• Percival Puggina
  • 18/06/2022
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Financiamento público e fraude à democracia

 

Percival Puggina

 

         Na noite da última quarta-feira, quando o TSE anunciou o resultado da partilha dos R$ 4,96 bilhões destinados ao financiamento das campanhas eleitorais por ato legislativo que derrubou veto presidencial, me sobreveio justa indignação. Aquela dinheirama cortava pernas e asas da democracia.

É sabido que, com raras e louváveis exceções, detentores de mandato não votam contra o próprio interesse. É para redução de riscos pessoais que não votam o fim do foro privilegiado nem a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.

Normal é a ampliação dos próprios benefícios. Mantêm o milionário privilégio das emendas parlamentares para jogar o dinheiro vivo – e sofrido – de nossos impostos nos seus nichos eleitorais. A título de apoio à sua atividade pública, povoam os gabinetes com cabos eleitorais em permanente campanha pela reeleição. Não implementam o voto distrital nem adotam qualquer melhoria que possa colocar em risco a estabilidade de um sistema tão conveniente.

A esse abastecido e sempre atualizado cardápio, acresceu-se, a partir de 2015, a comodidade do financiamento público das campanhas eleitorais cujo fundão rapidamente evoluiu para a bolada acima referida. Quem vai mudar isso, por mais que a sociedade o deseje?

Ademais, surge a pergunta que poucos fazem: como é distribuído esse dinheiro dentro dos partidos? Imagine o poder que vai para as mãos do colegiado ao qual a tarefa esteja atribuída! É certo, e a experiência já comprovou, que há elevada discricionariedade nessa distribuição, constituindo-se tal poder em uma espécie de canga aplicada sobre as bancadas.

O produto final de toda essa artimanha é um ataque frontal ao natural desejo de renovação nos parlamentos, algo tão especialmente importante nas eleições de outubro. Se a democracia serve para expressar a vontade social, a nossa está desenhada para frustrar, para fraudar esse desejo. As ações e omissões de nossos congressistas, bem como sua surdez à voz das ruas, derivam das fornidas bases sobre as quais, ao longo de um inteiro quadriênio, operam em favor de suas reeleições.

É claro que pelo sistema anterior, com financiamento privado e teto de gastos, jamais o setor privado iria colocar quase R$ 5 bilhões nas mãos de candidatos e partidos. O resultado viria com campanhas mais modestas, que exigiriam mais trabalho prévio, maior sintonia com a opinião pública e com a voz das ruas. Esse sistema que escandalizou a nação na noite da última quarta-feira foi concebido e imposto pelos 11 gênios, os sábios da pátria, os tutores da sociedade, os devotos de uma democracia irreconhecível e de um Estado de Direito que se empenham em desestabilizar.

Sim, leitor, você tem razão. O que descrevi acima aumenta nossa responsabilidade, convoca nosso melhor discernimento, recruta nossa cidadania, suplica por nosso trabalho para eleger ou reeleger os melhores parlamentares. Sem estes, em número suficiente, não ocorrerão reformas que façam viger a vontade social que os atuais Congresso e STF, conjugando fantasmas fictícios e interesses reais, e agindo contra a democracia, trataram de obstar no quadriênio que se encaminha para o final.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


MARIA INÊS DE SOUZA MEDEIROS -   21/06/2022 21:00:15

O mal do Brasil é sacramentado por esse STF que aí está. Proibindo financiamento privado para as campanhas, põe mais essa "continha" no orçamento do Estado. Menos saúde, menos educação e mais corrupção dentro dos partidos. Pobre contribuinte.

José Rui Sandim Benites -   20/06/2022 17:46:59

Não tem fundamento. O país que não tem saneamento básica, ainda importa combustível, necessita de refinarias e infra-estrutura, com uma educação deficiente, necessita de segurança pública, necessita de hospitais e médicos. Enfim uma gama de prioridades. Então mandam bilhões para os políticos. Nos resta apenas a resistência. E tentar esclarecer dentro das nossas possibilidades a liberdade, a família, a propriedade e a fé a Deus.

Armando Andrade -   20/06/2022 11:21:51

Sabe que dói no nosso bolso né. A vergonha do achaque dos congressistas e "partidinhos" roubando o erário público (nosso rico dinheirinho) e se refastelam em "baboseiras", se "endinheiram inescrupulosamente" seus bolsos e o povo ó a ver navios. Melhor seria pulverizar o "desmonte de tantos partidos e suas subsidiárias nos "palanquiais distribuidos nos Estados/Prefeituras" onde nada se faz para/pelo povo, o não atendimento às necessidades quase primordiais dos sem-teto, dos esfomeados, que só observam nas agonias as "bravatas em épocas eleitoreiras". Dó e revolta! Fosse José do Patrocínio, voltaria a esbravejar não só contra a tirania a negritude e lascaria à "elite prosaica/ladrocinida" que avilta na covardia num Estado ainda sem tirocínio e quebra direitos e deveres. Até quando?

Vitoria Silveira Leonardi -   20/06/2022 08:34:30

Partido Novo tenta, abrindo mão do que lhe é repassado. Mas, uma andorinha só, não faz verão. Desconhecemos o que ocorre nos bastidores.

João Jesuino Demilio -   19/06/2022 11:59:48

O Brasil precisa descobrir o óbvio: quem joga não faz as regras do jogo!Políticos JAMAIS deveriam legislar sobre regras eleitorais e financiamento de campanha! Deveria ser determinado por uma SUPREMA CORTE! SUPREMA CORTE não tem nada a ver com o NOJO, PODRIDÃO, CORRUPÇÃO, MANIPULAÇÃO representado pelo STF e STE.

carlos edison domingues -   18/06/2022 18:58:35

PUGGINA Está em tempo para relacionar nomes e legendas, identificando candidatos à Câmara Federal e Assembleia Legislativa. Para nós, que acompanhamos teu trabalho, é importante conhecermos os candidatos. Carlos Edison Domingues

Luiz R. Vilela -   18/06/2022 17:41:08

No Brasil, partido político geralmente tem dono. O dono do partido, com o controle de toda esta dinheirama, ser torna um "nababo". Tem um ai, que mora numa mansão, tem um aparato de segurança digno de uma guarda pretoriana de um Cesar Romano. Quando instituíram o financiamento público de campanha, já sabiam o que aconteceria. O dinheiro público viria a rodo, e fiscalização da justiça eleitoral, seria como sempre, cega. O que se observa hoje, aqui pelo interior do pais, é a briga para indivíduos sem qualquer condições,sair candidato. Perdem a eleição, fazem uma campanha franciscana, depois então começam a mostrar sinais de riqueza. Antigamente alguns candidato ficavam empobrecidos e endividados após perderem uma eleição. Hoje muitos ficam é ricos, depois de perder. Que milagre seria esse? A casos em que o derrotado fez acordo com o vencedor, para justamente perder a eleição, recebeu para isso e ainda recebeu fundos para a campanha. O Brasil é uma tragédia moral. O STF proibiu o financiamento privado de campanha e escancarou os cofres públicos, agora haja dinheiro de impostos para a "turma" se esbaldar.