habeas corpus do réu, mas para concedê-lo... por favor!

Claro que ele não está só. Claro que o Supremo tem extensa folha corrida de proteção aos criminosos políticos e endinheirados. Claro que a lista de congressistas presos por determinação do STF e mantidos presos não tem mais de dois ou três nomes. Claro que há, na Corte, uma bancada "garantista" que se rebela, inclusive, contra a decisão, até bem pouco majoritária, que determina cumprimento de pena após condenação em segunda instância. Tudo isso é tristemente verdadeiro no reino da impunidade. Gilmar Mendes, porém, se destaca entre seus pares pela arrogância com que afronta a opinião pública, considerando que discordar dela seja corajoso dever de ofício e que concordar com ela seja covardia. Que coisa, não? Nossa opinião virou alimento dos covardes.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.



 


ALOISIO LETTI GRAZZIOTIN -   04/09/2017 17:06:26

Este Brasil de Gilmares, Lewandowskis, Temers e tantos outros não é admirável mas estarrecedor. Cada qual fazendo as suas próprias leis e o que importa a opinião publica - como já disseram? A pobreza de ética e moral atingiu o ápice. Que diremos para nossas gerações futuras? Ou estamos no caminho de compreensão dos atos do Maduro?

carlos alberto wagner -   04/09/2017 11:50:59

Tomara que esse advogado de bandidos, se candidate a um cargo eletivo, parece que é isso que ele quer, ai nós como eleitores podemos colocá-lo, no seu devido lugar, que é um escritório de advocacia.

Carlos fastruck -   04/09/2017 10:06:08

Muito importante que antes de criticarmos Gilmar Mendes, tenhamos consciência que é a Democracia que nos permite criticar todos inclusive Ministros do STF, não devemos nos esquecer que é a diversidade do STF é o que proporciona este equilíbrio que mantem viva nossa democracia, digo mais que bom que "ainda existem juízes em Berlim", pois se o projeto Lula-Dilma tivesse chegado ao termino, em pouco tempo teríamos apenas Barrosos , Fachins e Lewandowski no comando do STF e então sim teríamos motivos de sobra para preocupação, não se esqueçam que foi o STF bolivariano da Venezuela que 'legalizou" a ditadura de Maduro.

Felipe Andrei -   04/09/2017 03:39:37

Pena que não aconteceu com ele o que ocorreu com a juíza ameaçada de ser queimada viva pelo réu que entrou com combustível no fórum e a rendeu. Engraçado que ameaçados de morte ficam pianinhos, despidos de toda arrogância e prepotência. Acho que deixam de se sentir como deuses e veem que são meros mortais como nós.

Luiz Felipe Gomes -   04/09/2017 00:54:55

Excelente, meu caro Puggina, é preciso repetir à exaustão a censura ao pelo menos inadequado comportamento do ministro Mendes. Nao posso como brasileiro aceitar que o cargo de juiz do STF seja tratado como um "bico" por seu ocupante.

Maria mota -   04/09/2017 00:38:02

Perecível sempre lúcido, corajoso e impecável. Descrevendo sempre com maestria o que acontece neste nosso país dos absurdos.

Áureo Ramos de Souza -   03/09/2017 23:59:18

Gilmar Menti ou melhor Mendes esqueceu seu cargo para proteger o país e passou ou mentindo ou não a proteger pessoas seu chegado. Isso não deve estar acontecendo ou ele começa a ter amnésia.

Odilon Rocha -   03/09/2017 17:05:08

Caro Professor O que uma Lava Jato e suas desmembradas Operações não fazem, hein? Até mesmo um Ministro da Alta Corte trocar de opinião ou, ao menos, tentar derrubar uma decisão já sacramentada. O camarada não é besta. Pensou nele.

Decio Antônio Damin -   03/09/2017 12:11:50

Tens toda a razão, o cabra é safado! Achei muito bom e original o final: "Que coisa, não? Nossa opinião virou alimento dos covardes."

Ismael de Oliveira Façanha -   03/09/2017 03:24:19

O Brasil é um país em recessão econômica, beirando à anarquia. Assaltos se dão à luz do dia na caça a celulares, esses o bem mais caro aos brasileiros. Em um ano ocupam-se de derrubar uma presidente eleita, noutro ano azucrinam a vida do presidente substituto. Ora tratam de futebol, ora de política. Todo o mundo larga falação pela mídia, os jornais têm mais colunas do que chão ou teto embaixo ou em cima. Com tanto beletrista tocando sua violinha desafinada por aí, porque o dr. Gilmar Mendes não pode brincar com sua tuba? O Brasil de hoje parece a transubstanciação, do estético para o social, daquele surreal e infernal "Jardim das Delícias" de Hieronymus Bosch.

Genaro Faria -   03/09/2017 02:19:40

Esse cabra deveria trocar a toga por um apito. Ser a figura mais importante em campo num jogo de estádio lotado satisfaria seu enorme ego muito mais.

gustavo schlot -   02/09/2017 15:57:16

É assim mesmo. Bem como escreveu Vana Lopes em seu livro: Bem Vindo ao Inferno. A justiça em seus julgados anda sempre em dois sentidos: Ora de olhos vendados. Ora de olhos vendidos. Vana Lopes. Uma das vítimas do Dr Roger Abdel.

Ricardo A. N. Dornelles -   02/09/2017 15:50:07

A ninguém terá ocorrido que a guinada que deu em sua conduta esse elemento dever-se-á ao aprisionamento de seu apêndice caudal por parte de algum seu desafeto?

Abilio -   02/09/2017 15:07:16

Perfeito, lúcido e disse tudo. Até quando teremos o Senado protegendo STF e vice e versa? Até o dia que algum louco mande uma bala na testa destes FDPs? Neste dia estará aberta a temporada de caca aos corruptos... Quero estar vivo para comemorar este feito...